Bartolomé Blanco Márquez (Córdoba, 1914) foi um mártir da perseguição religiosa na Espanha nos anos 30 do século passado. Foi executado em 2 de outubro de 1936, antes de completar 22 anos, enquanto gritava 'Viva Cristo Rei!' Em seu processo de beatificação (Blanco foi beatificado em 28 de outubro de 2007 pelo papa Bento XVI), consta a seguinte carta escrita à sua noiva Maruja, às vésperas de sua execução, e traduzida a seguir.
Prisão provincial de Jaén, 1 de outubro de 1936
Maruja da [minha] alma:
A tua memória vai me acompanhar até o túmulo e, enquanto o meu coração bater, baterá de afeto por ti. Deus quis sublimar estes afetos terrenos, enobrecendo-os quando os amamos por meio d'Ele. É por isso que, embora nos meus últimos dias, Deus seja a minha luz e o meu anseio, Ele não impede que a lembrança da pessoa que me é tão querida me acompanhe até à hora da morte.
Sou assistido por muitos sacerdotes que, como uma doce consolação, derramam os tesouros da graça na minha alma, fortificando-a; olho a morte de frente e, acredite de verdade, que não a temo nem a receio.
A minha sentença no tribunal dos homens será a minha maior defesa perante o Tribunal de Deus: procurando denegrir-me, enobreceram-me; procurando condenar-me, absolveram-me; procurando perder-me, salvaram-me. Compreendes isso? Porque, com a morte, deram-me a verdadeira vida e, ao me condenarem por defender sempre os ideais elevados da Religião, da Pátria e da Família, abriram-me as portas do Céu.
Os meus restos mortais serão sepultados num nicho deste cemitério de Jaén; enquanto me restam apenas algumas horas antes desse repouso definitivo, permita-me que te peça apenas uma coisa: que em memória do amor que tivemos um pelo outro, e que neste momento se intensifica, tenhas como principal objetivo a salvação da tua alma, porque assim estaremos reunidos no céu por toda a eternidade, onde nada nos poderá separar.
Até lá, então, Maruja da minha alma! Não te esqueças que estou a olhar para ti do céu, e procura ser um modelo de mulher cristã porque, no fim da nossa vida, de nada servem os bens e as alegrias terrenas se não conseguirmos salvar a nossa alma.
Um pensamento de gratidão é dirigido para toda a tua família e, para ti, todo o meu amor, sublimado nas horas da morte. Não te esqueças de mim, minha Maruja, e que a minha memória te sirva para teres sempre presente que há outra vida melhor e que alcançá-la deve ser a tua mais alta aspiração.
Sê forte e reconstrói a tua vida, és jovem e bondosa, e terás a ajuda de Deus, a quem eu implorarei do seu Reino. Adeus, até à eternidade, quando continuaremos a amar-nos para sempre.
Bartolomé