quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

'E O VERBO SE FEZ CARNE!'


O nascimento do Menino Jesus em Belém foi descrito detalhadamente pelos evangelistas São Mateus e São Lucas. E o que estes evangelistas nos falam sobre a origem de Jesus? São Mateus registra a longa genealogia do Salvador, começando por Abraão e terminando com Jacó, que 'gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo (Mt 1,16), e complementa que Maria, então desposada com José, 'concebeu por virtude do Espírito Santo' (Mt 1, 18). 

São Lucas não trata o nascimento de Jesus com uma genealogia, mas com a narrativa da Anunciação: 'No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria' (Lc 1, 26-27). O Anjo explica então a Maria a concepção do Salvador: 'O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus' (Lc 1, 35).

São Marcos, por outro lado, não evoca este período da vida de Jesus, e começa o seu Evangelho com a pregação de João Batista. Por outro lado, se São João também não menciona os eventos relacionados ao nascimento do Salvador, ele inicia o seu Evangelho com o prólogo: Et Verbum caro factum est [e o Verbo se fez carne]São João, em vez de contemplar a geração terrena do Menino Jesus, convida-nos a contemplar a Trindade: 'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus' (Jo 1,1). 

Desde toda a eternidade, o Pai que é Deus gera o Filho que é Deus. Ambos são, junto com o Espírito Santo, um único Deus. E São João traz os mistérios insondáveis à encarnação do Verbo: 'E o Verbo se fez carne e habitou entre nós' (Jo 1,14). O Verbo de Deus, segunda Pessoa da Trindade, recebe em sua encarnação a natureza humana, unida e indissociável à sua natureza divina, que Ele retém do Pai desde toda a eternidade. 

Deus encarnado nos é dado como criança como graça de redenção e de salvação da humanidade, mistério de amor que, tendo por medida a Divina Vontade, é inconcebível e sem medida pela ótica humana. Aquele olhar de Jesus e de Maria, expressão absoluta da perplexidade humana diante os infinitos mistérios de Deus, perpassa a cada Natal diante os homens de todos os tempos: estamos prestes, mais uma vez, a contemplar Deus feito Homem no meio de nós!