terça-feira, 29 de dezembro de 2020

TESOURO DE EXEMPLOS (40/42)

 

40. O MEDO DO COROINHA

São Pedro de Alcântara, nascido em 1499, entrou na Ordem dos Franciscanos com a idade de 16 anos. Foi um dos santos mais penitentes e favorecidos de Deus em seu tempo. Santa Teresa de Ávila, que o conhecia de perto, conta-nos que São Pedro passara 40 anos sem dormir mais de hora e meia por dia. O santo não se deitava, mas ficava assentado com a cabeça encostada a uma viga de madeira da parede. Essa foi a penitência que mais sacrifícios lhe custou.

Além disso, usava terríveis cilícios e passava três dias, às vezes até oito dias, sem outro alimento que a Sagrada Comunhão. Em vista de tudo isso, não é de estranhar que se tenha elevado à mais alta contemplação e Jesus o tenha favorecido com inefáveis carícias, mormente na missa e na sagrada comunhão.

Conta-se que, em um certo convento, o coroinha, que ajudava a missa do santo, era um menino inocente e bonzinho. Um dia, ao regressar da igreja, o menino procurou a sua mãe e lhe disse:

➖ Mamãe, eu não quero mais ajudar à missa do Padre Pedro.

➖ Mas por que, meu filho, não hás de ajudar o Padre Pedro, que é um padre tão santo?

➖ Mamãe, ao ajudar-lhe a missa, várias vezes tenho visto um menino lindo, muito lindo, nas mãos dele; e, na hora da comunhão, ele come aquele menino. Mamãe, tenho medo que ele me coma também.

A mãe, que conhecia a santidade do Padre Pedro, compreendeu logo o mistério e disse ao filho:

➖ Não temas, meu filho; é o Menino Jesus que está na Hóstia... Que feliz és tu, que o vês com teus olhos inocentes!

Daí em diante o menino não teve mais medo e ajudava à missa do santo com muito gosto e devoção.

41. ESTE MENINO SERÁ PADRE

O que vamos narrar é um episódio da vida de São João Bosco. Um certo dia, foi procurá-lo a Condessa D. Z. para suplicar-lhe que abençoasse os seus quatro filhinhos. Dom Bosco, sempre amável e amigo das crianças, com muito afeto deu uma poderosa bênção aos pequeninos.

A Senhora Condessa, que também se ajoelhara, levantou-se certa de que a bênção daquele sacerdote, que ela considerava um santo, atrairia sobre toda a família graças copiosas de Deus. Depois, apertando a si os filhos e sabendo, como era notório, que Dom Bosco via o futuro, perguntou-lhe:

➖ Dom Bosco, o que será dos meus filhos?

Dom Bosco, gracejando, referiu-se a cada um, a começar pelo mais velho, profetizando o bem a todos. Quando chegou ao último, pôs-lhe a mão sobre a cabeça, contemplando-o com particular interesse.

➖ Qual será a sorte desse, Dom Bosco?

➖ Da sorte deste último não sei, senhora condessa, se ficarás muito contente...

➖ Diga, pois, o que lhe parece.

➖ Bem! deste menino digo que será um ótimo padre!

A estas palavras, a cena transformou-se de repente; a nobre dama empalideceu, apertou a si o menino como para livrá-lo de uma desgraça, e fora de si exclamou:

➖ Meu filho, um padre? Antes peço a Deus que lhe tire a vida!

Dom Bosco, que tinha pelo sacerdócio a mais alta estima, sentiu dolorosamente aquelas palavras e, erguendo-se pesaroso, despediu a condessa. Poucos meses depois, de fato, o filho mais novo da condessa lhe foi arrebatado por uma doença fulminante.

42. O AMOR DE UM VELHINHO

Um dia São Afonso Rodríguez, irmão leigo jesuíta, muito bom e muito santo, estava rezando diante de uma imagem de Maria. Já era velhinho e passava longas horas aos pés de sua boa Mãe do Céu. Às vezes, punha-se a chorar como uma criança; às vezes, sorria como um anjo. Tinha algum sofrimento? Lá ia logo comunicá-lo a Nossa Senhora. Sentia alguma alegria? Depressa, ia contá-la à Mãe do Céu. Tentavam-no os demônios? Corria aos pés da Imaculada e pedia-lhe que não o desamparasse nem na vida e nem na morte.

Num certo dia, estava ele a dizer a Nossa Senhora que a amava muito, muitíssimo, com toda a sua alma e com todo o seu coração. E parecia ao santo velhinho que a Virgem Santíssima lhe sorria amavelmente. Ouviu, enfim, ou pareceu-lhe ouvir do fundo de sua alma uma voz que dizia:

➖ Afonso, quanto me amas?

E o bom velhinho respondeu:

➖ Olha, minha boa Mãe do Céu: amo-te tanto, tanto, que é impossível que me possas amar tanto como eu te amo.

A Senhora, ouvindo isso, levantou a mão amorosa, deu-lhe uma leve bofetada e lhe disse: 

➖ Cala-te, Afonso, cala-te!... o que estás a dizer? Eu te amo imensamente mais do que tu serias capaz de me amar.

Eis por que devemos amar a Maria: ama-nos tanto que jamais poderemos compreender toda a grandeza do seu amor.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

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