Enquanto existir alguém ou alguma coisa entre a alma e Deus, a união perfeita não será possível. E somente ela nos pode dar a verdadeira paz. Temos que fazer de nós um vazio. A alma verdadeiramente apaixonada por Deus sente prazer em viver nas alturas de si mesma, em profunda solidão. Não há melancolia ou tristeza nisso, mas a convicção muito clara de que, para encontrar Deus, para falar com Ele e para amá-lo, torna-se necessário, ao mesmo tempo, isolar-se e elevar-se.
Deus só mora nas alturas ou, melhor dizendo, nas profundezas da alma. É para lá que você deve ir para encontrá-Lo. De resto, não há maneira mais segura de agradar a Deus e obter as suas graças do que se colocar nesse isolamento silencioso nas alturas.
A menos de orientação contrária e segura que venha de Deus, afaste, portanto, todas as criaturas dos seus pensamentos quando você dialoga com Jesus. Deus deseja comumente uma alma 'solitária'. Assim, depois de ter rogado pelas almas que lhe são confiadas e pedir por elas junto a Nosso Senhor, recolha-se apenas à oração. Confie ao Senhor o perdão de suas dívidas e vá em frente. É necessário que a memória de alguém não se torne um obstáculo à imposição da graça em sua alma. Peça a Jesus para participar da afeição que Ele tem por você, de tal modo que a sua afeição provenha unicamente dessa fonte e tudo terá bom termo. E remova de si tudo o que você sente que não provém de lá.
Alegra-me encontrar uma alma que, embora sofrendo com o isolamento, o aceita. Nada me pode ser mais convincente porque ainda não conheci ninguém que avance na vida interior sem passar por essa prova. É dolorosa, mas necessária. Recorde-se das palavras de Santa Teresa que disse que, para receber tais favores, Deus precisa apenas de uma alma pura e inflamada do desejo de recebê-los. Parece, então, que se tem um coração submerso em lágrimas, em profundo sofrimento, mas... a recompensa está por vir.
Uma alma que não se isola não progride. Não pode subir. Quando vejo uma alma que não sabe se recolher, digo a mim mesmo: 'Não irá em frente, pois é como um camelo carregado, mito rica de si mesma'. A alma, porém, quando se vê abandonada e ferida por todas as criaturas, é como um cervo sitiado por todos os lados e que, diante de todas as saídas bloqueadas, precipita-se em direção ao lago próximo. Diante de um sofrimento, corra para Deus.
Quando Deus quer falar a uma alma, Ele a isola de tudo e a imerge em uma profunda solidão; então, ilumina a sua inteligência com algo que ela desconhece por completo. É desse algo misterioso que todo o conhecimento explícito emergirá no devido tempo, como uma tradução para a linguagem humana das realidades divinas. Tradução que não é arbitrária, pois é controlada de dentro por algo que, sendo intangível em si mesmo, é, no entanto, muito real. Ainda assim, o melhor está ainda por vir.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I - O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)