quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XVII)

  

PIA DE ÁGUA-BENTA

É aquela que se encontra à entrada da Igreja, nas colunas ou nas paredes, com água benta para que os fiéis, tocando-a devotamente, purifiquem-se dos pecados veniais, antes de entrarem no templo santo. Substitui a fonte que antigamente havia no adro para os fiéis lavarem o rosto e as mãos antes de entrarem na Igreja.

PIAS UNIÕES

São associações de fiéis, instituídas para o exercício de alguma obra de caridade ou de piedade. Não podem existir sem aprovação do bispo. Não devem erigir-se senão em igrejas ou capelas públicas ou ao menos semi-públicas. Estando eretas em igrejas que não sejam suas, podem exercer as funções eclesiásticas próprias, somente na capela ou no altar em que estão estabelecidas.

PLUVIAL (Capa de Asperges)

É uma veste aberta pela frente, que o sacerdote, em certos atos litúrgicos, lança aos ombros, caindo até quase ao chão. Era antigamente uma capa que servia para as procissões, tendo um capuz para abrigar-se da chuva (daí o nome de pluvial). Sendo antes igual à casula, foi perdendo a sua forma, até que, aberta por diante e coberta de bordados, começou a ser considerada, na Idade Média, como veste honorífica. O capuz foi perdendo a sua forma e uso, até se transformar no estofo liso, ornado de uma franja, que atualmente se encontra ao meio das costas, na capa. A capa é uma veste litúrgica reservada ao clero. O pluvial dos simples presbíteros não deve ser preso no pescoço com fecho ou broche de metal lavrado, o que é reservado aos bispos, mas sim com colchetes ou coisa semelhante. Não é permitido haver um presbítero assistente revestido de capa, numa missa que não seja de pontifical, exceto na primeira missa de um novo sacerdote.

POBREZA VOLUNTÁRIA

É um dos três Conselhos Evangélicos e consiste em renunciar à posse dos bens materiais. Geralmente este conselho é seguido pelos fiéis que abraçam o estado religioso. Diz o Apóstolo São Paulo: 'Nada trouxemos para este mundo e, sem dúvida, nada levaremos dele. Tendo, pois, com que nos sustentarmos e com que nos cobrirmos, vivamos contentes' (I Tm 6, 7.8).

POSITIVISTA

É aquele que afirma, absurda e impiamente, que só conhecemos os fenômenos sensíveis, e que, por isso, não podemos de modo nenhum atingir a natureza das coisas, ou demonstrar a existência de Deus e da alma humana.

POSSESSÃO DO DEMÔNIO

É a ação do demônio no corpo do homem produzindo, por meio dos membros e dos sentidos do possesso, atos extraordinários. São sinais de possessão: o homem falar línguas desconhecidas ou entendê-las, manifestar coisas ocultas e distantes, produzir forças superiores à idade e às condições naturais da pessoa, etc. Embora seja de admitir a possessão diabólica, não devemos ser fáceis em acreditar nos casos que se contam a tal respeito. Os meios de combater a possessão são os indicados contra os obsessos.

PRÁTICAS DE PIEDADE 

Eis algumas: I. Oração da manhã, para louvar a Deus e o suplicar desde o princípio do dia e oração da noite para agradecer e pedir perdão; II. Meditação, para aperfeiçoar a vida moral; III. Assistir à Missa, para tomar parte no único Sacrifício da Religião divina; IV. Comunhão diária, para alimentar a vida divina na alma; V. Trabalho e deveres de estado, bem cumpridos, para fazer a vontade de Deus; VI. Visita ao Santíssimo Sacramento e comunhão espiritual, para alimentar o fervor; VII. Leitura espiritual, para refletir e bem dispor a vontade; VIII. Exame de consciência, para vencer hábitos maus e defeitos; IX. Regularidade em todas as ações ordinárias, para haver ordem na vida;  X. Comemoração religiosa de aniversários, tais como do batismo, da comunhão solene e de outros.

PRECEITO

É a aplicação da lei àquilo que é regulado pela lei. Há preceitos afirmativos, e estes obrigam sempre, mas admitem exceções em certas circunstâncias, como por exemplo: o preceito de ouvir Missa, de que em certos casos alguém está isento; e há preceitos negativos, os quais nunca é lícito transgredir, como por exemplo: o preceito de não matar. Ninguém é obrigado ao preceito enquanto não o conhece. Aos príncipes seculares compete preceituar, para utilidade comum, nas coisas temporais; aos prelados compete preceituar nas coisas eclesiásticas. Na lei Evangélica ou no Cristianismo, há três gêneros de preceitos: os preceitos da Fé, que nos obrigam a crer firmemente todos os mistérios que Deus revelou à sua Igreja; os preceitos sacramentais, que nos obrigam aos sacramentos da Igreja, com as devidas disposições e em certos tempos e os preceitos morais, que estão contidos no Decálogo e no Santo Evangelho, particularmente no Sermão da montanha. Todos os preceitos morais pertencem à lei da natureza, por isso devem ser observados por todos os homens. Toda a lei é cumprida pelos preceitos da caridade, e os preceitos da caridade são somente dois: amor a Deus e amor ao próximo.

PREDESTINAÇÃO

É um ato da vontade divina, determinando, desde toda a eternidade, conduzir certas criaturas para a vida eterna. Escrevendo aos Romanos, São Paulo afirma: 'aos que Deus predestinou, a esses chamou e aos chamados justificou-os e, aos justificados, glorificou-os'» (Rm 8, 30). E em outro lugar, escreve ainda o mesmo Apóstolo: 'Deus elegeu-nos (em Cristo), antes da constituição do mundo... e predestinou-nos em caridade, para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, segundo o beneplácito da sua vontade (Ef 1, 4. 5). O Concílio Valentino (ano 855) ensina: 'confessamos fielmente a existência da predestinação dos eleitos para a vida eterna'. A predestinação nada põe no predestinado, senão os seus efeitos, que são a preparação para a glória e a preparação para a graça, que é o meio único para conseguir a glória. Os predestinados não estão certos da sua predestinação, a não ser que Deus lhes faça conhecer. Ninguém, pois, pode ter a presunção de que é predestinado; todavia aquele que vive cristãmente, como a Igreja ensina, pode ter a esperança de ser chamado ao Céu, porque não pode viver virtuosamente sem um auxílio especial da graça divina.

PRIMÍCIAS E DÍZIMOS

São os recursos devidos ao clero e que são pagos segundo os particulares estatutos e costumes louváveis em cada região.

PRESBITERATO

É a ordem que confere o poder de consagrar o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, de administrar os sacramentos, exceto o da Confirmação e o da Ordem, de pregar, de benzer os fiéis e as coisas que tenham a seu uso, e de presidir às suas assembléias nos atos do culto religioso. Para receber a Ordem de Presbítero é necessário ter vinte e quatro anos completos e ter passado metade do quarto ano do curso teológico, a não ser que outra coisa seja permitida por legítimo privilégio.

PRESENÇA DE DEUS

Deus está em todas as criaturas, criando, conservando, governando, conhecendo tudo, mesmo os nossos pensamentos e os segredos do nosso coração. Esta verdade é luz e é força; lembrada que seja, evita o erro da inteligência e fortalece a vontade no desejo e na prática do bem. Guiados pelo pensamento da presença de Deus, vivemos sempre e em toda a parte, acompanhados ou sós, como um filho bem educado sob os olhares de seu pai, abstemo-nos de toda a ação má ou palavra repreensível, repelimos toda a ideia que possa despertar um mau desejo, vivemos alegremente e confiados na sua divina proteção. O Apóstolo São Paulo, falando da presença de Deus, escreveu: 'Não há criatura alguma invisível à sua vista; antes todas as coisas estão nuas e descobertas aos olhos dAquele a quem havemos de dar contas' (HB 4, 13).

PRIMA

É a primeira das Horas Canônicas que se segue a Laudes. Chama-se Prima porque devia ser recitada na primeira hora do dia, isto é, pelas seis horas da manhã. É, sem dúvida, a mais bela oração da manhã.

PRIMAZ

É um título dado a um bispo e que, além da prerrogativa de honra e direitos de precedência ao arcebispo, não tem consigo alguma jurisdição especial.

PROCLAMAS

São os anúncios públicos de futuro matrimônio, feitos na igreja, principalmente com o fim de descobrir impedimentos, se os houver. Os nubentes devem ser proclamados nas paróquias do seu domicílio ou quase domicílio, se o tiverem, e na do batismo, e naquelas em que tenham residido por mais de seis meses contínuos, depois da idade núbil. São dispensados da proclamação onde tenham residido unicamente por motivo de estudo. [Os proclamas devem ser lidos na igreja em três domingos e dias santos de guarda, à hora da Missa paroquial, ou a outra hora em que haja regular concurso de fiéis]. Todos os fiéis são obrigados a revelar ao pároco ou ao bispo do lugar, antes da celebração do Matrimônio, os impedimentos de que tiverem conhecimento. Só por motivo grave, o pároco pode assistir ao Matrimônio sem terem passado três dias depois da última proclamação, ou mediante licença do bispo. Não se realizando o matrimônio dentro de seis meses após a última proclamação ou de obtida a dispensa da mesma, deve repetir-se a leitura dos proclamas. Havendo causa legítima, o bispo pode dispensar das proclamações..

PROFECIA

É a predição certa e manifesta de um acontecimento futuro, contingente e livre, que realmente se realizou na época designada e cujo conhecimento, no momento da predição, não pôde ser adquirido por causas naturais. A profecia só pode ser feita por Deus, porque o homem não pode conhecer, com certeza, uma coisa futura, que depende da livre vontade de Deus ou de alguma criatura. Deus fez-se conhecer do seu povo escolhido — o povo de Israel — principalmente por meio das profecias, revelando-se a alguns homens de bom espírito que anunciavam acontecimentos futuros, acompanhando esses anúncios com milagres que Deus permitia que fizessem, para provar o caráter divino da revelação. Pelos milagres o povo conhecia ser verdade o que os profetas anunciavam e cria em Deus. Pela realização das profecias, os homens do tempo em que se realizavam, reconheciam-nas como verdadeiras e criam em Deus. Houve 4 profetas chamados maiores, por serem os seus escritos mais extensos: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Houve 12 profetas chamados menores, porque foram menos extensos no que escreveram.

PROFISSÃO RELIGIOSA

É a consagração temporária ou perpétua que o religioso ou a religiosa faz da sua pessoa a Deus (de forma simples ou solene), prometendo viver segundo a regra e o espírito da Ordem Religiosa a que pertence. Para fazer profissão perpétua, é necessário ter 21 anos de idade, quer a profissão seja simples, quer seja solene.

PÚLPITO

É uma tribuna que na igreja é destinada à pregação. Geralmente está colocado em uma coluna ou na parede da igreja, do lado do Evangelho, à altura suficiente para que o pregador se possa fazer ouvir de todos os fiéis que assistem à pregação. Nas igrejas catedrais, fica do lado da Epístola, para o pregador estar voltado para o bispo.

PURGATÓRIO

É o lugar onde as almas dos que morrem na graça de Deus, mas com algum pecado venial ou sem estarem purificadas das penas temporais devidas aos pecados graves já perdoados, expiam pelo sofrimento as penas dos pecados cometidos neste mundo, até que satisfaçam à justiça divina, para poderem entrar no Céu. Os sofrimentos das almas do Purgatório consistem em estarem privadas da visão de Deus e estarem ligadas pelos tormentos do fogo. Não sofrem somente: gozam também, porque têm a certeza de ir para o Céu e estão na graça de Deus. Nós podemos socorrê-las com os nossos sufrágios - orações, esmolas, sacrifícios, e, principalmente, oferecendo por elas o Santo Sacrifício da Missa. A Sagrada Escritura assim nos ensina, dizendo que: 'é santo e salutar o pensamento de orar pelos defuntos, para que sejam livres dos seus pecados' (II Mc 12, 46). O Purgatório é apenas um lugar de expiação e durará só até ao fim do mundo.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)