sexta-feira, 6 de outubro de 2017

EXERCÍCIOS DO AMOR DIVINO A JESUS (Parte III)

34 exercícios de amor a Jesus, propostos por São João Eudes, em honra e devoção aos 34 anos de sua vida; um ano no ventre de Maria e 33 de sua vida nesta terra.




PARTE III

18. Ó meu querido Jesus, quão amável sois Vós e quão pouco se Vos ama. O mundo não pensa em Vós e, assim, também não Vos ama; não se pensa senão em Vos ofender e a perseguir aqueles que Vos amam. Que eu, ao menos, pense em Vós e queira amar somente a Vós! Quem me dera poder amar-Vos em nome de toda a humanidade a fim de expiar a indiferença geral de tantos homens ingratos!

19. Ó Filho eterno do Pai, amável e amoroso, que se dispusestes a me amar desde toda a eternidade, razão pela qual também eu, se houvera existido eternamente, deveria também eternamente Vos amar. Não sendo isso possível, justo seria então amar-Vos desde que alcancei o uso da razão. Mas, ai de mim, bem mais tarde comecei a amar-Vos e, ainda pior, não me atreveria assegurar-Vos agora de que já Vos amo como deveria. Deus eterno que, em Vossa eternidade, nunca deixastes de me amar por um só momento, confesso que ainda não sei se ainda hoje sou capaz de Vos amar dignamente um só momento; o que sei com certeza, eivado de contrição e arrependimentos, é que não deixei nem um único dia de Vos ofender. E por que não morro de pesar e não se desfaz em mil pedaços o meu coração indigno ao mergulhar nesta minha incompreensível ingratidão? E como meus olhos permanecem insensíveis e indiferentes diante de tal tragédia espiritual, quando deveriam verter um mar de lágrimas, e lágrimas de sangue, para deplorar e estancar minha inexplicável ingratidão para com Vossa bondade infinita? Ó amor de Jesus, não quero mais ingratidão, nem mais ofensas, nem mais pecados, nem mais infidelidades para com Vós, que sois todo bondade e puro amor!

20. Ó amor eterno, desde a eternidade o Pai e o Espírito Santo Vos amam, amor do qual me alegro imensamente. Eu me uno e me desvaneço neste abismo de amor que o Vosso Pai e o Divino Espírito professam a Vós desde toda a eternidade!

21. Ó beleza eterna, ó bondade eterna, se tivesse eu neste mundo uma eternidade para amar-Vos, certamente nesse amor me demandaria por inteiro; não sendo assim, e me cabendo apenas os anos que me restam viver, com esforço ainda maior devo consagrar-me ao Vosso santo amor. Fazei que eu viva senão para amar-Vos e que não perca de vista o cumprimento deste santo propósito em nenhum instante da minha vida. Ou morrer ou amar, e mais nada... fazei que eu Vos ame eternamente e, aconteça o que acontecer, que desde agora eu seja parte deste amor oferecido a Vós por toda a eternidade. Ó eternidade de amor, ó meu Jesus tão querido, que eu seja cortado, queimado, feito pó e sujeito a sofrer outros mil tormentos nesta vida, se isso for da Vossa vontade, contanto que eu Vos possa amar por meio deles pelos séculos dos séculos!

22. Ó Rei dos séculos e dos tempos, ó Amor da minha alma, que resgatastes com o Vosso sangue todos os momentos da minha vida para Vos amar, o que tenho feito a não ser empregar o meu tempo a amar a mim mesmo, as coisas do mundo e as criaturas, desperdiçando assim um tempo precioso comprado por um preço tão elevado! É mais que tempo, ó meu Jesus, que eu passe a Vos amar de verdade, colocando toda a minha vida neste santo exercício, como se não existisse no mundo senão eu e Vós e como não houvesse mais nada a fazer senão pensar em Vós, em amar-Vos, em falar-Vos de coração para coração, sem me preocupar com o que acontece à minha volta, com o meu espírito tomado por inteiro no anelo insaciável de Vos amar cada dia mais e mais. Ó meu Jesus, inspirai em mim este desejo e tornai-o tão ardente e abrasador que se converta num anseio de puro e constante amor pela Vossa divina paixão, em querer sempre Vos servir, em Vos procurar noite e dia sem desfalecer. Convertei-me, ó meu Jesus, em um incêndio de amor pulsando de amor por Vós!

23. Com que imenso amor, ó meu Jesus, cobristes os céus e a terra e o derramastes em todos os lugares e sobre todas as Vossas criaturas, amor sem medida e infinitamente digno de ser amado. Um amor infinito que, em todo lugar, dedicais ao Vosso Pai e Vosso Divino Espírito e que, com o mesmo amor, sois correspondido por eles, o mesmo amor inesgotável com que me amais e amais a todas as criaturas em todos os lugares. Concedei-me a graça de corresponder a este Vosso amor com fervor renovado a cada dia. Neste propósito, unido e conformado à Vossa Divina Majestade, elevo o meu espírito e a minha vontade a todos os lugares e aos confins do universo para, assim, poder amar-Vos, glorificar-Vos e adorar-Vos infinitas vezes pelos méritos do Vosso próprio amor e também do amor do Vosso Pai e do Espírito Santo, manifestado em todos os lugares e sobre todos os seres que se encontram no céu, na terra e até no inferno.

24. Ó bondade infinita, seria necessário para amar-Vos dignamente dispor-se de um amor infinito; quanta alegria e felicidade o meu coração experimenta ao saber que sois, ó meu bom Jesus, tão bom e tão amoroso que, ainda que todos os seres do céu e da terra se unissem por toda a eternidade, para expressar conjuntamente nosso amor por Vós, isso ainda não seria suficiente. Somente Vós, com o Pai e o Espírito Santo, podeis amar-Vos como mereceis com um amor verdadeiramente infinito!

25. Ó bondade infinita, se eu fosse o senhor de todos os corações e tivesse a capacidade afetiva de todos os homens e de todos os anjos; se eu tivesse infinitos corações com infinitas possibilidades de amar, eu deveria usá-los todos para amar Aquele que me é infinitamente amável e que se vale de todas as fontes de sabedoria, de poder, de bondade e de todas as demais perfeições divinas para me amar e aplicar as maravilhas de sua caridade infinita em relação a mim. Quão obrigado estou, portanto, em usar a minha limitação extrema para Vos amar, ó meu senhor! Eis pois, meu querido Jesus, porque devo dirigir e consumir todas as forças do meu corpo e da minha alma apenas para Vos amar! É bem pouco, reconheço e, assim, quero reunir comigo todas as forças do céu e da terra, já que me foram dadas para Vos amar. Como isso ainda é pouco, ouso valer-me de todas as potências de Vossa divindade e de Vossa humanidade, que também me legastes por amor, para Vos amar como mereceis! Eu Vos amo, ó Jesus, e Vos amo com todas as minhas forças, com todas as forças do meu corpo e da minha alma, com todas as criaturas do céu, com a Vossa divindade adorável e com a Vossa divina humanidade.

26. Mas o que eu estou fazendo, meu Deus, se eu não sou digno de Vos amar e somente Vós podeis exercer uma ação tão nobre e tão divina? É por isso que, enquanto posso, me prostro aos Vossos pés, contrito e humilhado, e me entrego inteiramente a Vós de modo que, aniquilando-me diante do vosso amor onipotente, que Vos fizestes assumir a nossa condição humana, Vos ofereço a posse de todo o meu ser. Nesta condição, Vós mesmo havereis de ser o objeto do Vosso amor na minha humilde pessoa, com um amor verdadeiramente digno de Vós; e, assim, eu também poderei doravante Vos amar, não por mim mesmo e nem pelas próprias forças do meu espírito e do meu coração, mas senão por Vós e pela onipotência do Vosso Espírito e do Vosso próprio Divino Coração.

27. Ó amabilíssimo Jesus, Vós nos assegurastes nas Sagradas Escrituras que o Pai nos ama como Ele Vos ama: dilectio qua dilexisti me em ipsis sit e que Vós nos amais com o mesmo amor que estais unido ao Pai, isto é, com um coração e um amor infinito: sicut Dilexit me Pater, et dilexi ego Vos - 'Como o Pai me ama, assim também eu vos amo' (Jo 15, 9). Depois, ordenastes que Vos amássemos da mesma forma, isto é, como Vós amais o Pai, exigindo-nos ainda a perseverança do Vosso amor,  imitando Vosso respeito ao Pai Celestial: manete in dilectione mea. Se praecepta mea servaveritis, manebite em dilectione mea, sicut et ego Patris mei praecepta servavi e maneo em ejus dilectione  - Perseverai no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor (Jo 15, 9-10). 

Mas, Senhor, Vós conheceis a minha incapacidade e impotência de Vos amar e, assim, eu Vos rogo, ó meu Deus, dai-me o que ordenais e imponde em mim o que desejais: da quod jubes, et jube quod  vis, direi como Santo Agostinho. Aniquilai em mim o meu próprio coração e o meu amor próprio, trocando-os pelo Vosso Coração e pelo Vosso Amor Divino que são os mesmos do Vosso Pai Celestial, para que doravante eu possa amar-Vos como Vós amais o Pai e Ele Vos ama. Que eu persevere em Vosso amor tal como Vós permaneceis fiel no amor ao Vosso Pai e que todas as minhas obras sejam feitas sob a luz deste mesmo amor divino! Sim, ó meu Jesus, assim Vos quero amar: com o mesmo amor eterno, infinito e sem medidas com que o Vosso Pai Vos ama e com que Vós O amais.

E é esse amor infinito do vosso Coração e é esse imenso Coração abrasado de amor que eu Vos quero oferecer e que, na realidade, ofereço como se fossem meus em vez do meu próprio coração e do meu amor imperfeito, uma vez que me foram dados por Vós juntamente com o Santíssimo Coração de Maria, sua santa Mãe, coração este mais doce, mais amado e mais amoroso de todos os que Vos adoram, em união com todos os corações que Vos amam no Céu e na terra. Estes corações também são meus pois, como ensina o Apóstolo, o Pai, ao nos conceder o inefável mistério da Pessoa do seu Filho, outorgou-nos com Ele tudo o mais que Lhe pertencia - quomodo non etiam cum illo omnia nobis donavit?  - '... como não nos dará também com Ele todas as coisas? (Rm 8, 32).

28. Ó Jesus, Vós sois puro no mais alto grau, a própria pureza personificada; assim, Vós me amais com um amor puríssimo. Da minha parte, eu também quero amar-Vos com o amor mais puro de que seja capaz. E, portanto, quero amar-Vos com o  Vosso próprio e puríssimo amor; e amar-vos com o mesmo amor puríssimo que amais e sois amado pelo Pai e pelo Espírito Santo, pela Vossa Mãe Santíssima, pelos Vossos Anjos e Santos. Ó Pai, ó Espírito Santo, amai o meu Salvador em meu nome e supri as limitações do meu amor nas Vossas Divinas Pessoas. Ó Mãe de Jesus, ó anjos, ó santos e santas de Jesus, vinde em meu auxílio para que possamos unir as nossas forças para amar melhor o nosso Deus e Criador. Vinde e amemos o nosso amabilíssimo Salvador, dispondo e consumindo todo o nosso ser e todas as nossas forças para amar Aquele que nos criou apenas para amá-lO.

(versão para o português do autor do blog)