segunda-feira, 27 de junho de 2016

FOTO DA SEMANA

'Derramarei sobre vós águas puras, que vos purificarão de todas as vossas imundícies e de todas as vossas abominações' (Ez 36, 25)


domingo, 26 de junho de 2016

26 DE JUNHO - SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ


São Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu em 09 de janeiro de 1902 em Barbastro, Espanha. Em 02 de outubro de 1928, durante um retiro espiritual em Madrid, concebeu e fundou o OPUS DEI, atualmente prelazia pessoal da Igreja Católica. A missão específica do Opus Dei é promover, entre homens e mulheres de todo o âmbito da sociedade, um compromisso pessoal de seguir a Cristo, de amor a Deus e ao próximo e de procura da santidade na vida cotidiana. Faleceu em Roma em 26 de junho de 1975. Foi beatificado em 17 de maio de 1992 e canonizado, pelo Papa João Paulo II na Praça de São Pedro, em 06 de outubro de 2002. Sua obra mais conhecida é Caminho, escrita como orientações espirituais em diferentes parágrafos. Outras obras do autor são ForjaSulco e É Cristo que Passa.

A CRUZ NÃO É UM CONSOLO FÁCIL

'A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de fáceis consolações. Começa logo por ser uma doutrina de aceitação do sofrimento, inseparável de toda a vida humana. Não vos posso esconder - e com alegria pois sempre preguei e procurei viver a verdade de que, onde está a Cruz, está Cristo, o Amor - que a dor apareceu muitas vezes na minha vida; e mais de uma vez tive vontade de chorar. Noutras ocasiões, senti crescer em mim o desgosto pela injustiça e pelo mal. E soube o que era a mágoa de ver que nada podia fazer, que, apesar dos meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar aquelas situações iníquas.

Quando vos falo de dor, não vos falo apenas de teorias. Nem me limito a recolher uma experiência de outros, quando vos confirmo que, se sentis, diante da realidade do sofrimento, que a vossa alma vacila algumas vezes, o remédio que tendes é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que as aflições hão-de ser santificadas, se vivermos unidos à Cruz.

Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, se convertem em reparação, em desagravo, em participação no destino e na vida de Jesus, que voluntariamente experimentou, por amor aos homens, toda a espécie de dores, todo o gênero de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado, insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da morte. Ainda agora, Cristo continua a sofrer nos seus membros, na Humanidade inteira que povoa a Terra e da qual Ele é Cabeça, Primogênito e Redentor'.
                                                                                                                         (É Cristo que Passa)

DOS CUIDADOS COM OS MORTOS (IV)

SANTO AGOSTINHO

PARTE III

CAPÍTULO X

Também nos são relatadas várias aparições, que não podemos negligenciar de abordar na presente dissertação. Fala-se que certos falecidos manifestaram-se a pessoas vivas durante o sono ou através de outro modo. E a essas pessoas, que ignoravam o lugar onde jazia os cadáveres insepultos, os mortos indicavam os lugares e pediam para que lhes providenciasse a sepultura da qual foram privados.

Dizer que tais visões são falsas parece-nos afrontar e contradizer testemunhos escritos de alguns autores cristãos, bem como a íntima convicção que têm as pessoas que testemunharam tais fatos. Eis, portanto, a resposta mais sensata: não é necessário pensar que os falecidos agem na realidade, quando parecem dizer, indicar ou pedir em sonho aquilo que nos é relatado, pois muitas vezes as pessoas vivas também aparecem em sonhos, sem disso terem consciência. E será dessas mesmas pessoas a quem apareceram nos sonhos que saberemos terem dito ou feito tal ou tal coisa durante a visão... 

Portanto, alguém pode me ver, durante o sonho, anunciando certo acontecimento passado ou predizendo um fato futuro, sendo que eu mesmo ignore totalmente a coisa, sem poder questionar o próprio sonho que o outro teve, ou se ele estava acordado enquanto eu dormia, ou se ele dormia enquanto eu estava acordado, ou se nós dois estávamos dormindo ou acordados ao mesmo tempo ao ter ele o sonho em que me via.

Logo, o que há de estranho nos vivos verem os mortos em sonhos, que nada sabem ou sentem, dizendo certas coisas que, ao acordarem, percebem que são verdadeiras? Eu estou mais inclinado a crer na mediação dos anjos, que receberiam do alto a permissão ou a ordem de se manifestarem em sonhos para indicar os corpos a serem enterrados, sendo que aqueles que viveram nesses corpos tudo ignoram a esse respeito. Essas aparições podem ter sua utilidade, seja para o consolo dos vivos - que vêem a imagem dos seus falecidos queridos - seja para recordar aos homens o dever de humanidade que é o sepultamento dos falecidos. Isso não traz auxílio para os mortos, mas a sua negligência poderia ser classificada de impiedade culposa.

Algumas vezes ocorrem visões que levam a cometer erros grosseiros aqueles que as tiveram. Imaginemos alguém que teve o mesmo sonho que Eneas [da Eneida, de Virgílio]. O poeta afirma ter visto no inferno, em visão poética e falaciosa, a imagem de um morto que não fora sepultado e põe a mensagem na boca de Palinuro; e quando Eneas acorda, procura e encontra o corpo do defunto no exato lugar em que jazia, como soubera pelo aviso que teve no sonho, e o sepulta conforme o pedido que recebera no mesmo sonho. Como a realidade era igual à que teve no sonho, passou a crer que é necessário sempre enterrar os mortos para que seja permitido às almas atingirem a sua última morada. Sonhou, assim, que as leis do inferno nos impedem de entrar na morada eterna enquanto os nossos corpos não recebem uma sepultura. Ora, se algum homem adotar tal crença, não estará ele se afastando demais do caminho da Verdade?

CAPÍTULO XI

O homem é tão fraco que crê que viu a alma de alguém caso este morto lhe apareça em sonho. Mas se sonha com uma pessoa viva, fica-se demonstrado que não viu nem o corpo nem a alma dela, mas somente a sua imagem, como se os mortos não pudessem aparecer do mesmo modo que os vivos, sob a forma de imagens semelhantes.

Eis a narração de um fato que ouvi em Milão: certo credor reclamava o pagamento de uma dívida e exibia a cautela assinada por um senhor recém-falecido ao seu filho, que ignorava que o pai havia efetuado o pagamento do empréstimo [antes de falecer]. O jovem, muito aborrecido, estranhava o fato de seu pai não ter-lhe falado nada sobre a existência dessa dívida, embora o testamento tenha sido feito. Em sua extrema angústia, eis que vê o seu pai aparecer-lhe em sonho indicando o lugar onde se encontrava o recibo que anulava a cautela; ao encontrar o recibo, mostrou-o ao credor e anulou a reclamação mentirosa, recuperando o documento assinado que não fora devolvido a seu pai quando do pagamento da dívida. Eis aí um fato em que se supõe que a alma do defunto tenha se preocupado com o seu filho, vindo a seu encontro enquanto dormia, para avisar-lhe o que este ignorava, livrando-o de uma séria preocupação.

Praticamente na mesma época em que me contaram esse fato, enquanto eu ainda residia em Milão, aconteceu a Eulógio, ótimo professor de Cartago e meu discípulo nessa arte, como ele mesmo me recordou, o seguinte acontecimento (que ele próprio me narrou quando retornei à África): ele estava fazendo um curso sobre as obras de Cícero e preparava uma lição sobre certa passagem obscura que não conseguia compreender. Tal preocupação não o deixava dormir, mas eis que, de repente, eu lhe apareço durante o sono e explico-lhe as frases que lhe eram incompreensíveis. Ora, certamente não era eu, mas a minha imagem - sem eu o saber! Eu estava bem longe, do outro lado do mar, ocupado com um outro trabalho ou talvez dormindo, sem sentir qualquer tipo de preocupação com as dificuldades dele. Como, então, se produziram tais fenômenos? Não sei. Mas seja como for, por que razão devemos acreditar que os mortos nos aparecem em sonhos, na mesma forma de imagem, como acontece com os vivos? Uns e outros ignoram completamente serem objeto de aparições e também não se preocupam em saber para quem, onde e quando aconteceram.

CAPÍTULO XII

Algumas visões, ocorridas durante o estado de vigília, são semelhantes aos sonhos. Acontecem a pessoas que estão com os sentimentos conturbados, como os frenéticos e os loucos de todo gênero. Conversam consigo mesmos, como se falassem com outras pessoas presentes ou ausentes, vivas ou falecidas, cujas imagens aparecem-lhes à frente dos olhos. Mas os vivos não sabem que essas pessoas imaginam estar conversando com eles, já que de fato não se encontram lá, nem falam nada. Essas visões imaginárias surgem da perturbação dos sentidos. Do mesmo modo, aqueles que já deixaram esta vida aparecem a pessoas que têm o cérebro perturbado, como se estivessem presentes, sendo que, de fato, não estão lá, mas bem longe, e nem supõem que alguém tenha percebido as suas imagens em uma visão imaginária.

Abordemos um outro fato semelhante: existem pessoas que ficam sem o domínio dos sentidos ainda mais do que ao dormir. Absorvidas que ficam em suas visões imaginárias, julgam ver vivos e mortos. Ao retornar ao uso da razão, declaram os nomes dos falecidos que viram, e as pessoas que os escutam acreditam que realmente tal fato se verificou. Os ouvintes, contudo, não percebem que nessas mesmas visões apareceram pessoas vivas que não estiveram lá de verdade e que sequer souberam do ocorrido.

Isso aconteceu com um homem chamado Curma, habitante de Tullium, município próximo a Hipona, que era membro do Conselho Municipal, pequeno magistrado da aldeia e simples camponês. Caindo doente, entrou em profundo estado de letargia e ficou como que morto durante vários dias; como exalava pouquíssimo ar pelas narinas, indicando um grau mínimo de vida, não foi sepultado; mas não mexia nenhum membro e seus olhos e outros sentidos permaneciam insensíveis a qualquer tipo de estímulo. Mesmo assim, tinha visões como aqueles que dormem e as contou alguns dias depois, quando se libertou do sono. 

Assim disse quando abriu os olhos: 'Vão imediatamente à casa do Curma ferreiro e vejam o que está acontecendo por lá'. Ao chegarem lá, ficaram sabendo que esse Curma havia falecido no exato momento em que o primeiro saía do estado letárgico e retornava à vida com sentidos. Interessados pelo ocorrido, os assistentes interrogaram-no e ele lhes disse que o Curma ferreiro havia recebido ordem de comparecer perante Deus no mesmo momento em que ele havia sido reenviado para este mundo. Lá, no outro mundo que voltara, ficara sabendo que não era o Curma da Cúria Municipal que deveria se apresentar à mansão dos mortos, mas o Curma ferreiro. Nas visões que teve durante os sonhos, o Curma da Cúria Municipal reconheceu entre os mortos alguns vivos que conhecera aqui, sendo tratados de acordo com os méritos que cada um teve durante a vida.

Eu talvez acreditaria nessa história se todas as pessoas que viu fossem realmente falecidas, isto é, se o doente não tivesse visto em seus sonhos outras pessoas que ainda vivem, como, por exemplo, clérigos da sua região e, entre outros, um padre que lhe disse para se batizar em Hipona, a quem ele respondeu: 'Eu já fui batizado'. Portanto, em sua visão, ele percebera também padres, clérigos e eu mesmo, ou seja, seres vivos. E entre estes, vira outros mortos.

Portanto, por que não havemos de crer que ele viu esses mortos da mesma forma como viu a nós, isto é, viu uns e outros sem que ninguém soubesse disso e estando todos eles distantes? Pois tivera para si uma representação imaginária de pessoas e lugares; ele viu a propriedade onde aquele padre morava com seus clérigos, viu Hipona onde eu o tinha batizado - como alegara. Mas, de fato, ele não estivera nesses lugares onde tinha a ilusão de ter estado; ele ignorava o que aí se fazia no momento da visão. Se ele realmente tivesse estado ali, certamente saberia o que ali se fazia. Portanto, foi uma espécie de visão em que os objetos não se apresentam como são na realidade, mas sob a sombra de suas imagens.

Finalmente, esse homem ainda contou que, na última das suas visões, ele fora levado ao Paraíso e lá lhe disseram, antes de o devolverem aos seus: 'Ide e faze-te batizar se quiserdes um dia estar nesta morada de bem-aventurados'. Avisado de receber o batismo de minhas mãos, ele respondeu que já o recebera, mas a voz que lhe falava insistiu: 'Ide e faze-te batizar realmente porque o teu batismo é imaginário'. Assim, após sua cura, ele veio a Hipona próximo do tempo da Páscoa; e fez-se inscrever na lista dos aspirantes [ao batismo], sendo desconhecido de mim e de muitos outros. Não confiou suas visões a mim ou a outros padres. Recebeu o batismo e, terminados os dias santos, retornou para a sua casa. 

Fiquei sabendo da história dois anos depois - ou até mais - por um amigo comum que foi fazer uma refeição em minha casa, quando falávamos sobre esse tipo de assunto. Mais tarde, consegui, depois de muita insistência, que me contasse a história, na presença de seus concidadãos, gente honrada, que se apresentaram como testemunhas da realidade dos fatos: a sua estranha doença, seus longos dias de morte aparente, o caso do outro Curma, ferreiro - conforme narrado acima - enfim, todos os pormenores que se lembrava. E todos testemunharam já terem ouvido essa narração de sua boca, à medida que ele a divulgava. Conclui-se, assim, que ele vira seu batismo, a mim, Hipona, a basílica e o batistério não na realidade, mas na imagem, da mesma forma como vira outras pessoas vivas, sem que elas tenham percebido isto. Logo, por que não admitir que ele viu os mortos sem que estes tenham percebido?

('De Cura pro Mortuis Gerenda' - O Cuidado Devido aos Mortos, de Santo Agostinho - Parte IV)

quarta-feira, 22 de junho de 2016

A PLENITUDE DO AMOR

Irmãos caríssimos, o Senhor definiu a plenitude do amor com que devemos amar-nos uns aos outros, quando disse: 'Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos' (Jo 15,13). Daqui se conclui o que o mesmo evangelista João diz em sua epístola: 'Jesus deu a sua vida por nós. Portanto, também nós devemos dar a vida pelos irmãos' (1Jo 3,16), amando-nos verdadeiramente uns aos outros, como ele nos amou até dar a sua vida por nós. É certamente a mesma coisa que se lê nos Provérbios de Salomão: 'Quando te sentares à mesa de um poderoso, olha com atenção o que te é oferecido; e estende a tua mão, sabendo que também deves preparar coisas semelhantes' (Pr 23,1-2).

Ora, a mesa do poderoso é a mesa em que se recebe o corpo e o sangue daquele que deu a sua vida por nós. Sentar-se à mesa significa aproximar-se com humildade. Olhar com atenção o que é oferecido, é tomar consciência da grandeza desta graça. E estender a mão sabendo que também se devem preparar coisas semelhantes, significa o que já disse antes: assim como Cristo deu a sua vida por nós, também devemos dar a nossa vida pelos irmãos. É o que diz o apóstolo Pedro: 'Cristo sofreu por nós, deixando-nos um exemplo, a fim de que sigamos os seus passos' (1Pd 2,21). Isto significa preparar coisas semelhantes. Foi o que fizeram, com ardente amor, os santos mártires. Se não quisermos celebrar inutilmente as suas memórias e nos sentarmos sem proveito à mesa do Senhor, no banquete onde eles se saciaram, é preciso que, como eles, preparemos coisas semelhantes.

Por isso, quando nos aproximamos da mesa do Senhor, não recordamos os mártires do mesmo modo como aos outros que dormem o sono da paz, ou seja, não rezamos por eles, mas antes pedimos para que rezem por nós, a fim de seguirmos os seus passos. Pois já alcançaram a plenitude daquele amor acima do qual não pode haver outro maior, conforme disse o Senhor. Eles apresentaram a seus irmãos o mesmo que por sua vez receberam da mesa do Senhor.

Não queremos dizer com isso que possamos nos igualar a Cristo Senhor, mesmo que, por sua causa, soframos o martírio até o derramamento de sangue. Ele teve o poder de dar a sua vida e depois retomá-la; nós, pelo contrário, não vivemos quanto queremos, e morremos mesmo contra a nossa vontade. Ele, morrendo, matou em si a morte; nós, por sua morte, somos libertados da morte. A sua carne não sofreu a corrupção; a nossa, só depois de passar pela corrupção, será por ele revestida de incorruptibilidade, no fim do mundo. Ele não precisou de nós para nos salvar; entretanto, sem ele nós não podemos fazer nada. Ele se apresentou a nós como a videira para os ramos; nós não podemos ter a vida se nos separarmos dele.

Finalmente, ainda que os irmãos morram pelos irmãos, nenhum mártir derramou o seu sangue pela remissão dos pecados de seus irmãos, como ele fez por nós. Isto, porém, não para que o imitássemos, mas como um motivo para agradecermos. Portanto, na medida em que os mártires derramaram seu sangue pelos irmãos, prepararam o mesmo que tinham recebido da mesa do Senhor. Amemo-nos também a nós uns aos outros, como Cristo nos amou e se entregou por nós.

('Tratado do Evangelho de São João', de Santo Agostinho)

domingo, 19 de junho de 2016

'E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?'

Páginas do Evangelho - Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum


Jesus encontra-se em oração em um lugar retirado. O Filho de Deus, em sua condição humana, suplicando graças à Trindade Santa, da qual constitui a Segunda Pessoa, constitui um mistério insondável. E Jesus reza sozinho, em profunda meditação, como a indicar, com soberana clareza, que a revelação extraordinária que será dada a seguir - a identidade do Cristo - perpassa pela oração profunda e pelos mistérios da graça. E, neste espírito de profundo recolhimento interior, que antecede grandes revelações, Jesus indaga aos seus discípulos: 'Quem diz o povo que eu sou?' (Lc 9, 18).

Neste 'certo dia', as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado no mundo hebraico; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Na oração profunda, Jesus afasta-se do júbilo fácil do mundo e das multidões errantes, que O tomam por João Batista, por Elias, por um dos antigos profetas. E se aproxima intimamente daqueles que haverão de ser os primeiros apóstolos da Igreja nascente, compartilhando-lhes na pergunta do juízo de fé:  'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Lc 9, 20), a resposta à sua identidade salvífica, saída da boca de Pedro: 'O Cristo de Deus' (Lc 9, 20).

Sim, Jesus é o Cristo de Deus e o seu reino não é deste mundo. Ante a confissão de Pedro, Jesus revela a sua origem e a sua missão e faz o primeiro anúncio de sua Paixão, Morte e Ressurreição: 'O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia' (Lc 9, 22). E, um passo além, faz o testemunho da cruz, pela privação do mundo: 'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará (Lc 9, 33-24).

Eis aí o legado definitivo de Jesus aos homens de sempre: a Cruz de Cristo é o caminho da salvação e da vida eterna. Tomar esta cruz, não apenas hoje ou em momentos específicos de grandes sofrimentos em nossas vidas, mas sim, todos os dias, a cada passo, em cada caminho, é a certeza de encontrá-lO na glória e da plenitude das bem-aventuranças. A Cruz de Cristo é a Porta do Céu. 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

FIDELIDADE E PENITÊNCIA

Enquanto estamos aqui na terra, façamos penitência. Com efeito, somos argila na mão do artífice. Se o oleiro, tendo feito um vaso, e, em suas mãos, este se entorta ou quebra, de novo torna a fazê-lo. Se, porém, decidiu pô-lo no forno, nada mais há que fazer. Assim também nós, enquanto estamos no mundo e temos tempo, façamos, de coração, penitência pelos pecados cometidos, para sermos salvos pelo Senhor.

Porque depois de sairmos do mundo já não mais poderemos reconhecer os nossos pecados nem fazer penitência. Por este motivo, irmãos, se fizermos a vontade do Pai, mantivermos casto nosso corpo e guardarmos os preceitos do Senhor, alcançaremos a vida eterna. O Senhor disse no evangelho: 'Se não fordes fiéis no pouco, quem vos confiará o muito? Pois eu vos digo: quem é fiel no pouco também será fiel no muito' (Lc 16,10-11). Quis dizer: Guardai casto o corpo e imaculado o caráter, para que sejamos dignos de receber a vida.

E ninguém venha dizer que a carne não será julgada nem ressurgirá. Confessai: em que fostes salvos, em que recobrastes a vista, se não foi vivendo ainda nesta carne? Convém-nos, portanto, proteger a carne como templo de Deus. Tal qual fostes chamados no corpo, assim no corpo ireis. Cristo Senhor, que nos salvou, era antes só espírito e fez-se carne e assim nos chamou. Do mesmo modo também nós receberemos a recompensa neste corpo. 

Amemo-nos, pois, uns aos outros, para entrarmos todos no reino de Deus. Enquanto temos tempo de ser curados, entreguemo-nos a Deus médico, dando-lhe a paga. Que paga? A penitência brotada de um coração sincero. Com efeito, ele prevê todas as coisas e conhece o que se passa em nosso íntimo. Louvemo-lo, pois, não só de boca, mas de coração, para que nos receba como filhos. De fato o Senhor disse: 'Meus irmãos são aqueles que fazem a vontade de meu Pai' (Lc 8,21-).

(Homília de um autor desconhecido do século II)

terça-feira, 14 de junho de 2016

NOSSA SENHORA DE TODOS OS NOMES (5)

5. NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM

Os habitantes de antigas povoações portuguesas situadas na orla marítima e associadas às atividades de navegação, bem como das vilas que representaram importantes entrepostos de grandes rotas terrestres, uma vez sujeitos a toda sorte de riscos e perigosos em suas constantes e demoradas viagens, recorriam sempre à proteção divina e da Virgem Maria, invocando-a sob nomes como Nossa Senhora da Ajuda ou Nossa Senhora da Boa Viagem. Era, pois, Nossa Senhora da Boa Viagem a companhia segura dos marinheiros, comerciantes e viajantes portugueses em suas incursões de além-mar e por terras distantes, devoção que levaram também a estes lugares remotos, em agradecimento ao bom termo de tais andanças e navegações.

Em geral, a imagem de Nossa Senhora trazida na viagem era alocada no altar de uma pequena capela construída em local privilegiado e de grande fluxo de viajantes, que se tornava então, ponto obrigatório de parada e de invocação pela continuidade de 'uma boa viagem'. Com este nome, Nossa Senhora passava a ser a padroeira dos viajantes locais e tal devoção se espalhou rapidamente por diferentes países e lugares. 

No Brasil, essa prática devocional à Nossa Senhora da Boa Viagem começou na Bahia e Pernambuco (cujo bairro da Boa Viagem assimilou por inteiro o nome da própria devoção) e depois se estendeu pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e outros estados. Em Belo Horizonte, a devoção assumiu a própria condição de padroeira da capital mineira (comemoração em 15 de agosto), sendo erigida em 1923, data em que a cidade foi oficializada como arcebispado, uma catedral dedicada à Nossa Senhora da Boa Viagem. 

Na iconografia tradicional, Nossa Senhora da Boa Viagem é representada sobre nuvens, trazendo a cabeça coberta por véu e coroa; na mão esquerda, leva o Menino Jesus e, na mão direita, segura uma nau. Existem, entretanto, muitas variantes da imagem tradicional. A imagem instalada no altar mor da Catedral de Belo Horizonte, por exemplo, é do século 18 e representa a Virgem com o braço direito sobre o peito e o esquerdo apontando para o alto, tendo na base três querubins e uma meia lua. 


Oração a Nossa Senhora da Boa Viagem

Virgem Santíssima, Senhora da Boa Viagem, esperança infalível dos filhos da Santa Igreja, sois guia e eficaz auxílio dos que transpõem a vida por entre os perigos do corpo e da alma. Refugiando-nos sob o vosso olhar materno, empreendemos nossas viagens certos do êxito que obtivestes quando vos encaminhastes para visitar vossa prima Santa Isabel.

Em ascensão crescente na prática de todas as virtudes transcorreu a vossa vida, até o ditoso momento de subirdes gloriosa para os céus; nós vos suplicamos pois, ó Mãe querida: velai por nós, indignos filhos vossos, alcançando-nos a graça de seguir os vossos passos, assistidos por Jesus e José, na peregrinação desta vida e na hora derradeira de nossa partida para a eternidade. Amém.