quarta-feira, 27 de março de 2013

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS (V)


PALAVRAS DE JESUS NA CRUZ

1. Enquanto Jesus é ultrajado na cruz por aquela gente bárbara, Ele suplica por eles e diz: ‘Meu Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem’ (Lc 23, 34). Ó Padre eterno, ouvi vosso Filho bem amado, que, morrendo, vos roga que me perdoeis também a mim, que tantas vezes vos ofendi. Depois Jesus, voltando-se para o bom ladrão que lhe pede perdão, diz: ‘Hoje estarás comigo no paraíso’ (Lc 23, 46). Ó como é verdade o que diz o Senhor por Ezequiel que, quando um pecador se arrepende de suas culpas, Ele se esquece, por assim dizer, de todas as ofensas que lhe foram feitas: ‘Se, porém, o ímpio fizer penitência... não me recordarei mais de todas as suas iniquidades’ (Ez 18, 21). Ó se eu nunca vos tivesse ofendido, ó meu Jesus; mas, visto que o mal está feito, esquecei-vos, eu vos suplico, dos desgostos que vos dei e, por aquela morte tão cruel que sofrestes por mim, levai-me ao vosso reino depois de minha morte e, enquanto eu vivo, fazei que o vosso amor reine sempre em minha alma.


2. Jesus agonizando na cruz, com seus ombros dilacerados e sua alma sumamente aflita, procura quem o console. Olha para Maria; mas essa mãe dolorosa mais o aflige com suas dores. Busca conforto junto de seu Pai; mas este, vendo-o coberto com todos os pecados dos homens, também o abandona. Foi então que Jesus deu um grande brado: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?’ (Mt 27, 46). Este abandono do Pai eterno fez que a morte de Jesus fosse a mais amarga que jamais sofreu algum penitente ou algum mártir, pois foi uma morte toda desolada e privada de qualquer alívio. Ó meu Jesus, como pude viver tanto tempo esquecido de vós? Agradeço-vos o não vos terdes esquecido de mim. Eu vos suplico que me façais recordar sempre da morte cruel que suportastes por meu amor, para que eu nunca mais me esqueça do amor que tendes testemunhado.

3. Afinal, sabendo Jesus que seu sacrifício já estava consumado, disse: ‘Tenho sede’ (Jo 12, 28). E aqueles carrascos lhe puseram nos lábios uma esponja toda embebida no vinagre e fel. Mas, Senhor, vós não vos queixais de tantas dores que vos roubam a vida e agora vos queixais de sede? Ah, eu vos compreendo, meu Jesus, a vossa sede é sede de amor; porque vós nos amais, desejais ser amado por nós. Ajudai-me, pois, a expelir do meu coração todos os afetos que não são para vós: fazei que eu não ame outra coisa senão a vós e nada mais deseja senão cumprir a vossa vontade. Ó vontade de Deus, vós sois o meu amor. Ó Maria, minha Mãe, impetrai-me a graça de não querer outra coisa senão o que Deus quer.

('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

terça-feira, 26 de março de 2013

VIA SACRA (ESTAÇÕES I A IV)

PRIMEIRA ESTAÇÃO: JESUS É CONDENADO À MORTE

V. Por sua condenação à morte:
R. Tende misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Pilatos perguntou: Que fizeste? Jesus respondeu: 'Para isto nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade'. (cf. Jo 18,35-37). Pilatos procurava libertá-lo. Mas os judeus vociferavam: 'Se o soltas, não és amigo do César!' Ouvindo tais palavras, Pilatos o entregou para ser crucificado (Jo 19, 12-16).
Em determinado momento, Jesus me disse: 'Não te admires se, às vezes, és julgada injustamente. Eu, por teu amor, bebi por primeiro o cálice de sofrimentos não merecidos' (Diário - 289).
Ó como são enganosas as aparências e injustos os julgamentos! Ó quantas vezes a virtude sofre opressão só porque fica silenciosa. Conviver sinceramente com aqueles que sempre ferem, exige uma grande renúncia. A gente sente que está perdendo sangue, e não se veem as feridas. Ó Jesus, quantas destas coisas nos desvendará apenas o último dia. E que alegria, pois nenhum dos nossos esforços se perderá (Diário - 236).
Ó Pai bondosíssimo, como és misericordioso por julgares a cada um de acordo com a sua consciência e conhecimento, e não de acordo com as conversas dos homens (Diário - 1456).
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus, como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós!



SEGUNDA ESTAÇÃO: JESUS TOMA A CRUZ AOS OMBROS

V. Pela cruz que lhe foi posta sobre os ombros:
R. Tende misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Jesus disse aos seus discípulos: 'Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me'. (Mt 16, 24); 'Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim'  (Mt 10, 38).
À noite, quando me encontrava na cela vi, de repente, uma grande claridade e, no alto dessa claridade, uma grande cruz de cor cinza escura. Subitamente fui arrebatada para perto dessa cruz mas, olhando para ela, nada compreendia e rezava para saber o que isso devia significar. Nesse momento, vi o Senhor, e perdi de vista a cruz. Jesus estava sentado numa grande claridade até os joelhos, e de tal maneira que não os via. Jesus inclinou-se em minha direção, olhou bondosamente para mim e falou sobre a vontade do Pai Celestial. Dizia-me que a alma mais perfeita e santa é aquela que cumpre a vontade do Pai, mas não são muitas as almas assim (Diário - 603).
Ó meu Deus, nada desejo, a não ser o cumprimento da Vossa Vontade; não importa se será fácil ou difícil. Confio em Vós, Deus misericordioso, e desejo ser a primeira a demonstrar essa confiança que exigis das almas (Diário - 615).
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus, como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós!


TERCEIRA ESTAÇÃO: JESUS CAI POR TERRA

V. Pela sua primeira queda:
R. Tende misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Estou curvado, inteiramente prostrado... Meu coração palpita, minha força me abandona, a luz dos meus olhos já não habita comigo. Amigos e companheiros se afastam da minha praga (Sl 38, 7.11-12).
'Sou três vezes Santo e abomino o menor pecado. Não posso amar uma alma manchada pelo pecado, mas, quando se arrepende, não há limites para a Minha generosidade com ela. A Minha misericórdia a envolve e justifica. Com a Minha misericórdia persigo os pecadores em todos os seus caminhos, e o Meu Coração se alegra quando eles voltam a Mim. Esqueço as amarguras com que alimentaram o Meu Coração e alegro-Me com a volta deles' (Diário - 1728).
Ó Jesus, se eu pudesse tornar-me uma névoa diante de Vós, a fim de cobrir a Terra para que o Vosso olhar não visse os terríveis delitos. Jesus, quando olho para o mundo e sua indiferença para Convosco, lágrimas caem-me dos olhos sem cessar mas, quando olho para uma alma religiosa tíbia, então o meu coração sangra (Diário - 284).
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus, como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós!

 

QUARTA ESTAÇÃO: JESUS ENCONTRA SUA MÃE SANTÍSSIMA

V. Pelas lágrimas de Sua Mãe que veio ao Seu encontro:
R. Tende misericórdia de nós e do mundo inteiro.
'Vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede: há dor como a minha dor?' (Lc 1, 12).
À noite, vi a Mãe de Deus com o peito descoberto transpassado por uma espada, derramando lágrimas amargas e nos defendendo do terrível castigo de Deus. Deus quer nos aplicar um terrível castigo, mas não pode, porque a Mãe de Deus nos defende. Um medo terrível atravessou a minha alma. Se não fosse a Mãe de Deus, de pouco serviriam os nossos esforços. Intensifiquei meus esforços de orações e sacrifícios (Diário - 686).
Ó Maria, uma espada terrível transpassou hoje vossa santa alma. Além de Deus, ninguém sabe do vosso sofrimento. A vossa alma não se abate, mas é corajosa, porque está com Jesus. Doce Mãe, uni meu coração a Jesus, porque só então suportarei todas as provações e experiências e, só em união com Jesus, os meus pequenos sacrifícios serão agradáveis a Deus.
Mãe dulcíssima, ensinai-me a vida interior. Que a espada dos sofrimentos nunca me abale. Ó Virgem pura, derramai coragem no meu coração e velai por ele (Diário - 915).
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus, como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós!

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MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS (IV)


JESUS NA CRUZ

1. Jesus na cruz. Eis a prova do amor de um Deus. Eis a última aparição que o Verbo encarnado fez sobre a terra; aparição de dor, mais ainda de amor. São Francisco de Paula, contemplando um dia o amor divino na pessoa de Jesus crucificado e entrando em êxtase, exclamou três vezes: ‘Ó Deus caridade! Ó Deus caridade! Ó Deus caridade!’ querendo com isso significar que não podemos compreender quão grande foi o amor de Deus para conosco, para morrer por nosso amor.

2. Ó meu querido Jesus, se vos contemplo exteriormente nessa cruz, nada mais vejo senão chagas e sangue. Se, porém, observo o vosso coração, encontro-o todo aflito e triste. Leio nessa cruz que vós sois rei, mas qual a insígnia de rei que ainda tendes? Eu não vejo outro espólio real senão esse madeiro de opróbrio; não vejo outra púrpura, senão a vossa carne dilacerada e ensanguentada; outra coroa, senão esse feixe de espinhos que vos atormenta. Ah, tudo isso, porém, vos consagra como rei de amor, sim, porque essa cruz, esses cravos, essa coroa e essas chagas são insígnias de amor.

3. Jesus, do alto da cruz, não nos pede tanto compaixão mas nossos afetos e, se procura compaixão, busca-a unicamente para que ela nos mova a amá-lo. Ele, por ser a bondade infinita, já merece todo o nosso amor, mas, posto na cruz, procura que o amemos ao menos por compaixão. Ah, meu Jesus, quem não vos há de amar, se vos reconhece pelo Deus que sois e vos contempla na cruz? Ó que setas de fogo vós disparais sobre as almas desse trono de amor. Ó quantos corações atraístes a vós dessa mesma cruz. Ó chagas de meu Jesus, ó belas fornalhas de amor, recebei-me no meio de vós, para que me abrase, não já no fogo do inferno por mim merecido, mas nas santas chamas de amor por aquele Deus que, consumido de tormentos, quis morrer por mim. Meu caro Redentor, recebei um pecador, que, arrependido de vos ter ofendido, vos deseja amar sinceramente. Eu vos amo, bondade infinita; eu vos amo, amor infinito. Ouvi-me, ó meu Jesus, eu vos amo, eu vos amo, eu vos amo. Ó Maria, ó Mãe do belo amor, impetrai-me mais amor para que me consuma de amor por esse Deus que morreu consumido de amor por mim.

('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 25 de março de 2013

INDULGÊNCIAS PLENÁRIAS DA PÁSCOA

No riquíssimo acervo das indulgências (ver links abaixo) concedidas pela Santa Igreja, especial concessão nos é dada (e aos fieis defuntos) por ocasião do Tríduo Pascal (Quinta-feira santa, Sexta-feira santa, Vigília Pascal) mediante a obtenção de indulgências plenárias nestes dias, nas seguintes condições:

Quinta-feira Santa

· Recitação ou canto do hino eucarístico 'Tantum Ergo' durante a solene adoração ao Santíssimo Sacramento que segue à Missa da Ceia do Senhor;

· Visita e adoração ao Santíssimo Sacramento pelo prazo de meia hora.

Sexta-feira Santa - 15 horas

· Participação piedosa da Veneração da Cruz na solene celebração da Paixão do Senhor.

Sábado Santo  

· Recitação do Santo Rosário.

Vigília Pascal - 21 horas

· Participação piedosa da celebração da Vigília Pascal, com renovação sincera das promessas do nosso Santo Batismo.

Condições adicionais:

1. Exclusão de todo afeto a qualquer pecado, inclusive venial.

2. Confissão sacramental, Comunhão eucarística e Oração pelas intenções do Sumo Pontífice. 

(i) estas condições podem ser cumpridas uns dias antes ou depois da execução da obra enriquecida com a Indulgência Plenária, mas é da maior conveniência que a comunhão e a oração pelas intenções do Sumo Pontífice se realizem no mesmo dia em que se cumpre a obra.

(ii) a condição de orar pelas intenções do Sumo Pontífice é cumprida por meio da oração de um Pai Nosso, Ave-Maria e Glória ou uma outra oração segundo a piedosa devoção de cada um.



MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS (III)


JESUS É PREGADO NA CRUZ

1. Apenas chegou o Redentor ao Calvário, triturado de dores e fatigado, arrancam-lhe as vestes já pegadas às suas carnes dilaceradas e arremessam-no sobre a cruz. Jesus estende seus sagrados braços e oferece ao mesmo tempo ao eterno Pai o sacrifício de sua vida, rogando-lhe que o aceite pela salvação dos homens. Os carrascos tomam, então, com fúria os cravos e os martelos e, atravessando-lhe os pés e as mãos, pregam-no na cruz. Ó mãos sagradas, que só com o vosso contato curastes tantos enfermos, por que vos pregam nessa cruz? Ó pés santos, que tanto vos cansastes para nos buscar a nós, ovelhas desgarradas, por que vos atravessam com tanta crueldade? Quando se fere um nervo do corpo humano, é tão aguda a dor, que ocasiona espasmos e delírios. Ora, quão grande terá sido a dor de Jesus, quando lhe foram atravessados os pés e as mãos, cheios de nervos e músculos, pelos duros cravos! Ó meu doce Salvador, tanto vos custou o desejo de ver-me salvo e de conquistar o meu amor e eu, ingrato, tantas vezes desprezei o vosso amor por um nada; agora, porém, o estimo acima de todos os bens.

2. Levantam a cruz com o crucificado e fazem-na cair com violência no buraco feito no rochedo. Esse buraco é em seguida entupido com pedras e madeira e Jesus fica pendente na cruz, para aí consumar sua vida. Estando Jesus já agonizando naquele leito de dores e achando-se tão abandonado e triste, procura quem o console, mas não encontra. Ao menos terão compaixão de vós, ó meu Senhor, os homens que vos veem morrer? Pelo contrário; vejo que uns o injuriam, outros zombam dele; estes blasfemam, aqueles o encarnecem, dizendo: ‘Desça da cruz se é o Filho de Deus. Salvou os outros e agora não pode salvar-se a si mesmo’ (Mt 27, 40). Ah, bárbaros, ele já está expirando, como é que assim gritais; ao mesmo tempo não o atormenteis com as vossas zombarias.

3. Vê quanto padece naquele patíbulo o teu Redentor. Cada membro sofre o seu tormento e um não pode aliviar o outro. A cada momento ele experimenta penas mortais. Pode-se dizer que durante aquelas três horas que Jesus agonizou na cruz, ele sofreu tantas mortes quantos foram os momentos que aí passou. Não encontra na cruz o mínimo alívio ou repouso. Se se apoia nas mãos ou nos pés, aumenta a dor, já que seu corpo sacrossanto está pendente dessas mesmas chagas. Corre, minha alma, e chega-te enternecida a essa cruz, beija esse altar, sobre o qual morre como vítima de amor por ti o teu Senhor. Coloca-te debaixo de seus pés e deixa que caia sobre ti aquele sangue divino. Sim, meu caro Jesus, que esse sangue me lave de todos os meus pecados e me inflame todo em amor para convosco, meu Deus, que quisestes morrer por meu amor. Ó Mãe das dores, que estais ao pé da cruz, rogai a Jesus por mim.

('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

domingo, 24 de março de 2013

HOSANA AO FILHO DE DAVI!


No Domingo de Ramos, tem início a Semana Santa da paixão, morte e ressurreição de Nosso senhor Jesus Cristo. Jesus entra na cidade de Jerusalém para celebrar a Páscoa judaica com os seus discípulos e é recebido como um rei, como o libertador do povo judeu da escravidão e da opressão do império romano. Mantos e ramos de oliveira dispostos no chão conformavam o tapete de honra por meio do qual o povo aclamava o Messias Prometido: 'Hosana ao Filho de Davi: bendito seja o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel; hosana nas alturas'.

Jesus, montado em um jumento, passa e abençoa a multidão em polvorosa excitação. Ele conhece o coração humano e pode captar o frenesi e a euforia fácil destas pessoas como assomos de uma mobilização emotiva e superficial; por mais sinceras que sejam as manifestações espontâneas e favoráveis, falta-lhes a densidade dos propósitos e a plena compreensão do ministério salvífico de Cristo. Sim, eles querem e preconizam nEle o rei, o Ungido de Deus, movidos pelas fáceis tentações humanas de revanche, libertação, glória e poder.

Mas Jesus, rei dos reis, veio para servir e não para reinar sobre impérios forjados pelos homens. '... meu reino não é deste mundo' (Jo 18, 36). Jesus vai passar no meio da multidão sob ovações e hosanas de aclamação festiva; Jesus vai ser levado sob o silêncio e o desprezo de tantos deles, uns poucos dias depois, para o cimo de uma cruz no Gólgota.

Neste Domingo de Ramos, o Evangelho evoca todas as cenas e acontecimentos que culminam no calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo: os julgamentos de Pilatos e Herodes, a condenação de Jesus, a subida do calvário, a crucificação entre dois ladrões e a morte na cruz...'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito' (Lc 23,46). E desnuda a perfídia, a ingratidão, a falsidade e a traição dos que se propõem a amar com um amor eivado de privilégios e concessões aos seus próprios interesses e vantagens. 

A fé é forjada no cadinho da perseverança e do despojamento; sem isso, toda crença é superficial e inócua e, ao sabor dos ventos, tende a se tornar em desvario. Dos hosanas de agora ao 'Crucifica-O! Crucifica-O!' (Lc 23, 20) de mais além, o desvario humano fez Deus morrer na cruz.  O mesmo desvario, o mesmo ultraje, a mesma loucura que se repete à exaustão, agora e mais além no mundo de hoje, quando, em hosanas ao pecado, uma imensa multidão, em frenesi descontrolado, crucifica Jesus de novo em seus corações! 

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS (II)


 JESUS LEVA A CRUZ AO CALVÁRIO

1. Publicada a sentença contra nosso Salvador, apoderam-se imediatamente dele com fúria. Arrancam-lhe novamente aquele trapo de púrpura e o revestem com suas vestes, para ser crucificado sobre o Calvário, lugar destinado para a morte dos malfeitores. ‘Despiram-lhe a clâmide e o revestiram com suas vestes e o conduziram para ser crucificado’ (Mt 27, 31). Arranjam duas rudes traves, fazem com elas às pressas uma cruz e obrigam-no a carregá-la sobre os ombros até ao lugar de seu suplício. Que barbaridade impor nos ombros do réu o patíbulo sobre o qual deve morrer. Mas assim deve ser, ó meu Jesus, pois que vós tomastes sobre vós todos os meus pecados.

2. Jesus não recusa a cruz, abraça-a até com amor, sendo ela o altar destinado para a consumação do sacrifício de sua vida pela salvação dos homens. ‘E levando sua cruz às costas, saiu para aquele lugar que se chama Calvário’ (Jo 19, 17). Os condenados saem da casa de Pilatos e entre eles se acha também nosso divino Salvador. Ó espetáculo que causou admiração ao céu e à terra: ver o Filho de Deus que segue para morrer por esses mesmos homens que a ela o condenam. Eis realizada a profecia: ‘E eu sou como um cordeiro que é levado para ser sacrificado’ (Lm 11, 19). Jesus oferecia um aspecto tão lastimoso, que as mulheres judias, ao vê-lo, não puderam deixar de chorar: ‘E o choravam e lamentavam’ (Lc 23, 27). Meu caro Redentor, pelos merecimentos dessa viagem dolorosa, dai-me a força de levar com paciência a minha cruz. Eu aceito todas as dores e desprezos que me destinais a sofrer; vós os tornastes amáveis e doces, abraçando-os por vosso amor. Dai-me força de suportá-los com paciência.

3. Contempla, minha alma, o que se passa com o vosso Salvador; vê como de suas chagas ainda frescas escorre o sangue, como está coroado de espinhos e carregado com a cruz. A cada movimento, renovam-se as dores de todas as suas chagas. A cruz começa a atormentá-lo já antes do tempo, pisando seus ombros chagados e martelando-lhes os espinhos da coroa. Ó Deus, quantas dores a cada passo. Consideremos também os sentimentos de amor com que Jesus vai subindo o Calvário, onde o espera a morte. Ó meu Jesus, vós ides morrer por nós. Eu vos voltei as costas no passado e quereria morrer de dor: mas no futuro não sou capaz de abandonar-vos mais, meu Redentor, meu Deus, meu amor, meu tudo. Ó Maria, minha Mãe, alcançai-me a graça de levar a minha cruz com toda a paz.

('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)