PALAVRAS DE JESUS NA CRUZ
1.
Enquanto Jesus é ultrajado na cruz por aquela gente bárbara, Ele suplica por
eles e diz: ‘Meu Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem’ (Lc 23, 34). Ó
Padre eterno, ouvi vosso Filho bem amado, que, morrendo, vos roga que me
perdoeis também a mim, que tantas vezes vos ofendi. Depois Jesus, voltando-se
para o bom ladrão que lhe pede perdão, diz: ‘Hoje estarás comigo no paraíso’
(Lc 23, 46). Ó como é verdade o que diz o Senhor por Ezequiel que, quando um
pecador se arrepende de suas culpas, Ele se esquece, por assim dizer, de todas
as ofensas que lhe foram feitas: ‘Se, porém, o ímpio fizer penitência... não me
recordarei mais de todas as suas iniquidades’ (Ez 18, 21). Ó se eu nunca vos
tivesse ofendido, ó meu Jesus; mas, visto que o mal está feito, esquecei-vos,
eu vos suplico, dos desgostos que vos dei e, por aquela morte tão cruel que
sofrestes por mim, levai-me ao vosso reino depois de minha morte e, enquanto eu
vivo, fazei que o vosso amor reine sempre em minha alma.
2.
Jesus agonizando na cruz, com seus ombros dilacerados e sua alma sumamente
aflita, procura quem o console. Olha para Maria; mas essa mãe dolorosa mais o
aflige com suas dores. Busca conforto junto de seu Pai; mas este, vendo-o coberto
com todos os pecados dos homens, também o abandona. Foi então que Jesus deu um
grande brado: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?’ (Mt 27, 46). Este
abandono do Pai eterno fez que a morte de Jesus fosse a mais amarga que
jamais sofreu algum penitente ou algum mártir, pois foi uma morte toda desolada
e privada de qualquer alívio. Ó meu Jesus, como pude viver tanto tempo
esquecido de vós? Agradeço-vos o não vos terdes esquecido de mim. Eu vos
suplico que me façais recordar sempre da morte cruel que suportastes por meu
amor, para que eu nunca mais me esqueça do amor que tendes testemunhado.
3.
Afinal, sabendo Jesus que seu sacrifício já estava consumado, disse: ‘Tenho
sede’ (Jo 12, 28). E aqueles carrascos lhe puseram nos lábios uma esponja toda
embebida no vinagre e fel. Mas, Senhor, vós não vos queixais de tantas dores
que vos roubam a vida e agora vos queixais de sede? Ah, eu vos compreendo, meu
Jesus, a vossa sede é sede de amor; porque vós nos amais, desejais ser amado
por nós. Ajudai-me, pois, a expelir do meu coração todos os afetos que não são
para vós: fazei que eu não ame outra coisa senão a vós e nada mais deseja senão
cumprir a vossa vontade. Ó vontade de Deus, vós sois
o meu amor. Ó Maria, minha Mãe, impetrai-me a graça de não querer outra coisa
senão o que Deus quer.
('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)