JESUS É PREGADO NA CRUZ
1.
Apenas chegou o Redentor ao Calvário, triturado de dores e fatigado,
arrancam-lhe as vestes já pegadas às suas carnes dilaceradas e arremessam-no
sobre a cruz. Jesus estende seus sagrados braços e oferece ao mesmo tempo ao
eterno Pai o sacrifício de sua vida, rogando-lhe que o aceite pela salvação dos
homens. Os carrascos tomam, então, com fúria os cravos e os martelos e,
atravessando-lhe os pés e as mãos, pregam-no na cruz. Ó mãos sagradas, que só com
o vosso contato curastes tantos enfermos, por que vos pregam nessa cruz? Ó pés
santos, que tanto vos cansastes para nos buscar a nós, ovelhas desgarradas, por
que vos atravessam com tanta crueldade? Quando se fere um nervo do corpo
humano, é tão aguda a dor, que ocasiona espasmos e delírios. Ora, quão grande
terá sido a dor de Jesus, quando lhe foram atravessados os pés e as mãos,
cheios de nervos e músculos, pelos duros cravos! Ó meu doce Salvador, tanto vos
custou o desejo de ver-me salvo e de conquistar o meu amor e eu, ingrato,
tantas vezes desprezei o vosso amor por um nada; agora, porém, o estimo acima
de todos os bens.
2.
Levantam a cruz com o crucificado e fazem-na cair com violência no buraco feito
no rochedo. Esse buraco é em seguida entupido com pedras e madeira e Jesus fica
pendente na cruz, para aí consumar sua vida. Estando Jesus já agonizando
naquele leito de dores e achando-se
tão abandonado e triste, procura quem o console, mas não encontra. Ao menos
terão compaixão de vós, ó meu Senhor, os homens que vos veem morrer? Pelo
contrário; vejo que uns o injuriam, outros zombam dele; estes blasfemam,
aqueles o encarnecem, dizendo: ‘Desça da cruz se é o Filho de Deus. Salvou os
outros e agora não pode salvar-se a si mesmo’ (Mt 27, 40). Ah, bárbaros, ele já está
expirando, como é que assim gritais; ao mesmo tempo não o atormenteis com as
vossas zombarias.
3.
Vê quanto padece naquele patíbulo o teu Redentor. Cada membro sofre o seu
tormento e um não pode aliviar o outro. A cada momento ele experimenta penas
mortais. Pode-se dizer que durante aquelas três horas que Jesus agonizou na
cruz, ele sofreu tantas mortes quantos foram os momentos que aí passou. Não
encontra na cruz o mínimo alívio ou repouso. Se se apoia nas mãos ou nos pés, aumenta
a dor, já que seu corpo sacrossanto está pendente dessas mesmas chagas. Corre,
minha alma, e chega-te enternecida a essa cruz, beija esse altar, sobre o qual
morre como vítima de amor por ti o teu Senhor. Coloca-te debaixo de seus pés e
deixa que caia sobre ti aquele sangue divino. Sim, meu caro Jesus, que esse
sangue me lave de todos os meus pecados e me inflame todo em amor para convosco,
meu Deus, que quisestes morrer por meu amor. Ó Mãe das dores, que estais ao pé
da cruz, rogai a Jesus por mim.
('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)