segunda-feira, 26 de junho de 2023

26 DE JUNHO - SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ

  


São Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu em 09 de janeiro de 1902 em Barbastro, Espanha. Em 02 de outubro de 1928, durante um retiro espiritual em Madrid, concebeu e fundou o OPUS DEI, atualmente prelazia pessoal da Igreja Católica. A missão específica do Opus Dei é promover, entre homens e mulheres de todo o âmbito da sociedade, um compromisso pessoal de seguir a Cristo, de amor a Deus e ao próximo e de procura da santidade na vida cotidiana. Faleceu em Roma em 26 de junho de 1975. Foi beatificado em 17 de maio de 1992 e canonizado, pelo Papa João Paulo II na Praça de São Pedro, em 06 de outubro de 2002. Sua obra mais conhecida é Caminho, escrita como orientações espirituais em diferentes parágrafos. Outras obras do autor são ForjaSulco e É Cristo que Passa.

A CRUZ NÃO É UM CONSOLO FÁCIL

'A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de fáceis consolações. Começa logo por ser uma doutrina de aceitação do sofrimento, inseparável de toda a vida humana. Não vos posso esconder - e com alegria pois sempre preguei e procurei viver a verdade de que, onde está a Cruz, está Cristo, o Amor - que a dor apareceu muitas vezes na minha vida; e mais de uma vez tive vontade de chorar. Noutras ocasiões, senti crescer em mim o desgosto pela injustiça e pelo mal. E soube o que era a mágoa de ver que nada podia fazer, que, apesar dos meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar aquelas situações iníquas.

Quando vos falo de dor, não vos falo apenas de teorias. Nem me limito a recolher uma experiência de outros, quando vos confirmo que, se sentis, diante da realidade do sofrimento, que a vossa alma vacila algumas vezes, o remédio que tendes é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que as aflições hão-de ser santificadas, se vivermos unidos à Cruz.

Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, convertem-se em reparação, em desagravo e em participação no destino e na vida de Jesus, que voluntariamente experimentou, por amor aos homens, toda a espécie de dores, todo o gênero de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado, insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da morte. Ainda agora, Cristo continua a sofrer nos seus membros, na Humanidade inteira que povoa a Terra e da qual Ele é Cabeça, Primogênito e Redentor'.
(É Cristo que Passa)

domingo, 25 de junho de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Atendei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor!(Sl 68)

Primeira Leitura (Jr 20, 10-13) - Segunda Leitura (Rm 5,12-15)  -  Evangelho (Mt 10,26-33)

 25/06/2023 - Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum

31. 'NÃO TENHAIS MEDO!' 


O Evangelho deste domingo nos infunde o sopro da Verdade de Deus. Todas as nossas ações, gestos, pensamentos, palavras, silêncios, desejos, intenções, atos e omissões, praticados a cada segundo, durante toda a vida de cada um de nós, são conhecidos por Deus como escritos em manchetes nas estrelas: 'Até os cabelos de vossa cabeça estão contados' (Mt 10, 30). Nada, absolutamente nada, ficará envolto em penumbra ou esquecimento; todas as coisas serão refletidas no espelho da verdade divina, como oráculo universal: 'nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido' (Mt 10, 27).

A certeza final é que deveremos prestar contas de cada palavra, de cada gesto, de cada intenção. Tudo será pesado na balança do juízo particular. A resposta à graça concedida e o mal devido ao pecado; a caridade anônima ou o juízo temerário, a palavra de conforto ou o gesto de revolta. O valor de uma alma é infinito, pois se trata de um ato puro da criação do Pai, na escolha personalíssima de Deus como criatura destinada a partilhar a eternidade com Ele no Céu. Mas o legado desta graça é cumprir fielmente os desígnios de Deus para as almas de sua predileção.

O pensamento da eternidade transforma em palha e espuma os tesouros, grandezas e glórias do mundo. Deus nos escolheu não para sermos peregrinos nesta terra, mas como herdeiros do Céu. E,assim, em cada pensamento ou palavra, o fim último deve ser sempre a busca da vida eterna em Deus, conforme nos fala o Apóstolo: 'Com temor e tremor trabalhai por vossa salvação’ (Fl 2,12). E esta busca passa pelo horror ao pecado e a tudo que nos aniquila como Filhos de Deus: 'Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno!' (Mt 10, 28).

'Não tenhais medo!' (Mt 10, 31). O triunfo da alma é seguir o Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Quem tem Deus no coração, ama a Verdade e a pratica em tudo e em todos. Quem ama a Verdade, faz a Vontade do Pai que está nos Céu; quem nega a Verdade, é réu de pecado eterno: 'todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus (Mt 10, 32 - 33). Iustus ex fide vivit — O justo vive pela fé.

ORAÇÃO: 25 DE JUNHO DA DIVINA INFÂNCIA

   

A JESUS, INFINITAMENTE PURO

Todas as outras crianças vêm ao mundo com a mancha do pecado, mas Jesus nasce em perfeita santidade. O meu amado - dizia a Esposa Sagrada - é todo vermelho de amor e branco todo de Inocência e pureza (Ct 5,10). Este celeste menino é, com a sua Mãe, o único em quem o Pai achou as suas delícias, porque é o único inteiramente puro aos seus olhos. 

O' meu inocente Senhor, espelho sem mancha, amor do Pai eterno, não é a vós que são devidos os castigos e maldições, mas a mim, miserável pecador. A fim de mostrar ao mundo até onde vai o vosso amor, destes a vossa vida, sobrecarregastes as penas que devíamos e a que preço merecestes o perdão das nossas faltas! Todas as criaturas louvem e bendigam para sempre a vossa misericórdia e bondade infinita ! Graças vos dou por todos os homens, mas principalmente por mim: como vos ofendi mais do que os outros, devestes sofrer mais por mim do que por eles. Maldigo mil vezes os meus indignos prazeres que vos custaram tantas dores. Que não seja perdido para mim esse divino sangue por vós derramado como preço da minha libertação. 

Amo-vos, Bondade infinita, mas desejo amar-vos ainda mais; quisera amar-vos quanto mereceis. Fazei-vos amar, ó meu Jesus, fazei-vos amar por mim e por todo o mundo como sois tão digno de ser amado! Por piedade, esclarecei os pecadores que não vos querem conhecer ou vos recusam amar; dai-lhes a compreender o que haveis feito pelo seu amor e quanto ansiais pela sua salvação. O' Maria, rogai a Jesus por mim e por todos os pecadores; obtende-nos as luzes e as graças de que temos necessidade para amarmos o vosso divino Filho


(A Divina Infância de Jesus, celebrada a cada dia 25 do mês, por Santo Afonso Maria de Ligório)

sábado, 24 de junho de 2023

TESOURO DE EXEMPLOS (229/232)

 

229. O ITALIANO BLASFEMADOR E O JUIZ*

Infelizmente na Itália muitos têm o detestável vício de blasfemar ou xingar a Deus. Numa cidade dos Estados Unidos, onde a blasfêmia é punida severamente, um italiano várias vezes admoestou um patrício que deixasse de blasfemar. Mas a resposta era sempre esta: 'Vai cuidar dos teus negócios!' 

Um dia, porém, um policial, que entendia italiano, ouviu-o blasfemar e sem demora prendeu-o e levou-o ao juiz. Este perguntou-lhe:
➖ Que respondeis à acusação deste policial?
➖ Que blasfemei, mas foi em italiano.
➖ Então pensais que Deus não entende o italiano?!
➖ Mas foi na Itália que me habituei a blasfemar.
➖ E eu, na América, me habituei a condenar os blasfemadores. Por esta vez, condeno-vos a pagar apenas a multa de dez dólares.
➖ Como! tanto dinheiro por uma só blasfêmia?!

E aqui o tal italiano perdeu o controle de si mesmo e soltou outra blasfêmia. E o juiz acrescentou logo:
➖ Por esta segunda blasfêmia pagareis vinte dólares.
➖ Mas isso é uma grave injustiça, senhor juiz. Não sabeis que na Itália... e solta a terceira blasfêmia.
➖ Por esta terceira blasfêmia pagareis trinta dólares; a não ser que prefirais ficar tantos dias na cadeia quanto são os dólares que deveis pagar.
O blasfemador calou-se e aprendeu a lição. Desde aquele dia não mais o ouviram blasfemar.

* no original: 'Dois italianos e o vício de blasfemar'

230. DEVE PREFERIR-SE A TUDO

São João de Gota, um dos mártires do Japão, foi condenado por um tirano. Contava apenas dezenove anos e pouco tempo fazia que entrara na Companhia de Jesus. Indo seu pai despedir-se dele, o jovem, no momento de ser crucificado, disse-lhe:
➖ Meu pai, a salvação deve preferir-se a tudo. O senhor, para assegurá-la, não se descuide de nada.
➖ Muito obrigado, meu filho! Quanto a você, também aguente firme. Sua mãe e eu estamos preparados para morrer pela mesma causa.
E o generoso pai, tendo beijado seu filho mártir, retirou-se molhado pelo sangue da generosa vítima.

231. SUPERSTICIOSO CRUEL

Luís XI, rei de França, condenara à morte um astrólogo por haver pressagiado coisas desagradáveis. Este, em tom profético, disse aos familiares do rei:
➖ Li nos astros que viverei até uma idade avançada e que morrerei três dias antes de sua majestade.
Bastou isso para que o rei revogasse a sentença e prodigalizasse ao astrólogo toda sorte de cuidados para prolongar-lhe a vida.

232. UMA REPRESENTAÇÃO SACRÍLEGA

O imperador Miguel II, de Constantinopla, que contribuíra para o Cisma da Igreja Grega, ordenara que no dia da Ascensão se representasse uma comédia para escarnecer os sacramentos. Na noite seguinte, um espantoso terremoto, acompanhado de furiosa tempestade no mar, devastou aquela cidade. Pouco depois, o imperador, enquanto dormia após uma de suas bebedeiras, foi assassinado pelo seu próprio filho.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

sexta-feira, 23 de junho de 2023

quinta-feira, 22 de junho de 2023

BREVIÁRIO DIGITAL - LEGENDA ÁUREA (IX)

 

Santo Ambrósio rezava na igreja dos santos Nabor e Félix, em estado que não era totalmente desperto nem inteiramente adormecido, quando lhe apareceram dois jovens da maior beleza, vestindo trajes brancos compostos por uma túnica e um manto, calçando pequenas botinas e orando com as mãos estendidas. Na sua prece, Ambrósio pediu que se aquilo se tratasse de uma ilusão não aparecesse mais e, caso fosse algo verdadeiro, que ele tivesse outra revelação. Na hora do canto do galo, os jovens apareceram a ele da mesma maneira que antes e, três noites depois, estando inteiramente desperto, ficou surpreso ao ver aparecer uma terceira pessoa que parecia ser muito semelhante ao apóstolo Paulo, tal como vira em algumas pinturas. Os jovens ficaram calados enquanto o apóstolo dizia: 'Aqui estão aqueles [Santos Gervásio e Protásio] que, seguindo os meus conselhos, nada desejaram das coisas terrestres. No mesmo lugar em que você se encontra neste momento, a doze pés de profundidade, estão seus corpos em uma arca coberta de terra e, perto da cabeça deles, um livrinho que conta o seu nascimento e sua morte'.


Em seguida, ele convocou os bispos vizinhos, cavou a terra e encontrou tudo como Paulo dissera. Embora mais de trezentos anos tivessem se passado, os corpos foram descobertos no estado em que estariam caso tivessem sido sepultados naquela mesma hora. Dali emanava uma fragrância verdadeiramente suave e especial. Tocando o túmulo, um cego recobrou a vista e muitas pessoas foram curadas pelos méritos daqueles corpos. Na mesma hora em que se celebrava aquela solenidade, foi restabelecida a paz entre os lombardos e o Império Romano e, por isso o papa Gregório determinou que o introito da missa desses santos começasse por 'O Senhor dirigirá a seu povo palavras de paz...'. Pela mesma razão, diferentes partes do ofício relativo àqueles santos referem-se a acontecimentos ocorridos nesta época.

(Excertos da obra 'Legenda Áurea - Vidas de Santos, de Jacopo de Varazze)

Legenda Áurea constitui meramente um livro de devoção católica, acessível às pessoas comuns de todas as épocas, sem nenhum propósito de abordagem biográfica da vida dos santos sob o escopo da veracidade ou da confiabilidade histórica. Trata-se, portanto, de uma coletânea de fatos ficcionais e inverídicos (lendários) que, uma vez associados às virtudes heroicas específicas dos diferentes santos da Igreja, tinha por objetivo incrementar a devoção católica do leitor pelos santos para a sua própria santificação pessoal. Alguns deles serão publicados no blog. A excelência dos objetivos e resultados alcançados pela obra pode ser aferida pelo enorme sucesso das muitas e diversas versões e traduções realizadas desde a sua publicação original no século XIII. 

quarta-feira, 21 de junho de 2023

OS QUATRO PILARES DA SANTA PACIÊNCIA

Primeiro: Devemos ter fé

Digo que a primeira coisa é possuir a iluminação da fé. Com a luz desta virtude, conseguiremos todas as outras; sem ela andaremos no escuro como um cego, para quem o dia torna-se noite. Para pessoa sem fé, tudo o que Deus faz por amor na claridade da luz, torna-se escuridão, trevas de ódio, pois a pessoa pensa que é por ódio que Deus permite os sofrimentos e as dificuldades. Vede como precisamos da luz da fé!

Segundo: Devemos pensar que tudo vem de Deus por amor

A segunda coisa é crer firmemente que Deus existe e que tudo dele procede; menos o pecado. Não vem de Deus a má vontade do pecador. O restante – quer provenha do fogo, da água, da morte ou de qualquer outra coisa – vem de Deus. Diz Jesus no evangelho que, sem a Providência Divina, não cai uma folha das árvores e diz ainda que os cabelos da nossa cabeça estão todos contados, e que nenhum deles cai sem que Deus o saiba (Mt 10,29). Ora, se Jesus fala assim a respeito das coisas materiais, com maior razão cuida de nós criaturas racionais. Em tudo o que nos manda e nos permite, Deus usa da sua providência. Tudo é feito por Deus com mistério e amor e jamais por ódio!

Terceiro: Devemos crer que até na dor Deus nos quer felizes

Ocorre entender na fé que Deus é bondade suprema e eterna, que Ele somente quer o nosso bem. O desejo de Deus é que nos santifiquemos. Tudo o que Ele nos manda ou permite tem esta finalidade. Se duvidarmos disto, erramos. Basta pensar no sangue do humilde e imaculado Cordeiro, transpassado pela lança, sofrido, atormentado. Entenderemos que o Pai eterno nos ama. Por causa do pecado, nos tínhamos tornado inimigos de Deus. Amorosamente, o Pai nos deu o Verbo, seu filho Unigênito. Este último entregou por nós a sua vida, correndo para uma vergonhosa morte na cruz. Por qual razão? Por amor a nossa salvação. Como vedes, o sangue de Jesus dissipa toda a dúvida em nós de que o Pai queira outra coisa além da nossa santificação. Aliás, como poderia Deus querer algo fora do bem? Impossível! Como poderia o supremo Bem descuidar-se de nós? Ele que nos amou antes de existirmos, Ele que por amor nos criou à sua imagem e semelhança, não poderia deixar de nos amar de prover todas as necessidades de nossa alma e do nosso corpo.

O criador sempre nos ama como criaturas suas. Somente o pecado é que Deus detesta em nós. Durante esta vida, na medida das nossas necessidades, Ele permite dificuldades quanto aos bens materiais. Como sábio médico, nos ministra o remédio de que precisa nossa enfermidade. Deus age assim para eliminar nossos defeitos aqui na terra de maneira que tenhamos que sofrer menos na vida futura ou para por à prova nossa paciência. Querendo experimentar Jó, o Senhor retirou-lhe os filhos e filhas; quanto ao corpo, mandou-lhe uma verminose e usou sua mulher para prová-lo no sofrimento, pois ela o atormentava com maldosas ofensas. Após provar a paciência de Jó, Deus restitui-lhe o dobro em tudo e Jó não reclamou. Pelo contrário, dizia: 'O Senhor me deu, o Senhor me tirou. Bendito seja o seu nome' (Jó 1,21).

Deus permite algumas vezes tais coisas, para que nos conheçamos melhor em nossa instabilidade. E para que conheçamos também a instabilidade deste mundo. Tudo o que temos – vida, saúde, esposos, filhos, riquezas, posições sociais, prazeres – tudo nos é dado por Deus como empréstimo para nosso uso. Não como propriedade. É assim que devemos tratar tais coisas. Tanto é verdade, que não podemos impedir que tais coisas nos sejam retiradas. Quanto à graça divina é diferente. Nem os demônios, nem outras criaturas e nem as perseguições conseguem retirar de nós, se não dermos nosso consentimento.

Quando uma pessoa entende qual é a perfeição da graça e qual é a imperfeição do mundo e do nosso corpo, ela deixa de valorizar os prazeres mundanos e a própria fragilidade, pois tais realidades muitas vezes ocasionam a perda da graça por causa do amor sensível. E, em sentido oposto, começa a valorizar as virtudes que são os meios para conservarmos a graça. Pois bem, tudo isso nos vem de Deus por amor, a fim de que viril e santamente preocupados nos afastemos do mundo e busquemos os bens eternos; deixemos de lado a terra com suas mazelas e procuremos ganhar o céu.

Sim; não fomos criados para nos alimentar de terra. Somos peregrinos que por aqui passamos praticando a virtude em busca do Fim. Durante a caminhada, não nos devemos deter por causa de algum prazer oferecido pelo mundo. Virilmente temos de nos apressar, olhando as coisas da vida não com desordenada alegria ou com impaciência, mas na paciência e no santo temor. O sofrimento que padeceis é de grande utilidade para vós. Deus vos oferece o modo de romper muitas amarras e de aperfeiçoar vossa consciência. Deus vos libertou e vos indicou a estrada, se é que a desejais segui-la. A vós Deus deu a vida eterna e vos convida a alcançá-la também por meio do sofrimento, a fim de que conheçais a bondade divina e os vossos defeitos, durante o restante da vossa vida.

Quarto: Devemos meditar sobre os próprios pecados

A quarta coisa necessária para se tornar paciente é esta: refletir sobre os próprios pecados e defeitos, sobre quanto já ofendemos a Deus. Ele é o Bem Infinito. Destes pecados e defeitos, grandes ou pequenos que sejam, resultaria para nós um castigo infinito. Infelizes que somos! Ofendemos nosso Criador e merecemos mil infernos. E quem é este Criador ofendido? É a bondade sem limites. E nós o que somos? Nada! O ser que temos e qualquer outro beneficio a ele acrescentado, tudo veio de Deus. Por nós mesmos, nada somos. Em tal situação, e merecendo um castigo eterno, Deus nos purifica aqui na terra. Mais ainda: se aceitamos o sofrimento purificador, alcançamos méritos. Isso não sucede na purificação da vida futura; no purgatório, a alma se purifica mas nada merece. Como nos convém, pois, tolerar com paciência estas pequenas dores agora.

Pequenas dores repito, por causa da brevidade desta existência. Aqui na terra a dimensão da dor tem a dimensão do tempo. E qual é a extensão do tempo? Assemelha-se à ponta de uma agulha. Assim sendo, a dor é pequena. O sofrimento que passou ficou para trás, não o sinto mais; o sofrimento futuro ainda não padeço e nem tenho certeza de continuar vivo. Posso morrer e não sei quando. Somente o presente existe e nada mais. Soframos, então, com alegria. Toda boa ação é remunerada. Toda culpa é punida. São Paulo afirma: 'Os sofrimentos desta vida não se comparam com a glória que receberá a alma paciente' (cf Rm 8,18).

Conclusão

Eis a maneira como podereis adquirir a virtude da perfeita paciência. Tal virtude adquirida com amor na fé vos fará tirar proveito de todo sofrimento. Em caso contrário, perdereis os bens terrenos e os celestes. Não existe outra solução. Por tal motivo, vos disse que desejava vos ver alicerçado na perfeita paciência. Rogo-vos agir assim. Lembrai-vos do sangue de Jesus Cristo Crucificado. Toda tristeza se mudará em alegria, todo peso se tornará leve. Não fiqueis a escolher tempos e lugares; contentai-vos com aquilo que Deus vos dá. Senti compaixão pelo que aconteceu. Se parecer que foi muito doloroso, tudo aconteceu pela Providência Divina e para vossa salvação. Peço-vos sejais forte e não relaxeis na suave disciplina da religião. Nada mais acrescento, a não ser que aproveiteis o tempo enquanto o temos. Permaneceis sempre no santo e doce amor de Deus. 

(Cartas de Santa Catarina de Sena)