sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

BREVIÁRIO DIGITAL - AS VISÕES DE TONDAL (IV)

A experiência além da morte de uma alma medieval percorrendo o Céu, o Inferno e o Purgatório, guiada pelo seu Anjo da Guarda.

VISÕES DE TONDAL - PARTE IV


O anjo agora apresenta à alma de Tondal os tormentos que estão reservados aos homicidas e assassinos. As almas destes condenados ao inferno são precipitados numa caldeira de óleo fervente, onde são calcinados até a sua completa liquefação, para novamente emergirem com os seus corpos inteiros e recomeçarem o suplício interminável.


O anjo leva a alma de Tondal para a Cisterna do Inferno, onde os demônios cozinham as almas dos pecadores em um poço em que flui violentamente um turbilhão ascendente de chamas. Para desespero da alma de Tondal, esta se vê sozinha de repente e logo os demônios se apoderam dela para a arrastar à cisterna de fogo, quando o anjo reaparece, então, e liberta a alma de Tondal da ação dos demônios.



Liberado finalmente do inferno, a alma de Tondal é conduzida agora ao Purgatório, lugar de expiação dos pecados daqueles que não puderam alçar ao céu diretamente porque não eram perfeitamente bons e nem condenados ao inferno, porque não eram irreversivelmente maus. Na primeira etapa da viagem, a alma de Tondal se defronta com as almas dos 'maus, mas não irreversivelmente maus', que são mantidas totalmente imobilizadas, como estátuas, em nichos individuais, até se completarem os seus tempos de purgação.



Em seguida, o anjo e a alma de Tondal encontram-se diante de um portal que dá acesso a uma grande pradaria do Purgatório onde expiam os seus pecados 'os bons que não foram na terra perfeitamente bons'. Mergulhados na tristeza de não terem alcançado ainda o céu, as almas destes 'bons ainda não tão bons' se recolhem em silêncio absoluto e em contemplação em torno da fonte da vida.

10 MANEIRAS DO CATÓLICO PASSAR O CARNAVAL

1. No silêncio e no anonimato de tua oração fervorosa, aplaque a cólera de Deus contra os homens mergulhados nas desordens e licenciosidades do carnaval.

2. Pratique, de forma anônima e recata, a piedade e a caridade extremadas a muitos de teus próximos, nestes terríveis dias da insensatez humana!

3. Afaste-se completamente de todos os espetáculos, desordens, sensualidades e demais loucuras daqueles que se embriagam dos prazeres do carnaval pela força dos costumes.

4. Reflita, de forma muito especial e reverente, a memória e a paixão do Senhor nestes dias de carnaval.

5. Busque refúgio no escondimento do mundo, com o firme propósito de manifestar a glória de Deus, nestes dias, por meio da tua vida vivida inteiramente na pequenez e na solidão.

6. Visite o Santíssimo Sacramento durante os dias de carnaval e ofereça a tua oferta de desagravo aos pecados cometidos pelos homens ensandecidos de carnaval.

7. Antecipe a tua preparação, com zelo redobrado, de continência e penitência para a Quaresma.

8. Reze, reze muito, reze o tempo inteiro, com a tua oração, o teu silêncio, o teu descanso, o teu trabalho manual, o teu trabalho mental, com as tuas ações pequenas, simples, cotidianas e boas, oferecendo-as a Cristo em reparação às injúrias e loucuras de tantos homens nestes dias de carnaval.

9. Participe de santas missas, de exercícios ou retiros espirituais ou de atos de adoração, e reze particularmente pelos teus irmãos que dissipam a graça de Deus neste tempo de insanidades.

10. 'Abraça a cruz, enterra-a no seu coração... compadeça de mim e participe da minha dor' (Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque).

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

22 DE FEVEREIRO - A CÁTEDRA DE PEDRO

A celebração da festa litúrgica da Cátedra de São Pedro no dia 22 de fevereiro tem origem muito antiga e está documentada por sua inclusão num calendário do ano 354 e no Martyrologium Hieronymianum, o mais antigo da Igreja Latina, composto entre 431 e 450. Na pessoa de São Pedro (e de todos os seus sucessores), insere-se o fundamento visível da unidade da Igreja, nascida de Deus e glória de Deus até os confins dos séculos 'porque as portas do inferno não prevalecerão contra ela' (Mt 16,18).

'O chamado de Pedro' (Giorgio Vasari, sem data)


'Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16, 17-19).

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O CÉU QUE NOS ESPERA

Ó que delícias gozarão as almas no paraíso! Segundo o testemunho de São Paulo, são elas inenarráveis: 'o olho não viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais experimentou o coração do homem o que preparou Deus àqueles que O amam' (1 Cor 2, 9). 'Deverei dizer-vos alguma coisa do céu?' pergunta São Bernardo, e responde: 'Lá nada existe que desagrade, mas tudo que pode satisfazer'.

'Tendo a alma entrado na bem-aventurança de Deus, nada mais encontrará que a desgoste, nada mais que a possa afligir. E Deus enxugará todas as lágrimas de seus olhos e não haverá mais nem morte, nem luto, nem dor alguma, porque as primeiras coisas passaram' (Ap 21, 4). No céu não há doença alguma, nem pobreza, nem adversidade de espécie alguma. Lá não haverá mudança de dias e noites, de frio e calor; lá existirá uma primavera eterna e deliciosa de todos os modos. 

Não haverá perseguição e inveja, já que aí todos amar-se-ão ternamente; cada um se alegrará tanto com a felicidade do outro como com a própria. Lá não haverá mais temores, pois a alma confirmada em graça não poderá mais perder a Deus. 'Eis que faço novas todas as coisas'. Tudo é novo, tudo nos alegra e satisfaz. Os olhos regozijar-se-ão com a vista dessa cidade de incomparável beleza. Que admiração não se apoderaria de nós, se víssemos uma cidade calçada de cristal, com palácios de pura prata forrados de ouro e ornados da maneira mais aprazível com jarros das mais esplêndidas flores! Ó quanto não fica acima disso a Jerusalém celeste!

Que encanto ver os habitantes do céu vestidos com pompa real, pois lá haverá tantos reis quantos os moradores, segundo São Agostinho. Que delícia ver a Santíssima Virgem, mais bela que todo o céu. Que prazer então ver o Cordeiro de Deus, Jesus, o esposo das almas. Santa Teresa teve uma vez o privilégio de ver uma mão do Salvador glorificado, sendo tão grande sua beleza que a santa entrou em êxtase. Perfumes esplêndidos e fragrâncias paradisíacas nos deleitarão nos céus. Deliciarão nossos ouvidos harmonias sobrenaturais. Um anjo fez São Francisco ouvir uma só melodia celeste, sentindo-se o santo desfalecer de gozo. Que será então quando se ouvir cantar os coros dos anjos e santos? Que será então ouvir a Santíssima Virgem louvar a Deus? A voz de Maria no céu assemelha-se à do rouxinol, que sobrepuja a de todos os outros pássaros, observa São Francisco de Sales. Numa palavra: o paraíso é o complexo de todas as alegrias imagináveis.

E, contudo, essas alegrias todas são os menores bens do céu. O que constitui propriamente o céu é o Sumo Bem, é Deus. ‘Tudo o que esperamos está contido em duas sílabas, Deus’, diz Santo Agostinho (In Jo X, tract. 4). A recompensa que Deus promete não consiste propriamente em belezas, harmonias e alegrias para os sentidos; a recompensa principal que nos espera é o próprio Deus; ela consiste, em especial, na visão e amor de Deus. 'Eu sou a tua recompensa excessivamente grande', disse Deus a Abraão (Gn 15, 1). 'Se Deus se mostrasse aos condenados, no mesmo instante o inferno tornar-se-ia um paraíso', diz Santo Agostinho.

(Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

20 DE FEVEREIRO - BEM AVENTURADOS JACINTA E FRANCISCO


Jacinta contava apenas sete anos e Francisco apenas nove quando tiveram, juntamente com Lúcia (à época, com 10 anos) as visões de Nossa Senhora em Fátima. Se é verdade que São Domingos Sávio morreu aos 15 anos e Santa Maria Goretti aos onze, é possível que crianças em tal tenra idade sejam capazes de viver e praticar a virtude com zelo heroico e, assim, alcançarem o cimo da santificação? A resposta é sim e este sim se aplica aos pequenos videntes de Fátima. Pois, foi exatamente com base na curtíssima vida de Jacinta e de Francisco Marto que o Papa João Paulo II revogou os decretos impeditivos de Pio XI neste sentido e declarou-os bem aventurados da Igreja em 13 de maio de 2000.

Depois da visão do inferno, Nossa Senhora pediu a ambos orações e sacrifícios pela conversão dos pecadores, e as duas crianças passaram a se esmerar para o pleno cumprimento destas práticas desde então e citam-se inúmeros exemplos de mortificação dados por eles em diversas ocasiões. Em 1918, foram vitimados pela terrível gripe pneumônica que assolou toda a Europa. Durante meses, em meio a internações e operações diversas, os dois irmãos sofreram com grande resignação. 

Em janeiro de 1919, a Santíssima Virgem apareceu-lhes para dar uma surpreendente notícia e convidar Jacinta ao holocausto completo: 'Nossa Senhora veio nos ver e disse que vem buscar o Francisco muito breve para o Céu. E a mim, perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim. Disse-me que iria para um hospital, que lá sofreria muito; que sofresse pela conversão dos pecadores, em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria e por amor de Jesus.' Francisco morreria em 04/04/1919. Jacinta, internada em um hospital de Lisboa, padeceu com serenidade os tormentos finais da sua enfermidade, até falecer em 20 de fevereiro de 1920.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

'SEDE PERFEITOS!'

Páginas do Evangelho - Sétimo Domingo do Tempo Comum


A pregação de Jesus deste domingo é uma complementação direta daquela manifestada no evangelho do domingo passado. Diante das imposições arbitrárias e inconsistentes da lei judaica vigente, Jesus vai propor a mais radical das proposições ao homem pecador: 'sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!' (Mt 5, 48). A superação das fragilidades e incertezas humanas deve ser, portanto, absoluta: a santificação pessoal se espelha pura e simplesmente na Perfeição de Deus.

Diante o mal generalizado e corrente, o enfrentamento e a oposição cristãs não se compactuam com a lei do talião: 'olho por olho, dente por dente', mas implicam a aceitação das provações humanas, o autocontrole dos instintos, a serenidade das ações e das reações diante da injustiça e do arbítrio: 'se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!'(Mt 5, 39), e ainda, 'Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele!' (Mt 5, 41). A essência da santificação é não se perder no redemoinho das vertigens humanas, mas seguir, à perfeição, Jesus 'manso e humilde de coração' (Mt 11, 29).

O sinal de distinção da vida cristã é a perfeição da vida em Deus. No seguimento a Cristo, não cabem quaisquer sentimentos de revolta, vingança ou indignação. Não basta amar os que nos amam, porque até os maus fazem isso também. Não basta ser generoso e cordial com os nossos amigos e companheiros, porque os maus também vivem assim. Deus dá o sol e faz cair a chuva sobre os justos e os injustos. A identidade cristã é um libelo contra a ordem humana da condescendência natural: 'Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!' (Mt 5, 44). 

Eis o legado de Cristo aos que somos povo de Deus: 'sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!' (Mt 5, 48). Nada aquém desse propósito gigantesco e singular, nada de metas sofríveis, nada de caricaturas de uma vida cristã! Eis a nossa missão como filhos de Deus e herdeiros do Céu: trazer e manter nos atos e ações cotidianas o legado batismal da perfeição divina: 'Acaso não sabeis que sois santuários de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?' (1Cor 3, 16). 

sábado, 18 de fevereiro de 2017

NOSSA SENHORA E CARNAVAL: QUANDO O INFERNO É AQUI...

'Não deis aos cães o que é sagrado, nem atireis as vossas pérolas aos porcos, para que não as pisem e, voltando-se contra vós, vos estraçalhem' (Mc 7,6)

A igreja e os católicos no Brasil se rejubilaram com o ano mariano, nos 300 anos do achado da imagem e do início da devoção a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. E, no contexto de honra e de memória tão especiais, eis que surge a notícia de que Nossa Senhora será 'homenageada' num desfile de carnaval deste ano por uma escola de samba de São Paulo. Não é preciso escrever laudas e laudas sobre tamanho sacrilégio e profanação, pois o próprio Nosso Senhor, ao responder à irmã Lúcia sobre a razão e a natureza da Devoção dos Cinco Primeiros Sábados, uma dos grandes devoções associadas às aparições de Fátima, revelou a dimensão suprema da natureza desta blasfêmia:

'Minha filha, são cinco as espécies de ofensas e blasfêmias proferidas contra o Imaculado Coração de Maria: contra a Imaculada Conceição; contra a Sua Virgindade; Contra a Maternidade Divina, recusando, ao mesmo tempo, recebê-La como Mãe dos homens; os que procuram publicamente infundir, nos corações das crianças, a indiferença, o desprezo, e até o ódio para com esta Imaculada Mãe e os que a ultrajam diretamente nas suas sagradas imagens'.

Que bela nação católica é o Brasil, que transforma o sagrado e o profano em coisas igualmente comezinhas e perfeitamente conciliáveis entre si. Não há conciliação possível entre Cristo e Satanás. Não existem palavras edulcoradas possíveis, que não sejam o supra sumo do escárnio e de vergonha, capazes de dar sustentação à interpretação de que uma festa pagã e lasciva como o carnaval pode ser entendida como uma festa popular capaz de expressar algo que pudesse ser ainda que remotamente próximo da santa alegria cristã. A alienação dos católicos é absurda, notória, contumaz, avalizada infelizmente por uma parte do clero subjugada pela tibieza e covardia extremas, as faces reencarnadas dos atuais fariseus e vendilhões do templo. A verdade não admite meias palavras. Triste Brasil Católico, que aceita assistir inerme, em sambódromos ou esculhambódromos circenses, o desfile de ultrajes de uma imagem da Santa Mãe de Deus ao longo de um prostíbulo ao vivo.

Onde está a CNBB que mobilizou os fieis católicos contra a corrupção, contra a intolerância política, contra a PEC 241, contra os pagamentos via caixa 2 e contra mais uma montanha de outras proposições igualmente de fundo especificamente não religioso em si? Agora nada? Seria inoportuno cobrar um posicionamento crítico e contundente do Papa contra tal escândalo? Mas São Paulo não nos intimou a todos a pregar a verdade 'oportuna e inoportunamente' ... 'porque virá o tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação' (II Tim 4, 2 - 3)? E nós, simples cristãos, ficaremos apenas perplexos e ressentidos, esperando o carnaval passar? 

Bem, podemos fazer pouco e fazer muito. Desligar a TV, mas ser coadjuvante deste escândalo nas mídias sociais não testemunha grande coisa a nosso favor. O que realmente podemos fazer de melhor seriam muitos, milhares de atos de reparação e de desagravo, pequenos, escondidos, anônimos, fervorosos, além de visitas ao Santíssimo Sacramento e da recitação do Santo Rosário. Somos católicos e a nossa fé e a nossa crença são instrumentos capazes de remover montanhas e subjugar o mal em todas as suas mazelas, tenham elas a dimensão do mundo. Mas precisamos fazer a nossa parte, como a água comum e aparentemente sem valia das talhas enchidas até a borda nas Bodas de Caná, que o Filho de Deus converteu em vinho bom. Eis o que podemos realmente fazer agora, como católicos conscientes e atuantes em defesa de nossa autêntica fé cristã: reparar, desagravar, transformar a água em vinho bom, o sacrilégio numa corrente de graças, como uma nova história de Caná dos nossos dias, a ser revivida por inteiro neste próximo e tristíssimo carnaval.