1. A FÉ
A primeira condição é a fé, de acordo com as palavras do apóstolo: 'Porém, como invocarão aquele em quem não têm fé?' (Rm 10,14a), com as quais São Tiago concorda: 'mas peça-a com fé, sem nenhuma vacilação' (Tg 1,6a). Mas a necessidade de fé não deve ser entendida como se fosse importante acreditar que Deus deva certamente atender ao que é pedido, pois neste caso nossa fé seria provada falsa e então não obteríamos nada. Devemos acreditar que Deus é mais poderoso, mais sábio e mais digno de fé; e que Ele sabe, tem poder e está preparado para atender os nossos pedidos, se entender como apropriado e útil para nós, recebermos o que pedimos. Esta fé Cristo pediu aos dois homens cegos que curou: 'Credes que eu posso fazer isso?' (Mt 9, 28) Com a mesma fé, Davi rezou pelo seu filho adoentado, como provam suas palavras, pois ele acreditava não ser seguro que Deus atenderia suas preces, mas que somente Deus seria capaz de conceder tal graça: 'Quem sabe, talvez o Senhor terá pena de mim e o menino ficará bom?' (2Sm 12,22). Disto não se pode duvidar. Com a mesma fé o apóstolo Paulo rezou para se livrar de um 'espinho na carne'. Pois o apóstolo rezou com fé, e sua fé não era falsa se ele acreditava que Deus poderia lhe conceder a cura que pedia, embora não tenha obtido o que pedia. E, com a mesma fé, a Igreja pede por todos heréticos, pagãos, cismáticos e maus cristãos que possam ser converter e, no entanto, é certo que nem todos se converterão.
2. A ESPERANÇA
Outra condição muito necessária para rezar é a esperança. Pois ainda que pela fé, que é consequência da compreensão, nós não acreditemos que Deus atenderá nossos pedidos; pela esperança, que é um ato de desejo, podemos firmemente nos apoiar na bondade divina e termos confiança que Deus poderá nos atender. Esta condição Deus requer do paralítico, para quem diz: 'Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados' (Mt 9,2). O mesmo pede o apóstolo para todos, quando diz: 'Aproximemo-nos, pois, confiantemente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno' (Hb 4,16). E muito antes dele, o profeta apresenta Deus, falando: 'Quando me invocar, eu o atenderei; na tribulação estarei com ele' (Sl 90,15). Mas como a esperança brota da fé perfeita, quando a Escritura requer fé nas grandes coisas, ela acrescenta algo sobre esperança. Assim lemos em São Marcos: 'Em verdade vos declaro: todo o que disser a este monte: levanta-te e lança-te ao mar, se não duvidar no seu coração, mas acreditar que sucederá tudo o que disser, obterá esse milagre' (Mc 11,23). Que a fé produz confiança, podemos entender destas palavras do apóstolo: 'mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas' (1Cor 13,2b). João Cassiano escreve em seu Tratado sobre a Oração que um sinal certo que nossos pedidos serão atendidos ocorre, quando em oração, nós não duvidamos que Deus certamente nos atenderá, e não hesitamos de nenhuma maneira, mas derramos nossas orações com alegria espiritual.
3. A CARIDADE
A terceira condição é a caridade pela qual nos libertamos dos pecados, pois os amigos de Deus obtém os seus dons. Assim fala Davi em um salmo: 'Os olhos do Senhor estão voltados para os justos, e seus ouvidos atentos aos seus clamores' (Sl 33,15) e em outro: 'Se eu intentasse no coração o mal, não me teria ouvido o Senhor' (Sl 65, 18). E, no Novo Testamento, o Senhor mesmo confirma: 'Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito' (Jo 15,7). E o amado discípulo fala: 'Caríssimos, se a nossa consciência nada nos censura, temos confiança diante de Deus, e tudo o que lhe pedirmos, receberemos dele porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é agradável a seus olhos' (1Jo 3,21-22).
Isto não é contrário à doutrina. Quando o publicano suplica por perdão de seus pecados, ele retorna para casa justificado; pois um pecador arrependido não obtém perdão por ser pecador, mas por estar arrependido; pois, como pecador, ele é inimigo de Deus; como penitente, amigo de Deus. Aquele que peca, desagrada a Deus; mas quem se arrepende de seus pecados, faz o que mais agrada ao Senhor.
4. A HUMILDADE
A quarta condição é a humildade, pela qual o suplicante, confia não em sua própria justiça, mas na bondade de Deus: 'Fui eu quem fez o universo, e tudo me pertence', declara o Senhor. É o angustiado que atrai meus olhares, o coração contrito que teme a minha palavra (Is 66,2). E o Livro do Eclesiástico acrescenta: 'A oração do humilde penetra as nuvens; ele não se consolará, enquanto ela não chegar [a Deus], e não se afastará, enquanto o Altíssimo não puser nela os olhos' (Eclo 35,21).
5. A DEVOÇÃO
A quinta condição é a devoção, pela qual não devemos rezar de maneira negligente, como muitos costumam fazer, mas com atenção, sinceridade, diligência e fervor. Nosso Senhor severamente adverte aqueles que rezam apenas com os lábios. Assim Ele nos fala em Isaias: 'O Senhor disse: Esse povo vem a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto seu coração está longe de mim' (Is 29, 13). Esta virtude é fruto de uma fé viva e consiste não apenas no hábito de orar, mas na ação. Para aqueles que, com fé firme e atenção, consideram a grandeza de sua majestade Nosso Senhor, quão grande é nossa insignificância, e como são importantes nossos pedidos, não pode fazer diferente que rezar com grande humildade, reverência, devoção e fervor.
Aqui devemos acrescentar o testemunho importante de dois santos padres. São Jerônimo escreve: 'começo pela oração: não devo orar se não acreditar; mas se eu tiver fé verdadeira, este coração, que Deus vê, posso limpá-lo; posso bater no peito, posso molhar minhas faces com minhas lágrimas, posso negligenciar toda atenção ao meu corpo e tornar-me fraco; posso me jogar aos pés do meu Senhor, molhá-los com minhas lágrimas e secá-los com meus cabelos; me apoiar na cruz, e não abandoná-la enquanto não obtiver misericórdia. Porém mais frequentemente durante minhas orações encontro-me caminhando pela cidade e sendo levado por pensamentos maus, entretenho-me em coisas das quais me envergonho de falar. Onde está nossa fé? Supomos que Jonas rezou assim? Os três jovens? Daniel na cova dos leões? Ou o bom ladrão na cruz?'
São Bernardo, no seu Sermão sobre os Quatro Métodos da Oração, escreve: 'sobretudo nos impele, durante o tempo de oração, entrar no quarto celestial, no qual o Rei dos Reis encontra-se sentado em seu trono, cercado por inumerável e glorioso exército de almas abençoadas. Com tal reverência, tal temor, tal humildade, nos aproximamos com pó e cinzas, nós que não somos nada além de pequenos insetos rastejantes. Com tal temor, seriedade, atenção e solicitude deve tão miserável homem estar próximo da divina majestade, na presença de anjos, na assembléia dos justos? Em todas nossas ações temos necessidade de vigilância, especialmente na oração'.
6. A PERSEVERANÇA
A sexta condição é a perseverança, que nosso Senhor em duas parábolas recomenda: uma sobre o amigo importuno que pede dois pães em um horário inconveniente, no meio da noite, e recebe pela sua perserverança (Lc 11,5-8) e outra sobre a viúva que pede sem esmorecer para que o juiz a livre de seu adversário; e o juiz, embora sendo iníquo, homem que não temia nem Deus nem os homens, sobrepujado pela perseverança da mulher, livrou-a de seu inimigo. Destes exemplos o Senhor conclui, que muito mais perseverantes devemos ser na oração a Deus, porque ele é justo e misericordioso. E São Tiago completa: 'Deus concede generosamente a todos, sem recriminações' (Tg 1,5). Ou seja, ele concede seus dons liberalmente a todos que pedem, e 'sem recriminações' por serem inoportunos, pois Deus não tem limites em suas riquezas e nem em sua misericórdia.
(Excertos da obra 'A Arte de Morrer Bem', de São Roberto Belarmino, texto publicado originalmente no blog Tesouros da Igreja Católica)