I. Segundo Santo Tomás, a comunhão espiritual consiste num desejo ardente de receber Jesus Cristo sacramentalmente e num amplexo amoroso, como se já fora recebido. O santo Concílio de Trento louva muito a comunhão espiritual e convida todos os fiéis a que a ponham em prática. E Deus mesmo, repetidas vezes, tem dado a entender às almas devotas quanto lhe agrada esta devoção.
Um dia apareceu Jesus a Soror Paula Maresca, fundadora do convento de Santa Catarina de Sena em Nápoles, e mostrou-lhe dois vasos preciosos, um de ouro e outro de prata, dizendo-lhe que o primeiro guardava as suas comunhões sacramentais e, no segundo, as espirituais. Em outra ocasião, disse o Senhor também à Venerável Joana da Cruz que, sempre que comungava espiritualmente, concedia-lhe uma graça semelhante à que lhe dava na comunhão sacramental.
Mais tocante é o que um autor fidedigno refere a outro servo de Deus. Quando este fazia na missa a comunhão espiritual, sentia a partícula consagrada ser levada aos lábios e experimentava na alma uma doçura indizível, querendo o Senhor recompensar desta forma o desejo de seu bom servo. Por isso todas as almas devotas costumam praticar com frequência o santo exercício da comunhão espiritual. A bem aventurada Angela da Cruz, dominicana, chegou a dizer que, se o confessor não lhe tivesse ensinado este modo de comungar, não teria podido viver. Fazia cem comunhões espirituais durante o dia, e outras cem durante a noite.
Nem é de admirar, pois que este modo de comungar, sobre ser uma devoção muito proveitosa, é também facílimo e pode ser praticado cada dia por todos, e quantas vezes se quiser. A já mencionada Joana da Cruz exclamava: 'Ó meu Senhor, que bela maneira de comungar é essa! Sem ser vista por ninguém, sem ter de dar conta ao meu diretor espiritual, sem dependência de ninguém senão de Vós, que alimentais minha alma na solidão e lhe falais ao coração!'
II. Procura fazer com frequência a comunhão espiritual; tanto mais que ela é também um meio valiosíssimo para dispor a alma a fazer com mais fruto a comunhão sacramental. Por isso, nas tuas visitas ao Santíssimo Sacramento, na tua oração mental, em cada missa que ouvires, no momento da comunhão do celebrante, faze a comunhão espiritual.
Faze então um ato de fé, crendo firmemente que na Eucaristia está o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Jesus Cristo, tão vivo como está no céu. Faze também um ato de amor, unido ao arrependimento dos teus pecados; e em seguida um ato de desejo, convidando Jesus Cristo a entrar em tua alma a fim de a fazer toda sua. Agradece-lhe, afinal, como se já o tivesses recebido.
Para que essas comunhões espirituais sejam mais proveitosas, une-as aquelas que fizeram todos os santos e, em particular, ás da tua querida Mãe Maria. Quantos frutos colherás desta forma para tua alma! Representa que cada uma de tuas comunhões será uma pedra preciosa que ornará a tua coroa no céu.
Ó meu Redentor amabilíssimo, agradeço-Vos o me haverdes ensinado este grande meio de santificação e, com o vosso auxilio, quero aproveitá-lo sempre, a começar pelo dia de hoje. Ó, meu Jesus, creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-Vos sobre todas as coisas e desejo possuir-Vos em minha alma. Visto que não posso agora receber-Vos sacramentalmente, vinde ao menos espiritualmente ao meu coração. Abraço-Vos, como se já tivesses vindo, e me uno inteiramente a Vós; não permitais que jamais me separe de Vós.
Ó Maria, vós que tanto desejais ver vosso Filho amado de todos, se me amais, eis aí a graça que vos peço e que me haveis de alcançar: obtende-me um grande amor a Jesus. Obtende-me também um grande amor a vós, que sois a criatura mais amante, a mais amável e a mais amada de Deus. O amor para convosco é uma graça que Deus não concede senão a quem deseja salvar.
(Excertos da obra 'Meditações para Todos os Dias e Festas do Ano', de Santo Afonso Maria de Ligório)