quarta-feira, 1 de julho de 2020

TESOURO DE EXEMPLOS (4/6)


4. 'HOJE A SALVAÇÃO ENTROU NESTA CASA!'

Logo que em Jericó se espalhou a notícia da chegada do Salvador, todos os seus habitantes correram para a rua, ao encontro do homem extraordinário que tantos milagres realizara. Uma grande multidão o cerca e o acompanha por toda a parte, ao passo que outros tomam posição ao longo da rua para vê-lo quando passar por ali.

Zaqueu, homem riquíssimo e muito influente, é o chefe dos arrecadadores de impostos da cidade de Jericó, o centro comercial mais importante de Israel. Ouviu falar de Jesus, e simpatizou-se com Ele porque Jesus não desprezava os de sua profissão, que eram tão odiados pelo povo. Quer vê-lo, mas não consegue; a sua pequena estatura não lhe permite contemplá-lo por cima das cabeças da enorme multidão. 

Esforça-se por abrir passagem através da muralha humana estendida ao longo do trajeto, mas não consegue. Ocorre-lhe, então, uma ideia. No afã de ver o Messias, esquece-se de sua dignidade, calca aos pés o respeito humano e, correndo para a frente do cortejo, sobe ao tronco nodoso de um sicômoro, firmando-se nos galhos.

A multidão passa junto da árvore. Zaqueu está encantado com o que vê. No centro do cortejo caminha Jesus, humilde e magnífico, doce e grave ao mesmo tempo. Ao chegar em frente da árvore, ergue os meigos olhos, fixa-os naquela exígua figura e diz: 'Zaqueu, desce depressa porque é mister que hoje me hospede em tua casa'. Zaqueu estremeceu de emoção ao ouvir ser chamado pelo nome. O rabino extraordinário, a quem tanto desejara ver, quer se hospedar em sua casa.

Desce apressadamente da árvore e, satisfeito por completo pela distinção, leva Jesus à sua casa. A gente imbuída de espírito farisaico escandaliza-se vendo que o Messias vai hospedar-se na casa de um publicano. Este, tendo sentido o aguilhão da graça penetrar em seu coração, sabe corresponder a ela, dirigindo-se ao Salvador para dizer: 'Senhor, darei aos pobres a metade de tudo quanto tenho e, se em alguma coisa defraudei ao próximo, devolver-lhe-ei quatro vezes mais'. Jesus, acolhendo os bons propósitos do pecador arrependido, o aprova e o bendiz com as palavras: 'Hoje a salvação entrou nesta casa!'.

5. O MOÇO RICO

Um moço rico, dirigindo-se a Jesus, pergunta-lhe: 
- Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?
- Se queres salvar-te, cumpre os mandamentos, isto é, não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honrarás teu pai e tua mãe e amarás ao próximo como a ti mesmo'.
- Todas essas coisas tenho observado desde pequeno; o que me falta ainda? 
- Para seres perfeito, vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem a mim e segue-me. 
- Eu, Mestre?
- Sim; virás comigo; andarás de cidade em cidade, de uma aldeia a outra.
- Sim, Mestre, é belo !
- Teus vestidos terão, como os meus, o pó vermelho dos caminhos. Comerás, como os meus discípulos, o pão vindo da esmola... Por enquanto, vai , vende o que possuis e, pobre e humilde, vem comigo, e não penses mais no teu amanhã.
- Mas, Mestre, é tão difícil...
- Achas mesmo? Viestes rico e voltas pobre, eis tudo. . .
- Mestre, tenho palácios e mobílias finas; arcas cheias de pedras preciosas; possuo vinhas e rebanhos... Mestre, sou rico, mas quero salvar-me, quero o céu. Dize-me, Senhor, ainda uma vez, que deverei fazer?
- Vai, vende tudo; dá-o aos pobres e volta pobre; e segue-me!
- Mestre...
- Já vais?
- Mestre, adeus...
- Adeus, moço...
Com os ombros curvados, olhando para o chão,o moço rico retira-se vagarosamente. Está triste. O Mestre, também triste e pensativo, suspira:
- Como é difícil entrar um rico no reino de Deus! Infelizes os que se apegam às riquezas!
João, ouvindo isso, pergunta:
- Senhor, quem poderá salvar-se?
- O que para os homens é impossível, para Deus não é!
O moço rico vai caminhando lentamente. Parece carregar todo o peso do mundo. Na curva do caminho, pára e olha para trás, como quem se despede de uma felicidade perdida. Depois, estuga o passo e desaparece...

6. O CEGO À BEIRA DA ESTRADA

Jesus, acompanhado pelos seus discípulos, após longa caminhada, estava para entrar na cidade de Jericó. À beira da estrada, não muito longe das habitações, estava um cego sentado, pedindo esmola. Aquela estrada, uma das mais frequentadas pelos peregrinos, era certamente um ponto bem escolhido pelo cego para estender a mão aos transeuntes.

Naquela hora, porém, a esmola que ia receber não era apenas grande, era a maior que podia desejar em sua vida. Ouvindo o tropel de gente que passava, perguntou:
- Que movimento é esse? Quem é que está passando?
- 'E' Jesus de Nazaré'; disseram-lhe.

Jesus! Aquele nome não lhe era desconhecido; pelo contrário. Já ouvira talar de muitos milagres operados por Ele; sabia que Jesus, sempre caridoso e bom, restituíra a luz dos olhos a diversos outros cegos como ele. Quem sabe se não teria chegado, também para ele, a hora da graça, o momento da cura? Cheio de esperança, pôs-se a clamar:
- Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim! Era como se dissesses: 'Senhor, tu és o Messias prometido; tu és o Filho de Deus feito homem; tu podes curar-me, restituindo-me a vista.
Interiormente, este cego enxergava muito mais do que os pobres judeus obcecados. Manifestava uma fé viva, uma confiança firme, um grande desassombro.

Apesar de o repreenderem os que vinham à frente, mandando que ele se calasse, suspeitando que quisesse pedir alguma esmola a Jesus, nem por isso deixava de repetir:
- Jesus, Jesus, tem piedade de mim que sou um pobre cego!
Nosso senhor, chegando mais perto, ouvindo aquela voz lastimosa, pára no meio da estrada e diz aos que estão junto ao cego: 'Tomai-o pela mão; trazei-o aqui. Eu quero vê-lo de perto, quero falar-lhe'.

Conduziram o cego até Ele e Jesus, embora conhecesse perfeitamente qual era o pedido daquele  infeliz, para que o mesmo fizesse uma profissão de fé no poder de Deus, perguntou-lhe: 'Que queres que eu te faça? Que é que pedes?'
- Senhor, faze que eu veja, pois é tão triste ser cego! Não enxergo, não vejo nada deste mundo; Senhor, faze que eu veja!

E Jesus, diante da fé viva do cego, usa de seu poder e de sua bondade, dizendo simplesmente: 'Vê! A tua fé te salvou'. E, no mesmo instante, o homem abriu os olhos e admirado, comovido até às lágrimas, começou a ver. E, em vez de correr para casa, para contar aos seus a graça recebida, permaneceu ao lado de Jesus e o segue, agradecendo a Deus e bendizendo ao seu Benfeitor. E foi, então, que  todos os que presenciaram o milagre também começaram a louvar e bendizer a Deus.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

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