terça-feira, 11 de setembro de 2018

JULGAR NÃO É PRATICAR A CARIDADE

Ouvi alguns falarem mal do seu próximo e repreendi-os. Para se defenderem, esses operários do mal replicaram: 'É por caridade e por solicitude que falamos assim!' Mas eu respondi-lhes: Deixai de praticar tal caridade, pois estaríeis a chamar mentiroso ao que diz: 'Afasto de Mim quem denigre em segredo o seu próximo' (Sl 100,5). 

Se amas essa pessoa como afirmas, reza em segredo por ela e não te rias do que faz. É essa maneira de amar que agrada ao Senhor; não percas isto de vista e esforça-te cuidadosamente por não julgar os pecadores. Judas pertencia ao número dos apóstolos e o ladrão fazia parte dos malfeitores, mas que espantosa mudança se deu nele num só instante! 

Responde, pois, ao que diz mal do seu próximo: 'Pára, irmão! Eu próprio caio todos os dias em faltas mais graves; como poderei condenar essa pessoa?' Obterás assim um duplo proveito: curar-te-ás a ti mesmo e curarás o teu próximo. Não julgar é um atalho que conduz ao perdão dos pecados, pois está dito: 'Não julgueis e não sereis julgados'. 

Alguns cometeram grandes faltas à vista de todos mas realizaram em segredo os maiores atos de virtude, de tal maneira que os seus acusadores se enganaram, dando atenção ao fumo sem verem o sol. Os críticos diligentes e severos caem nessa ilusão porque não guardam a memória nem a preocupação dos seus próprios pecados. 

Julgar os outros é usurpar sem vergonha uma prerrogativa divina; condená-los é arruinar a nossa própria alma. Tal como um bom vindimador come as uvas maduras e não colhe as verdes, assim também um espírito benevolente e sensato anota cuidadosamente todas as virtudes que vê nos outros; mas o insensato perscruta as faltas e as deficiências.

(Excertos da obra 'A Escada Santa' por São João Clímaco)