quinta-feira, 24 de maio de 2018

CATEQUESES SOBRE O BATISMO (III)


Catequeses Mistagógicas ('de Formação') para Recém-Batizados

(São Cirilo de Jerusalém)

Terceira Catequese: A Unção dos Óleos no Batismo

1. Batizados em Cristo e dele revestidos, vos tornastes conformes ao Filho de Deus. Em verdade, Deus, predestinando-nos à adoção de filhos, nos fez conformes ao corpo glorioso de Cristo. Feitos, pois, partícipes de Cristo, não sem razão, sois chamados cristos e é de vós que Deus disse: 'Não ouseis tocar nos que me são consagrados' (Sl 104,15). Ora, vós vos tornastes cristos, recebendo o sinal do Espírito Santo, e tudo se cumpriu em vós em imagem, pois sois imagens de Cristo. Ele, quando banhado no rio Jordão e comunicando às águas a força da divindade, delas saiu e se produziu sobre ele a vinda substancial do Espírito Santo, pousando igual sobre igual. Também a vós, ao sairdes das águas sagradas da piscina, se concede a unção, figura daquela com que Cristo foi ungido. Refiro-me ao Espírito Santo, do qual o bem-aventurado Isaías, na profecia a respeito dele, disse, na pessoa do Senhor: 'O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção' (Is 61,1).

2. Na verdade, Cristo não foi ungido com óleo ou unguento material por um homem. Mas foi o Pai que, estabelecendo-o com antecedência como Salvador de todo o universo, o ungiu com o Espírito Santo, conforme está dito: 'Jesus de Nazaré, a quem Deus ungiu com o Espírito Santo' (Lc 4,18). E o profeta Davi exclamou: 'Vosso trono, ó Deus, é eterno, de equidade é vosso cetro real. Amais a justiça e detestais o mal, pelo que o Senhor, vosso Deus, vos ungiu com óleo de alegria, preferindo-vos aos vossos iguais' (Sl 44,7-8). E como Cristo foi verdadeiramente crucificado e sepultado e ressuscitou, e vós, pelo batismo, fostes, por semelhança, tidos por dignos de com ele ser crucificados, sepultados e ressuscitados, assim também na unção do crisma. Ele foi ungido com o óleo espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo, chamado óleo de alegria, por ser causa da alegria espiritual. Vós fostes ungidos com o óleo, feitos, partícipes e companheiros de Cristo.

3. Vê, porém, que não imagines ser um simples unguento. Pois, como o pão da Eucaristia, depois de epiclese do Espírito Santo, já não é simples pão, mas o corpo de Cristo, assim também este santo unguento, com a epiclese, já não é puro e simples unguento, mas é dom de Cristo e obra do Espírito Santo, pela presença de sua divindade. Com ele se unge simbolicamente tua fronte e os outros sentidos. Se, por um lado, o corpo é ungido com o unguento sensível, por outro, a alma é santificada pelo santo e vivificado Espírito.

4. E primeiro sois ungidos na fronte para serdes libertados da vergonha que o primeiro homem transgressor levou por toda parte e para que, de face descoberta, contempleis a glória do Senhor. Depois nos ouvidos, para terdes ouvidos conforme disse Isaías: 'o Senhor Deus abriu-me o ouvido' (Is 50,4) e o Senhor no Evangelho: 'Quem tem ouvidos para ouvir que ouça' (Lc 8,8). Em seguida nas narinas, para que, ao receberdes este divino unguento, possais dizer: 'Somos para Deus o perfume de Cristo entre os que se salvam' (Hb 2,15). Depois no peito, a fim de que atender o pedido: 'revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio' (Ef 6,11). Como na verdade o Salvador, após seu batismo e a descida do Espírito Santo, saiu a combater o adversário, assim também vós, depois do santo batismo e da mística unção, revestidos da armadura do Espírito Santo, resistis à força inimiga e a venceis dizendo: 'Tudo posso naquele que me conforta, Cristo'.

5. Feitos dignos desta santa unção, sois chamados cristãos. Assim, pela regeneração, mostra ser de direito o nome [de cristãos]. Antes, pois, de serdes declarados dignos do batismo e da graça do Espírito Santo, não éreis dignos deste nome, mas estáveis a caminho de serdes cristãos.

6. É necessário que saibais que há ó símbolo desta unção na Escritura Antiga. E na verdade, quando Moisés comunicou ao irmão a ordem de Deus e o estabeleceu sumo sacerdote, depois de lavar-se com água, o ungiu e foi ele chamado Cristo, em virtude, evidentemente, da unção figurativa. Do mesmo modo, o sumo sacerdote, ao elevar Salomão à dignidade de rei, o ungiu, depois de lavar-se no Gion. Mas essas coisas lhes aconteceram em figura. A vós, porém, não em figura, mas, em verdade. Isso, já que o começo de vossa salvação remonta àquele que foi ungido pelo Espírito Santo. Cristo é realmente as primícias, e vós sois a massa: mas se as primícias são santas, é evidente que a santidade também passa à massa.

7. Guardai imaculada esta unção: ensinar-vos-á todas as coisas, se permanecer em vós, como ouvistes há pouco dizer o bem-aventurado João, explicando muitas coisas sobre a unção. Esta unção é a salvaguarda espiritual do corpo e a salvação da alma. Foi isto que desde tempos antigos o santo Isaías profetizou, dizendo: 'o Senhor dos exércitos dará nesta montanha para todos os povos um banquete' (Is 25, 6). Por montanha ele designa a Igreja, como outras vezes quando diz: 'E nos últimos dias será visível a montanha do Senhor. Beberão vinho, beberão a alegria, serão ungidos de unguento'. E para que mais te assegures, ouve o que diz sobre este unguento em sentido místico: 'Transmite tudo isso às nações, pois o desígnio do Senhor se estende sobre todos os povos. Assim, pois, ungidos com este santo crisma, guardai-o sem mancha e irrepreensível em vós, progredindo em boas obras e tornando-vos agradáveis ao autor de nossa salvação, Cristo Jesus, a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém'.

('Terceira Catequese Mistagógica aos Recém-iluminados', de São Cirilo de Jerusalém, século IV)