quarta-feira, 2 de maio de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XII)

VII

DOS MOVIMENTOS AFETIVOS CHAMADOS PAIXÕES

Há no homem, além dos atos da vontade, outros impulsos afetivos capazes de contribuir para a consecução do último fim?
Sim, Senhor.

Quais são?
As paixões (XXII - XLVIII)*.

Que entendeis por paixões?
Os movimentos afetivos da parte sensível.

São as paixões próprias e exclusivas do homem?
Não, Senhor; têm-nas também os animais (XX, 1, 2, 3).

As paixões dos animais podem ser sujeito de moralidade?
Não, Senhor; só podem sê-lo as do homem.

Por que?
Porque só no homem estão submetidas ao império da vontade livre (XXIV, 1, 4).

A que chamamos propriamente movimentos afetivos ou paixões?
Aos movimentos do coração, que nos impelem a procurar o bem e a fugir do mal, conforme o apresentam os sentidos (XXIII - XXV).

Quantas são?
São onze (XXII, 4).

Como se chamam?
Amor, desejo, prazer ou alegria, ódio, tédio, tristeza, esperança, audácia, temor, ira e desesperação.

Em muitos dos nossos atos encontra-se o impulso passional?
Sim, Senhor.

Por que?
Porque somos compostos de duas naturezas, uma racional e outra sensitiva, e esta é a primeira que atua, por estar em contato com o mundo exterior sensível, donde tomamos os dados originários de todo conhecimento e ação.

Logo, as paixões nem sempre são más?
Por si mesmas, não Senhor.

Algumas vezes elas são más?
Sim, Senhor, quando não estão de acordo com a reta razão.

E quando é que não estão?
Quando nos afastam do bem e nos impelem para o mal sensível, antecipando ou contrariando o juízo da razão (XXIV, 3).

As paixões que mencionamos radicam-se, exclusivamente, na parte sensível do homem?
Não, Senhor; encontram-se também na vontade (XXVI, 1).

Que diferença existe entre as paixões da parte sensível e as da vontade?
Diferenciam-se em que o organismo toma sempre parte nos movimentos das paixões sensitivas, ao passo que as da vontade são totalmente espirituais (XXXI,4).

Quando se fala dos movimentos do coração, trata-se das paixões sensitivas ou das da vontade?
Propriamente das sensitivas, porém, em sentido metafórico, aplica-se também a frase às da vontade.

Logo, ao falarmos do coração humano, referimo-nos indiferentemente às duas espécies de paixões?
Sim, Senhor.

Que queremos exprimir quando aplicamos a um homem a expressão 'homem de coração'?
Umas vezes queremos dizer que é afetuoso e terno, assim na ordem sensível, como na ordem superior da vontade; outras, que é homem de valor e energia.

Por que se recomenda vigiar atentamente os movimentos do coração, e que significa tal conselho?
Significa que devemos por grande cuidado em não seguir inconsideradamente os primeiros movimentos afetivos, visto que só nos impelem a procurar o prazer e a fugir do sofrimento.

Também se recomenda educar o coração. Que significa este outro preceito?
Que devemos ocupar-nos em desarraigar os movimentos afetivos que nos inclinam ao mal.

É importante educar o coração no sentido explicado?
É como o resumo de todos os esforços do homem para adquirir a virtude e afastar-se do vício.

VIII

DO PRINCÍPIO DAS BOAS AÇÕES OU DAS VIRTUDES

Que significa adquirir virtudes?
A aquisição e aperfeiçoamento de todos os hábitos que inclinam o homem a proceder bem (XLIX - LVIII).

Que são os hábitos virtuosos?
São certas disposições e inclinações das diversas faculdades, que fazem bons os atos correspondentes (LV, 1, 4).

Qual é a sua origem?
Há ocasiões, ainda que parcialmente, em que são conaturais ao homem; outras, adquiridas com o exercício e, às vezes, infundidos direta e sobrenaturalmente por Deus (LXIII).

Existem hábitos ou virtudes intelectuais?
Sim, Senhor (LXVI, 3).

Que efeito produzem?
O de conduzir sempre o homem pelos caminhos da verdade (Ibid).

Quais são?
Inteligência, sabedoria, ciência, prudência e arte (LXVII, 1, 3).

Qual é o objeto de cada uma?
O da inteligência é facilitar o conhecimento dos primeiros princípios; a sabedoria, o das causas segundas, supremas; a ciência, o das conclusões; a prudência dirige a vida moral e a
arte, a execução das obras externas (Ibid).

Qual é, moralmente considerada, a mais importante na prática?
A prudência (LVII, 5).

Não há na inteligência humana mais virtudes que as enumeradas?
Sim, Senhor; há outra de ordem muito mais elevada (LXII, 1, 4).

Qual é?
A Fé (Ibid).

Existem na vontade algumas virtudes da mesma categoria que a Fé?
Sim, Senhor (Ibid).

Quais são?
A Esperança e a Caridade (Ibid).

As virtudes da fé, esperança e caridade, têm nome especial?
Sim, Senhor; chamam-se virtudes teologais (Ibid).

Que significa a expressão 'Virtudes teologais'?.
Significa que as virtudes da fé, esperança e caridade provém exclusivamente de Deus e a Deus na ordem sobrenatural têm por objeto (LXII, 1).

Existe alguma outra virtude na vontade?
Sim, Senhor; a virtude da Justiça e as que dela se derivam (LVI; LIX; LX, 2, 3).

Além do entendimento e da vontade, há no homem outras potências que possam ser sujeito de virtudes?

Sim, Senhor; as potências afetivas da ordem sensitiva (LVI, 4; LX, 4).

Que virtudes as adornam?
A Fortaleza e a Temperança, com as demais que delas dependem.

Que nome tem o conjunto das virtudes de Justiça, Fortaleza e Temperança, unidas à Prudência?
O de virtudes morais (LVIII, 1).

Não se chamam também virtudes cardeais?
Sim, Senhor (LXI, 1-4).

Que significa este nome?
Que são virtudes de capital importância, por serem como o eixo (em latim cardo, cardinis), em volta do qual giram todas as demais, exceto as teologais (Ibid).

As virtudes naturais e adquiridas, quer sejam intelectuais, quer morais, requerem como complemento outras virtudes correspondentes da ordem sobrenatural, infundidas por Deus, com o fim de facilitar ao homem todos os meios necessários para que suas ações sejam perfeitas na ordem moral?
Sim, Senhor; porque unicamente as virtudes infusas são proporcionadas aos atos de que o homem necessita para sua elevação à ordem sobrenatural, e que deve alcançar mediante as virtudes teologais (LXIII, 3, 4).

Necessita o homem possuir todas as virtudes, tanto as teologais como as cardeais, para que as suas ações sejam boas em conjunto?
Sim, Senhor.

Se lhe falta uma só, já não se pode chamar virtuoso?
Não, Senhor; porque, faltando uma, as demais são informes, ou não têm os caracteres de virtude completa.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).