'A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas' (Pv 9, 1)
A CÚPULA DOURADA
O que se arqueia sobre todas as colunas, que as une todas umas às outras, é a caridade, é o amor. Que significam as colunas sem a abóbada? Seriam apenas um torso. Assim seria a família sem o amor mútuo. Sem ela o matrimônio e a casa seriam facilmente um inferno na terra. Daí a exortação do Apóstolo: 'Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou sua Igreja e se entregou por ela'. Que poderia fora disso conservá-los unidos: a paixão e a embriaguez dos sentidos? Como a teia de aranha em meio da tempestade, se despedaça esse laço, quando vem a enfermidade ou uma dura provação.
O verdadeiro amar baseia-se na estima mútua. É o primeiro requisito do amor! A palavrinha 'eu' escreve-se pequenina; a palavrinha 'Tu', ao contrário, escreve-se grande e de preferência tão bela como as letras iniciais douradas e adornadas dos antigos livros conventuais. Tal amor duradouro e sólido só é possível quando não se prende a exterioridades apenas, mas penetra até a alma e, lá nas profundezas ocultas, contempla a imagem da eterna beleza de Deus. Tal beleza não diminui, antes pode e deve com a idade aumentar e só é verdadeiro o amor quando cada um quer consegui-la para o outro. Então é verdadeiro e santo e digno de um sacramento especial. Então fulgura em breve a cúpula de ouro do edifício do templo da família, sob os raios da luz solar.
O verdadeiro amor sabe respeitar-se a si mesmo. Jamais, para agradar aos outros, sacrifica princípios sagrados ou consente na violação de santos deveres. Pois acima de tudo no mundo está para ele a vontade de Deus: 'Deveis obedecer mais a Deus do que aos homens' é o cuidado de sua própria e única alma. Assim a soube avaliar o Papa Bento XII. Quando o Rei Felipe de França formulou em Avignon uma injusta pretensão, respondeu-lhe o Sumo Pontífice com as belas palavras: 'Se eu tivesse duas almas, de bom grado sacrificaria uma para consentir no que Vossa Majestade deseja. Como, porém, só tenho uma e quero salvá-la, queira Vossa Majestade restringir suas súplicas, de modo a que nada apresentem que possa ofender a Deus e prejudicar minha alma'.
Era o respeito de si mesmo. A falta de respeito de si mesmo revela alguém tolerar pretensões indignas ou tornar-se infiel a sua fé católica, aos seus mandamentos, por amor de outrem. Será realmente tão rara acaso essa falta de respeito de si mesmo? Prouvesse a Deus! Então não haverá tantas queixas, especialmente em casamentos mistos, de apostasia e educação acatólica dos filhos! Então viveriam mais santamente muitos casais e seriam — mais felizes!
O verdadeiro amor vive do sacrifício. Como da cálida corrente do golfo, dele emana sempre de novo ardor, força e alimento. O espírito de sacrifício é a forja em que o amor se fortalece, a chama na qual se torna firme e duradouro. Quem não tem coragem e força para um sacrifício, devia desistir da fundação de uma família, pois, continuará sempre a ser um egoísta, um inútil, um solitário.
O verdadeiro amor sabe o que deve aos outros, sobretudo às crianças. É inesgotável como o mar, mais jamais cego e fraco. Os filhos são de Deus — para Deus! A Ele pertencem as suas almas. Por isso Ele exige disciplina e estrita obediência. Estas são a base e o fundamento de toda a ciência da educação. Num tempo em que a autoridade para tantos nada mais vale, em que se considera a desobediência como grandeza e virtude e se faz passar a teimosia e obstinação por fortaleza de caráter, é duplamente necessária uma demonstração a respeito; pois sem respeito à autoridade todo o edifício do templo da felicidade da família rui estrondosamente.
O amor não se amua e não se carrega de voluntária nudez, mas é sempre afável e bondoso. Como brilham os olhos do marido quando à tarde volta do penoso trabalho e vê a mesa elegantemente posta, o aposento a brilhar de limpeza e arranjo e, sobretudo, o que lhe é mais caro, o olhar jubiloso da esposa, que lhe diz: 'Agora deixa lá fora todas as preocupações, entra e alegra-te, pois estás em casa'. Mas também como se lhe oprime o coração semelhante ao nevoeiro, que dias a fio abafa toda alegria e jovialidade, quando o aguarda um silêncio amuado. Então, como dizem os maometanos, a mulher se torna o desespero do justo.
Annette von Droste conta de uma mulher da Westphalia que, durante 20 anos, conservou-se em silêncio, não somente para com o marido, como para com todos, de modo que estavam convencidos que ficara muda, até que, após a morte do marido, começou de novo a falar, com grande admiração geral. Havia, porém, uma razão especial, ela era extremamente colérica e o marido ainda mais. Assim não se podiam falar sem que se zangassem e brigarem. Como todos os bons propósitos de conter-se de nada valessem, recorrera a esse recurso extremo, mas sem rancor. Fazia um semblante satisfeito e conseguia assim conservar uma paz perfeita. Foi neste caso uma virtude heroica. Em outros casos seria a morte do amor e o túmulo das alegrias conjugais.
Com toda a boa vontade poderiam hoje ou amanhã sobrevir perturbações e provações para o amor. Onde haveria também um sol eternamente risonho, um céu sem nuvens; um mar que o vento e as ondas jamais encrespassem? São Paulo, o grande Apóstolo das nações, que conhecia sua gente, indicou para estes casos aos cônjuges um bom remédio caseiro. Deviam usá-lo sempre, logo que os ânimos esquentassem e a mostarda lhes subisse ao nariz. O remédio é o seguinte: 'Não deixeis o sol baixar sobre a vossa desavença!'
É uma palavra de ouro e uma bebida mágica do matrimônio. Em cada família que se fundasse, deviam os jovens cônjuges prometer-se mutuamente fazê-lo e reservar um prêmio, no mais belo cofre, para quem primeiro pudesse dizer: 'Meu marido, minha mulher, façamos as pazes'. Este teria merecido o prêmio, ainda que não fosse senão um justo e verdadeiro ósculo de paz. Com isto se alegrariam os Anjos no céu e em breve também na mais mísera choupana de novo brilharia mais claro e mais ardente o sol da felicidade doméstica, exatamente como lá fora, após um tempestade, o verdadeiro sol fulgura mais belo é mais dourado.
Mulheres que, além da habilidade nos arranjos caseiros, procuram alimentar ainda um terno sentimento, que querem ser realmente a luz do sol de seu lar, sabem facilmente achar caminho para o coração do esposo. Para elas, mesmo os acontecimentos de cada dia e as pequenas coisas, como a arte culinária, tornam-se meios hábeis e industriosas finezas para granjear o amor do marido, se acaso faltar. Mas mesmo a melhor e mais radiosa mulher terá de desistir, se o marido não lhe pagar, com a mesma moeda.
Se nenhum olhar afável, nenhuma palavra de reconhecimento recompensar o sacrifício da mãe de família, de onde lhe virá a alegria, que faz do lar um remanso feliz? Quanto coração amante de mulher resfria diante da falta de amabilidade do marido! Quanto homem só no túmulo da esposa fiel sente o bem que Deus lhe doou, dando-lhe a companheira que agora repousa na terra fria! 'Leve cada um a carga do outro!' A recompensa deste sacrifício é a conservação do amor e a felicidade da vida doméstica.
(Excertos da obra 'As colunas de tua Casa - um Plano para a Felicidade da Família', do Vigário José Sommer, 1938, com revisão do texto pelo autor do blog)