domingo, 16 de junho de 2013

A HIERARQUIA DOS ANJOS

Quais e quantas são as ordens dos seres que vivem no Céu? Como é que cada hierarquia recebe a sua consagração ou o seu aperfeiçoamento? Afirmo que apenas o Princípio Divino poderia responder exatamente a essas questões. Mas os seres angélicos não ignoram nem as qualidades que lhes são próprias, nem a hierarquia sagrada que os rege e que não pertence a este mundo. É impossível conhecermos os segredos das inteligências que vivem no Céu, a menos que Deus nos revele por intermédio dessas mesmas inteligências, as quais não ignoram a sua própria natureza. Portanto, não faremos nada de nossa própria autoria e nos contentaremos em expor, na medida dos nossos conhecimentos, essas visões angélicas, tal como os santos teólogos as contemplam e tal como eles a nós revelaram. 

Os seres angélicos dividem-se em três ordens e possuem nove nomes. A primeira ordem rodeia a Deus de modo permanente e está unida a Ele constantemente. Ela está em primeiro lugar e não possui qualquer mediação: são os Tronos santíssimos e os batalhões notáveis por seus números de olhos e de asas que recebem os nomes de Querubins e Serafins. Eles têm uma proximidade de Deus superior a todos os outros. Essa ordem de três batalhões formam uma só e constitui a primeira hierarquia de nível igual. A segunda ordem compõe-se de Virtudes, Dominações e Potestades constituindo a segunda hierarquia. A terceira ordem constitui a última hierarquia celeste. É a ordem dos Anjos, Arcanjos e Principados. Todos os nomes atribuídos às inteligências celestes designam capacidades para eles receberem a semelhança divina. 'Querubim' em hebraico significa 'aquele que arde'. Significa também 'massa de conhecimento e efusão de sabedoria'. 

A primeira hierarquia é a mais sublime de todas e, graças à sua proximidade com Deus, recebe as aparições Dele primeiro que as outras e os seus nomes revelam o modo como se  ligam a Ele.  Os Serafins têm como qualidades especiais o movimento perpétuo em torno dos segredos divinos, o calor, a profundidade, o ardor dum constante movimento que não conhece diminuição, o poder de elevarem eficazmente as suas semelhanças aos que lhes são inferiores, comunicando-lhes o mesmo ardor a mesma chama e o mesmo calor. Eles têm o poder de purificarem a evidente e indestrutível aptidão para conservarem a sua própria luz, o seu poder de iluminação e a faculdade de abolirem todas as trevas. 

Os Querubins designam aptidões a conhecerem e a contemplarem a Deus, a receberem os mais altos dons da Sua Luz, a contemplarem, na sua potência primordial o esplendor divino, a acolherem em si a plenitude dos dons que transmitem sabedoria e a comunicá-los em seguida às essências inferiores, graças à expansão da própria sabedoria que lhes foi transmitida.

Os Tronos, sublimes e luminosos, indicam a ausência total de qualquer concessão aos bens inferiores e a tendência contínua para os cumes, que sublinha bem o fato de eles nada terem em comum com o que lhes está abaixo. Eles indicam a sua infalível aversão a toda indignidade, a grande concentração de toda a sua capacidade para se manterem constante e firmemente perto do Altíssimo, a capacidade de receberem indiferentemente todas as visitações da Divindade, o privilégio que têm de servirem de assento a Deus e os seus zelos em se abrirem aos dons de Deus. 

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O nome das santas Dominações significa a elevação espiritual livre de qualquer compromisso terreno tal como convém a uma entidade incorruptível e verdadeiramente livre, tendendo com um firme vigor para o verdadeiro princípio de toda a Dominação, recebendo ela e os seus subordinados à medida das suas forças a semelhança do Senhor e participando do princípio constante e divino de toda a Dominação. 

No que concerne às santas Potestades o seu nome indica uma certa vigorosidade corajosa em todos os atos pelos quais se configuram a Deus. Uma vigorosidade que exclui qualquer enfraquecimento de forças no recebimento das iluminações divinas que lhe é outorgada; uma vigorosidade que se eleva corajosamente até a imitação de Deus e que não abandona a ascensão à forma divina e cujo olhar permanece rigidamente direcionado para a fonte de toda a potestade. Porque essa vigorosidade torna-se imagem da potestade, da qual ela assume a forma, ligando-se a ela com todas as suas forças para fazer descer sobre as essências inferiores o seu processo dinâmico e deificante. 

O nome das Virtudes indica que ela tem o nível igual das Dominações e Potestades. Ela é disposta harmonicamente e sem confusão para receber os dons divinos. Ela indica ainda que o poder intelectual que lhe pertence é perfeitamente ordenado e que longe de abusar do seu poder ela se eleva harmoniosamente para as realidades divinas, conduzindo na sua bondade as essências inferiores e imitando tanto quanto pode a virtude fundamental, que é a fonte de toda a virtude sem deixar de difundí-la na medida de sua capacidade. 

Eis como a segunda hierarquia das inteligências celestes manifesta a sua identidade com Deus. É assim que ela se purifica, se ilumina e se aperfeiçoa graças às iluminações divinas que lhe são transmitidas pelos membros da primeira ordem hierárquica.

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O nome dos Principados celestes significa que eles possuem na ordem sagrada um princípio e uma hegemonia de forma divina; que eles possuem das potências de comando da mais alta conveniência o poder de se converterem inteiramente ao Princípio que está acima de todo o princípio e de conduzirem os outros para eles com uma autoridade primordial e de revelarem o Princípio Sobre-essencial de toda a ordem pela harmonia do seu comando. 

Os Santos Arcanjos têm o mesmo nível que os Principados celestes e formam uma única hierarquia juntamente com os Anjos. A ordem dos Arcanjos, graças ao seu lugar intermediário na hierarquia, participa nos dois extremos uma vez que ela entra em comunhão com os Principados e com os Anjos. Em um dos extremos ela participa no sentido de sua conversão ao Princípio Sobre-essencial e lhe confere a unidade graças aos poderes invisíveis da harmonização; no outro extremo ela participa no sentido de também pertencer ao nível dos intérpretes, recebendo hierarquicamente a iluminação por intermédio das potências do primeiro nível transmitida aos Anjos e por intermédio desses transmitida a nós na medida em que cada um possa recebê-la através dos segredos divinos. 

Como já dissemos, os Anjos terminam e completam a regra das inteligências celestes, porque são eles que possuem entre elas o mais baixo grau da qualidade angélica e se nós os designamos por anjos é precisamente porque por seu intermédio se manifesta a sua hierarquia mais claramente aos nossos olhos.

A ordem superior (Tronos, Querubins e Serafins) mais próxima — pela sua dignidade — do Santuário Secreto inicia misteriosamente a segunda ordem, aquela que se compõe das Dominações, Potestades e Virtudes, que por outro lado comanda os Principados, Arcanjos e Anjos. A segunda ordem revela os mistérios menos secretamente que a primeira ordem mas menos abertamente que a última. A função reveladora pertence à ordem dos Principados, Arcanjos e Anjos. É ela que através dos graus da sua própria ordenação preside as hierarquias humanas, a fim de que se produzam de modo ordenado a elevação para Deus, a conversão, a comunhão, a união e ao mesmo tempo o movimento que provém de Deus que gratifica liberalmente todas as hierarquias e dons e as ilumina, fazendo com que essas hierarquias humanas entrem em comunhão com essa função reveladora.

(Excertos da obra 'Hierarquia Celeste' de São Dinis, o Areopagita, que foi discípulo de São Paulo)