domingo, 9 de junho de 2013

QUATRO OBSTÁCULOS AO CORAÇÃO DE JESUS

Quatro obstáculos nos detêm no caminho da verdadeira devoção ao Coração de Jesus. O primeiro é a tibieza, estado bem triste. A alma tíbia só faz o que não pode omitir. Sem caridade, sem fervor, a si própria é pesada, e, em lugar de progredir no caminho da virtude, recua. Tanto mais deplorável é este estado, quanto menos perigoso o julgamos. Evitamos os pecados grosseiros, e cremo-nos por isso em segurança; mas é porque esquecemos o que diz o Senhor no Apocalipse: 'Por seres tíbio, lançar-te-ei de minha boca'. Como se quisesse dizer: 'Não mereces viver em mim; não terás acesso até meu Coração, porque me retribuis a ternura com frieza criminosa.' Confissões sem emenda, comunhões sem fruto, são as consequências comuns de tão desgraçado estado.

O amor próprio é o segundo obstáculo. A observância do Evangelho encerra-se toda nesta palavra de Jesus Cristo: 'Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si próprio, tome sua cruz, e siga-me'... Nisto, porém, poucos são os que pensam seriamente. Não gostam senão das virtudes que lhes agradam e combinam com seu humor; como pode, porém, um coração assim disposto unir-se com o Sagrado Coração de Jesus?

O terceiro obstáculo é alguma paixão favorita que poupamos e não queremos sacrificar. Por mais que se domem quase todas, ficando uma só deste gênero, torna-se impossível a união dos corações. Examinai de boa fé qual é a que reservais, e sacrificai-a generosamente ao Coração de Jesus. Menos vos custará, acreditai, renunciar a ela, do que satisfazê-la.

O quarto obstáculo é um orgulho secreto. Vencem-se e enfraquecem-se os outros inimigos pela prática das virtudes, ao passo que este se fortifica com elas. Pode-se dizer que, de todos os vícios, nenhum há que tanto tenha paralisado as almas no caminho da piedade, e da mais alta perfeição as tenha abismado na tibieza e até na desordem, como o orgulho.

Deste espírito de vaidade procede o imoderado desejo que temos de aparecer, de sair bem do que empreendemos, e, também, a tristeza e desânimo em que caímos depois dos reveses; o entusiasmo que sentimos quando nos dão louvores. Tal espírito insinua-se até no exercício das maiores virtudes; somos mortificados, obsequiosos, honestos, delicados, caridosos, cheios de zelo pela salvação, meditação, etc., mas gostamos também que sejam conhecidas estas nossas qualidades.

É do orgulho que dimanam as susceptibilidades em pontos de honra, esfriamentos, pesares que tanto se aproximam da inveja, bem como a pena oculta que nos causam os triunfos dos outros, que buscamos amesquinhar, e a extrema tristeza e desalento que experimentamos quando resvalamos em alguma falta semelhante. Em suma, passamos por espirituais, supomo-nos tais, e só nos conduzimos pela prudência mundana; a superfície espiritual encobre paixões reais: e na hora da morte, pessoas que julgamos encarregadas de riquezas espirituais, acham-se com as mãos vazias de boas obras; porque certo amor próprio, ambiçãozinha e orgulho latente, tudo roubaram e corromperam. Eis o verme que faz secar e tombar os mais altos e frondosos carvalhos.

(Devocionário do Sagrado Coração de Jesus)