domingo, 22 de novembro de 2020

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma' (Sl 22)

 22/11/2020 - Trigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum 
Solenidade de Cristo Rei

52. JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO


Jesus Cristo é o Rei do Universo. Como Filho Unigênito de Deus, Ele é o herdeiro universal de toda a criação, senhor supremo e absoluto de toda criatura e de toda a existência de qualquer criatura, no céu, na terra e abaixo da terra. A realeza de Cristo abrange, portanto, a totalidade do gênero humano, como expresso nas palavras do Papa Leão XIII: 'Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro' (Encíclica Annum Sacrum, 1899).

E, neste sentido, o domínio do seu reinado é universal e sua autoridade é suprema e absoluta. Cristo é, pois, a fonte única de salvação tanto para as nações como para todos os indivíduos. 'Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos' (At 4, 12). O livre arbítrio permite ao ser humano optar pela rebeldia e soberba de elevar a criatura sobre o Criador, mas os frutos de tal loucura é a condenação eterna.

A realeza de Cristo é, entretanto, principalmente interna e de natureza espiritual. Provam-no com toda evidência as palavras da Escritura acima referidas e, em muitas circunstâncias, o proceder do próprio Salvador. Quando os judeus e até os Apóstolos erradamente imaginavam que o Messias libertaria seu povo para restaurar o reino de Israel, Jesus desfez o erro e dissipou a ilusória esperança. Quando, tomada de entusiasmo, a turba que o cerca quer proclamá-lo rei, com a fuga furta-se o Senhor a estas honras, e oculta-se. Mais tarde, perante o governador romano, declara que seu reino 'não é deste mundo'. Neste reino, tal como nos descreve o Evangelho, os homens devem entrar pela penitência. 'Ninguém, com efeito, pode nele ser admitido sem a fé e o batismo; mas o batismo, conquanto seja um rito exterior, figura e realiza uma regeneração interna. Este reino opõe-se ao reino de Satanás e ao poder das trevas; de seus adeptos exige o desprendimento não só das riquezas e dos bens terrestres, como ainda a mansidão, a fome e sede da justiça, a abnegação de si mesmo, para carregar a cruz. Foi para adquirir a Igreja que Cristo, enquanto 'Redentor', verteu o seu sangue; para isto é, que, enquanto 'Sacerdote', se ofereceu e de contínuo se oferece como vítima. Quem não vê, em consequência, que sua realeza deve ser de índole toda espiritual?' (Encíclica Quas Primas de Pio XI, 1925).

Cristo Rei se manifesta por inteiro pela sua Santa Igreja e, por meio dela e por sua paixão, morte e ressurreição, atrai para si a humanidade inteira, libertada do pecado e da morte, que será o último adversário a ser vencido. E quando voltar, há de separar o joio do trigo, as ovelhas e o cabritos, uns para a glória eterna, outros para a danação eterna: 'Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda... estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna' (Mt 25, 31 - 33.46).

sábado, 21 de novembro de 2020

RELATOS DE UM PEREGRINO RUSSO

'Relatos de um Peregrino Russo' constitui uma das obras clássicas do espiritualidade cristã oriental, escrita por um monge russo anônimo no século XIX,  que conta a história de um peregrino em busca da oração perfeita. Nesta busca incessante, o peregrino leva consigo apenas uma sacola às costas, uma Bíblia e uma coletânea de textos patrísticos chamado Filocalia. Nessa caminhada, encontra um monge (staretz) que lhe ensina a Oração de Jesus – a simples e profundamente reverente repetição do nome de Jesus. Nela encontrou enfim a oração perfeita e de tal forma que, tomando-a por completo em sua mente e em seu coração, transformou a própria vida em oração.


'É preciso lembrar-se de Deus o tempo todo, em todo lugar e em todas as coisas. Se fazes alguma coisa, deves pensar no Criador de tudo o que existe; se vês a luz do dia, lembra-te dAquele que criou a luz para ti; se olhas o céu, a terra e o mar e tudo o que eles contêm, admira, glorifica Aquele que tudo criou; se te vestes com uma roupa, pensa nAquele de quem a recebeste e lhe agradece, a Ele que provê a tua existência. Em resumo, que todo movimento seja para ti um motivo para celebrar o Senhor: assim rezarás sem cessar e tua alma estará sempre alegre'.

'A oração interior incessante é um anseio contínuo do espírito humano por Deus... A oração de Jesus, interior e constante, é a invocação contínua e ininterrupta do nome de Jesus com os lábios, o coração, a inteligência, no sentimento da sua presença, em todo lugar, em todo tempo, até durante o sono. Ela é expressa por estas palavras: 'Senhor, Jesus Cristo, tende piedade de mim'. Todo meu desejo estava fixo sobre uma só coisa: dizer a oração de Jesus e, desde que me consagrei a isto, estive tomado de alegria e de consolo. Era como se meus lábios e minha língua pronunciassem por si mesmas as palavras, sem esforço de minha parte'.

'Todo desejo e todo pensamento de oração é obra do Espírito Santo e a voz de vosso Anjo da guarda. O nome de Jesus Cristo invocado na oração contém em si mesmo um poder salvífico que existe e age por si próprio; assim, pois, não vos perturbeis com a aridez de vossa oração, e esperai, com paciência, o fruto da invocação frequente do nome divino. Não ouçais as insinuações daqueles que, inexperientes e insensatos, alegam que a invocação tíbia é uma repetição inútil, até mesmo monótona. Não: o poder do nome divino e sua invocação frequente produzirão frutos a seu tempo'.

'Por que motivo, por exemplo, se desejais purificar vossa alma, começais por vos preocupar com o corpo, fazendo jejum, mortificações, privando-vos de alimentos estimulantes? É, sem dúvida, para que ele não possa ser um obstáculo ou, para melhor dizer, a fim de que se torne o meio de favorecer a pureza da alma e o discernimento do espírito, para que a sensação constante de fome corporal faça-vos lembrar de vossa resolução de buscar a perfeição interior e as coisas que agradam a Deus, e que tão facilmente esquecemos. E ficamos sabendo, por experiência, que, através do ato exterior do jejum corporal, realizamos o aprimoramento interior do espírito, a paz do coração, encontramos um instrumento para domar as paixões e um aguilhão do esforço espiritual. Assim, em meio a coisas exteriores e materiais, se recebe ajuda e proveito interior e espiritual'. 

'De tudo quanto foi dito, conclui-se que a salvação do homem depende da oração, e, por isso, ela é primordial e necessária, pois, através dela a fé é vivificada e as boas obras se realizam. Numa palavra, com a oração tudo se processa com êxito; sem a oração, não podemos praticar ato algum de piedade cristã. Desse modo, a exigência de que nossa vida seja incessantemente oferta, depende exclusivamente da oração. As outras virtudes têm seu tempo próprio, mas, no caso da oração, pedem-nos uma atitude ininterrupta: 'Orai sem cessar'. É justo e oportuno que rezemos sempre, por toda parte'. 

'Algumas vezes meu coração resplandecia de alegria, parecia leve, pleno de liberdade e de consolo. Às vezes, eu sentia um amor ardente por Jesus Cristo e por todas as criaturas de Deus... Às vezes, invocando o nome de Jesus, ficava repleto de felicidade e, depois disto, conhecia o sentido destas palavras: 'O reino de Deus está dentro de vós'.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

VERSUS: ESPÍRITO X CARNE

'Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sob a Lei. 

Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, liber­tinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes. Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de Deus! 

Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há Lei. Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências. 

Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito. Não sejamos ávidos da vanglória. Nada de provocações, nada de invejas entre nós'.

(Gl, 5, 16 - 26)


'Portanto, meus estimados ouvintes, para que possamos vencer todos os nossos inimigos, busquemos a ajuda divina por meio da observância dos mandamentos divinos, sabendo que de outra forma não podemos prevalecer sobre os nossos adversários, a menos que prevaleçamos primeiro sobre nós mesmos. Pois existem muitos embates dentro de nós: a carne deseja uma coisa contra o espírito, enquanto o espírito deseja outra contra a carne. Nessa disputa, se os desejos do corpo forem mais poderosos, a alma perderá a sua dignidade adequada e será extremamente perigoso servir àquilo que deveria ordenar. Se, por outro lado, a mente, estando sujeita à autoridade do seu governante e munida pelas dádivas do céu, pisoteará as seduções dos prazeres mundanos e impedirá o pecado de reinar em seu corpo mortal, a razão se impõe e, fortalecida, não sucumbirá a quaisquer males espirituais. Porque o homem só possui verdadeira paz e liberdade verdadeira quando a carne é governada pelo julgamento da mente e a mente é governada pela Vontade de Deus'.

(São Leão Magno, Sermão XXXIX)

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XVI)

 

PADRES DA IGREJA

Chamam-se assim os escritores da Igreja, cujas obras e doutrina formam aquela autoridade que constitui a Tradição. A Igreja dá este título aos Doutores que floresceram nos doze primeiros séculos do Cristianismo, isto é, desde os Apóstolos até São Bernardo, que se reconhece geralmente como último dos Santos Padres. Para que um Escritor seja considerado 'Padre da Igreja', são necessárias quatro condições: a) ortodoxia doutrinal; b) santidade de vida; c) antiguidade; d) aprovação da Igreja. Existem, todavia, alguns que embora não reúnam em si todas as condições antes indicadas, são, no entanto, chamados vulgarmente 'Padres da Igreja', como por exemplo, Tertuliano, Orígenes, Fausto de Riez e outros; estes são chamados 'Padres' pelos importantes serviços prestados à causa católica durante o tempo da sua ortodoxia. 

PADRINHOS

Segundo um antiquíssimo costume que remonta pelo menos ao século III, ninguém deve ser batizado sem ser apresentado por um padrinho. No Batismo, ainda que privado, deve haver um padrinho e uma madrinha, que sejam batizados, que hajam atingido o uso da razão, e tenham a intenção de assumir tal encargo; que no ato do Batismo sustentem ou toquem fisicamente, por si ou por procurador, o batizando, ou imediatamente após aquele ato o tirem ou recebam da pia batismal ou das mãos do batizante. Sejam afastados nominalmente do múnus de padrinho os concubinados públicos (quer ligados pelo contrato civil quer não) e os que proíbem que seus filhos se batizem ou recebam a primeira Comunhão. Pelo Batismo, o batizante e os padrinhos contraem parentesco espiritual com o batizado. Em virtude do encargo que assumiram, os padrinhos têm obrigação de velar perpetuamente pelo seu filho espiritual. Também na Confirmação deve haver um padrinho, que seja do mesmo sexo que o confirmando, que seja confirmado, que tenha 14 anos de idade e coloque a mão direita sobre o ombro direito do confirmando durante a imposição do crisma. Não podem ser padrinhos na Confirmação os que não o podem ser no Batismo.

PADROEIRO (Santo)

É o santo escolhido por uma nação, diocese, paróquia, comunidade religiosa ou quaisquer lugares ou pessoas morais, como seu protetor especial junto de Deus.

PAGANISMO

É o estado religioso era que vivem os povos que não conhecem o verdadeiro Deus. Adoram falsas divindades e seguem uma moral de harmonia com os erros grosseiros que às suas paixões agradam. Os homens tiveram sempre a ideia de um Deus; como não o conheciam, prestavam culto ao que eles julgavam ser Deus. Antes de Jesus Cristo, só os israelitas adoravam o verdadeiro Deus, porque só a eles Deus se tinha revelado. Os povos que não conhecem Jesus Cristo continuam a viver no paganismo.

PAIXÃO DE JESUS CRISTO

Chama-se assim ao conjunto dos sofrimentos do nosso Divino Salvador desde a sua prisão na noite de Quinta-feira Santa até à morte na Cruz; foi prognosticada pelos Profetas do Antigo Testamento, principalmente por Isaías (cap. LIII) e foi realizada sob o poder de Pôncio Pilatos, na cidade de Jerusalém, terminando com a crucifixão no Calvário. A natureza humana de Jesus Cristo, posto que unida à natureza divina, conservou o que tinha de passível e mortal; por isso Jesus foi sensível às dores e à morte. Pela Paixão de Jesus Cristo, foram tirados todos os impedimentos da nossa salvação e foram-nos dados todos os bens, quanto ao mérito. Na remissão dos pecados, ela é a causa universal que é preciso, todavia, aplicar a cada um por meio dos sacramentos, de sorte que nenhum pecado é perdoado, nem alguém obtém salvação sem que lhe sejam aplicados os méritos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

PALA

É um pequeno pano quadrado, de linho ou de cânhamo, que o sacerdote leva dentro do corporal quando vai celebrar a Santa Missa. Não admite bordados, mas pode ter uma renda à volta. A pala serve para cobrir a patena e a hóstia até ao ofertório, e o cálice desde o ofertório até à comunhão, e de novo a patena, depois da comunhão. É benzida com o corporal, dentro do qual se conserva. Depois de servir na Missa, não deve ser dada a lavar nem mesmo a religiosas, sem ter sido purificada por Clérigo de Ordens Maiores.

PÁLIO

É um dossel portátil, sustentado por varas, que obrigatoriamente serve nas procissões para cobrir o sacerdote que leva a custódia com o Santíssimo Sacramento. É tolerado também que vão debaixo do Pálio as Relíquias da Verdadeira Cruz do Senhor e os Instrumentos da Paixão, contanto que não estejam reunidas a relíquias de santos. É proibido levar nas procissões debaixo do pálio relíquias ou imagens dos santos, ainda que sejam da Santíssima Virgem. Se houver costume, também pode ir debaixo do pálio a imagem do Senhor morto, na sexta-feira santa. Também é recebido debaixo do pálio o bispo, em visita pastoral. Também se chama Pálio a um ornamento que o Arcebispo põe sobre os ombros depois de revestido de todos os outros ornamentos pontificais. O Pálio era insígnia do imperador que foi concedida ao Papa ou no século IV ou no século V. No princípio era sinal do poder e missão do pastor passando também a ter o significado de uma relíquia de São Pedro e de um instrumento do poder arquiepiscopal. 

PARAÍSO TERRESTRE

Dá-se este nome ao lugar onde Deus formou e colocou Adão e Eva. Conhecemos a sua existência pela narração da Sagrada Escritura, mas não sabemos em que lugar exato da Terra estava situado.

PARAMENTOS

São todos os ornamentos usados pelo clero nas funções sagradas. Devem ser benzidos pelo bispo ou por sacerdote que tenha as necessárias faculdades, exceto os sanguíneos, os véus de cálice e as bolsas de corporais. Não podem servir para usos profanos. Acerca da matéria e forma dos ornamentos e outros objetos sagrados, devem ser observadas as normas litúrgicas, a tradição da Igreja e, do melhor modo possível, também as leis da Arte Sagrada. As várias cores dos paramentos são a expressão de um simbolismo. A cor branca é símbolo de pureza e de alegria; a cor vermelha é símbolo de amor e de sacrifício; a verde é símbolo de esperança; a roxa é símbolo de penitência; a preta é símbolo de luto. Os paramentos não devem estar rasgados nem sujos. Quando já não podem ser remendados, queimam-se, assim como se queimam todas as vestes e utensílios litúrgicos benzidos, quando já não estão capazes de ser usados.

PÁROCO

É o sacerdote a quem foi conferida, em título, alguma paróquia para cura de almas, que há de exercer sob a autoridade do Ordinário do lugar. É da máxima importância na Igreja Católica o ofício dos párocos. Da sua ciência, prudência e zelo depende, em grande parte, a salvação das almas. São eles os melhores cooperadores dos bispos, aos quais compete o direito de nomeá-los em suas dioceses. Os direitos e as múltiplas obrigações dos párocos estão determinados no Código do Direito Canônico.

PATENA

É uma espécie de prato de ouro ou de prata dourada, onde se coloca a hóstia que vai ser consagrada na Missa. Deve ser sagrada pelo bispo.

PATRIARCA

Era o nome que se dava aos varões célebres de que a Sagrada Escritura faz menção e que viveram nos primeiros tempos do mundo e durante muitos séculos. Atualmente a palavra Patriarca, usada na Igreja, é apenas um título que, além da prerrogativa de honra e do direito de precedência sobre o Primaz e o Arcebispo, não tem jurisdição especial.

PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO

São os pecados nos quais, por uma obstinação no mal, se despreza a graça que o divino Espírito Santo nos oferece para a nossa santificação. Chamam-se pecados contra o Espírito Santo porque tudo o que emana da bondade de Deus se atribui particularmente ao Espírito Santo. Tais pecados são: desesperação da salvação, presunção de se salvar sem merecimentos, contradizer a verdade conhecida como tal, ter inveja das mercês que Deus faz aos outros, obstinação no pecado e impenitência final. Jesus disse que o pecado contra o Espírito Santo não será perdoado neste mundo nem no outro (Mt 12, 32), querendo significar que é muito difícil ao que comete tais pecados o arrepender-se e, sem o arrependimento, não se recebe o perdão.

PECADOS CONTRA A NATUREZA

Geralmente falando, são todos os pecados de impureza, cometidos contra a ordem da natureza estabelecida para a geração dos filhos.

PENA (castigo de Deus)

Tem natureza dupla, de sentido ou aflitiva, e de dano ou carência da visão de Deus. A primeira é devida ao pecador por causa da sua conversão desordenada às criaturas; a segunda por causa da aversão a Deus. Toda a pena, como pena, só se aplica ao culpado, mas como satisfação e medicina pode-se aplicar por culpa alheia. Com pena corporal se castiga o filho por culpa do pai e o servo por culpa do amo, enquanto que são alguma coisa deles; não porém com pena espiritual, a não ser que tenham sido participantes da sua culpa. Deus tarda em punir os pecadores, por duas razões: para que os predestinados se convertam, e para que os seus juízos sejam reconhecidos como justos. Os que morrem só com o pecado original não sofrem a pena de sentido. Ao pecado venial é devida a pena temporal; ao pecado mortal, a pena eterna. Perdoada a culpa do pecado mortal e a pena eterna, por vezes fica a pena temporal a sofrer ainda nesta vida ou no Purgatório.

PENA ECLESIÁSTICA

É a privação de algum bem, imposta pela autoridade legítima da Igreja, para correção do delinquente e punição do delito.

PEREGRINAÇÕES

São uma solene manifestação de Fé, um ato coletivo de religião, de piedade e de penitência, que os cristãos costumam fazer, ordenados em grupos, aos mais célebres Santuários. Não devem ser promovidas sem o consentimento da autoridade eclesiástica, a cuja aprovação há de ser submetido o respectivo programa. Convém que os fiéis sejam preparados para esse ato, por meio de pregação, e que se confessem e comunguem.

PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA

Deus a permite por vários motivos: a) para castigo dos pecadores; b) para fazer conhecer os verdadeiros cristãos e separar os lobos dos cordeiros; c) para provar a verdade da religião católica pela prática de virtudes heroicas, pela abnegação e martírio de uns, por atos de caridade e de reparação de outros; d) para ser mais glorificado pelas almas que lhe ficam fiéis.

PERSEVERANÇA FINAL

É a conservação da graça divina no momento da morte. Todos os dias devemos pedir a Deus esta graça, porque dela depende a nossa salvação. O momento da morte é decisivo, e o demônio não deixa de empregar todos os esforços por nos fazer pecar, para sermos condenados como ele foi. Só a graça da perseverança no amor de Deus nos pode livrar de cair em tentação.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

'EGO VOBIS ROMAE PROPITIUS ERO'

Quando Santo Inácio de Loyola, acompanhado por São Pedro Fabro e o Pe. Diego de Laínez se dirigiam à cidade de Roma para atender um chamado do Santo Padre Paulo III, resolveram fazer uma pequena parada em uma igrejinha isolada ao longo da Via Cassia. Ali, Santo Inácio recebeu uma luz e uma manifestação do alto: Ego vobis Romae propitius ero - Eu vos serei propício em Roma.

A memória desse evento nos transporta a Pedro, aos papas, à Roma eterna. Sim, em Roma, com Pedro e sob a tutela de Pedro, está firmada para a eternidade a Igreja do Senhor. Em Roma, está a salvaguarda e a arca dos Evangelhos, a doutrina de Cristo, o privilégio da missão salvífica, o ordenamento dos santos mistérios. Roma é a Igreja, a única Igreja de Cristo, penhora dos sagrados mistérios que, embora envoltos em vasos de barro (2Co 4, 7), são como um incêndio de graças que se espraiam até os confins da terra, como instrumentos de conversão e de salvação para todos os povos e nações.

Ego vobis Romae propitius ero - Eu vos serei propício em Roma. Pela Via Cassia, pelos caminhos e estradas da vida, como peregrinos neste mundo cada vez mais cheio de atalhos, desvios e abismos sem fim, caminhamos para a Roma da comunhão de todos os santos, como irmãos na fé e herdeiros das moradas eternas. 

terça-feira, 17 de novembro de 2020

SOBRE AS TENTAÇÕES


As tentações não te devem assustar; por elas Deus quer testar e fortificar a tua alma e, ao mesmo tempo, dar-te a força de as vencer. Até aqui, a tua vida foi como a de uma criança; a partir de agora, o Senhor quer tratar-te como adulto. Ora, as provações de um adulto são muito superiores às de uma criança e é por isso que, a princípio, te sentes tão perturbado. Mas a vida da tua alma encontrará rapidamente a sua calma. Tem um pouco de paciência e tudo correrá para melhor.

Deixa, pois, de lado essas vãs preocupações. Lembra-te de que não é a sugestão do maligno que faz o mal, mas o consentimento dado às suas sugestões. Só uma vontade livre é capaz da fazer o bem ou o mal. Mas, quando a vontade geme sob a provação infligida pelo Tentador, se não quer o que lhe é proposto, isso não é falta, mas virtude.

Guarda-te de cair na agitação ao lutar contra as tentações, pois isso só as fortalecerá. É preciso tratá-las com desprezo e não lhes ligar. Volta o teu pensamento para Jesus Crucificado, para o seu corpo deposto nos teus braços e diz: 'Eis aqui a minha esperança, a fonte da minha alegria! Ligo-me a Ti com todo o meu ser, e não Te deixarei enquanto não me colocares em segurança'.

(São Pio de Pietrelcina)

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

TESOURO DE EXEMPLOS (31/33)

 

31. ESTOU VENDO OS CHINESES!

Justo de Bretennières foi martirizado na Coréia em 8 de março de 1866; mas desde 6 anos de idade se sentira chamado a ser um sacerdote missionário. Em 1844, estava Justo brincando com o seu irmãozinho Cristiano, de quatro anos, fazendo buracos no chão. De repente, Justo interrompe a conversa do irmãozinho:
 
➖ Cale-se! Cale-se! - E, pondo-se a olhar por um daqueles buracos, acrescentou:

➖ Estou vendo os chineses, estou vendo os chineses! Vamos fazer um buraco mais fundo e logo chegaremos até eles. Cavemos mais fundo.

Cristiano inclina-se, espia e jura que não vê coisa alguma. Justo, entretanto, insiste e diz que está vendo o rosto, os trajes, o rabicho do cabelo... Inclina-se outra vez e diz:

➖ Agora os estou ouvindo.

Cristiano corre, chama a mamãe e ela também não vê nem ouve nada. Então Justo muito convencido diz:

➖ Não os ouvis porque não é a vós que eles falam; mas eu os ouço. Sim, mamãe, do fundo do buraco, lá de longe, me chamam. E é preciso que eu os vá lá salvar.

E foi, na verdade, missionário famoso na China e na Coréia. Os inimigos da religião fizeram-no sofrer horrível martírio. No momento de morrer por Jesus Cristo, disse cheio de alegria:

➖ Vim à Coréia para salvar as almas. Com gosto morro por Deus e por elas.

32. GERALDO E A EUCARISTIA

Geraldo, quando muito pequeno ainda, tinha a felicidade de brincar com o Menino Jesus que, ao se despedir, dava-lhe um pãozinho muito alvo e saboroso. Desde essa tenra idade, portava-se na igreja com tamanho recolhimento que o tinham por um anjo.

Sua piedade verdadeiramente angélica comovia os corações de todos os que o viam e, certamente, mais ainda, o de Deus. Nosso Senhor recompensava a sua terna devoção, aparecendo-lhe, durante a santa missa, em forma visível. Seu coração parecia então todo inflamado e, quando, depois da comunhão do sacerdote, o Senhor desaparecia, Geraldo ficava triste e seus olhos enchiam-se de lágrimas.

Desde aquela época sentia um atrativo sobrenatural e irresistível pela igreja, pelo augusto santuário, onde Jesus sacramentado o enchia de delícias inefáveis. À tarde, onde quer que estivesse, ao ouvir o sino chamar para a visita ao Santíssimo, deixava os seus brinquedos e dizia aos companheiros:

➖ Vamos, vamos visitar a Jesus que quis fazer-se prisioneiro por nosso amor.

E era de ver com que fervor e a devoção o menino ficava ali ajoelhado, imóvel e abismado no seu Deus. Tinha um desejo imenso de comungar, mas por não ter a idade requerida, não lhe permitiam. Deus, porém, quis satisfazer o desejo ardente de Geraldinho, que recebeu a comunhão, miraculosamente, das mãos de um anjo. 

Aos dez anos, fez a sua primeira comunhão solene com o ardor de um serafim; e, daí em diante, a Eucaristia foi o pão necessário de sua alma. Também, não tardou muito, o confessor lhe permitiu a comunhão diária.

33. UM NOVO JUDAS

Um menino, chamado Fúlvio, fazia os seus estudos num dos principais colégios de França. Enquanto a mãe o conservou sob suas vistas, foi o menino preservado dos graves perigos que ameaçam os pequenos; mas no colégio apegou-se Fúlvio a dois colegas maus e corrompidos com os quais vivia em estreita amizade.

Bem depressa, por causa deles, perdeu a inocência e, com ela, a paz do coração. Alguns livros imorais dados por esses companheiros acabaram por perdê-lo. Aos doze anos, foi admitido à primeira comunhão; infelizmente não a fez por devoção, mas apenas para obedecer à mãe, sem propósito de mudar de vida nem de abandonar as más companhias.

Confessou-se sacrilegamente, calando certos pecados vergonhosos e, assim, com o demônio no coração, com o pecado mortal na alma, teve a temeridade de receber a comunhão. Os pais, enganados pelas aparências, julgaram-no bem comportado e o mandaram-no de novo para o colégio. Fúlvio, porém, por sua indisciplina e preguiça nos estudos, teve um dia de ser severamente castigado pelo diretor e encerrado por algumas horas na sala de reclusão do colégio.

Chegada a hora de ser colocado em liberdade, vão ao quarto que servia de reclusão e, antes de abrir a porta, escutam do lado de fora.... Não ouvem nada... nenhum movimento... Bate-se à porta e ninguém responde. Abre-se, afinal, a porta, e o que é que se vê? Ai! que horror! O infeliz rapaz enforcara-se e estava morto!

Imaginem-se os gritos e gemidos no colégio. Sobre a mesa, foi encontrada uma carta na qual estavam expressos os sentimentos de uma alma ímpia, desesperada, sacrílega. Tal foi o fim do desditoso rapaz, vítima de maus companheiros, e que, tendo pecado como Judas, teve também a morte de Judas.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

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