segunda-feira, 16 de novembro de 2020

TESOURO DE EXEMPLOS (31/33)

 

31. ESTOU VENDO OS CHINESES!

Justo de Bretennières foi martirizado na Coréia em 8 de março de 1866; mas desde 6 anos de idade se sentira chamado a ser um sacerdote missionário. Em 1844, estava Justo brincando com o seu irmãozinho Cristiano, de quatro anos, fazendo buracos no chão. De repente, Justo interrompe a conversa do irmãozinho:
 
➖ Cale-se! Cale-se! - E, pondo-se a olhar por um daqueles buracos, acrescentou:

➖ Estou vendo os chineses, estou vendo os chineses! Vamos fazer um buraco mais fundo e logo chegaremos até eles. Cavemos mais fundo.

Cristiano inclina-se, espia e jura que não vê coisa alguma. Justo, entretanto, insiste e diz que está vendo o rosto, os trajes, o rabicho do cabelo... Inclina-se outra vez e diz:

➖ Agora os estou ouvindo.

Cristiano corre, chama a mamãe e ela também não vê nem ouve nada. Então Justo muito convencido diz:

➖ Não os ouvis porque não é a vós que eles falam; mas eu os ouço. Sim, mamãe, do fundo do buraco, lá de longe, me chamam. E é preciso que eu os vá lá salvar.

E foi, na verdade, missionário famoso na China e na Coréia. Os inimigos da religião fizeram-no sofrer horrível martírio. No momento de morrer por Jesus Cristo, disse cheio de alegria:

➖ Vim à Coréia para salvar as almas. Com gosto morro por Deus e por elas.

32. GERALDO E A EUCARISTIA

Geraldo, quando muito pequeno ainda, tinha a felicidade de brincar com o Menino Jesus que, ao se despedir, dava-lhe um pãozinho muito alvo e saboroso. Desde essa tenra idade, portava-se na igreja com tamanho recolhimento que o tinham por um anjo.

Sua piedade verdadeiramente angélica comovia os corações de todos os que o viam e, certamente, mais ainda, o de Deus. Nosso Senhor recompensava a sua terna devoção, aparecendo-lhe, durante a santa missa, em forma visível. Seu coração parecia então todo inflamado e, quando, depois da comunhão do sacerdote, o Senhor desaparecia, Geraldo ficava triste e seus olhos enchiam-se de lágrimas.

Desde aquela época sentia um atrativo sobrenatural e irresistível pela igreja, pelo augusto santuário, onde Jesus sacramentado o enchia de delícias inefáveis. À tarde, onde quer que estivesse, ao ouvir o sino chamar para a visita ao Santíssimo, deixava os seus brinquedos e dizia aos companheiros:

➖ Vamos, vamos visitar a Jesus que quis fazer-se prisioneiro por nosso amor.

E era de ver com que fervor e a devoção o menino ficava ali ajoelhado, imóvel e abismado no seu Deus. Tinha um desejo imenso de comungar, mas por não ter a idade requerida, não lhe permitiam. Deus, porém, quis satisfazer o desejo ardente de Geraldinho, que recebeu a comunhão, miraculosamente, das mãos de um anjo. 

Aos dez anos, fez a sua primeira comunhão solene com o ardor de um serafim; e, daí em diante, a Eucaristia foi o pão necessário de sua alma. Também, não tardou muito, o confessor lhe permitiu a comunhão diária.

33. UM NOVO JUDAS

Um menino, chamado Fúlvio, fazia os seus estudos num dos principais colégios de França. Enquanto a mãe o conservou sob suas vistas, foi o menino preservado dos graves perigos que ameaçam os pequenos; mas no colégio apegou-se Fúlvio a dois colegas maus e corrompidos com os quais vivia em estreita amizade.

Bem depressa, por causa deles, perdeu a inocência e, com ela, a paz do coração. Alguns livros imorais dados por esses companheiros acabaram por perdê-lo. Aos doze anos, foi admitido à primeira comunhão; infelizmente não a fez por devoção, mas apenas para obedecer à mãe, sem propósito de mudar de vida nem de abandonar as más companhias.

Confessou-se sacrilegamente, calando certos pecados vergonhosos e, assim, com o demônio no coração, com o pecado mortal na alma, teve a temeridade de receber a comunhão. Os pais, enganados pelas aparências, julgaram-no bem comportado e o mandaram-no de novo para o colégio. Fúlvio, porém, por sua indisciplina e preguiça nos estudos, teve um dia de ser severamente castigado pelo diretor e encerrado por algumas horas na sala de reclusão do colégio.

Chegada a hora de ser colocado em liberdade, vão ao quarto que servia de reclusão e, antes de abrir a porta, escutam do lado de fora.... Não ouvem nada... nenhum movimento... Bate-se à porta e ninguém responde. Abre-se, afinal, a porta, e o que é que se vê? Ai! que horror! O infeliz rapaz enforcara-se e estava morto!

Imaginem-se os gritos e gemidos no colégio. Sobre a mesa, foi encontrada uma carta na qual estavam expressos os sentimentos de uma alma ímpia, desesperada, sacrílega. Tal foi o fim do desditoso rapaz, vítima de maus companheiros, e que, tendo pecado como Judas, teve também a morte de Judas.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

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