(Excerto do 'O Desbravador', janeiro/fevereiro de 2009)
sábado, 30 de setembro de 2017
SOBRE ACEITAR AS INJÚRIAS E TRIBULAÇÕES
Outra ocasião de praticar a paciência nos oferecem as injúrias e perseguições a que, às vezes, estamos expostos. 'Não cometi falta alguma, dizes, por que deverei suportar pacientemente essa ofensa ou perseguição? Deus, certamente, não exige tanto!' Mas não sabes o que Jesus Cristo respondeu a São Pedro Mártir, quando ele se queixava de ter sido encarcerado injustamente? 'Senhor, que mal fiz eu para ter de sofrer esta perseguição?' perguntava o santo. E Jesus crucificado lhe respondeu: 'E que mal eu fiz para ser pregado nesta cruz?'
Se, depois, teu salvador, alma cristã, por amor de ti, quis sofrer a morte, não é muito se tu, por amor dele, receberes ultrajes. É verdade que Deus não quer o pecado daquele que te ofende ou persegue, mas ele quer que suportes pacientemente, por amor dele e para teu próprio bem, essas adversidades. 'Se não temos o defeito que nos atribuem', diz Santo Agostinho (In ps. 68,s.1), 'temos, contudo, outros; temos os nossos pecados, que nos tornam merecedores não só desses castigos, mas de outros muito maiores'.
Santa Teresa [de Ávila] nos deixou em seus escritos a seguinte máxima memorável (Caminho de Perfeição, cap. 13.1): 'Quem tende à perfeição nunca deverá dizer: Fizeram-me uma injustiça. Se não quiseres levar nenhuma outra cruz além daquela que mereceste, a perfeição não é para ti'. Insultos e injúrias constituem a única alegria procurada pelos santos. São Filipe Néri suportou durante trinta anos, em sua residência, na Igreja de São Jerônimo, em Roma, muitíssimos maus tratos de um miserável; apesar disso, não queria abandonar esse lugar, não obstante os convites de seus filhos espirituais, que o queriam junto de si, em seu Oratório, recentemente fundado; afinal, só obrigado por uma ordem expressa do Papa, consentiu em habitar com seus irmãos de Ordem.
Todos os santos tiveram de sofrer perseguições aqui na terra. São Basílio foi acusado de heresia junto ao Papa Santo Dâmaso; São Cirilo de Alexandria foi condenado como herege em um Concílio de quarenta bispos e deposto de seu bispado; Santo Atanásio foi acusado de magia e São João Crisóstomo de impureza. São Romualdo, depois de ter cem anos, foi acusado de um horrendo crime, de forma que se dizia que ele merecia ser queimado vivo. De São Francisco de Sales inventaram que ele tinha comércio ilícito com uma mulher e essa calúnia pesou por muito tempo sobre ele; só depois de três anos é que veio à luz sua inocência. Entrou uma vez no quarto de Santa Liduína uma mulher, que começou a dirigir à santa as mais abomináveis palavras que se possam imaginar. Conservando Liduína a tranquilidade de costume, aquela miserável se enfureceu tanto que escarrou na face da santa; apesar disso, permaneceu ela inabalável em sua paciência.
Não pode ser de outra forma: 'Todos os que quiserem seguir a Jesus Cristo sofrerão perseguição', como diz o Apóstolo (2 Tim 3,12). Portanto, se não quiseres sofrer perseguição, nota Santo Agostinho, é para temer que ainda não começastes a imitar a Jesus Cristo. Quem foi mais inocente e santo do que nosso Salvador? Apesar disso, foram os homens tão longe na sua perseguição que o pregaram na cruz, na qual expirou, saturado de chagas e opróbrios.
Para nos ensinar a suportar pacientemente as perseguições, São Paulo nos exorta a pensar constantemente em nosso Salvador Crucificado. Estejamos convencidos que, se suportarmos com paciência todas as injúrias, Deus mesmo tomará a si nossa justificação; e se ele permitir que levemos uma vida desprezada, o faz unicamente para recompensar com mais glória, no outro mundo, a nossa paciência.
Em uma palavra: humilhação, pobreza, dores, toda a espécie de tribulações são, para uma alma que não ama a Deus, uma ocasião de se afastar ainda mais dele; para uma alma, porém, que está cheia do amor de Deus, são elas uma razão para mais estreitamente se ligarem a ele e mais perfeitamente amá-lo. 'Muitas águas não puderam extinguir a caridade', diz o Espírito Santo (Cant. 8, 7); sim, as tribulações, por maiores e mais numerosas que sejam, não podem apagar, em um coração que nada mais ama além de Deus, a chama do amor; antes, pelo contrário, a avivam cada vez mais.
(Excertos da obra 'Escola da Perfeição Cristã' de Santo Afonso Maria de Ligório)
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
29 DE SETEMBRO - SÃO MIGUEL ARCANJO
(São Miguel com elmo e armadura medieval - Catedral de Bruxelas)
'Houve uma batalha no Céu: Miguel e os seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com os seus Anjos, mas foi derrotado e não se encontrou mais um lugar para eles no Céu' (Ap 12, 7-8).
'Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande Príncipe, constituído defensor dos filhos do seu povo e será tempo de angústia como jamais houve' (Dn 12, 1).
Assim como Lúcifer é o chefe dos demônios, Miguel é o maior dentre os anjos, Príncipe das milícias celestes, protetor da Santa Igreja e da humanidade contra as forças do inferno. Assim, a designação de arcanjo (oitavo coro dos anjos) tem sentido genérico e nominativo, pois certamente São Miguel, sendo o primeiro dentre os Anjos, é o maior dos serafins. Dentre os vários santuários destinados ao Arcanjo São Miguel, Príncipe das milícias celestes, destaca-se aquele localizado no Monte Saint Michel na França, cuja foto constitui a abertura e o símbolo deste blog.
(Santuário de São Miguel - Monte Saint Michel/França)
São Miguel, rogai por nós!
Intercedei a Deus por nós!
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
A PONTE QUE LEVA AO CÉU
Por não estar em Mim, o pecado não merece amor. Quem o faz, ofende toda criação e odeia-Me. O homem tem obrigações de Me querer bem. Sou imensamente bom, dei-lhe o ser, numa chama de caridade. Todavia, os maus fogem de Mim. Mas, por justiça ou misericórdia, ninguém escapa das Minhas Mãos. Eis o Meu plano: criara o homem à Minha imagem e semelhança para que alcançasse a vida eterna, participasse do Meu Ser, experimentasse Minha suma, eterna e doce bondade.
O pecado veio impedir-lhe de atingir essa meta. O homem deixava de realizar o Meu plano, pois a culpa lhe fechara o Céu e a porta da Minha misericórdia. O pecado fez germinar na humanidade espinhos e sofrimentos, tribulações numerosas, rebelião interna. Ao revoltar-se contra Mim o homem criava a rebelião dentro de si. Em conseqüência da perda do estado de inocência, a carne se revoltou contra o espírito. Imediatamente brotou um rio tempestuoso, cujas ondas continuam a açoitar a humanidade. São as misérias e males provenientes do próprio homem, do demônio e do mundo. Nele todos se afogavam; ninguém mais, graças a virtudes pessoais, atingia a vida eterna.
Para remediar tantos males, construí a Ponte no Meu Filho, que permitiria a travessia do rio sem perigo de afogar-se. O rio é o tempestuoso mar desta tenebrosa vida. Quero que contemples a Ponte de Meu Filho, que vejas sua grandiosidade. Ela se estende do céu à terra, pois nela a 'terra' da vossa natureza humana está unida à divindade sublime, graças à encarnação que realizei no homem. Todos vós deveis passar por esta Ponte, louvando-Me através do trabalho pela salvação dos homens e tolerando muitas dificuldades, a exemplo do Meu doce e amoroso Verbo Encarnado. Não há outro modo de chegar até Mim.
Cada pessoa tem uma vinha, a vinha da própria alma. Nela trabalha com a vontade pessoal, livre, durante o tempo desta vida. Acabado este tempo nenhum outro trabalho será realizado, seja para o bem, seja para o mal. Começareis por purificar-vos com a contrição interior, desapegando- vos e desejando a virtude. Sem esta predisposição, exigida na medida de vossas possibilidades como ramos unidos à Videira, que é Meu Filho (Jo 15,1), nada recebereis.
Dizia Meu Filho: 'Eu sou a videira verdadeira e vós os ramos; Meu Pai é o agricultor' (Jo 15,5). Sim, Eu Sou o agricultor, de Mim se originam todos os seres. Tenho um poder incalculável, pelo qual governo o universo; nada Me escapa. Fui Eu o agricultor que plantou a verdadeira vinha, Cristo, no chão da humanidade, para que vós, unidos a Ele, possais frutificar. Quem não produzir ações santas e boas, será cortado da videira; e secará. Separado, perderá a vida da graça e irá para o fogo eterno.
Sabes que os mandamentos da Lei se reduzem a dois; sem eles, nenhum outro é observado. São amar-Me sobre todas as coisas e amar o próximo como a ti mesma. Eis o começo, o meio e o fim dos mandamentos da lei. Todavia esses 'dois' não se reúnem em Mim sem os 'três', isto é, sem a unificação das três faculdades da alma: a memória a inteligência e a vontade. A memória há de recordar-se dos Meus benefícios e da Minha bondade; a inteligência pensará no amor inefável revelado em Cristo, pois Ele se oferece como objeto de reflexão, para manifestar a chama do Meu amor; a vontade unindo-se às faculdades anteriores, Me amará e desejará como seu fim.
O coração humano, ao ser atraído pelo amor, leva consigo todas as faculdades da alma. Quando são harmonizadas e reunidas tais faculdades, todas as ações humanas - corporais ou espirituais - ficam-Me agradáveis, pois unem-se a Mim na caridade. Foi exatamente para isso que Meu Filho se elevou na cruz, trilhando o caminho do amor cruciante. Ao dizer, 'quando Eu for elevado, atrairei a Mim todas as coisas', ele queria significar: quando o coração humano e as faculdades forem atraídas, todas as demais faculdades e suas ações o serão.
É muita estreita a união dessas três faculdades. Quando uma delas Me ofende, as outras também o fazem. Como disse, uma apresenta à outra o bem ou o mal, conforme agrada ao livre arbítrio. O livre arbítrio se acha na vontade e a move como quer, em conformidade ou não com a razão. Possuís a razão, sempre unida a Mim, a menos que o livre arbítrio a afaste mediante o amor desordenado, e tende em vós uma lei perversa, que luta contra o espírito. Ensinou o apóstolo Paulo em sua carta (1 Co 3,5) a mortificar o corpo e a destruir a vontade própria, ou seja, refrear o corpo mortificando a carne, quando ela se opõe ao espírito.
Tendes, então, duas partes em vós mesmos: a sensualidade e a razão. A sensualidade foi dada como servidora, a fim de que as virtudes sejam exercidas e provadas através do corpo. O homem é livre já que Meu Filho o libertou com Seu Sangue. Ninguém pode dominar a pessoa humana quanto a vontade, pois ela possui o livre arbítrio. Este se identifica com a vontade, concorda com ela. Fica, pois, o livre arbítrio entre a sensualidade, e a razão, e inclina-se ora de um lado ora de outro, conforme preferir. Quando a pessoa tenta livremente reunir as três faculdades, memória, inteligência e vontade, em Mim, na maneira explicada, todas as atividades espirituais e corporais humanas ficam unificadas. O livre arbítrio se afasta da sensualidade, tende para o lado da razão.
Ninguém pode vir a Mim, senão por meio de Cristo. Esta a razão pela qual fiz dEle uma Ponte de três degraus. Esses três degraus representam os três estados espirituais do homem. O pavimento desta ponte é feito de pedras, a fim de que a chuva (da justiça divina) não retenha o caminhante. As 'pedras' são as virtudes verdadeiras e reais. Antes da Paixão do Meu Filho, elas ainda não tinham sido assentadas, motivo pelo qual os antigos não atingiam o céu, mesmo que vivessem piedosamente. O Paraíso ainda não fora aberto com a chave do Sangue, e a chuva da justiça divina impedia a caminhada.
Quando aquelas pedras foram assentadas no Corpo do Meu Filho - por Mim comparado a uma ponte - foram embebidas, amalgamadas e assentadas com sangue. Em outras palavras: o sangue (humano) foi misturado com a cal da divindade e fortemente queimado no calor da caridade. Tais pedras foram postas em Cristo por Mim, mas é nEle que toda virtude é comprovada e vivificada. Fora de Jesus ninguém possui a vida da graça. Ocorre estar nEle, trilhar suas estradas, viver a Sua mensagem. Somente Ele faz crescer as virtudes, somente Ele as constrói como pedras vivas, cimentando-as com o próprio Sangue.
Nele, todos os fiéis caminham na liberdade, sem o medo da justiça divina, pois vão cobertos pela misericórdia, descida do céu no dia da encarnação. Foi a chave do Sangue de Cristo que abriu o céu. Portanto, esta ponte é ladrilhada; e seu telhado é a misericórdia. Possui também uma despensa, constituída pela hierarquia da Santa Igreja, que conserva e distribui o Pão da Vida e o Sangue. Assim, Minhas criaturas, viandantes e peregrinas, não fraquejam de cansaço na viagem. Para isto ordenei que vos fosse dado o Corpo e o Sangue do Meu Filho, Homem Deus.
Disse Jesus: 'Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; quem vai por Mim não caminha nas trevas, mas na luz' (Jo, 8,12). Quem vai por tal caminho é filho da verdade, atravessa a ponte e chega até Mim, verdade eterna, oceano de paz. Quem não trilha esse caminho, vai pela estrada inferior, no rio do pecado. É uma estrada sem pedras, feita somente de água, inconsistente; por sobre ela ninguém vai sem se afundar. É o caminho dos prazeres e das altas posições, daqueles cujo amor não repousa em Mim e nas virtudes, mas no apego desordenado ao que é humano e passageiro. Tais pessoas são como a água sempre a escorrer. À semelhança daquelas realidades, vão passando.
Eles acham que são as coisas criadas, objeto de seu amor, que se vão; na realidade, também eles caminham continuamente em direção à morte. Bem que gostariam de deter-se, reter na vida as coisas que amam. Seriam felizes se as coisas não passassem. Perdem-nas todavia, seja por causa da morte, seja pelos acontecimentos com que faço escapar-lhes das mãos os bens deste mundo. Com o retorno de Meu Filho ao céu, enviei o Mestre, o Espírito Santo. Ele veio no Meu poder, na sabedoria do Filho, e na própria clemência. É uma só coisa Comigo e o Filho. Por sua vinda fortaleceu o Caminho - mensagem deixada no mundo por Jesus. O Espírito Santo é qual mãe a nutrir no Divino Amor. Ele liberta o homem, torna-o dono de si, isento da escravidão e do egoísmo. A chama da Minha caridade (o Espírito Santo) não sobrevive junto ao egoísmo.
Assim, todos os homens recebem luzes para conhecer a verdade. Basta que cada um o queira, que não destrua a luz da razão, pelo egoísmo desordenado. A mensagem de Jesus é verdadeira e ficou no mundo qual pequena barca para retirar os pecadores do rio do pecado e conduzi-os ao porto da salvação. Primeiro, coloquei Meu Filho como Ponte - Pessoa, a conviver com os homens; após Sua morte, ficou a Ponte - Mensagem possuindo ela Meu poder, a sabedoria do Filho e o amor do Espírito. O poder fortifica os caminhantes, a sabedoria ilumina e ajuda a reconhecer a Verdade, o Espírito Santo infunde o amor que aperfeiçoa, que destrói o egoísmo e conserva no homem o apego pelo bem.
O Verbo encarnado, Meu Filho único e ponte de glória, deu aos homens vida e grandeza. Eram escravos do demônio e Ele os libertou. Para que cumprisse tal missão, tornei-O servo; para cobrir a desobediência de Adão exigi que obedecesse; para confundir o orgulho, humilhou-se até a morte na cruz. Por Sua morte, destruiu o pecado. No intuito de livrar a humanidade da morte eterna, fez do Seu Corpo uma bigorna. No entanto os pecadores desprezam o Seu Sangue, pisoteiam-no com um amor desordenado. Esta é a injustiça, este o julgamento falso a respeito do qual o mundo é e será repreendido até o dia do juízo final. Tal repreensão começou quando enviei o Espírito Santo sobre os apóstolos. São três as repreensões: a voz da Igreja, o Juízo Particular e o Juízo Final.
(Das Revelações de Santa Catarina de Sena)
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
VIRTUDES DE SALVAÇÃO
Eu tive três virtudes em minha morte. Primeiro, a fé, quando dobrei meus joelhos e rezei, sabendo que o Pai podia livrar-me de meus sofrimentos. Segundo, esperança, quando perseverei resolutamente dizendo: ‘Não se faça a minha vontade’. Terceiro, caridade, quando disse: ‘Faça-se tua vontade!’ Também padeci agonia física devido ao temor natural de sofrer e um suor de sangue emanou do meu corpo. Por isso, para que meus amigos não temam ser abandonados quando lhes chegar o momento da prova, Eu lhes demonstrei em mim que a débil carne sempre trata de escapar da dor.
Poderias perguntar, talvez, como foi que meu corpo segregou um suor de sangue. Bem, da mesma forma em que o sangue de uma pessoa enferma se resseca e se consome em suas veias, meu sangue se consumiu pela angústia natural da morte. Querendo mostrar a maneira em que o Céu se abriria e como as pessoas poderiam entrar nele depois de seu exílio, o Pai amorosamente entregou-me à minha Paixão para que meu corpo fosse glorificado, uma vez que a paixão se tinha consumado. Porque minha natureza humana não podia simplesmente entrar em sua glória sem sofrer, apesar de que Eu fui capaz de fazê-lo mediante o poder de minha natureza divina.
Por que, então, as pessoas com pouca fé, vãs esperanças e sem amor, mereceriam entrar em minha glória? Se tivessem fé no gozo eterno e no terrível castigo, não desejariam nada mais que a mim. Se elas realmente cressem que Eu vejo todas as coisas e tenho poder sobre todas as coisas e que exijo um juízo para cada uma, o mundo lhes resultaria repugnante e não ousariam pecar na minha presença por temor a mim e não pela opinião humana. Se tivessem uma firme esperança, todo seu pensamento e entendimento se dirigiriam até mim. Se tivessem amor divino, suas mentes pensariam, ao menos, sobre o que fiz por eles, os esforços que fiz ao ensinar, a dor que padeci em minha Paixão, o grande amor que tive ao morrer, tanto que preferi morrer antes que perdê-los.
Mas sua fé é débil e vacilante, apontando a uma queda fulminante, porque estão dispostos a crer quando estão ausentes dos impulsos da tentação, mas perdem confiança quando se veem de frente com a adversidade. Sua esperança é vã, porque esperam que seu pecado seja perdoado sem um juízo e sem uma correta sentença. Confiam que podem conseguir o Reino dos Céus gratuitamente. Desejam receber minha misericórdia sem a atuação da justiça.
Seu amor para comigo é frio, pois nunca se põem a buscar-me ardentemente a menos que se sintam forçados pela tribulação. Como vou compadecer-me das pessoas que nem sustentam uma fé reta nem uma firme esperança nem uma fervente caridade por mim? Por isso, quando me implorarem e disserem: ‘Senhor, tem piedade de mim!’, não merecerão ser ouvidas nem entrar na minha glória. Se não querem acompanhar o seu Senhor no sofrimento, não o acompanharão na glória. Nenhum soldado pode agradar ao seu senhor e ser bem recebido de novo, depois de um deslize, a menos que primeiro se humilhe para reparar a sua ofensa.
(Das Revelações de Santa Brígida)
terça-feira, 26 de setembro de 2017
PORQUE 23 DE SETEMBRO FOI UM DIA QUE PASSOU...
Acabamos de assistir a mais um grande pandemônio escatológico: centenas de textos e vídeos propagaram à exaustão o fim dos tempos neste último sábado, dia 23 de setembro, com base numa conjunção raríssima de corpos celestes, pretensiosamente induzida por passagens bíblicas do Apocalipse. Teve de tudo proposto para acontecer neste dia, no vômito comum do misticismo de gueto: passagem do planeta X, estrelas em delírio, constelações alinhadas, liberação de uma grande energia cósmica indutora da Nova Era, mudanças no eixo da Terra, visita de extraterrestres, arrebatamento dos eleitos, delírios de toda ordem, insensatez, insensatez e loucura.
Leigos falando de eventos astronômicos é insensatez. Pastores analfabetos interpretando passagens bíblicas é loucura. E dezenas, centenas de pessoas ouvindo e dando crédito a uns e outros apenas mostra a imensa capacidade do ser humano se se comprazer da ignorância explícita. E, infelizmente, nesta cepa de alienados, muitos, muitos católicos. Mas, como em tudo, há que se separar o joio do trigo. E é por isso que seria bom falar na verdadeira astronomia e nas verdadeiras profecias apocalípticas.
Antes de mais nada, porém, como católicos, temos ou não temos por premissa os próprios ensinamentos de Jesus? E o Senhor é claríssimo ao pontuar sobre uma possível data dos fins dos tempos: 'Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai' (Mt 24, 36). Até a sacerdotisa meia-boca de Gaia ou o pastor de esquina sabiam que isso seria no dia 23 de setembro? Jesus nos atentou a ficar alertas aos sinais dos tempos (e realmente eles são muitíssimos hoje), a nos prepararmos para os grandes eventos escatológicos, mas nunca perdermos tempo com os que vendem datas como pedras de escândalo.
É óbvio que os eventos escatológicos estarão associados a fenômenos astronômicos, mesmo porque se inserem num contexto cosmológico. A astronomia é a ciência que estuda os corpos celestes e a interação entre eles no cosmos. Assim, é óbvio que podem ocorrer alinhamentos de planetas, explosões de supernovas, detecção de radiações eletromagnéticas e matéria escura, existência de estrelas anãs e de buracos negros e de outras centenas de fenômenos extraordinários do universo conhecido (conformando algo como umas 200 bilhões de galáxias). Mas a astronomia, como ciência, não faz analogias espúrias ou simbolismos esotéricos! Esse é o campo para uma farsa chamada astrologia...que não possui nada de sagrado, muito pelo contrário!
Ilustremos com um exemplo direto destas libertinagens astrológicas da semana passada: o texto inicial do Apocalipse 12. Com efeito, o texto bíblico é este: 'Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava de dores, sentindo as angústias de dar à luz' (Ap 12, 1-2). Na interpretação livre dos profetas dos tempos finais, a Mulher seria simbolicamente a constelação de Virgem, com sol, lua, planeta e estrelas conspirando a favor do texto bíblico. E a gravidez seria expressa pela saída do planeta Júpiter da região que representaria o ventre da tal constelação exatamente no dia 23 de setembro...
Isso não é nem astronomia, nem interpretação bíblica definida e estabelecida pela tradição bimilenar da Santa Igreja Católica. É misticismo vulgar, crendice de crentes de arrebatamentos e beijos de luz. É a mais renomada astrologia, esoterismo de baixo nível capaz de associar as figuras bíblicas de Nossa Senhora e Jesus com a constelação de Virgem e o planeta Júpiter, respectivamente. É blasfêmia pura e simples tais simbolismos esotéricos, jamais promovidos pelos Padres da Igreja, pela Tradição e pela sã doutrina da Igreja de Cristo. Céu, lua, estrelas, planetas... são astros celestes, movidos por leis físicas específicas; não são meros artefatos que rodopiam pelo firmamento e que conspiram para justificar crendices humanas. Essa estultice nasce no mesmo esgoto diabólico que considera os Reis Magos como sábios de eventos astrológicos e conjunções planetárias que os teriam permitido atentar para a Estrela de Belém como um artefato cósmico que os levariam até à humilde manjedoura de Jesus. Santos não se moldam em alfarrábios e mapas astrológicos...
A crendice é o postulado de crentes; o esoterismo é a ferramenta do ocultismo; a adivinhação é a prática comum de feiticeiros. Nós, os católicos, não temos o livre arbítrio de prantear crendices, adivinhações ou ocultismo. O Magistério da Igreja fala por nós. O Espírito Santo fala por nós, por meio do Magistério da Igreja. Mais do que isso, é se alinhavar com constelações e pseudociências. A astronomia e a Bíblia não se confrontam nos planos do sagrado. Mas podem ser usados (e como!) pelo Pai da Mentira para fazer os seus filhos, já embrutecidos de orgulho e de ignorância, azedarem ainda mais o caldo diabólico de suas entranhas.
E, mais que isso, propagar entre o 'pequeno resto' o descrédito das verdades bíblicas incontestáveis. Os sinais destas verdades estão claros e cada vez mais insistentes. Assim, aos que cremos, basta a confiança de que estaremos sempre nas mãos de Deus para cumprir, como Filhos da Luz, a sua Santa Vontade hoje, amanhã, nos dias da grande tribulação ou nos tempos do fim. Sem quaisquer apegos ou afagos a astrólogos de sótão ou a crentes de porão.
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