quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

'ORAI SEM CESSAR'

Que ninguém pense, meus caros irmãos em Cristo, que o dever de orar incessantemente é somente dos sacerdotes e dos monges, mas não dos leigos. Não, não; todos nós, cristãos, temos o dever de estarmos sempre em estado de oração. Ponderem no que o santo Patriarca de Constantinopla, Filoteu, escreveu na vida de São Gregório de Tessalônica.

Este hierarca tinha um amigo amado cujo nome era Jó, um homem simples mas de boas obras. Certa vez eles estavam conversando, e o bispo disse que todos os cristãos deveriam sempre se esforçar em oração, e deveriam orar constantemente, conforme o Apóstolo Paulo exortara: 'Orai sem cessar' (I Tessalonicenses 5:17); e conforme o Profeta Davi dissera de si próprio [a despeito de ser rei e de governar todo um reino]: 'Tenho contemplado o Senhor sempre diante de mim' (Salmo 15:8), isto é, com meu olho da mente eu sempre vejo o Senhor diante de mim em oração. E São Gregório, o Teólogo, ensina a todos os cristãos que eles devem invocar o nome de Deus mais vezes do que respiram.

Tendo dito isto e muito mais, o hierarca ainda acrescentou a seu amigo Jó que não somente devemos obedecer ao mandamento dos santos, isto é, de sempre orar, mas que devemos ensinar aos demais a fazer o mesmo; a todos, sem distinção – monges e leigos, cultos e incultos, homens e mulheres, e crianças – devemos exortá-los a orar sem cessar.

O velho Jó, ao ouvir essas coisas, achou que se tratava de inovações, e começou a argumentar, dizendo ao hierarca que orar incessantemente era tarefa de ascetas e monges, ‘que viviam fora do mundo e de suas preocupações, e não de leigos, que possuem muitas preocupações e atividades’. O hierarca trouxe ainda mais evidências em favor desta verdade e novas provas irrefutáveis, mas, mesmo assim, o velho Jó não se deixou convencer. Então, a fim de evitar contendas e discussões, o santo Gregório calou-se, e cada um foi para sua cela.

Mais tarde, quando Jó estava orando sozinho em sua cela, apareceu-lhe um anjo enviado de Deus, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade (I Timóteo 2:4), e repreendeu-o por ter discutido com São Gregório e por ter negado uma verdade tão evidente, da qual depende a salvação dos cristãos. Ele anunciou do próprio Deus que, no futuro, ele deveria prestar atenção e tomar cuidado para não dizer nada contrário a esta questão salvífica e para não resistir à vontade de Deus, e que até mesmo em sua mente ele não deveria sustentar qualquer pensamento contrário a isto, não se permitindo pensar em nada que negue o que São Gregório havia dito. Então, o simples e velho Jó correu até São Gregório e, ajoelhando-se, pediu perdão pela discussão, revelando-lhe tudo o que o anjo de Deus havia dito.

Ora, vedes, meus irmãos, como todos os cristãos, do menor ao maior, devem sempre orar dentro de seus corações: 'Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim!', a fim de que suas mentes e corações sempre tenham o hábito de pronunciar estas santas palavras. Ponderem o quanto isso é agradável a Deus e o bem que isso gera, quando, em Seu infinito amor pela humanidade, Ele enviou um anjo do céu para revelar isso a nós, de maneira que ninguém mais tenha dúvidas a respeito.

Mas o que dizem os leigos? 'Estamos sobrecarregados de coisas para fazer e preocupações mundanas; como conseguiremos orar sem cessar?'

Eu lhes responderia que Deus não nos manda fazer o impossível, mas somente aquilo que somos capazes de fazer. E, portanto, isso pode ser feito por qualquer um que busque fervorosamente a salvação de sua alma. Se isso fosse impossível, então seria impossível a qualquer um que vivesse no mundo e não haveria tantas pessoas, em meio ao mundo, que estivessem rezando incessantemente como se deve. Entre estas muitas pessoas, podemos citar o exemplo do pai de São Gregório de Tessalônica, o impressionante Constantino, que, apesar de estar envolvido na vida da corte, sendo chamado de pai e tutor do Imperador Andrônico e ocupado diariamente com questões estatais e familiares – ele tinha uma grande propriedade com muitos servos, uma esposa e filhos – apesar de tudo isso, ele era tão inseparável de Deus, e tão apegado à oração mental incessante, que frequentemente se esquecia o que o Imperador e seus ministros estavam discutindo e frequentemente lhes perguntava a mesma coisa. Os ministros, sem entender o porquê das perguntas insistentes, irritavam-se e o reprovavam por ser tão esquecido e por molestar o Imperador com perguntas repetitivas. Mas o Imperador, sabendo a razão por trás disso tudo, vinha em sua defesa e dizia: 'Constantino tem seus próprios pensamentos que, às vezes, não lhe permitem prestar total atenção ao que estamos dizendo'.

Há inúmeras pessoas que, vivendo no mundo, se entregaram à oração incessante, conforme a história atesta. Portanto, meus caros irmãos em Cristo, eu vos exorto – eu, juntamente com São João Crisóstomo – pelo bem da salvação de vossas almas, não negligencies essa oração. Imiteis o exemplo daqueles de quem falei, e sigais seu exemplo o quanto puderes. Em princípio, pode parecer algo muito difícil, mas assegurai-vos, como se isto viesse do Deus Altíssimo, de que o próprio nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, incessantemente invocado por vós, ajudar-vos-á a superar todas as dificuldades e, com o tempo, vós estareis acostumados e desfrutareis da doçura do nome do Senhor. Então, sabereis por experiência que esta atividade não é impossível nem difícil, mas possível e fácil. É por isso que São Paulo, sabendo muito mais do que nós o grande benefício que esta oração traz, exorta-nos a orar sem cessar. Ele não teria exigido isso de nós se fosse algo assim tão difícil e totalmente impossível, sabendo de antemão que, fosse esse o caso, sendo impossível cumprir a tarefa, seríamos inevitavelmente desobedientes a seu mandamento e nos tornaríamos transgressores dele e, por causa disso, dignos de julgamento e punição. Mas esta não poderia ter sido a intenção do Apóstolo Paulo.

Para orarmos dessa maneira, temos de ter em mente o método da oração, como é possível orar sem cessar, isto é, orar com a mente. Sempre é possível fazer isso, se quisermos. Enquanto nos ocupamos com trabalhos manuais, enquanto falamos, enquanto comemos ou bebemos – sempre é possível orar com a mente, ou a oração agradável a Deus, a verdadeira oração. Trabalhemos com o corpo, mas com a alma, oremos. Que o homem exterior desempenhe todas as atividades corporais, mas que o homem interior esteja completamente entregue ao serviço de Deus e nunca cesse a atividade espiritual da oração mental, conforme Jesus, o Deus-Homem, mandou no Santo Evangelho: 'Tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto' (Mateus 6:6). O aposento da alma é o corpo: a porta são os cinco sentidos do corpo. A alma entra em seu aposento quando a mente não perambula aqui e ali, em busca de coisas mundanas, mas quando encontra seu lugar no coração. Os sentidos se fecham e mantêm-se assim quando não lhes permitimos que se apeguem a coisas sensuais exteriores, e, dessa forma, a mente permanece livre de todos os apegos mundanos e, por meio da oração mental oculta, une-se a Deus seu Pai.

'E teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente', continua o Senhor. Deus, que conhece tudo o que está oculto, vê a oração mental e recompensa com grandes e manifestos dons. Pois esta é a verdadeira e perfeita oração que enche a alma com a graça divina e com dons espirituais – como mirra que, quanto mais estiver contida em um vaso, tanto mais esse vaso exalará fragrâncias. É assim com a oração: quanto mais compartimentada estiver no coração, tanto mais abundará com a graça de Deus.

Bem-aventurados os que se acostumaram com essa atividade celestial, pois através dela vencem todas as tentações dos espíritos malignos, assim como Davi venceu o orgulhoso Golias. Dessa maneira, eles sufocam os desejos desordenados da carne, assim como os três jovens sufocaram as chamas da fornalha. Por meio da oração mental, as paixões são domadas, assim como Daniel domou as bestas selvagens. Ela traz o orvalho do Espírito Santo ao coração, assim como as orações de Elias trouxeram chuva ao Monte Carmelo. A oração mental alcança o próprio trono de Deus, onde é entesourada em taças douradas e, como um incenso, exala uma doce fragrância diante do Senhor, exatamente como São João, o Teólogo, viu em sua revelação: 'Os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa, e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos' (Apocalipse 5,8). A oração mental é a luz que ilumina a alma do homem e inflama seu coração com o fogo do amor a Deus. É a corrente que une Deus ao homem e o homem a Deus. Ó, não há nada que se compare com a graça da oração mental! Ela faz do homem um eterno dialogador com Deus. Ó verdadeira excelência e excelentíssima tarefa! Em corpo vós estais com as pessoas, mas mentalmente conversais com Deus.

Os anjos não possuem vozes audíveis, mas mentalmente rendem louvor constante a Deus. Eis sua ocupação; toda sua vida é dedicada a isso. E tu também, irmão, quando entrares no teu aposento e fechares a porta, isto é, quando tua mente não mais perambular por aí, mas entrar nos recessos interiores do teu coração, e teus sentidos forem trancados e afastados das coisas do mundo, e dessa maneira tu sempre orares, então serás como os santos anjos, e teu Pai, que vê tua oração secreta que rendes a Ele dos tesouros do teu coração, conferirá a ti grandes e manifestos dons espirituais.

E o que mais tu desejas disto, quando, conforme eu disse, mentalmente tu estás sempre na presença de Deus e conversas com Ele incessantemente – tu conversas com Deus, sem O qual nenhum homem jamais será abençoado aqui ou na outra vida.

[São Gregório Palamas (1296 - 1359), Homilia]

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Rezar é falar com Deus, rezar é louvar a Deus, rezar é dizer a Deus que o amamos; rezar é contemplar Deus; rezar é ter o espírito e o coração ligados a Deus; rezar é pedir perdão a Deus; rezar é chamar Deus em nosso socorro; rezar é pedir a Deus para nós e para todos a santidade e a salvação… Ora, o amor tem o efeito necessário de dizer que se ama e de repeti-lo sob todas as formas, de louvar o que se ama sem fim e sem medida… Portanto a prece é inseparável do amor, a ponto de que nossas preces serão, de alguma maneira, a medida do nosso amor…

(Beato Charles de Foucauld – O Espírito de Jesus).

COMO SE DEVE REZAR

As palavras e as súplicas dos que oram devem ser disciplinadas, serenas, contidas e respeitosas; tenhamos em conta que estamos na presença de Deus. Devemos ser agradáveis aos olhos de Deus tanto pela atitude do corpo como pela moderação da voz, pois se é próprio do despudorado rezar aos gritos, ao homem discreto convém orar modestamente. Além disso, no seu magistério, o Senhor preceituou-nos que rezássemos em segredo, em lugares afastados e recolhidos, e até no próprio quarto, pois é o que mais convém à fé; assim temos presente que Deus está em toda a parte, que nos ouve e vê a todos, e que a imensidão da sua majestade penetra nos lugares mais recônditos e ocultos, tal como está escrito: 'Eu sou um Deus que se aproxima, não um Deus longínquo. Se o homem se ocultar em lugares ocultos, por acaso não o verei? Não preencho o céu e a terra?' (Jer 23,23-24). E em outra passagem: 'Os olhos do Senhor estão em todo o lugar, contemplando os bons e os maus' (Prov 15,3).

Da mesma forma, quando nos reunimos com os nossos irmãos, e oferecemos os sacrifícios divinos pelas mãos do sacerdote de Deus, devemos lembrar-nos da modéstia e da disciplina e não proferir as nossas orações com palavras destemperadas nem enunciar com tumultuada loquacidade as súplicas que deveríamos confiar modestamente a Deus, porque Deus não escuta as palavras, mas aquilo que sai do coração; não podemos dirigir-nos aos brados Àquele que conhece os pensamentos dos homens, como assegura o Senhor ao dizer: 'Por que pensais mal em vossos corações?' (Mt 9,4). E em outro lugar: 'E todas as igrejas saberão que eu sou aquele que perscruta os rins e os corações' (Ap 2,23).

Isto mesmo é o que nos ensina e transmite – como vemos no primeiro livro dos Reis – aquela Ana que prefigura a Igreja, pois não rogava a Deus com clamorosa petição, mas dirigia-se a Ele calada e tranquilamente no íntimo do seu peito. Falava-lhe às ocultas, mas manifestava a sua fé; falava, não com a voz, mas com o coração, porque sabia que desse modo o Senhor lhe daria ouvidos e que assim conseguiria com maior eficácia aquilo que dessa forma lhe pedia com maior fé. É o que declara a Escritura quando diz: 'Falava no seu coração e moviam-se os lábios, mas não se ouviam as suas palavras, e o Senhor a escutou' (1Rs 1,13). O mesmo lemos nos Salmos: 'Falai no vosso interior e retirai-vos para os vossos aposentos' (Sl 4,5). E o Espírito Santo sugere-nos a mesma ideia ao falar pela boca de Jeremias: 'Deves adorar a Deus no teu íntimo' (Jer 5,6; Bar 6,5).

(Excertos da obra 'De oratione dominica', de São Cipriano de Cartago)

domingo, 26 de janeiro de 2014

PESCADORES DE HOMENS

Páginas do Evangelho - Terceiro Domingo do Tempo Comum


Com a prisão e morte de João Batista, tem fim a Era dos Profetas e começa a pregação pública de Jesus sobre o Reino de Deus: 'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo' (Mt 4, 17). O reino de Deus é o reino dos Céus, e não um império firmado sobre as coisas deste mundo. Cristo, rei do universo, começa a sua grande jornada pelos reinos do mundo para ensinar que a pátria definitiva do homem é um reino espiritual, que se projeta para a eternidade a partir do coração humano.

E esta proclamação vai começar por Cafarnaum e nos territórios de Zabulon e Neftali, localizada na zona limítrofe da Síria e da Fenícia, e povoada, em sua larga maioria, por povos pagãos. Em face disso, esta região era a chamada 'Galileia dos Gentios', e seus habitantes, de diferentes raças e credos, eram, então, objeto de desprezo por parte dos judeus da Judeia. E é ali, exatamente entre os pagãos e os desprezados, que o Senhor vai proclamar publicamente a Boa Nova do Evangelho do Reino de Deus: 'O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz, e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz (Mt 4, 16).

Nas margens do Mar da Galileia, Jesus vai escolher os seus primeiros discípulos num chamamento imperativo e glorioso: 'Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens' (Mt 4,19). Aqueles pescadores, acostumados à vida dura de lançar redes ao mar para buscar o seu sustento, seriam agora os primeiros a entrarem na barca da Santa Igreja de Cristo para se tornarem pescadores de homens, na gloriosa tarefa de conduzir as almas ao Reino dos Céus.  

Eis a resposta pronta e definitiva dos primeiros apóstolos ao chamado de Jesus: 'Eles imediatamente deixaram as redes e o seguiram' (Mt 4, 20) e 'Eles imediatamente deixaram a barca e o pai, e o seguiram' (Mt 4,22). Seguir a Jesus implica a conversão, pressupõe o afastamento do mundo, pois Jesus nos fala do Reino dos Céus. No 'sim' ao chamado de Jesus, nós passamos a ser testemunhas e herdeiros deste reino 'que não é desse mundo', e nos abandonamos por completo na renúncia a tudo que é humano para amar, servir e viver, prontamente, cotidianamente, o Evangelho de Cristo.

sábado, 25 de janeiro de 2014

SE EU VOS CONDENAR...


Chamais-me Mestre, e não me ouves;
Chamais-me Luz, e não me vedes;
Chamais-me Caminho, e não me segues;
Chamais-me Vida, e não palpitas com Meu Coração;
Chamais-me Sábio, e não me obedeceis;
Chamais-me Adorável, e não me adorais;
Chamais-me Providência, e não me pedis;
Chamais-me Eterno, e não me procurais;
Chamais-me Misericordioso, e não confias em Mim;
Chamais-me Senhor, e não me servis;
Chamais-me Todo-Poderoso, e não me receais;
Chamais-me Justo, e não vos justificais;

Se Eu vos condenar, não me culpeis, só a vós culpai!

(de uma inscrição existente na Catedral de Lübeck, na Alemanha)

24 DE JANEIRO - SÃO FRANCISCO DE SALES


Patrono da ordem salesiana (fundada por São João Bosco) e doutor da Igreja, São Francisco de Sales nasceu em 21 de agosto de 1567 na Saboia (atual França), de família nobre e abastada. Abandonando uma carreira promissora, ordenou-se sacerdote e diretor espiritual de grande renome, tornando-se, mais tarde, bispo de Genebra (1602). Fundou a Ordem da Visitação com a sua orientada espiritual, Santa Joana de Chantal, em 1604. Entre as obras por ele escritas destacam-se o 'Tratado do Amor de Deus', que lhe valeu o título de Doutor da Igreja, e 'Introdução à Vida Devota - Filoteia', obra na qual descreveu que a santidade é algo não apenas possível, mas constitui o propósito de Deus para cada vida humana. Desta forma, todo homem estaria destinado à santidade na plenitude do amor a Deus: 'A medida de amar a Deus consiste em amá-Lo sem medida'. Faleceu aos 56 anos de idade, em 28 de dezembro de 1622. Foi canonizado em 1655 pelo Papa Alexandre VII e, em 1867, foi declarado Doutor da Igreja pelo Papa Pio IX. O seu dia é celebrado em 24 de janeiro.

Excertos da obra 'Introdução à Vida Devota - Filoteia':

Sobre a Oração:

'Começa tua oração, seja mental, seja vocal, sempre pondo-te na presença de Deus; nunca negligencies esta prática e verás em pouco tempo os seus resultados ... Não te deixes levar pela pressa infundada de fazer muitas orações, mas cuida de rezar com devoção; um só Pai Nosso, rezado com piedade e recolhimento, vale mais que muitos recitados precipitadamente.'

Sobre os Bens Temporais:

'… os bens que temos não nos pertence e Deus, que os confiou à nossa administração, quer que os façamos frutuosos; é, portanto, prestar um serviço agradável a Deus cuidar deles com diligência; mas este cuidado há de ser muito mais acurado e maior que o das pessoas do mundo, porque elas trabalham por amor delas mesmas e nós devemos trabalhar por amor de Deus. Ora, como o amor de si mesmo é um amor inquieto, turbulento e violento, o cuidado que dele procede é cheio de perturbação, pesar e inquietação; mas o cuidado que procede do amor de Deus, que enche o nosso coração de doçura, tranquilidade e paz, é necessariamente suave, tranquilo e pacífico, mesmo quanto aos bens temporais. Tenhamos sempre um espírito calmo e uma tranquilidade de vida inalterável, em conservando e aumentando os bens deste mundo segundo as verdadeiras necessidades e ocasiões justas que nos ocorrem; porque, enfim, Deus quer que nos sirvamos destas coisas por seu amor'.

Sobre a Comunhão Frequente:

'Se o mundo te perguntar porque comungas tão frequentemente, deves responder-lhe que é para aprender a amar a Deus, purificar-te de tuas imperfeições, livrar-te de tuas misérias, procurar consolo em tuas aflições e fortificar-te em tuas fraquezas. Dize ao mundo que duas espécies de pessoas devem comungar muitas vezes: os perfeitos, porque, estando bem preparados, fariam muito mal de não se chegarem muitas vezes a esta fonte de perfeição, e os imperfeitos, a fim de aspirarem à perfeição; os fortes, para não enfraquecerem, e os fracos, para se fortificarem; os sadios, para se preservarem de todo o contágio, e os doentes, para se curarem. E acrescenta que, quanto a ti, que és do número das almas imperfeitas, fracas e doentes, precisas receber muitas vezes o Autor da perfeição, o Deus da força e o Médico das almas'.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

COMO ENCONTRAR A VERDADEIRA IGREJA?

'Se eu não fosse Católico e estivesse procurando a verdadeira Igreja no mundo de hoje, eu iria em busca da única Igreja que não se dá muito bem com o mundo. Em outras palavras, eu procuraria uma Igreja que o mundo odiasse. Minha razão para fazer isso seria que, se Cristo ainda está presente em qualquer uma das igrejas do mundo de hoje, Ele ainda deve ser odiado como o era quando estava na terra, vivendo na carne.

Se você tiver que encontrar Cristo hoje, então procure uma Igreja que não se dá bem com o mundo. Procure por uma Igreja que é odiada pelo mundo como Cristo foi odiado pelo mundo. Procure pela Igreja que é acusada de estar desatualizada com os tempos modernos, como Nosso Senhor foi acusado de ser ignorante e nunca ter aprendido. Procure pela Igreja que os homens de hoje zombam e acusam de ser socialmente inferior, assim como zombaram de Nosso Senhor porque Ele veio de Nazaré. Procure pela Igreja que é acusada de estar com o diabo, assim como Nosso Senhor foi acusado de estar possuído por Belzebu, o príncipe dos demônios.

Procure a Igreja que em tempos de intolerância (contra a sã doutrina,) os homens dizem que deve ser destruída em nome de Deus, do mesmo modo que os que crucificaram Cristo julgavam estar prestando serviço a Deus.

Procure a Igreja que o mundo rejeita porque ela se proclama infalível, pois foi pela mesma razão que Pilatos rejeitou Cristo: por Ele ter se proclamado a si mesmo A Verdade. Procure a Igreja que é rejeitada pelo mundo assim como Nosso Senhor foi rejeitado pelos homens. Procure a Igreja que em meio às confusões de opiniões conflitantes, seus membros a amam do mesmo modo como amam a Cristo e respeitem a sua voz como a voz do seu Fundador.

E então você começará a suspeitar que se essa Igreja é impopular com o espírito do mundo é porque ela não pertence a esse mundo e uma vez que pertence a outro mundo, ela será infinitamente amada e infinitamente odiada como foi o próprio Cristo. Pois só aquilo que é de origem divina pode ser infinitamente odiado e infinitamente amado. Portanto, essa Igreja é divina'.

Arcebispo Fulton J. Sheen, Radio Replies, Vol. 1, p IX, Tan Publishing (tradução de Gercione Lima)