No dia que chamamos dia do sol [domingo], nas cidades e nas aldeias todos os habitantes se reúnem num dado lugar. Lêem-se as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas segundo o tempo de que se dispõe. Quando a leitura termina, aquele que preside toma a palavra para chamar a atenção sobre os ensinamentos recebidos e para exortar ao seu seguimento. Depois levantamo-nos e, em conjunto, apresentamos as intenções de oração. Seguidamente traz-se o pão, o vinho e a água. O presidente dirige ardentemente ao céu súplicas e ações de graças, e o povo responde com a aclamação 'Amém!, uma palavra hebraica que quer dizer: 'Assim seja!'.
Chamamos este alimento de eucaristia, e ninguém o pode tomar se não acredita na verdade da nossa doutrina e se não recebeu o banho do batismo para a remissão dos pecados e regeneração. Porque nós não tomamos este alimento como se toma um pão ou uma bebida vulgar. Do mesmo modo que, pela Palavra de Deus, Jesus Cristo nosso Salvador incarnou, tomando carne e sangue para nossa salvação, também o alimento consagrado pelas próprias palavras rezadas e, destinado a alimentar a nossa carne e o nosso sangue para nos transformar, este alimento é a carne e o sangue de Jesus incarnado: esta é a nossa doutrina.
Os apóstolos, nas memórias que nos deixaram e que chamamos de evangelhos, transmitiram-nos a recomendação que Jesus lhes fez: Tomou o pão, abençoou e disse: 'Fazei isto em minha memória; isto é o meu corpo'. De igual modo, tomou o cálice, abençoou-o e disse: 'Isto é o meu sangue'. E em seguida deu a eles (Mt 26,26-; 1Cor 11,23-). É no dia do sol que nos reunimos todos, porque este é o primeiro dia, aquele em que Deus para fazer o mundo separou a matéria das trevas, e ainda o dia em que Jesus Cristo nosso Salvador ressuscitou dos mortos.
(Excertos da obra 'Primeira Apologia', documento que faz referência ao sacramento da eucaristia nos primórdios da cristandade [século II], por São Justino [100 - 160], filósofo e mártir)