Capítulo LXVI
Alívio às Santas Almas pela Via Sacra - Venerável Maria d'Antigna e essa Santa Devoção
Depois da Sagrada Comunhão, falemos da Via Sacra. Este santo exercício pode ser considerado em si mesmo, bem como nas indulgências com que é enriquecido. Em si mesmo, é um modo solene e muito excelente de meditar a Paixão do nosso Salvador e, por conseguinte, o exercício mais salutar da nossa santa religião.
No seu sentido literal, a Via Sacra é a distância percorrida pelo Homem-Deus, carregando o peso da sua Cruz, desde o palácio de Pilatos, onde foi condenado à morte, até ao cume do Calvário, onde foi crucificado. Depois da morte do seu Divino Filho, a Virgem Santíssima, sozinha ou em companhia das santas mulheres, visitou frequentemente aquele caminho doloroso. Seguindo o seu exemplo, os fiéis da Palestina e, no decurso dos tempos, numerosos peregrinos de países mais distantes, foram também visitar esses lugares santos, banhados com o suor e o sangue de Jesus Cristo; e a Igreja, para encorajar a piedade deles, abriu-lhes os seus tesouros de bênçãos espirituais. Mas como nem todos podem ir à Terra Santa, a Santa Sé permite que se ergam nas igrejas e capelas de países distantes cruzes, quadros ou baixos-relevos, representando as cenas comoventes que se passaram no verdadeiro caminho do Calvário em Jerusalém.
Ao permitir a inserção destas santas Estações, os Romanos Pontífices, que compreenderam toda a excelência e toda a eficácia desta devoção, dignaram-se também a enriquecê-la com todas as indulgências que haviam concedido aos que participavam de uma visita presencial à Terra Santa. E assim, de acordo com diferentes Circulares (Breves) e Constituições dos Soberanos Pontífices Inocêncio XI, Inocêncio XII, Bento XIII, Clemente XII e Bento XIV, aqueles que fazem a Via Sacra, com as devidas disposições, são contemplados com todas as indulgências concedidas aos fiéis que visitam pessoalmente os Lugares Santos de Jerusalém, sendo estas indulgências aplicáveis também aos falecidos.
Ora, como é certo que numerosas indulgências, plenárias ou parciais, foram concedidas a quem visitava os Lugares Santos de Jerusalém, como se pode ver na Bula Terrae Sanctae, podemos dizer então, no que diz respeito às indulgências que, de todas as práticas de piedade, a Via Sacra é a mais rica. Assim, esta devoção, tanto pela excelência do seu objeto como pelas indulgências a ela associadas, constitui um sufrágio do maior valor para as Santas Almas.
Encontramos um incidente relacionado com este tema na Vida da Venerável Maria d'Antigna (Louvet, Le Purgatoire, p. 332). Durante muito tempo, ela teve o piedoso costume de fazer todos os dias a Via Sacra para alívio das almas dos falecidos; mas depois, por motivos mais aparentes do que concretos, passou a fazê-la raramente e, por fim, omitiu-a completamente. Nosso Senhor, que tinha grandes desígnios em relação a esta piedosa virgem e que desejava fazer dela uma vítima de amor para a consolação das pobres almas do Purgatório, quis dar-lhe uma lição que nos serve de instrução a todos. Uma religiosa do mesmo convento, falecida então há pouco tempo, apareceu-lhe, queixando-se com tristeza: 'Minha querida Irmã' - disse ela - 'porque já não fazes a Via Sacra pelas almas do Purgatório? Antigamente, costumavas aliviar-nos todos os dias com esse santo exercício; por que nos privas agora dessa assistência?'
Enquanto a alma ainda falava, o próprio Nosso Senhor apareceu à sua serva e repreendeu-a pela sua negligência. 'Sabe, minha filha' - acrescentou - 'que a Via Sacra é muito proveitosa para as almas do Purgatório e constitui um sufrágio do maior valor. Por isso, permiti que esta alma, para seu bem e para o bem dos outros, vos implorasse isto. Sabei também que foi por causa da vossa dedicação expressa na prática desta devoção que fostes favorecida pela comunicação frequente com os mortos. É também por esta razão que essas almas agradecidas não cessam de rezar por vós e de defender a vossa causa no tribunal da minha Justiça. Dá a conhecer este tesouro às tuas irmãs e diz-lhes que dele tirem abundantemente frutos para si e para as almas dos falecidos'.
Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.