Deus, com efeito, reservou uma morada nas profundezas da alma, na qual nem mesmo a própria alma pode entrar sem a sua permissão especial. E é aí precisamente que a alma é então introduzida, não por alguns momentos, mas para sempre. Deus primeiro revelou à alma a existência desta morada e depois despertou nela um desejo ardente de adentrar nela. Esse desejo foi crescendo e, depois de duras provas, foi realizado. A alma finalmente adentrou a casa do Pai com a firme impressão de ser essa a sua morada para sempre.
Mas há algo mais, porque a casa de Deus é o próprio Deus. É, portanto, nEle mesmo que Ele faz a alma adentrar. A frase de São Paulo torna-se então uma realidade tangível para a alma, poder-se-ia dizer vivida pela alma: 'em Deus vivemos, movemos e existimos'. Viver em Deus é, de agora em diante, a sua herança. Assim, o descanso, o refrigério, o alimento da alma é o próprio Deus. A alma sente que acaba de receber um novo impulso; a vida, e uma vida divina, passa a fluir através dela. Parece-lhe, não sem razão, que Deus a levou até o mais íntimo de si mesma e que a transpassou nesse abismo misterioso onde o finito e o infinito se confundem. Ali, Deus está por inteiro devotado, como a mais terna das mães, a conceder à alma vida, força, paz e alegria. E então, plena de felicidade, a alma exclama: 'o próprio Deus restaura a minha alma'.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)