sexta-feira, 1 de outubro de 2021

UMA SANTA EM ESTADO PURO

 

Nada como um dia após o outro. Nada como um santo após o outro. O santo de hoje ou santa - Santa Teresa de Lisieux - é, em praticamente tudo, o oposto do santo de ontem - São Jerônimo. A Teresa das escolhas mais pequenas e mais humildes, que a tornou mundialmente conhecida como ‘Santa Teresinha do Menino Jesus’, é um contraponto absurdo ao furacão cáustico e intenso do Jerônimo doutor da Igreja. Duas vidas santificadas em plenitude, tangidas pelo mesmo espírito de fé e de humildade, porque há todos os tipos de santos e santas, mas não há no Céu um santo ou uma santa que não tenham sido moldados pela humildade e pela caridade.

Esta simples freira carmelita viveu no mais absoluto ostracismo e morreu com apenas 24 anos de idade. Marie Françoise Thérèse Martin nasceu em Alençon, em 02/01/1873, e faleceu em Lisieux, em 30/09/1897. Foi canonizada em 17 de maio de 1925 pelo Papa Pio XI, que posteriormente a declarou ‘Patrona Universal das Missões Católicas’ em 1927. O Papa João Paulo II tornou-a Doutora da Igreja no dia 19 de outubro de 1997.

Por desígnios divinos, Santa Teresinha foi a preceptora de um particular caminho de santificação: a chamada ‘pequena via’, a via de confiança absoluta à vontade de Deus. Na plena aceitação dos desígnios divinos sobre as almas de cada um de nós, no abandono de nossas vidas nos braços de Jesus Cristo, na entrega total de nossas ações e pensamentos à proteção da Santíssima Virgem: eis aí a pequena via, o caminho da infância espiritual, a gloriosa trilha de santificação para os homens comuns, o espantoso atalho ao Céu, proposto e vivido intensamente pela santa carmelita. Eis a sua pequena via maravilhosa de santificação: basta aceitar a nossa própria pequenez, a imensa fragilidade humana que nos domina, as enormes limitações de viver em plenitude os desígnios de Deus sobre as nossas almas; fazer de tantas imperfeições e fragilidades, não meros obstáculos, mas as próprias pedras do caminho, rejuntadas e consolidadas firmemente num imenso amor e numa confiança sem limites na bondade e misericórdia de Deus.

Quão suave é o jugo do Senhor e como são infindáveis os seus caminhos! Sob o vozeirão de um santo que abominava a frouxidão ou sob a batuta suave da santa da pequena via, os ecos da graça ecoam e se reverberam nas almas dos justos, gritando ou apenas sussurrando: o amor a Cristo, o amor incondicional a Cristo, é a nossa estrada para o Céu. Por meio da pequena via, a santificação começa e termina pelo propósito de fazer, de cada dia, mais um passo nesta rota de peregrinação, transformando cada ação diária, cada ato da nossa vida mundana, por mais simples e despojado que seja, em obra de perfeição cristã, compartilhado e vivido para a plena glória do Pai (‘sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito’). 

Dois santos absurdamente distintos, que se complementam e que se sucedem no mesmo espírito de fé e de humildade, como pedras contínuas da mesma via de santificação, tal como um dia após o outro. Ontem, um santo em estado bruto. Hoje, uma santa em estado puro. Modelos tão diversos quanto a assimetria dos temperamentos humanos, modelos tão radicalmente unidos pelo propósito comum de tornar as suas vidas, longas ou mais curtas, pura ou brutalmente, voltadas apenas para manifestar em plenitude a glória de Deus nessa terra.