quarta-feira, 20 de março de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (VII)


31. Aceitando a Virgindade de Maria e de José, podemos afirmar que este matrimônio foi verdadeiro? 

José é verdadeiro esposo de Maria sem ter ocorrido entre eles o relacionamento sexual, mas em virtude da união conjugal. Mateus afirma que José é esposo de Maria (Mt 1,16). Assim explicita-se que, também guardando a continência, permanece o matrimônio, o qual pode ser considerado como tal não pelo motivo da união sexual dos corpos, mas do perseverante afeto da mente. Santo Agostinho afirma que, no matrimônio de José e Maria, estão presentes todos os requisitos de um verdadeiro matrimônio, ou seja: a prole, que é o próprio Jesus, a fidelidade, porque não houve nenhum adultério e o sacramento, porque não houve divórcio (o divórcio segundo a lei mosaica dissolvia o matrimônio). 

32. Como afirmamos, portanto, que José é esposo de Maria? 

Os evangelistas (Lc 2,4-5; Mt 1,16) descrevem claramente José como esposo de Maria e, portanto, o matrimônio entre ambos foi realizado. O evangelista afirma que José tomou a sua esposa e a conduziu para a sua casa e lá viveram com a presença do próprio Jesus. 

33. Como José e Maria viveram o vínculo matrimonial? 

O matrimônio de Maria com José foi destinado por Deus para acolher e educar Jesus e, por isso, exigia a máxima expressão da união conjugal, ou seja, o dom total e completo de um para com o outro. Entre ambos existiu, como afirmou Bernardino de Bustis: 'Um amor indivisível e santíssimo; de fato, depois de Cristo seu Filho, a Virgem puríssima não amou nenhuma outra criatura assim tanto como José e, da mesma forma, José amou Maria acima de qualquer outra criatura'. Portanto, José como esposo viveu uma profunda experiência de comunhão intimamente ligado a Maria, conviveu com ela, partilhou com ela a sua vida e amou-a com um amor intenso e, da mesma forma, foi Maria para com ele, tendo um sentimento natural de esposa, cultivando em seu coração sentimentos e afetos que eram destinados exclusivamente a José. 

 34. O que dizem os evangelhos apócrifos sobre José? 

Os evangelhos apócrifos são escritos datados dos últimos séculos antes de Cristo até os primeiros séculos da era cristã e não são reconhecidos como inspirados por Deus, pois não passam de ficções acompanhadas por fantasias e lendas pueris. Apesar disso, estes textos exerceram uma grande influência na pregação e devoção popular, assim como nas expressões artísticas. Graças a isso, José recebeu algumas conotações que não condizem com sua pessoa. Na primeira delas, já salientamos, José ficou por muitos séculos apresentado, sobretudo pela arte ficcional, como  um velho de barba branca quando se casou com Maria. Outra fantasia destes textos é que José, antes de casar-se com Maria, já tinha se casado, aos 40 anos, com uma mulher chamada Melca, com quem viveu 49 anos e teve quatro filhos, ficando viúvo aos 89 anos. 

Outra fantasiosa lenda sobre o seu casamento com Maria relata que havia muitos pretendentes para casar-se com ela e, diante disso, o sumo sacerdote teria deixado a decisão da escolha do marido de Maria a Deus, colocando num lugar santo um ramo com o nome de cada pretendente, e milagrosamente o ramo de José floresceu e assim ele foi o escolhido. Por isso São José frequentemente foi representado pela arte com um ramo florido na mão, para simbolizar a sua divina eleição. Encontramo-lo também representado com um lírio na mão para simbolizar sua pureza. 

35. Como explicar o que alguns afirmam que José teve filhos com Maria? 

Já afirmamos que tanto José como Maria eram virgens, portanto célibes no matrimônio, ou seja, jamais tiveram relações sexuais e isso, de maneira alguma, atrapalhou o relacionamento intenso de amor deles dentro do matrimônio. Ambos por vontade comum emitiram o voto de virgindade. O evangelista Lucas (Lc 8,19-20) relata: 'A mãe e os irmãos de Jesus se aproximaram, mas não podiam chegar perto dele por causa da multidão. Então anunciaram a Jesus: Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem te ver'. Na verdade, Lucas não está afirmando que estes 'irmãos de Jesus' foram concebidos por Maria, pois a palavra 'irmão' revestia-se de significado de parentesco e indicava laços de afeto. Portanto biblicamente não há nenhum fundamento para afirmar que Maria teve outros filhos com José, mesmo porque a palavra 'irmão' deve ser entendida no sentido de 'parente'. Por outro lado, é verdade que os apócrifos com o objetivo de salvaguardar a virgindade de Maria resolveram o problema dos 'irmãos de Jesus' atribuindo a José um precedente matrimônio, donde depois teria esposado Maria já viúvo e com estes filhos do seu primeiro casamento; porém, como já explicamos, nada disso tem fundamento. 

Ainda Mateus (Mt 1,15) afirma: 'José fez conforme o Anjo lhe ordenara e tomou consigo a sua esposa, a qual, sem que ele a conhecesse, deu à luz um filho que se chamou Jesus'. Diante desta afirmação, alguns quiseram deduzir que José teve relações sexuais com Maria depois do parto, já que o verbo 'conhecer' na bíblia significa união sexual, referindo-se ao matrimônio. Porém teólogos de grande quilate argumentam que a afirmação 'sem que ele a conhecesse' não indica que José teve relações sexuais com Maria depois do nascimento de Jesus, mas simplesmente que a Virgem permaneceu intacta. Nem mesmo a afirmação de Lucas (Lc 2,7): 'Maria deu à luz ao seu filho primogênito' explica nada, pois a palavra 'primogênito' significa simplesmente o 'primeiro filho' e não ao 'primeiro entre outros'. Ou seja, indica aquele que nasceu primeiro de sua mãe, tenha esta tido ou não outros filhos depois.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)