sexta-feira, 29 de março de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (VIII)


36. Por que Jesus nasceu em Belém e não em Nazaré onde viviam José e Maria? 

O Evangelista explica o nascimento de Jesus em Belém em função do recenseamento publicado pelo Imperador César Augusto e realizado quando Quirino era governador da Síria, quando todos deviam registrar-se cada um em sua cidade natal. Como José era da família e descendência de Davi, foi de Nazaré até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia e, junto com ele, foi também Maria, sua esposa, que estava grávida e, neste ínterim, nasceu Jesus em Belém (Lc 2,1-7). Esta obrigação do cumprimento da ordem da autoridade do Imperador veio ocasionar a descendência davídica de Jesus, conforme os profetas haviam indicado (Mq 5,1). Era de Belém, na Judeia, que sairia o Messias (Mt 2,5). Foi através de José, 'Filho de Davi' (Mt 1,20), que a genealogia davídica foi transmitida a Jesus, com isso ele de fato foi tido e considerado como sendo da descendência de Davi.

37. Lucas relata que, passados oito dias, o Menino foi circuncidado e deram-lhe um nome. Qual era a natureza e o significado desse rito?

Antes de tudo é necessário explicar o significado deste rito, o qual era uma exigência da legislação sacerdotal, e pelo qual a criança passava a fazer parte oficialmente do povo da aliança. Por isso esse rito era importante para as famílias judaicas e era celebrado com uma certa solenidade, geralmente em casa. Era, desta forma, um rito que simbolizava para os hebreus a aliança com Deus e a santidade de Israel dentre as nações e, portanto, era um sinal de pacto do povo com Javé. Com a circuncisão, Jesus cumpria também a lei (Lc 2, 22-24,7) e, naturalmente como era tradição, um dos primeiros deveres do pai era aquele de circuncidar o filho; mesmo que a mãe pudesse cumprir este rito, foi José quem o cumpriu (Ex 4,25). Geralmente este rito tinha um certo número de participantes e a tradição talmúdica fixava dez testemunhas. José, sabedor de que esta era sua obrigação, tornou-se o 'ministro da circuncisão' do Menino e, ao realizá-lo, proferiu estas palavras: 'Bendito seja o Senhor, nosso Deus, que nos santificou com os seus preceitos e nos permitiu introduzir o nosso filho na aliança de Abraão, nosso Pai'.

38. Quem deu o nome de Jesus ao menino? 

O Anjo do Senhor determinou que José cumprisse esta missão paterna: 'Tu o chamarás Jesus… (Mt 1,21). Dar o nome implicava a autoridade sobre o filho. Com este exercício de sua paternidade, José passava a ser o representante do Pai Celestial e a exercer todas as funções e direitos de pai sobre Jesus. O Papa Pio XII soube muito bem colher esta função de José em relação a Jesus quando afirmou que ele teve para com Jesus 'por um especial dom celeste, todo o amor natural, toda a solicitude afetuosa que um coração de pai pode conhecer'.

39. Qual foi a participação de José na apresentação de Jesus ao Templo? 

Novamente aqui os pais de Jesus cumprem a lei, a qual estabelecia que todo primogênito devia ser consagrado a Deus (Ex 13,1-25). José teve uma função importante neste rito, visto que um dos deveres do pai era o resgate do filho perante Deus, mediante uma oferta de cinco ciclos de prata à caixa do Templo. Com isso José, no exercício de sua paternidade, que o constitui ofertante do primogênito Jesus, agiu verdadeiramente como 'ministro da salvação'. 

40. Qual é o significado da fuga da Sagrada Família para o Egito? 

A descrição deste episódio é um particular que devemos à pena de Mateus (Mt 1,13-22). O evangelista mostra, neste relato, José no exercício de seus direitos e funções de chefe da Sagrada Família. É a ele que o Anjo aparece e lhe fala, comunicando-lhe a destinação. Recebida a ordem de Deus, José põe-se a executá-la imediatamente. Mateus viu neste acontecimento da fuga e volta do Egito da Sagrada Família o cumprimento da verdadeira libertação, prefigurada no antigo Êxodo e compreendida na profecia de Oseias (Os 11,1): 'Do Egito chamei o meu Filho' (Mt 2,15). Jesus é considerado por Mateus o verdadeiro Moisés que conduz o seu povo para a libertação definitiva. 'Como Israel', diz João Paulo II, 'tinha tomado o caminho do êxodo de sua condição de escravidão, para iniciar a antiga aliança, assim também José, depositário e cooperador do mistério providencial de Deus, cuidou também no exílio dAquele que realiza a Nova Aliança'. José, salvando da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, tornou-se o 'ministro da salvação', pois toda a salvação foi colocada, naquele momento difícil, nas suas mãos. Neste acontecimento, tornou-se clara toda a debilidade da carne que o Filho de Deus assumiu ao encarnar-se e que se exprime na renúncia às intervenções miraculosas, para se confiar totalmente nas mãos de José.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)