segunda-feira, 11 de março de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (VI)


26. Qual o sentido das palavras de Mt 1,18-19? 

Alguns teólogos chegaram a afirmar, com base nestes dois versículos, que Maria tinha conservado silêncio absoluto sobre a sua maternidade divina comunicada pelo Anjo, e assim José não sabia de nada. Antes de tudo, devemos salientar que é ilógico que Maria não tenha comunicado nada a José sobre sua maternidade, mesmo porque uma postura assim não estaria de acordo com a psicologia, visto que sua gravidez provocara sem dúvida consequências que se calaram profundamente em sua existência e em seu ser feminino. Por isso afirmamos que José tomou conhecimento de tudo o que se passava com Maria justamente porque ele era a pessoa de maior confiança dela. 

27. Por que então Mateus descreve que Maria ficou grávida pela ação do Espírito Santo antes de morar com José? 

Analisando superficialmente o versículo 18 do primeiro capítulo deste evangelista, ele deixa entender que Jesus nascerá necessariamente logo depois que foram morar juntos; porém a intenção do evangelista é ressaltar o fato da concepção virginal, de excluir de modo absoluto qualquer participação masculina na concepção de Jesus. Para Mateus o essencial é deixar claro que existia entre ambos um vínculo matrimonial, 'José era seu marido' e a concepção virginal 'ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo'. Basta lembrar que Mateus considera sempre Maria como esposa (1,20-24) e José como esposo (1,16-19). 

28. Como explicamos a intenção de José, 'homem justo', em querer deixar Maria? 

A designação de 'homem justo' aplicada a José indica que sua justiça não se deve porque é um observante da lei, pois de fato a lei mosaica autorizava ao marido, em caso de adultério de sua esposa, dar-lhe o divórcio, o que não é o caso de Maria. Ele se mostra justo não por querer aplicar justiça a uma inocente (no caso Maria, que não tinha cometido adultério), mas ele é justo porque, na sua humildade, sente-se não estar à altura de ser considerado o pai do Menino Deus. Ao conhecer a grande missão que Deus confiara à sua esposa, como Mãe do Messias, ele sentiu-se menor diante daquele misterioso desígnio divino, inexplicável para ele e, por isso, porque era homem justo, decidiu abandonar Maria. Porém, a sua decisão de abandoná-la não foi porque suspeitou algo errado nela e então para não desonrá-la, porque era bom, encontrou a solução de deixá-la. Não foi também porque, diante do mistério da maternidade divina, ele não conseguia compreender e assim, incerto, achou como melhor saída abandoná-la. Mas foi porque, em sua humildade, sentiu-se indigno de compartilhar sua vida ao lado de Maria, achando ser um obstáculo para a ação de Deus sobre ela. 

29. Então qual é a explicação para esse seu pensamento 'deixar Maria'? 

A explicação correta, defendida inclusive por grandes teólogos e santos, é que ele, como todos os que esperavam o Messias, reagiu como os justos da Bíblia diante de Deus que intervém na sua história: como Moisés que tira as sandálias, como Isaías espantado pela visão de Deus, como Isabel que se maravilha e pergunta como é possível a mãe do Salvador pode vir até ela, ou ainda como Pedro, que diante de Jesus, diz: 'Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador'.

30. De Maria Virgem, no texto de Mateus (Mt 1,18-25), temos uma comprovação incontestável, mas como afirmar a virgindade de José? 

Antes de tudo, com Santo Tomás encontramos duas razões para a sua virgindade: 'porque ele não teve nenhuma outra mulher e porque a infidelidade não pode ser atribuída a este santo personagem'. Da mesma forma, sendo a virgindade um dom de Deus (I Cor 7,32), Deus quis conceder-lhe também este dom em vista de sua grande missão. O fato de Deus ter escolhido José como esposo de Maria Virgem, faz com que a presença e a convivência dele com Maria fosse o resultado de uma preciosa intervenção divina. José viveu a sua virgindade ao lado de Maria, compreendendo a missão de sua esposa e, por um especial desígnio de Deus, compartilhou totalmente com ela essa tarefa, vivendo um amor virginal e ao mesmo tempo conjugal.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)