sábado, 21 de junho de 2014

OS MILAGRES DA MISSA


Somos sequiosos por milagres, como crianças por chocolate; não obstante, estamos bem próximos ao milagre dos milagres. Que são todos os milagres, se comparados à missa? Perde-se a missa por causa de relíquias! O grande milagre, maior que as relíquias, é a missa.

Estava a preparar um retiro em meu quarto. Entra um padre: 'O bispo me enviou com um tesouro para mostrar-vos'. Era um cibório relicário, contendo uma hóstia inteira, intacta com sangue. Mandaram analisar o sangue: 'perfeito sangue humano', disse o especialista. Se fosse católico, teria de acrescentar: 'perfeito sangue divino'. Que aconteceu? O bispo enviou-o para perto de seu amigo doente; consagrou por ele mas, ao final da missa, morreu o doente, esquecendo de comungar daquela hóstia. Permaneceu um mês no cibório relicário. Quando o abriu, encontrou-o ensanguentado e a hóstia em perfeita brancura. Grande milagre? Não, pequeno, bem pequeno. Prestem atenção!

Existe uma hierarquia de valores. Só a missa é um milagre de primeira ordem, de primeira classe. É o único milagre. Nem a ressurreição de Lázaro, nem outros milagres podem lhe comparar. São milagres de segunda classe as conversões: a conversão de São Paulo ou a de Santo Agostinho. Os demais milagres são de terceira classe: este que acabei de referir é algo belo, mas é um pequeno milagre. Tais milagres não são nada, se comparados aos da missa. Apressamo-nos a ver os pequenos milagres, mas não nos ocupamos do único que há: a missa. É como se eu dissesse: 'Deus vai falar a vós', e vós respondêsseis: 'Estou ocupado em vigiar a criança que está brincando perto de mim'. Ou ainda, que preferísseis contemplar uma folha ou flor em vez do sol. Ausentam-se de umas dez ou vinte missas para visitar Tereza Neumann [famosa estigmatizada católica]... que ausência de doutrina! São verdadeiros todos os fatos ocorridos em sua vida, mas a Igreja não se pronunciou. Os milagres de Paray-le-Monial e de Lourdes são pequenos milagres, se comparados aos milagres contidos naquele do Calvário: eis aí a pura doutrina. Há religiosos que preferem a pequena música das devoções às preces da missa... seu acordeãozinho ao órgão. Não apreciam a missa, a única devoção verdadeira.

A missa tem de provocar um incêndio que deve queimar até a morte. Na missa, existem três celebrantes, o Cristo-Pontífice, o Cristo-Padre, e vós. Sempre somos em três. Por que se necessita de um acólito na missa? Não é para entregar as galhetas ou responder as preces, mas para representar o terceiro celebrante, que sois vós ou a comunidade. Por que das cruzes traçadas sobre o cálice? Per ipsum et cum ipsum. Nele, meu Deus, meu Juiz; por ele, meu Deus e Salvador; com ele, meu Deus e meu Rei, meu bem-amado Esposo. Quem canta assim? A Igreja e eu, junto com ele, para a glória da Trindade. Esta é a razão de ser da encarnação, da redenção, dos sacramentos. Oh! Como queria que vós lêsseis, estudásseis, meditásseis o cânon da missa! O cânon é um mosaico de preces antigas. O que vem antes e depois do cânon é a moldura.

Vivei a missa! Quando tiverdes dois ou três minutos, dizei a missa que chamo a de 'São João'. Compõe-se ela de três preces principais que resumem a missa: oferenda, consagração, comunhão. Copiai do missal a missa da Trindade, ou do Santíssimo Sacramento, ou da Santa Virgem, segundo vossa devoção; levai-a convosco e, nos momentos livres, 'celebrai a missa', em união com as missas que, àquele momento, se celebram, pois que, tanto ao meio-dia quanto à meia-noite, estamos sempre entre dois altares. Deste modo aprende-se a viver a missa o dia inteiro.

Leio a missa o dia todo: meu anjo da guarda é o acólito da missa, quero morrer celebrando a missa. A missa é a única homenagem, o único louvor. Atentem bem para o que chamo de 'vício' da missa. Os santos devem se aborrecer quando se abandona a missa para lhes orar; chega a ser ridículo como nos falta doutrina! Devoção aos santos, sim; mas não em lugar da missa. Recitem vinte rosários antes, e cinquenta depois, mas não durante a missa.

Parece que se esqueceram um pouco da festa da Santíssima Trindade; é comum não solenizá-la tanto quanto a de São José ou outros; não há paramentos especiais, nem música. Mas a Igreja não se esqueceu: a festa da Santíssima Trindade é a missa. E o único celebrante digno dela é Jesus. Nem a Santa Virgem, nem os anjos, nem os santos podem entoá-la dignamente. É o coração do rei que canta ao altar. Glória, louva o céu; Glória, entoa o purgatório; Glória, canta a Igreja – todas em festas pela Santíssima Trindade. O que é mais belo do que isto? Nada, nada e mais nada...

Não há criatura que possa dignamente entoar à Trindade, nem Maria. Só, o Pontífice Supremo entoa dignamente o hino de glória à Trindade. Por meio dele, tornamo-nos também um coro maravilhoso, digno da Trindade. Comecemos, já aqui embaixo, a cantar: 'Glória! Hosana!', porque será curta a eternidade. Por ele, com ele e nele, toda a glória, honra e louvor.

(Excertos do texto 'A Missa não é apenas a Comunhão', do Pe. Mateo Crawley-Boevey)