JESUS É CONDENADO POR PILATOS
1.
Pilatos, depois de haver tantas vezes declarado a inocência de Jesus, mais uma
vez a proclama, protestando ser ele inocente do sangue daquele justo (Mt
27, 24), e contudo pronunciou a sentença e o condenou à morte. Ó injustiça
nunca vista no mundo! Ao mesmo tempo que o juiz declara inocente o acusado, ele
o condena. Ah, meu Jesus, vós não mereceis a morte, mas eu a mereço. Visto,
porém, que quereis satisfazer por mim, não é Pilatos, mas é o vosso próprio Pai
que vos condena a pagar a pena a mim devida. Eu vos amo, ó Pai eterno, que
condenais vosso Filho inocente para livrar-me a mim que sou réu. Eu vos amo, ó
Filho eterno, que aceitais a morte devida a um pecador.
2.
Pilatos, tendo condenado a Jesus, o entrega às mãos dos judeus, para que façam
com ele o que desejavam: ‘Entregou Jesus ao arbítrio deles’ (Lc 23, 25). É de
fato o que acontece: quando se condena um inocente, não se limita a pena, mas é
ele abandonado às mãos dos inimigos, para que o façam padecer e morrer
como lhes aprouver. Pobres judeus, vós então pedistes o castigo, dizendo: ‘Seu
sangue caia sobre nós e nossos filhos’ (Mt 27, 25). E o castigo já veio!
Desgraçados, sofreis e haveis de sofrer até ao fim do mundo o castigo desse
sangue inocente. Ó meu Jesus, tende piedade de mim, que com minhas culpas
também motivei a vossa morte. Não quero ficar obstinado como os judeus, quero
chorar os maus tratos que vos dei e amar-vos sempre, sempre, sempre.
3.
Eis que se lê diante do Senhor a injusta sentença, condenando-o à morte da
cruz. Ele a ouve, e, inteiramente submisso à vontade do Pai, obediente a aceita
com toda a humildade: ‘Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte
e morte de cruz’ (Fl 2, 8). Pilatos na terra diz: 'Morra Jesus!' E o eterno Pai no
céu diz também: 'Morra o meu Filho'. E o Filho responde por sua vez: 'Eis-me aqui;
eu obedeço e aceito a morte e a morte da cruz'. Meu amado Redentor, vós aceitais
a morte que me é devida. Seja bendita a vossa misericórdia para sempre: eu vos
agradeço sumamente. Mas visto que vós, inocente, aceitais a morte da cruz por
mim, eu, pecador, aceito a morte que me destinardes com todos os sofrimentos
que a acompanharem e desde já a uno à vossa morte e a ofereço ao vosso eterno Pai.
Vós morrestes por meu amor e eu quero morrer por amor de vós. Pelos
merecimentos de vossa santa morte, fazei-me morrer na vossa graça
e abrasado no vosso santo amor. Maria, minha esperança, recordai-vos de mim.
('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)