MARIA ASSISTE À MORTE DE JESUS NA CRUZ
1.
‘Estava, porém, junto à cruz de Jesus sua Mãe’ (Jo 19, 25). Consideremos nesta
rainha dos mártires uma espécie de martírio mais cruel que todo outro martírio,
uma mãe vendo morrer um filho inocente, justiçado num patíbulo infame: ‘Estava de
pé’. Desde a hora
em que Jesus foi preso no horto, os discípulos o abandonaram; não, porém, sua
Mãe: ela o assiste até vê-lo expirar diante de seus olhos. ‘Estava junto dele’.
As mães fogem quando veem seus filhos padecendo e não os podem socorrer:
estariam prontas a sofrer as dores em lugar dos filhos, mas quando os veem
padecer sem poder auxiliá-los, não suportam tal pena e por isso fogem e vão
para longe. Maria, não; ela vê o Filho no meio dos tormentos, vê que as dores
lhe roubam a vida, mas não foge, nem se afasta, antes se encosta à cruz na qual
o Filho está morrendo. Ó Mãe das dores, não me desdenheis e permiti que vos
faça companhia na morte do vosso e do meu Jesus.
2.
‘Estava junto à cruz’. A cruz é, pois, o leito em que Jesus deixa de viver:
leito de dores, em que a aflita Mãe vê Jesus todo ferido pelos açoites e pelos
espinhos. Maria observa que seu pobre Filho, pendente daqueles três cravos de
ferro, não encontra repouso nem alívio: desejaria procurar-lhe algum alívio;
desejaria, já que ele tem de morrer, que ao menos expirasse em seus braços;
nada disso, porém, lhe é permitido. Ah, cruz, diz, restitui-me o meu Filho: és
o patíbulo dos malfeitores; meu Filho, porém, é inocente. Não vos aflijais, ó
Mãe: é vontade do eterno Pai que a cruz não vos restitua Jesus senão depois de
morto. Ó rainha das dores, alcançai-me a dor de meus pecados.
3.
‘Estava junto da cruz sua Mãe’. Considera, minha alma como, ao pé da cruz, Maria
está olhando para o Filho! E que Filho, meu Deus! Filho que era ao mesmo tempo
seu Filho e seu Deus; Filho que desde a eternidade a tinha escolhido para sua
Mãe, e a havia preferido no seu amor a todos os homens e a todos os anjos;
Filho tão belo, tão santo, tão amável como nenhum outro; Filho, que lhe fora
sempre obediente; Filho, que era seu único amor, pois que era Filho de Deus. E
esta Mãe teve de ver morrer de dores, diante de seus olhos, um tal Filho! Ó
Maria, ó Mãe, a mais aflita entre todas as mães, compadeço-me de vosso coração,
especialmente quando vistes vosso Jesus inclinar a cabeça, abrir a boca e
expirar. Por amor deste vosso Filho, morto por minha salvação, recomendai-lhe a
minha alma. E vós, meu Jesus, pelos merecimentos das dores de Maria, tende
piedade de mim e concedei-me a graça de morrer por vós, como morrestes por mim.
Com São Francisco de Assis, vos direi: 'Morra eu, Senhor, por amor de vós que, por amor de meu amor, vos dignastes morrer'.
('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)