JESUS MORTO PENDENTE DA CRUZ
1.
Minha alma, levanta os olhos e contempla aquele crucificado. Contempla o
Cordeiro Divino já sacrificado sobre o altar da dor. Reflete que ele é o Filho
dileto do eterno Pai e que morreu pelo amor que te consagrou. Vê como tem os
braços estendidos para abraçar-te, a cabeça inclinada para dar-te o ósculo da
paz, o lado aberto para receber-te no seu coração. Que dizes? Merece ou não ser
amado um Deus tão amoroso? Ouve o que ele te diz daquela cruz: ‘Vê, filho, se existe
no mundo quem tenha te amado mais do que eu’. Não, meu Deus, não há no mundo
quem tenha te amado mais do que eu. Não, meu Deus, não há no mundo quem me
tenha amado mais do que vós. Mas que poderei dar em retorno a um Deus que quis
morrer por mim? Que amor de uma criatura poderá jamais compensar o amor de seu
criador morto para conquistar o seu amor?
2.
Ó Deus, se o mais vil dos homens tivesse sofrido por mim o que sofreu Jesus
Cristo, poderia deixar de amá-lo? Se eu visse um homem dilacerado pelos
açoites, pregado numa cruz para salvar-me a vida, poderia lembrar-me disso sem
me abrasar em amor? E se me fosse apresentado o seu retrato expirando na cruz
poderia contemplá-lo com indiferentismo, pensando: ‘Este homem morreu assim
atormentado por meu amor e, se não me houvesse amado tanto, não teria morrido
dessa maneira?’ Ah, meu Redentor, ó amor de minha alma, como poderei
esquecer-me mais de vós? Como poderei pensar que os meus pecados vos reduziram
a um tal estado e não chorar sempre as injúrias feitas à vossa bondade? Como
poderei vos ver morto de dor sobre essa cruz por meu amor e não vos amar com todas
as minhas forças?
3.
Meu caro Redentor, bem reconheço nessas vossas chagas e membros dilacerados
outras tantas provas do terno amor que me consagrais. Já, pois, que para me
perdoar não perdoastes a vós, olhai-me com aquele mesmo amor com que me
olhastes uma vez da cruz, na qual morríeis por meu amor; iluminai-me e atraí para vós todo o meu coração para que, de hoje em diante, eu nada mais ame fora
de vós. Não permitais que eu me esqueça de vossa morte. Vós prometestes que,
levantado na cruz, haveríeis de atrair os nossos corações. Eis aqui o meu
coração, que, enternecido com a vossa morte e enamorado de vós, não quer
resistir mais ao vosso chamamento: ah, atraí-o todo e tornai-o todo vosso! Vós
morrestes por mim e eu desejo morrer por vós e, continuando a viver, só para
vós quero viver. Ó dores de Jesus, ó ignomínias de Jesus, ó morte de Jesus, ó amor
de Jesus, fixai-vos no meu coração e aí fique sempre a vossa memória a ferir-me
continuamente e a inflamar-me em amor. Eu vos amo, bondade infinita, eu vos
amo, amor infinito, vós sois e sereis sempre o meu único amor. Ó Maria, Mãe do
amor, obtende-me o santo amor.
('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)