quinta-feira, 12 de julho de 2018

SOBRE A OBEDIÊNCIA

O primeiro grau da humildade é a obediência sem demora. É peculiar àqueles que estimam nada haver mais caro que o Cristo; por causa do santo serviço que professaram, por causa do medo do inferno ou por causa da glória da vida eterna, desconhecem o que seja demorar na execução de alguma coisa logo que ordenada pelo superior, como sendo por Deus ordenada. Deles diz o Senhor: 'Logo ao ouvir-me, obedeceu-me'. E do mesmo modo diz aos doutores: 'Quem vos ouve a mim ouve'.

Pois são esses mesmos que, deixando imediatamente as coisas que lhes dizem respeito e abandonando a própria vontade, desocupando logo as mãos e deixando inacabado o que faziam, seguem com seus atos, tendo os passos já dispostos para a obediência, a voz de quem ordena. E, como que num só momento, ambas as coisas - a ordem recém-dada do mestre e a perfeita obediência do discípulo - são realizadas simultânea e rapidamente, na prontidão do temor de Deus. Apodera-se deles o desejo de caminhar para a vida eterna; por isso, lançam-se como que de assalto ao caminho estreito do qual diz o Senhor: 'Estreito é o caminho que conduz à vida', e assim, não tendo, como norma de vida a própria vontade, nem obedecendo aos próprios desejos e prazeres, mas caminhando sob o juízo e domínio de outro e vivendo em comunidade, desejam que um abade lhes presida. Imitam, sem dúvida, aquela máxima do Senhor que diz: 'Não vim fazer minha vontade, mas a dAquele que me enviou'.

Mas essa mesma obediência somente será digna da aceitação de Deus e doce aos homens, se o que é ordenado for executado sem tremor, sem delongas, não mornamente, não com murmuração, nem com resposta de quem não quer. Porque a obediência prestada aos superiores é tributada a Deus. Ele próprio disse: 'Quem vos ouve, a mim me ouve'. E convém que seja prestada de boa vontade pelos discípulos, porque 'Deus ama aquele que dá com alegria'. Pois, se o discípulo obedecer de má vontade e se murmurar, mesmo que não com a boca, mas só no coração, ainda que cumpra a ordem, não será mais o seu ato aceito por Deus que vê seu coração a murmurar; e por tal ação não consegue graça alguma, e, ainda mais, incorre no castigo dos murmuradores se não se emendar pela satisfação.

(das Regras de São Bento)