A estreita correlação entre as visões dos sonhos de Dom Bosco com as mensagens e profecias de Fátima é bastante incisiva quando se considera a suposta descrição (certamente apenas parcial) do Terceiro Segredo de Fátima, em manuscrito da Irmã Lúcia, como revelado pelo Vaticano em 26 de junho de 2000:
(i) Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que pareciam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contato do brilho que, da mão direita, expedia Nossa Senhora ao seu encontro.
(i) Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que pareciam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contato do brilho que, da mão direita, expedia Nossa Senhora ao seu encontro.
(ii) O Anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte, disse: Penitência, Penitência, Penitência!
Na suposta continuação das três partes que constituem o chamado Segredo de Fátima, as duas partes anteriores e já descritas pela vidente corresponderiam ao Primeiro Segredo - a perda eterna das almas e a visão do inferno e o Segundo Segredo - a revelação de castigos universais e os meios para evitá-los. A visão propriamente dita tem origem no Anjo empunhando uma espada de fogo, que remete de imediato a um cenário apocalíptico: 'as chamas pareciam incendiar o mundo'. Não se trata mais de um mundo imerso nas trevas, nem mais o mundo em que fulgurou outrora a luz portentosa da igreja; é apenas um mundo mergulhado num incêndio colossal, num mar de fogo.
O Anjo empunha a espada de fogo com a mão esquerda e brada à humanidade por conversão apontando para a Terra com a mão direita. A mão direita é símbolo do poder e da justiça de Deus, instrumento da ira santa de Deus. Na invocação dirigida aos homens, a exortação angélica é um brado retumbante e vigoroso dirigido aos homens do pecado, sem mais concessões ou delongas possíveis: Penitência, Penitência, Penitência!
A espada na mão esquerda reflete uma condição ainda potencial do castigo universal imposto a uma humanidade transtornada pelo pecado, que se tornou indiferente a todos os avisos e manifestações amorosas da Mãe de Deus e que desdenhou por completo das dores e sofrimentos anunciados e vividos tão tragicamente pelos homens e mulheres das gerações anteriores. O flagelo está ainda em suspenso. A luz emanada da mão direita da Virgem tem o poder de estancar e de apagar o fogo da justiça divina, mas este aceno da graça é condicional e depende da resposta da humanidade aos apelos de conversão universal.
(iii) E vimos, numa luz imensa que é Deus, 'algo semelhante a como se vêem as pessoas em um espelho quando lhe passam por diante' um Bispo vestido de branco e 'tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre'.
(iii) E vimos, numa luz imensa que é Deus, 'algo semelhante a como se vêem as pessoas em um espelho quando lhe passam por diante' um Bispo vestido de branco e 'tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre'.
(iv) Vários outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas a subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca.
(v) o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas, e meio trêmulo e com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho.
A 'luz imensa que é Deus' e pressentimentos sobrenaturais já eram experiências vivenciadas pelos videntes de Fátima durante aparições anteriores de Nossa Senhora [por exemplo, eles pressentiram que a visão do Imaculado Coração de Maria cravejado de espinhos, na segunda aparição, não devia ser revelado por eles naquele momento]. Os videntes vêem, com clareza cristalina (como a imagem refletida em um espelho), o Santo Padre como um bispo vestido de branco. O pressentimento sobrenatural confirma a natureza desta visão.
A 'luz imensa que é Deus' e pressentimentos sobrenaturais já eram experiências vivenciadas pelos videntes de Fátima durante aparições anteriores de Nossa Senhora [por exemplo, eles pressentiram que a visão do Imaculado Coração de Maria cravejado de espinhos, na segunda aparição, não devia ser revelado por eles naquele momento]. Os videntes vêem, com clareza cristalina (como a imagem refletida em um espelho), o Santo Padre como um bispo vestido de branco. O pressentimento sobrenatural confirma a natureza desta visão.
O Santo Padre está em meio a uma longa e penosa caminhada atravessando cidades em ruínas e montes de cadáveres, sob angústia mortal e passos vacilantes. Nesta caminhada, é seguido por uma legião de sacerdotes e religiosos [e também leigos, como nomeados nesta multidão, em trecho mais adiante da mensagem] que se mantiveram fieis à Igreja. É uma imagem muito similar à da procissão do exílio que chega a uma praça cheia de mortos e feridos, como narrada no segundo sonho de Dom Bosco. A mesma referência à quebra da fé, à transgressão do sagrado pelo profano, ao relativismo moral, ao catolicismo morno e sociológico, ao abandono da Igreja ao primado de Pedro ('a precipitação vertiginosa do sol em direção à Terra', na sexta aparição). O papa caminha sobre destroços e cadáveres (terríveis consequências* do flagelo do fogo, sinal inequívoco que o apelo triplo do Anjo à penitência terá sido em vão), sob penosos sofrimentos e aflições (a via crucis da Igreja).
* Em visões particulares, logo após a Terceira Aparição da Virgem, Jacinta revelou a Lúcia ter visto o Santo Padre a chorar numa casa muito grande, de joelhos e com as mãos no rosto, enquanto lá fora havia muita gente que lhe atiravam pedras ou que lhe rogavam pragas. Em outra ocasião, teve a visão do Santo Padre, a rezar diante do Imaculado Coração de Maria junto com uma multidão, enquanto uma outra multidão faminta se arrastava pelas estradas sem ter nada para se alimentar. Diante desse relato, Lúcia a instou a permanecer calada, porque senão isso poderia revelar o teor do Terceiro Segredo.
Mas a Paixão ainda está por vir. E a Igreja, à semelhança de Cristo, há de perpassar integralmente pelos padecimentos do seu próprio Calvário. O Sumo Pontífice e a multidão chegam, então, ao trecho final da caminhada - uma encosta íngreme e acidentada com uma cruz tosca no cimo. A Igreja descobre e sobe, trêmula, vacilante e desolada, o seu Gólgota. Amargo preço por ter abandonado os portos seguros da graça para ir de encontro à civilização moderna ('a grande cidade meio em ruínas') como uma nau sem rumo em mar revolto. A cruz - tosca cruz - é o símbolo de uma Igreja esmaecida do seu fulgor mas que, apesar de tudo, não perdeu a sua herança divina. Num mundo conturbado pelo pecado, dilacerado pelo pecado, ainda permanece firme sobre o Gólgota a Cruz de Cristo!
(vi) chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz, [o papa] foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas.
(vi) chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz, [o papa] foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas.
(vii) e, assim mesmo, foram morrendo, uns trás dos outros, os bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições.
(viii) Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos, cada um com um regador de cristal na mão, e neles recolhiam o sangue dos mártires e com eles regavam as almas que se aproximavam de Deus'.
As pés da Cruz, dá-se o martírio de papa e de uma multidão de fieis. Na verdade, acontece um massacre porque não se trata de um atentado a uma parte da Igreja, a um corolário da fé cristã, a algum dos seus dogmas, mas de uma guerra tremenda contra toda a Igreja. As armas podem disparar tiros e os arcos podem disparar setas: para arruinar desde os fundamentos da Igreja de Jesus Cristo, os inimigos investem para matar o corpo e a alma de milhões e de milhões, seja pelos conflitos armados, seja pelo cipoal de heresias, pela incredulidade, pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo materialismo e por tantas outras doutrinas sectárias, 'setas' que matam a alma de tantos e tantos filhos da Igreja. O 'grupo de soldados' é um símbolo de uma ação planejada e implementada sob uma sólida e diabólica estratégia militar. Ao martírio de sangue está associado o martírio espiritual, cujos frutos serão cuidadosamente recolhidos pelos anjos para se regar as novas vinhas do Senhor e para gerar sementes de uma humanidade renovada.
E este será um evento espantoso, fruto de uma intervenção direta e extraordinariamente sobrenatural, que sabemos há de vir por meio daquela 'que combate e dispersa os mais fortes exércitos da terra'. A Igreja vai padecer enormemente e viver o seu Calvário, porque Roma desprezou as profecias e se aviltou nos seus erros e contradições, mas renascerá triunfante porque Deus 'reservou a vitória sobre os seus inimigos a Si mesmo' (Pio IX). Esta confirmação do triunfo da Igreja e a explicação destes eventos por Nossa Senhora certamente devem estar incluídos no contexto do que ainda não se sabe do chamado Terceiro Segredo de Fátima.
E este será um evento espantoso, fruto de uma intervenção direta e extraordinariamente sobrenatural, que sabemos há de vir por meio daquela 'que combate e dispersa os mais fortes exércitos da terra'. A Igreja vai padecer enormemente e viver o seu Calvário, porque Roma desprezou as profecias e se aviltou nos seus erros e contradições, mas renascerá triunfante porque Deus 'reservou a vitória sobre os seus inimigos a Si mesmo' (Pio IX). Esta confirmação do triunfo da Igreja e a explicação destes eventos por Nossa Senhora certamente devem estar incluídos no contexto do que ainda não se sabe do chamado Terceiro Segredo de Fátima.