sexta-feira, 16 de maio de 2025

quinta-feira, 15 de maio de 2025

O DOGMA DO PURGATÓRIO (CI)

Capítulo CI

Meios de se Evitar o Purgatório - Caridade e Misericórdia - Palavras das Sagradas Escrituras - São Pedro Damião e o Exemplo de Caridade de João Patrizzi para com os Pobres

Acabamos de ver o primeiro meio de se evitar o Purgatório, uma terna devoção a Maria; o segundo consiste na caridade e em obras de misericórdia de todo tipo. Muitos pecados lhe foram perdoados, disse Nosso Senhor, falando de Madalena, porque ela amou muito (Lc 7,47). Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia (Mt 5,1). Não julgueis, e não sereis julgados. Não condeneis, e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoado (Lc 6,37). Se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai Celestial vos perdoará também as vossas ofensas (Mt 6, 14). Dai a todo aquele que vos pedir; dai, e dar-se-vos-á; porque com a mesma medida com que medirdes, vós sereis medidos (Lc 6, 30.38). Fazei-vos amigos com a riqueza injusta, para que, no dia em que ela vos faltar [quando deixardes este mundo], eles vos recebam nos tabernáculos eternos (Lc 16,9). E o Espírito Santo diz pela boca do Profeta Real [Davi]: 'Feliz quem se lembra do necessitado e do pobre, porque no dia da desgraça o Senhor o salvará' (Sl 40,2).

Todas essas palavras indicam claramente que por nossa Caridade, Misericórdia e Benevolência, seja para com os pobres ou pecadores, para com nossos inimigos e aqueles que nos ferem, ou para com os falecidos que estão em grande necessidade de nossa assistência, encontraremos misericórdia no tribunal do Soberano Juiz. Os ricos deste mundo têm muito a temer. 'Ai de vós, que sois ricos - diz o Filho de Deus - 'porque já tendes a vossa consolação. Ai de vós que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vocês que agora riem, porque hão de se lamentar e chorar (Lc 6,24-25). Certamente, essas palavras de Deus deveriam fazer com que os ricos eleitores deste mundo tremessem; mas, se quisessem, a própria riqueza poderia se tornar para eles um grande meio de salvação; eles poderiam redimir seus pecados e pagar suas terríveis dívidas por meio de abundantes esmolas. 

Que o meu conselho, ó rei, te seja agradável, disse Daniel ao orgulhoso Nabucodonosor, e redime os teus pecados com esmolas e as tuas iniqüidades com obras de misericórdia para com os pobres (Dn 4,24). Pois a esmola livra de todo pecado e da morte, e não permite que a alma entre em trevas. A esmola será uma grande confiança diante do Deus Altíssimo para todos os que a derem, disse Tobias a seu filho (Tb 4,11-12). Nosso Salvador confirma tudo isso e vai ainda mais longe quando diz aos fariseus: 'Mas, quanto ao mais, dai esmolas, e eis que tudo vos será limpo' (Lc 11,41]. Quão grande, então, é a insensatez dos ricos, que têm em mãos um meio tão fácil de garantir seu bem-estar espiritual futuro e, ainda assim, negligenciam seu uso! Que loucura não fazer bom uso dessa fortuna da qual terão de prestar contas a Deus! Que tolice ir arder no Inferno ou no Purgatório e deixar uma fortuna para herdeiros avarentos e ingratos, que não concederão ao falecido nem uma oração, uma lágrima ou mesmo um pensamento passageiro! Mas, ao contrário, quão felizes são os cristãos que entendem que são apenas os distribuidores, diante de Deus, dos bens que receberam dele, que pensam apenas em dispor deles de acordo com os desígnios de Jesus Cristo, a quem devem prestar contas e, em suma, que fazem uso deles apenas para obter amigos, defensores e protetores na eternidade!

São Pedro Damião, em um de seus tratados, relata o seguinte fato. Um senhor romano, chamado João Patrizzi, morreu. Sua vida, embora cristã, tinha sido como a da maioria dos ricos, muito diferente da do seu Divino Mestre, pobre, sofredor, coroado de espinhos. Felizmente, porém, ele tinha sido muito caridoso com os pobres, a ponto de doar suas roupas para vesti-los. Alguns dias após sua morte, um santo sacerdote, estando em oração, foi arrebatado em êxtase e transportado para a Basílica de Santa Cecília, uma das mais famosas de Roma. Lá ele viu várias virgens celestiais, Santa Cecília, Santa Inês, Santa Ágata e outras, agrupadas em torno de um trono magnífico, no qual estava sentada a Rainha do Céu, cercada por anjos e espíritos abençoados.

Naquele momento, apareceu uma pobre mulher, vestida com uma roupa miserável, mas com uma capa de pele cara sobre os ombros. Ela se ajoelhou humildemente aos pés da Rainha Celestial e, unindo as mãos, com os olhos cheios de lágrimas, disse com um sorriso: 'Mãe de Misericórdia, em nome de tua inefável bondade, peço-te que tenhas piedade do infeliz João Patrizzi, que acaba de morrer e que sofre cruelmente no Purgatório'. Três vezes ela repetiu a mesma oração, cada vez com mais fervor, mas sem receber nenhuma resposta. 'A senhora sabe muito bem, ó rainha misericordiosa, que eu sou aquela mendiga que, na entrada de sua grande basílica, pedia esmolas em pleno inverno, sem nada para me cobrir além de meus trapos. Ó como eu tremia de frio! Então João, a quem eu pedia em nome de Nossa Senhora, tirou do seu ombro essa pele cara e a deu a mim, privando-se dela em meu favor. Será que um ato de caridade tão grande, realizado em seu nome, ó Maria, não merece alguma indulgência?'

Diante desse apelo comovente, a Rainha do Céu lançou um olhar de amor para a mulher suplicante. 'O homem por quem você reza' - respondeu ela' - 'está condenado por muito tempo ao mais terrível sofrimento, por causa de seus numerosos pecados. Mas como ele tinha duas virtudes especiais, a misericórdia para com os pobres e a devoção aos meus altares, condescenderei em lhe dar a minha ajuda'. Diante dessas palavras, a santa assembleia testemunhou sua alegria e gratidão para com a Mãe de Misericórdia. Patrizzi foi trazido: ele estava pálido, desfigurado e carregado de correntes, que lhe haviam causado feridas profundas. A Virgem Santa olhou para ele por um momento com terna compaixão, depois ordenou que suas correntes fossem retiradas e que lhe fossem colocadas vestes de glória, para que ele pudesse se juntar aos santos e espíritos abençoados que rodeavam o seu trono. Essa ordem foi executada imediatamente, e toda visão se desvaneceu. O santo sacerdote que teve essa visão não deixou, a partir daquele momento, de pregar a clemência de Nossa Senhora para com as pobres almas sofredoras, especialmente para com aqueles que haviam se dedicado a seu serviço e que tinham grande caridade para com os pobres.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

ORAÇÃO DE SÚPLICA A JESUS EUCARÍSTICO

PREPARAÇÃO E PROPÓSITOS DA ORAÇÃO

O' minha alma, o que fazes?
Se há um momento precioso, um momento que não deves perder nenhum segundo de distração é este, no qual podes obter quantas graças pedires.
Não sabes que o Pai eterno te olha com amor, vendo em ti o seu Filho muito amado, o objeto mais caro à sua ternura?

Expulsa, pois, os outros pensamentos, reaviva a tua fé, dilata o teu coração pela confiança, e pede tudo o que desejas. 
Não ouves que o próprio Jesus te diz: 'Alma querida, fala: que quereis de mim?' (Mc 10,51). 
Ele vem para enriquecer-te com os seus dons e tornar-te feliz; pede com confiança e alcançarás tudo. 

ORAÇÃO DE SÚPLICA APÓS A COMUNHÃO

Ó meu dulcíssimo Salvador, que a mim viestes para enriquecer-me com favores, e desejais que eu os peça a Vós; não solicito nenhum dos bens terrenos, nem riquezas, nem honras, nem prazeres: concedei-me, é o que suplico, verdadeira dor dos desgostos que vos causei; fazei-me conhecer claramente a vaidade deste mundo e os direitos que tendes ao nosso amor. 

Dai-me um coração novo, isento de toda a afeição terrena, conformado inteiramente à vossa santa vontade, um coração que não busque coisa alguma além do que vos dá prazer e que aspire somente ao vosso santo amor: 'Criai em mim um coração puro, ó meu Deus' (Sl 50,12). 

De modo algum mereço estes favores, mas Vós, ó meu Jesus, os mereceis no meu lugar, pois que viestes residir na minha alma; eu vo-los peço pelos vossos méritos e pelos de vossa Mãe Santíssima e em nome do vosso amor ao vosso Pai eterno. 

[Rogai agora a Jesus alguma graça particular para vós e o vosso próximo; não vos esqueçais de recomendar a salvação dos pecadores, bem como pelas almas do Purgatório]. 

Pai eterno, Jesus Cristo, o vosso divino Filho, nos fez esta bela promessa: 'Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará' (]o 16, 23). Em nome e pelo amor deste Jesus, o vosso Filho único, que atualmente repousa no meu peito, atendei-me e dai-me as graças que vos peço. O' Jesus e Maria, doces objetos da minha ternura, que eu sofra e morra por vós; que eu seja todo vosso e de modo algum de mim mesmo.

('As Mais Belas Orações de Santo Afonso', Pe. Saint-Omer, 1961)

OS PAPAS DA IGREJA (V)

 



terça-feira, 13 de maio de 2025

108 ANOS DE FÁTIMA

Fátima é o acontecimento sobrenatural mais extraordinário de Nossa Senhora e a mais profética das aparições modernas (que incluíram a visão do inferno, 'terceiro segredo', consagração aos Primeiros Cinco Sábados, orações ensinadas por Nossa Senhora às crianças, consagração da Rússia, milagre do sol e as aparições do Anjo de Portugal), constituindo a proclamação definitiva das mensagens prévias dadas pela Mãe de Deus em Lourdes e La Salette. Por Fátima, o mundo poderá chegar à plena restauração da fé e da vida em Deus, conformando o paraíso na terra. Por Fátima, a humanidade será redimida e salva, pelo triunfo do Coração Imaculado de Maria. Se os homens esquecerem as glórias de Maria em Fátima e os tesouros da graça, serão também esquecidos por Deus.

'por fim, o meu Imaculado Coração triunfará'


Ver Postagem Especial na Biblioteca Digital do Blog:

FÁTIMA EM 100 FATOS E FOTOS

OS VIDENTES DAS APARIÇÕES DE FÁTIMA

6. Quem foram os videntes das aparições?

Nossa Senhora se manifestou em Fátima, em seis aparições consecutivas e sempre no dia 13 de cada mês, no período entre maio e outubro de 1917, a três crianças - Lúcia, Francisco e Jacinta - que tinham idades de 10, 9 e 7 anos, respectivamente, nas datas das aparições. Lúcia dos Santos nasceu em 28 de março de 1907 (o registro foi feito equivocadamente com a data de 22 de março). Francisco Marto nasceu no dia 11 de junho de 1908, tendo sido batizado no dia 20 de junho, enquanto Jacinta Marto nasceu em 11 de março de 1910 e foi batizada em 19 de março de 1910. A foto clássica dos três videntes juntos (mostrada abaixo) foi tirada com eles dispostos na frente de um muro de pedras, situado a pequena distância da casa da Família Marto, na aldeia de Aljustrel.


Excertos da Postagem Especial na Biblioteca Digital do Blog:

segunda-feira, 12 de maio de 2025

OS DOIS AMORES E AS TRÊS FACULDADES DA ALMA

Volto a falar dos degraus gerais que deveis percorrer a fim de sair do rio do pecado, atingir a água viva e inserir-me na vossa caminhada.

Pela graça eu repouso em vossas almas. Querendo progredir, é necessário que tenhais sede. Somente os sedentos acolhem aquele convite: 'quem tem sede, venha a mim e beba' (Jo 7,37). Quem não está com sede desanima de caminhar, pára por cansaço ou em prazeres, vai de mãos vazias, sem se preocupar em levar consigo um recipiente para coletar a água. Mas sozinho ninguém progride. Ao apresentar-se o ferrão das contradições, olha-o como a um inimigo e retrocede. O homem solitário teme o encontro do inimigo; quem vai acompanhado, não sente medo. Pois bem, o cristão que ainda não percorreu os três degraus gerais, caminha solitário.

Ocorre, pois, ter sede e reunir dois, três ou mais, na maneira explicada. Por que eu disse 'dois e três'? Porque não existe dois sem três e três sem dois. O homem que está só não possibilita minha presença 'no meio' por falta de companheiro que me permita estar 'entre' eles. O solitário é um vazio, bem como aquele que só possui o egoísmo e vive sem amor pela minha graça e pelo próximo. Um nada, eis o que é a pessoa em quem estou ausente, por causa do pecado. Somente eu 'sou aquele que sou' (Ex 3,14). O egoísta, solitário, não conta diante de mim, não me agrada. Eis por que meu Filho diz: 'Se dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles' (Mt 18,20). Afirmei antes que não existe dois sem três ou três sem dois. Explico-me.

Sabes que os mandamentos da lei se reduzem a dois; sem eles, nenhum outro é observado. São: amar-me sobre todas as coisas e amar ao próximo como a ti mesma. Eis o começo, o meio e o fim dos mandamentos da lei. Todavia esses 'dois' não se 'reúnem' em mim sem os 'três', isto é, sem a unificação das três faculdades da alma: a memória, a inteligência e a vontade. A memória há de recordar-se dos meus benefícios e da minha bondade; a inteligência pensará no amor inefável revelado em Cristo, pois ele se oferece como objeto de reflexão para manifestar a chama do meu amor; a vontade, unindo-se às duas faculdades anteriores, me amará e desejará como seu fim. Quando essas três faculdades estão assim reunidas, acho-me presente entre elas pela graça. E, como consequência, a pessoa vê-se repleta de amor por mim e pelo próximo, na companhia de verdadeiras e múltiplas virtudes.

Em primeiro lugar, a vontade se dispõe a ter sede. Sede das virtudes, sede da minha glória, sede das almas. As demais sedes se apagam e morrem. Tendo subido o primeiro degrau, da afeição, o homem caminha seguro de si, sem temor servil. Livre do egoísmo, a vontade põe-se acima de si mesma e acima dos bens passageiros. Se a pessoa quer possuir tais bens, ama-os e deles se serve em mim, com temor santo e verdadeiro, virtuosamente. Em seguida, passa-se ao segundo degrau, o da inteligência, no qual a pessoa, em cordial amor por mim, medita sobre Cristo crucificado, enquanto mediador. Por fim, a memória enche-se da minha caridade e alcança paz e a tranquilidade.

Um recipiente vazio, ao ser tocado, faz rumor; o recipiente cheio, nenhum som produz. Da mesma forma, quando a memória está tomada pela luz da inteligência e pelo amor, a pessoa já não se perturba diante das adversidades ou atrativos do mundo; está repleta da minha presença, como sumo bem; não sente falsas alegrias, nem impaciência. Quando o homem sobe os três degraus comuns, suas faculdades unificam-se, colocam-se sob domínio da razão e congregam-se em meu nome. Uma vez reunidos os dois amores – por Deus e pelo próximo – com as três faculdades – a memória para reter, a inteligência para refletir e a vontade para amar – encontra-se o homem na minha companhia, forte e seguro; está na companhia das virtudes; caminha seguro de si. Estou presente nele!

Parte, então, o cristão, inflamado de desejo santo, sequioso de ir pelo caminho da verdade, à procura da fonte da água viva. É o desejo da minha glória, da salvação pessoal e da santificação alheia que incentiva a caminhar, pois é o único meio que possibilita alcançar a meta final. Na saída, o coração está vazio de apegos terrenos. Mas enche-se logo! Nenhum recipiente permanece com vácuo; se não contiver objetos materiais, enche-se de ar. O mesmo acontece com o coração humano. Ao se retirar dele o apego dos bens materiais, enche-se com o ar celeste do amor divino e com a água da graça. Em posse deste dom, o caminhante entra pela porta de Cristo e bebe a água viva em mim, oceano de paz.

(Excertos da obra 'O Diálogo', de Santa Catarina de Sena)