sábado, 23 de dezembro de 2023

OS QUATRO SEGREDOS DO ADVENTO

O PRIMEIRO SEGREDO: A ANUNCIAÇÃO


'Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!' (Lc 1, 28). A saudação do Anjo Gabriel é dirigida àquela que levou à perfeição nesta terra o amor de Deus. Cheia de graça Maria está desde a sua concepção, cheia de graça Maria passou cada momento de sua vida, cheia de graça Maria praticou cada ação ou pensamento nesta terra. Cheia de graça está, portanto, Maria diante a saudação do Anjo, como templo de santidade e da ciência infusa de todas as virtudes, dons e graças possíveis e imagináveis à natureza humana. E Maria de todas as graças perturbou-se. As revelações do Anjo a tornavam co-redentora da humanidade e bendita entre todas as mulheres, como Mãe de Deus: 'Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi' (Lc 1, 31 - 32). E Maria de todas as graças oferece-se como serva e escrava do seu Senhor e do seu Deus: 'Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!' (Lc 1, 38). 

O SEGUNDO SEGREDO: A CONCEPÇÃO


E Maria guardava todas estas coisas em seu coração, levando em seu ventre virginal o Divino Jesus feito homem. Não toma a sua missão como um privilégio, mas como instrumento e serviço à santa vontade de Deus. Pela vossa fortaleza diante do chamado divino e pela vossa confiança absoluta aos desígnios da graça, concedei-nos, ó Mãe, a fortaleza para suportar as misérias, contratempos, desprezos e provações desta vida e a confiança para seguir sempre os vossos passos nas jornadas da virtude'.

O TERCEIRO SEGREDO: A PROVAÇÃO


'Ó Maria, Mãe e Rainha celestial, eis o teu legado de provação contínua: em estado de gravidez avançada, suportar as duras fatigas da jornada de Nazaré a Belém, de porta em porta pedindo pousada, sem encontrar abrigo para o nascimento de Deus entre os homens. 'Ó Minha Mãe, assim como vós suportastes miséria, provações e desdenhosas negativas quando, sem desanimar, imploravas pousada nesta jornada, transmiti-nos, ó Virgem Santíssima, essa mesma submissão e humildade vossa, para que o meu coração somente possa dar abrigo a um amor puro, piedoso e sincero como o da vossa Sagrada Família'.

O QUARTO SEGREDO: A REDENÇÃO


Aproxima-se o feliz momento em que Maria, junto ao seu castíssimo Esposo, há de dar a luz ao Redentor do mundo. As falanges dos anjos, arcanjos e querubins e a humanidade dos eleitos em júbilo proclamam a glória destes tempos benditos e clamam juntos:  'Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade'. Desvenda-se o véu do sobrenatural e do divino: está prestes a irromper a aurora do cristianismo, a civilização cristã, a santa e bela Igreja de Cristo. A Terra vai receber o Senhor dos senhores, o Filho de Deus vivo. E o Céu só precisa esperar mais um pouco para ser o Paraíso de uma miríade de homens. 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

SOBRE A PREPARAÇÃO PARA O NATAL


Uma palavra para todos os que quiserdes receber bem a Deus neste Natal: 'Padre, eu amo a Deus, o que farei?' Se tiverdes a casa suja, varrei a vossa casa; se houver nela poeira, lavai e limpai a vossa casa.

Haverá aqui alguns que não varrem a casa há dez meses ou mais, Existirá mulher tão desleixada que, tendo uma marido muito asseado, fique dez meses sem varrer a casa? Há quanto tempo não vos confessais? Irmãos, não vos pedi na Quaresma passada que vos acostumásseis a confessar-vos algumas vezes no ano? Pelo menos no Natal, nos dias de Nossa Senhora e em outras festas religiosas importantes do ano, mas penso que vos esquecestes. Praza a Nosso Senhor que não vos exijam contas disso no dia do Juízo. E se disserdes então: 'Eu não sabia, por isso não me confessei', dir-vos-ão: 'Bem que vos disseram, bem que vos gritaram, muito se afadigaram em alertar-vos; agora de nada serve puxar os cabelos porque antes não o quisestes fazer'.

Irmãos, pecamos todos os dias. Se até hoje fostes preguiçosos em varrer a vossa casa, pegai agora na vassoura, que é a vossa memória. Lembrai-vos do que fizestes ofendendo a Deus e do que deixastes de fazer ao seu serviço; ide ao confessor e jogai fora todos os vossos pecados, varrei e limpai vossa casa.

Depois de varrida, molhai o chão. 'Mas não posso chorar, padre'. E se vos morre o marido ou o filho, ou se perdeis um pouco do vosso dinheiro, não chorais? - 'Claro que choro, padre, e tanto que quase chego ao desespero'. Pobres de nós que, se perdemos um pouco de dinheiro, não há quem nos possa consolar, mas se nos sobrevém um mal tão grande como perder a Deus - pois isso acontece a quem peca - o nosso coração é de tal forma uma pedra que são necessários muitos pregadores, confessores e admoestadores para que sintamos um pouco de tristeza! 

Mais valorizas o real perdido do que o Deus que perdes. Quando perdes uma quantia insignificante, não há quem consiga consolar-te, nem frades, nem padres, nem amigos, nem parentes. E, no entanto, não te entristeces quando perdes nada menos que o próprio Deus. Que significa isto, senão que tens tanta terra nos canais entre o coração e os olhos que a água não pode passar?

'Que me leva a ter o coração tão duro e a não poder chorar?' De todos os tempos apropriados que há ao longo do ano, este é o mais apropriado para os duros de coração. Valorizai o tempo santo em que estamos, considerai esta semana como a mais santa de todas do ano. É uma semana santa, e se a aproveitardes bem e vos preparardes como já sabeis, certamente vos será tirada toda a dureza do coração.

(Excertos da obra 'O Mistério do Natal' de São João de Ávila)

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

TESOURO DE EXEMPLOS (281/285)

 

281. OS FILHOS DE TEODÓSIO

O imperador Teodósio entregara seus dois filhos a Arsênio para que os educasse. Um dia entrou o imperador para assistir à aula e encontrou os dois meninos sentados e o mestre de pé. 'Neste momento' - disse-lhes - 'sois discípulos e, portanto, deveis respeito a vosso mestre'.
E obrigou-os a assistir à aula de pé.

282. SENTENÇA SEVERA

Em Esparta, os juízes condenaram à morte um menino por ter arrancado os olhos de um animal. Aos que reclamaram que a sentença era muito severa, responderam: 'O ânimo cruel de um menino que assim procede com os animais, amanhã se voltará contra os homens'.

283. DEVORADOS PELOS URSOS

O profeta Eliseu, venerável ancião, subia à cidade de Betel. Um bando de meninos mal educados saíram-lhe ao encontro e insultaram-no dizendo: 'Sobe, calvo! Sobe, calvo!'
Naquele momento saíram do bosque vizinho dois ursos que mataram a quarenta e dois deles.

284. SALOMÃO HONRA A SUA MÃE

Durante uma audiência solene, estava Salomão sentado em magnífico trono. Ao ver entrar sua mãe, a rainha Betsabé, que ia pedir-lhe uma graça, pôs-se de pé, foi ao seu encontro, fez-lhe uma profunda reverência e mandou preparar-lhe um trono para que ela se sentasse à sua direita.

285. AMOR FILIAL

N. era pai de vários filhos e havia anos que estava de cama. A filha maior fazia o papel de enfermeira; ao vê-lo próximo da morte e sem sentimentos religiosos, chorava sem consolo. O doente indagou a razão de tanto choro.
➖ Papai, o que me faz chorar é o pensamento de que temos de separar-nos e não nos veremos mais.
➖ É preciso ter paciência - replicou o pai - a separação não será para sempre, pois no outro mundo nos tornaremos a ver.
➖ Oh! não - disse a menina - nunca mais nos veremos.
➖ Sim, filha, havemos de nos ver sim; por que não?
➖ Não, meu pai; porque, se o senhor morrer em pecado mortal, irá para o inferno e eu quero ir para o céu. E não quero vê-lo no inferno, mas no céu.
A estas palavras cheias de dor e de carinho da filha, o enfermo resolveu enfim confessar-se e morrer santamente.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

FRASES DE SENDARIUM (XVIII)

 

'Salvar as almas é, entre as obras divinas, a mais divina; induzir as almas ao pecado pelo escândalo é, entre as obras diabólicas, a mais diabólica' 

(São Dionísio Areopagita)

'que a mensagem divina de salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra' 
(Catecismo da Igreja Católica) 

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

EXERCÍCIOS DE UMA VIDA PERFEITA

Para conservar em ti um espírito de temor, de dor e de desejo, exerce-te externamente numa perfeita modéstia, justiça e piedade, afim de que, segundo escreve o Apóstolo, 'renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivas sóbria, justa e piedosamente neste século' (Tt, 2, 12).

1. Exerce-te numa perfeita modéstia para que, segundo a doutrina do Apóstolo, 'a tua modéstia seja conhecida por todos os homens' (Fl 4, 5). Exerce-te primeiro na modéstia da parcimônia no comer e vestir, no dormir e vigiar, no recreio e no trabalho, não excedendo a medida em coisa alguma.

Depois exerce-te na modéstia da disciplina, com moderação no silêncio e no falar, na tristeza e na alegria, na clemência e no rigor, conforme as circunstâncias o exigem e a sã razão o prescreve.

Finalmente, exerce-te na modéstia da civilidade, regulando, ordenando e, compondo as ações, os movimentos, os gestos, as vestes, os membros e os sentidos, conforme o requer a educação moral e o costume na ordem, para que merecidamente pertenças ao número daqueles aos quais o Apóstolo diz: 'Faça-se tudo entre vós com decência e ordem' (I Cor 14, 40).

2. Exerce-te também na justiça para que te sejam aplicáveis as palavras do Profeta: 'Reina por meio da verdade, da mansidão e da justiça' (Sl 44, 5).

Na justiça, afirmo, por zelo pela honra divina, por observância da lei de Deus e por desejo da salvação do próximo. Na justiça regulada pela obediência aos superiores, pela sociabilidade aos iguais, pela punição das faltas dos inferiores.

Na justiça perfeita, de forma que aproves toda a verdade, favoreças a bondade, resistas à maldade tanto no Espírito, como nas palavras e obras, não fazendo a ninguém o que não queres que te façam, não negando a ninguém o que dos outros desejas, para que imites com perfeição aqueles a quem foi dito: 'Se a vossa justiça não for maior do que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus' (Mt 5, 20).

3. Finalmente, exerce-te na piedade, porque, como diz o Apóstolo, 'a piedade é útil para tudo, porque tem a promessa da vida presente e futura' (I Tm 4, 8).

Exerce-te na piedade do culto divino recitando as horas canônicas atenta, devota e reverentemente, acusando e chorando as faltas cotidianas, recebendo a seu tempo o Santíssimo Sacramento e ouvindo todos os dias a santa missa.

Na piedade, por meio da salvação das almas, auxiliando ora por frequentes orações, ora por instrutivas palavras, ora pelo estímulo do exemplo, para que quem ouve diga: 'Vem!' (Ap 22, 17). Isto, porém, cumpre fazer com tanta prudência, que a própria alma não sofra prejuízo.

Na piedade, por meio do alívio das necessidades corporais, suportando com paciência, consolando amigavelmente, ajudando com humildade, alegria e misericórdia, para desta forma: cumprires o mandamento divino enunciado pelo Apóstolo: 'Carregai os fardos uns dos outros, e desta maneira cumprireis a lei de Cristo' (Gl. 6, 2).

Para praticares tudo isto, o meio melhor, eu o creio, é a lembrança do Crucificado, a fim de que o teu Dileto, como um ramalhete de mirra (Cântico dos Cânticos 1, 12), descanse sempre junto ao teu coração. Isto te queira prestar Aquele que é bendito por todos os séculos dos séculos. Amém.

(Excertos da obra 'A Direção da Alma e a Vida Perfeita', de São Boaventura)

DOUTORES DA IGREJA (XXXIV)

  34São João de Ávila, Presbítero (†1569)

Apóstolo da Andaluzia

(1500 - 1569)

Concessão do título: 2012 - Papa Bento XVI

Celebração: 10 de maio (Memória Facultativa)

 Obras e Escritos 
  • Audi, filia - Avisos para os que desejam seguir a Deus
  • Epistolário espiritual para todos os estados
  • Tratado sobre o sacerdócio
  • Santíssimo Sacramento
  • O conhecimento de si mesmo
  • Sermões e conferências
  • Cartas

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXXI)

Capítulo LXXI

Alívio às Santas Almas pelas Esmolas - Os Limites da Misericórdia Cristã - São Francisco de Sales e a Viúva de Pádua

A esmola cristã, essa misericórdia que Jesus Cristo tanto recomenda no Evangelho, compreende não só a assistência corporal prestada aos necessitados, mas também todo o bem que fazemos ao nosso próximo, trabalhando pela sua salvação, suportando os seus defeitos e perdoando as suas ofensas. Todas estas obras de caridade podem ser oferecidas a Deus pelos defuntos e contêm uma grande virtude satisfatória. São Francisco de Sales conta que em Pádua, onde fez parte dos seus estudos, existia um costume detestável. Os jovens divertiam-se a correr pelas ruas à noite, armados de arcabuzes, e gritavam a todos os que encontravam: 'Quem vem por aí?'

As pessoas eram obrigadas a responder, pois era costume então disparar sobre aqueles que não respondiam e, assim, muitas pessoas foram feridas ou mortas. Aconteceu certa noite que, por não ter  respondido à pergunta, um estudante foi atingido na cabeça por uma bala e ficou mortalmente ferido. O autor deste ato, em pânico, fugiu e refugiou-se na casa de uma boa viúva que conhecia e cujo filho era seu colega de curso. Confessou-lhe com lágrimas que acabara de matar um desconhecido e suplicou-lhe que lhe desse asilo em sua casa. Tocada de compaixão, e não suspeitando que tinha diante de si o assassino do seu filho, a senhora escondeu o fugitivo num lugar seguro, onde os oficiais de justiça não o poderiam descobrir.

Ainda não havia passado meia hora quando se ouviu um ruído tumultuoso à porta; um cadáver foi trazido para dentro e colocado diante dos olhos da viúva. Infelizmente, era o seu filho que tinha sido morto e cujo assassino estava agora escondido em sua casa. A pobre mãe rompeu em gritos de partir o coração e, entrando no esconderijo do assassino, gritou: 'Homem miserável' - disse ela - 'o que meu filho te fez para que o tenhas assassinado assim tão cruelmente?'

O culpado do crime, ao saber que tinha matado o seu amigo, chorou em voz alta, arrancando os cabelos e torcendo as mãos em desespero. Depois, lançando-se de joelhos, pediu perdão à sua protetora e suplicou-lhe que o entregasse ao magistrado, para que pudesse expiar tão horrível crime. A mãe desconsolada lembrou-se nesse momento que era cristã e que o exemplo de Jesus Cristo em rezar pelos seus carrascos a estimulava a uma ação heroica. Respondeu-lhe que, se ele pedisse perdão a Deus e emendasse a sua vida, ela deixá-lo-ia ir e suspenderia todos os procedimentos legais contra ele.

Este perdão foi de tal agrado a Deus, que Ele quis dar à generosa mãe uma prova notável disso. Permitiu que a alma do seu filho lhe aparecesse, resplandecente de glória, dizendo que ele estava prestes a gozar da bem-aventurança eterna. 'Deus teve misericórdia de mim, querida mãe' - disse a alma bendita - 'porque tiveste misericórdia do meu assassino. Em consideração ao perdão que concedestes, fui libertado do Purgatório onde, sem a assistência que me proporcionastes, teria de passar por longos anos de intenso sofrimento'.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.