sexta-feira, 20 de outubro de 2023

TESOURO DE EXEMPLOS (261/265)

 

261. POUCAS PALAVRAS

Um dia foram duas pessoas perguntar a São Macário como deviam rezar. Respondeu-lhes o santo: 'Não são necessárias muitas palavras; dizei somente: Senhor, seja feita a vossa vontade!'

262. DIANTE DE UMA IMAGEM DE MARIA

Conta o bispo de Verdun que dois homens tiveram uma discussão muito forte e um deles, enfurecido, pôs-se a correr atrás do outro, com uma faca na mão. Quando estava para ser alcançado, o que fugia agarrou-se a uma estátua de Nossa Senhora, dizendo:
➖ Terás coragem de ferir-me em presença da Virgem, nossa Mãe?
A estas palavras, ao homem antes tão furioso deixou cair a faca da mão.

263. ESTUDE MEIA HORA MENOS

➖ Como vão os seus estudos? - perguntou um sacerdote a um seu antigo aluno.
➖ Muito mal! Estudo o mais que posso e sempre tiro notas baixas.
➖ Estude meia hora menos - disse-lhe o antigo mestre - e empregue essa meia hora para pedir a Nossa Senhora que o ajude.

O rapaz seguiu o conselho e, após algumas semanas, começou a progredir nos estudos, obtendo muitos bons resultados.

264. UMA BENÇÃO POR TELEGRAMA

Uma condessa dirigiu-se a Nice para pedir a Dom Bosco que fosse benzer a um seu netinho, que padecia dolorosa convulsões e parecia que se afogava. Não encontrando a Dom Bosco, enviou-lhe um telegrama a Cannes, onde ele se encontrava.

O santo, ao recebê-lo, enviou-lhe a bênção de Maria Auxiliadora também por telegrama e, na mesma hora, cessaram as convulsões e a criança sarou.

265. SAÍA SEM ESCOLTA

Os cortesãos censuravam o rei Henrique IV por sair, às vezes, sem escolta. Ele respondia: 'O medo não deve existir na alma de um rei. Encomendo-me a Deus quando me levanto e quando me deito e, durante o dia, lembro-me do Senhor. Estou sempre em suas mãos'.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

O SANTO TEMOR DE DEUS

O nosso obstáculo ao bem é o orgulho. O orgulho nos leva a resistir a Deus, a por o nosso fim em nós mesmos, em uma palavra, a nos perder. Só a humildade pode nos salvar de tão grande perigo. Quem nos dará a humildade? O Espírito Santo, derramando em nós o dom do Temor de Deus. Esse sentimento repousa na ideia da majestade de Deus que a fé nos dá, em presença da qual nada somos; na ideia da sua santidade infinita, diante da qual não passamos de indignidade e escória; do julgamento soberanamente equitativo que ele deve exercer sobre nós ao sairmos desta vida e do perigo de uma queda sempre possível, se faltarmos à graça, que nunca nos falta, mas à qual podemos resistir. 

A salvação do homem se opera, pois, 'com temor e tremor', como ensina o Apóstolo; mas este temor que é um dom do Espírito Santo, não é um sentimento grosseiro que se limitaria a nos lançar no horror da consideração dos castigos eternos. Ele nos mantém com a compunção do coração, mesmo quando nossos pecados já foram há muito tempo perdoados; ele nos impede de esquecer que somos pecadores, que devemos tudo à misericórdia divina e que só estamos salvos na esperança. 

O Temor de Deus não é um temor servil; ao contrário, torna-se a fonte de sentimentos mais delicados. Pode-se aliar ao amor, não sendo mais do que um sentimento filial que abomina o pecado por causa do ultraje que este comete a Deus. Inspirado pelo respeito à majestade divina, pelo sentimento da santidade infinita, põe a criatura em seu verdadeiro lugar. São Paulo nos ensina que o temor, assim purificado, contribui para 'o aperfeiçoamento da santificação'. Escutemos também esse grande Apóstolo, que foi arrebatado até o terceiro céu, confessar que é rigoroso consigo mesmo 'a fim de não ser reprovado'. 

O espírito de independência e de falsa liberdade que reina hoje em dia contribui para tornar mais raro o Temor de Deus e aí está uma das chagas do nosso tempo. A familiaridade com Deus toma, na maior parte das vezes, o lugar dessa disposição fundamental da vida cristã e, desde então, cessa todo progresso, a ilusão se introduz na alma e os divinos sacramentos, que no momento de uma volta para Deus tinham operado com tanto poder, tornam-se quase estéreis. É que o dom do Temor foi abafado pela vã complacência da alma consigo mesma. 

A humildade se extinguiu; um orgulho secreto e universal veio paralisar os movimentos desta alma. Ela chega, sem perceber, a não mais conhecer a Deus, pelo próprio fato de não tremer mais diante dele. Conservai em nós, ó Divino Espírito, o dom do Temor de Deus que nos foi derramado no nosso batismo. Este temor salutar assegurará a nossa perseverança no bem, detendo os progressos do espírito de orgulho. Que ele seja como uma trave que atravessa nossa alma de lado a lado e que fique sempre fixada como nossa salvaguarda. Que abaixe nossa altivez, que nos arranque da indolência, nos revelando sem cessar a grandeza e a santidade dAquele que nos criou e que nos deve julgar. 

Sabemos, ó Divino Espírito, que esse feliz Temor não abafa o amor; longe disso, afasta os obstáculos que o deteriam em seu desenvolvimento. As potestades celestes veem e amam com ardor o soberano Bem, elas são inebriadas pela eternidade; no entanto tremem diante da terrível majestade - tremunt potestates. E nós, cobertos das cicatrizes do pecado, cheios de imperfeições, expostos a mil armadilhas, obrigados a lutar contra tantos inimigos, não sentimos que é preciso estimular por um temor forte e ao mesmo tempo filial, nossa vontade que adormece tão facilmente, nosso espírito tomado por tantas trevas! Velai por Vossa obra, ó divino Espírito! Preservai em nós o dom precioso que vos dignastes dar-nos; ensinai-nos a conciliar a paz e a alegria do coração com o Temor de Deus, segundo a advertência do salmista: 'Serve o Senhor com temor e exulta de felicidade tremendo diante dele'.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

O MISTÉRIO DA SANTÍSSIMA TRINDADE

O conhecimento de um só Deus em três Pessoas, que nós recebemos pela fé, é mais alto, sem comparação, do que o conhecimento que temos de Deus pela simples razão natural.

Existem três graus no conhecimento que o homem pode ter de seu Criador. O primeiro é o conhecimento natural, que lhe é dado pela luz da razão. O segundo, o conhecimento sobrenatural, que ele recebe pela luz da fé. O terceiro, o conhecimento ou visão beatífica, que ele recebe pela luz da glória.

Estes três graus se assemelham um pouco com os diversos modos com que nossos sentidos se aplicam ao conhecimento de um objeto sensível. Podemos conhecer um objeto material ou pelo tato, quando o apalpamos, ou pelo ouvido, quando escutamos sua descrição, ou pela visão, quando o vemos. Isso é explicado por São Tomás na sua Suma Contra os Gentios. Ora, esses três modos se aplicam bem aos três graus do conhecimento de Deus que vimos acima.

(i) A razão procura de certo modo tocar Deus, que está fora de sua visão. É o que diz São .Paulo: 'Que busquem a Deus como que às apalpadelas' (At 17,27) São Paulo desenha aqui um quadro que representa os pobres pagãos às apalpadelas, como cegos, atravessando a natureza e procurando tocar em Deus. O Apóstolo lhes mostra o meio de o encontrar: 'Ele não está longe' - diz ele - 'pois vivemos, nos movemos e existimos por ele' (At 17,28). Compenetrem, pois, em si mesmos e o encontrarão, Ele que é o Pai de toda a vida.

Quando apalpamos um objeto, nos convencemos da existência desse objeto; em seguida, medimos aproximadamente suas dimensões. Assim a razão natural, que apalpa Deus, está em condições de demonstrar a existência de Deus. Ela chega até a alcançar algo de sua imensidade, de sua eternidade, de seu poder infinito. Eis até onde puderam ir, segundo atesta São Paulo, os filósofos da antiguidade, pela investigação racional (Rm 1, 20).

(ii) Este adágio não pode nos satisfazer, a nós católicos. Somos chamados a subir mais alto e a aprofundar nossa busca pelo conhecimento sobrenatural. Trata-se do conhecimento pela luz da fé, semelhante àquele que nos vem pelo sentido da audição: Fides ex auditu - diz São Paulo, a fé nos vem pela audição, ou seja, quando ouvimos a palavra de Cristo, audito autem per verbum Christi. Ela nos traz um conhecimento mais íntimo de Deus, na medida em que a palavra santa nos revela as maravilhas escondidas na sua essência, na medida em que ela nos inicia nos segredos dessa natureza criadora onde aprendemos a adorar a Trindade de Pessoas.

Temos ainda, é verdade, um pano nos olhos; mas em vez de só apalpar o quadro, ouvimos deslumbrados sua descrição, pelo menos até onde nossa inteligência, presa às imagens terrestres, é capaz de penetrar. Em vez de tocar somente em Deus Vivo, analisamos, por assim dizer, a força e os atos da vida divina.

(iii) Virá um dia em que a venda será retirada de nossos olhos. Uma luz, chamada luz de glória, virá fortificar, elevar, dilatar nossa inteligência. Então veremos Deus. Sim, diz São João, nós o veremos como Ele é - Videbimus eum sicuti est (I Jo 3,2); 'Sim' - diz São Paulo - 'nós o veremos face a face' - Videbimus facie ad faciem (I Cor 13,12). O conheceremos como Ele nos conhece. O que mais dizer? Elevados a este grau, teremos chegado ao termo dos desejos da criatura racional; possuiremos nosso fim.

Lembremos que este conhecimento beatífico, tão grande, tão glorioso, está em germe no conhecimento que temos pela fé, pois a fé é um começo de possessão da verdade total que é o próprio Deus. A fé é obscura, visto que os mistérios que ela nos propõe estão acima da capacidade da razão, no estado de vida atual; mas ela é luminosa, pois esses mistérios, escondidos a nossos olhos pela excessiva luz, iluminam com sua luz maravilhosa as coisas temporais e as eternas.

Logo, não devemos considerar os mistérios da fé como pontos negros que atrapalhariam o olhar de nossa inteligência; eles são astros explodindo de luz e que se escondem de nós nessa própria luz, cujo reflexo nos descobre todo um oceano de verdades escondidas aos sábios deste mundo e reveladas aos humildes e aos pequenos. 

O primeiro e mais luminoso desses astros é, sem dúvida, o mistério da Santíssima Trindade. Sentimos nossa fraqueza quando tentamos falar dele: se não podemos fazê-lo dignamente, que Deus nos ajude, ao menos, a falar humildemente e com santo proveito.

(Excertos da obra 'O mistério da Santíssima Trindade', do Pe. Emmanuel- André)

terça-feira, 17 de outubro de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXVI)

 

Capítulo LXVI

Alívio às Santas Almas pela Via Sacra - Venerável Maria d'Antigna e essa Santa Devoção

Depois da Sagrada Comunhão, falemos da Via Sacra. Este santo exercício pode ser considerado em si mesmo, bem como nas indulgências com que é enriquecido. Em si mesmo, é um modo solene e muito excelente de meditar a Paixão do nosso Salvador e, por conseguinte, o exercício mais salutar da nossa santa religião.

No seu sentido literal, a Via Sacra é a distância percorrida pelo Homem-Deus, carregando o peso da sua Cruz, desde o palácio de Pilatos, onde foi condenado à morte, até ao cume do Calvário, onde foi crucificado. Depois da morte do seu Divino Filho, a Virgem Santíssima, sozinha ou em companhia das santas mulheres, visitou frequentemente aquele caminho doloroso. Seguindo o seu exemplo, os fiéis da Palestina e, no decurso dos tempos, numerosos peregrinos de países mais distantes, foram também visitar esses lugares santos, banhados com o suor e o sangue de Jesus Cristo; e a Igreja, para encorajar a piedade deles, abriu-lhes os seus tesouros de bênçãos espirituais. Mas como nem todos podem ir à Terra Santa, a Santa Sé permite que se ergam nas igrejas e capelas de países distantes cruzes, quadros ou baixos-relevos, representando as cenas comoventes que se passaram no verdadeiro caminho do Calvário em Jerusalém.

Ao permitir a inserção destas santas Estações, os Romanos Pontífices, que compreenderam toda a excelência e toda a eficácia desta devoção, dignaram-se também a enriquecê-la com todas as indulgências que haviam concedido aos que participavam de uma visita presencial à Terra Santa. E assim, de acordo com diferentes Circulares (Breves) e Constituições dos Soberanos Pontífices Inocêncio XI, Inocêncio XII, Bento XIII, Clemente XII e Bento XIV, aqueles que fazem a Via Sacra, com as devidas disposições, são contemplados com todas as indulgências concedidas aos fiéis que visitam pessoalmente os Lugares Santos de Jerusalém, sendo estas indulgências aplicáveis também aos falecidos.

Ora, como é certo que numerosas indulgências, plenárias ou parciais, foram concedidas a quem visitava os Lugares Santos de Jerusalém, como se pode ver na Bula Terrae Sanctae, podemos dizer então, no que diz respeito às indulgências que, de todas as práticas de piedade, a Via Sacra é a mais rica. Assim, esta devoção, tanto pela excelência do seu objeto como pelas indulgências a ela associadas, constitui um sufrágio do maior valor para as Santas Almas.

Encontramos um incidente relacionado com este tema na Vida da Venerável Maria d'Antigna (Louvet, Le Purgatoire, p. 332). Durante muito tempo, ela teve o piedoso costume de fazer todos os dias a Via Sacra para alívio das almas dos falecidos; mas depois, por motivos mais aparentes do que concretos, passou a fazê-la raramente e, por fim, omitiu-a completamente. Nosso Senhor, que tinha grandes desígnios em relação a esta piedosa virgem e que desejava fazer dela uma vítima de amor para a consolação das pobres almas do Purgatório, quis dar-lhe uma lição que nos serve de instrução a todos. Uma religiosa do mesmo convento, falecida então há pouco tempo, apareceu-lhe, queixando-se com tristeza: 'Minha querida Irmã' - disse ela - 'porque já não fazes a Via Sacra pelas almas do Purgatório? Antigamente, costumavas aliviar-nos todos os dias com esse santo exercício; por que nos privas agora dessa assistência?'

Enquanto a alma ainda falava, o próprio Nosso Senhor apareceu à sua serva e repreendeu-a pela sua negligência. 'Sabe, minha filha' - acrescentou - 'que a Via Sacra é muito proveitosa para as almas do Purgatório e constitui um sufrágio do maior valor. Por isso, permiti que esta alma, para seu bem e para o bem dos outros, vos implorasse isto. Sabei também que foi por causa da vossa dedicação expressa na prática desta devoção que fostes favorecida pela comunicação frequente com os mortos. É também por esta razão que essas almas agradecidas não cessam de rezar por vós e de defender a vossa causa no tribunal da minha Justiça. Dá a conhecer este tesouro às tuas irmãs e diz-lhes que dele tirem abundantemente frutos para si e para as almas dos falecidos'.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

POEMAS PARA REZAR (XLIX)


A Morte é Nada

(Santo Agostinho)

A morte não é nada, eu apenas passei para o outro lado.

Eu sou o que sou e você é você.

O que somos, seremos; permanecemos.

Chama-me pelo nome que sempre me chamaste. Fala de mim como sempre falaste.

Não uses um tom diferente. Nem assumas um ar solene e triste.

Continua a rir do que nos fez rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim.

Que o meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem quaisquer luzes, sem quaisquer sombras.

A vida continua o que sempre foi. O fio não foi cortado.

Então por que deveria estar fora do teu pensamento simplesmente porque agora estou fora de tua presença?

Eu espero por ti um dia; lembra-te, eu não estou longe, estou apenas do outro lado do caminho.

Compreendes isso? Tudo está bem.

Ah! se pudesses compreender o dom de Deus e o que é o Céu! Se pudesses ouvir o cântico dos anjos que agora me cercam aqui! Ah! se pudesses olhar com os teus próprios olhos os horizontes, os campos eternos e os novos caminhos que eu percorro! Se pudesses contemplar, ainda que por um instante, a beleza na qual estou vivendo e perante a qual todas as belezas conhecidas se apagam!

Creias em mim; quando a morte vier romper as tuas correntes como rompeu as que me acorrentavam na terra; quando chegar o dia que Deus fixou e só Ele conhece e tua alma vier ao meu encontro no Céu, então verás também Aquele que te escolheu e que te amará eternamente e, finalmente, terás um coração feito por ti e na medida da plenitude de Deus.

(tradução do autor do blog)

domingo, 15 de outubro de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Na casa do Senhor habitarei eternamente' (Sl 22)

Primeira Leitura (Is 25,6-10a) - Segunda Leitura (Fl 4,12-14.19-20)  -  Evangelho (Mt 22,1-14)

 15/10/2023 - Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum

47. O BANQUETE REAL


No seu ministério público, Jesus falava muitas vezes em forma de parábolas, para incutir nos homens os ensinamentos da Boa Nova, sem lhes ferir demasiado as susceptibilidades da prática consolidada sobre valores falsos ou essencialmente humanos. Neste contexto, o plano divino de salvação da humanidade é apresentado na analogia de que 'o Reino dos Céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho. E mandou os seus empregados para chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram ir' (Mt 22, 1-2).

O convite pressupõe uma convocação; a festa foi preparada em todos os detalhes e todos os convidados têm lugares específicos reservados na mesa do banquete; a eles está destinado as iguarias mais refinadas - símbolo dos mistérios da graça associados à Visão Beatífica e à plena vida em Deus. Mas muitos 'não quiseram ir' (Mt 22, 2), começando pelos hebreus, o povo escolhido do Antigo Testamento. Muitos e muitos outros seguirão neste caminho de recusa explícita, seja pela indiferença, seja pelo envolvimento total nos seus próprios interesses pessoais e mundanos.

A reação do rei é imediata: ‘A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. Portanto, ide até as encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’ (Mt 22, 8 - 9). Diante do não do povo escolhido, o Senhor faz a opção pelos outros, os gentios do mundo, por todos os homens que acreditaram e assumiram a doutrina do seu Filho, vítima de amor sacrificada pelo triunfo da Cruz. Ir a todas as encruzilhadas e a todos os cantos do mundo é a vocação missionária da Igreja de todos os tempos, para buscar os eleitos para a grande festa do Senhor.

No banquete real, somente serão aceitos os convidados que estiverem usando o 'traje de festa' (Mt 22, 11), ou seja, estiverem revestidos do estado de graça, premissa das almas adentrarem o Reino dos Céus. Assim, até mesmo os que fizeram parte da Igreja - os convidados - mas que usufruíram de uma fé sem obras e não produziram os frutos da graça serão julgados inconvenientes no grande dia do Juízo e serão expulsos do banquete e, assim, perderão definitivamente o Reino dos Céus e serão jogados às trevas, onde só haverá choro e ranger de dentes. Nós devemos ter o firme propósito de servir a Cristo na fé e nas obras, para nos tornarmos os convivas do banquete real por toda a eternidade, tangidos pela misericórdia e não pela justiça divina, porque 'muitos são chamados, e poucos são escolhidos' (Mt 22, 14).

sábado, 14 de outubro de 2023

SOBRE A SERENIDADE


Serenidade. 

Por que te zangas, se zangando-te, ofendes a Deus, incomodas os outros, passas tu mesmo um mau bocado... e por fim tens de te acalmar?

Isso mesmo que disseste, di-lo em outro tom, sem ira, e ganhará força o teu raciocínio e, sobretudo, não ofenderás a Deus.

Não repreendas quando sentes a indignação pela falta cometida. Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo ainda. 

E depois, tranquilo e com a intenção purificada, não deixes de repreender. Conseguirás mais com uma palavra afetuosa, do que ralhando por três horas. Modera o teu gênio.

(São Josemaria Escrivá em 'Caminho')