terça-feira, 8 de agosto de 2023

A DESIGUALDADE É INJUSTA?


'Porque (o reino dos céus) será como um homem… que deu cinco talentos (a um servo), e a outros dois, e a outro um, e a cada um segundo a sua capacidade' (Mt 25,14-15).

'Por que é que um dia é preferido a outro dia, uma luz a outra luz e um ano a outro ano, provindo todos do mesmo sol? Foi a ciência do Senhor que os diferenciou, depois que criou o sol, o qual obedece às suas ordens. E variou as estações e os seus dias de festa, e nelas se celebraram as solenidades à honra determinada. Destes mesmos dias fez Deus a uns grandes e sagrados, e a outros pôs nos números de dias comuns. E assim é que também todos os homens são feitos do pó e da terra, de que Adão foi formado. O Senhor, porém, pela grandeza de sua sabedoria, distinguiu-os, e diversificou os seus caminhos, A uns abençoou e exaltou; a outros santificou e tomou para si; e a outros amaldiçoou e humilhou, e expulsou-os, depois de os ter separado, como o barro está nas mãos do oleiro, para lhe dar a forma e disposição que deseja, e para o empregar nos usos que lhe aprouver, assim o homem se encontra na mão daquele que o criou, e que lhe dará o destino segundo o seu juízo. Contra o mal está o bem, e contra a morte a vida; assim também contra o homem justo está o pecador. Considera assim todas as obras do Altíssimo. Achá-las-ás duas a duas e uma oposta à outra' (Ecle 33,7-15).

'O primeiro princípio a por em evidência é que o homem deve aceitar com paciência a sua condição: é impossível que na sociedade civil todos estejam elevados ao mesmo nível. É, sem dúvida, isto o que desejam os socialistas; mas contra a natureza todos os esforços são vãos. Foi Deus, realmente, que estabeleceu entre as homens diferenças tão multíplices como profundas; diferenças de inteligência, de talento, de habilidade, de saúde, de força; diferenças necessárias, de onde nasce espontaneamente a desigualdade das condições. Esta desigualdade, por outro lado, reverte em proveito de todos, tanto da sociedade como dos indivíduos; porque a vida social requer um organismo muito variado e funções muito diversas, e o que leva precisamente os homens a partilharem estas funções é, principalmente, a diferença de suas respectivas condições' (Leão XIII, Rerum Novarum).

'Por isso, assim como no Céu quis que os coros dos anjos, fossem distintos e subordinados uns aos outros, e na Igreja instituiu graus e diversidade de ministérios, de tal forma que nem todos fossem apóstolos, nem todos doutores, nem todos pastores (1Cor 12,27). Assim estabeleceu que haveria na sociedade civil várias ordens diferentes em dignidade, em direitos e em poder, a fim de que a sociedade fosse, como a Igreja, um só corpo, compreendendo um grande número de membros, uns mais pobres que os outros, mas todos reciprocamente necessários e preocupados com o bem comum' (Leão XIII, Quod Apostolici Muneris).

‘Num povo digno de tal nome, todas as desigualdades, não arbitrárias, mas derivadas da mesma natureza das coisas, desigualdades de cultura, posses, posição social (sem prejuízo, bem entendido, da justiça e da caridade) não são de modo algum obstáculo à existência ou ao predomínio de um autêntico espírito de comunidade e fraternidade. Pelo contrário, longe de lesar de algum modo a igualdade civil, lhe conferem o seu legítimo significado: Isto é, que defronte do Estado cada qual tem o direito de viver honradamente a própria vida pessoal, no lugar e nas condições em que os desígnios e disposições da Divina Providência o tiverem colocado’ (Pio XII, Radiomensagem de Natal de 1944).

'Nos seres naturais, vemos que as espécies são gradativamente ordenadas; assim, os compostos são mais perfeitos do que os elementos, as plantas do que os minerais, os animais do que as plantas e os homens do que os outros animais; e, em cada uma dessas classes, encontram-se espécies mais perfeitas do que as outras. Portanto, sendo a divina sabedoria a causa da distinção das coisas, para a perfeição do universo, assim o será da desigualdade' (São Tomás de Aquino, Suma Teológica).

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

POEMAS PARA REZAR (XLVII)


FALANDO COM DEUS

Só vos conhece, Amor, quem se conhece,
Só vos entende bem, quem bem se entende,
Só quem se ofende a si, não vos ofende,
E só vos pode amar quem se aborrece.

Só quem se mortifica, em Vós floresce,
Só é senhor de si quem se vos rende,
Só sabe pretender quem vos pretende,
E só sobe por Vós quem por Vós desce.

Quem tudo por Vós perde, tudo ganha,
Pois tudo quanto há, tudo em Vós cabe;
Ditoso quem no vosso amor se inflama,

Pois faz troca tão alta e tão estranha;
Mas só vos pode amar o que vos sabe,
Só vos pode saber o que vos ama.

Jerônimo Baía (1627-1688)

DOUTORES DA IGREJA (XX)

 20São Cirilo de Alexandria, Bispo (†444)

Doutor da Encarnação
Concessão do título: 1883 - Papa Leão XIII

Celebração: 27 de junho (Memória Facultativa)

 Obras e Escritos 

  • Comentários sobre o Antigo Testamento
  • Comentário sobre o Evangelho de João
  • Homilias sobre o Evangelho de Lucas
  • Homilias sobre o Evangelho de Mateus [fragmentos]
  • Tornando-se Templos de Deus
  • Discurso contra Arianos
  • Thesaurus (objeções às heresias arianas)
  • Cinco Tomos contra Nestório (escritos anti-nestorianos)
  • Contra Diodoro [de Tarso] e Teodoro [de Mopsuéstia] (mestres de Nestório)
  • Quod unus sit Christus - Sobre a Unidade de Cristo
  • Scholia de Incarnatione Unigeniti - Escola da Encarnação do Unigênito
  • Diálogos sobre a Trindade
  • Contra Juliano
  • Cartas
  • Sermões

domingo, 6 de agosto de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Deus é Rei, é o Altíssimo, muito acima do universo!(Sl 96)

Primeira Leitura (Dn 7,9-10.13-14) - Segunda Leitura (2Pd 1,16-19)  -  Evangelho (Mt 17,1-9)

 06/08/2023 - Festa da Transfiguração do Senhor

37. A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR


'Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha' (Mt 17,1). Uma alta montanha, o Monte Tabor. Como testemunhas da extraordinária manifestação da glória celeste e da vida eterna em Deus, Jesus conduz os três apóstolos escolhidos para o alto, numa clara assertiva de que é por meio da profundo recolhimento interior e da elevação da alma muito acima das coisas do mundo é que podemos viver efetivamente a experiência plena da contemplação de Deus.

'E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz' (Mt 17,2). No mistério da transfiguração do Senhor, os apóstolos testemunharam antecipadamente alguma coisa dos mistérios de Deus. Algo profundamente diverso da natureza humana, pois nascido direto da glória de Deus. Algo muito limitado da Visão Beatífica, posto que deveria atender sentidos humanos: 'nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam' (1 Cor 2, 9). Ainda assim, algo tão extraordinário e consolador, que perturbou completamente aqueles homens e, ao mesmo tempo, os moldou definitivamente na certeza da vitória e da ressurreição de Cristo.

'Nisto apareceram-lhe Moisés e Elias, conversando com Jesus' (Mt 17, 3). A revelação da glória de Deus é atestada pela Lei e pelos Profetas, pelo Senhor da vida e da morte, pelos textos das Sagradas Escrituras. Naquele momento, se fecha a Lei e a morte (com Moisés) e se cumprem todas as profecias e se impõe a vida eterna em Deus (com Elias, que ainda vive). E, para não se ter dúvida alguma, Deus se pronuncia no Alto do Tabor em favor do Filho: 'Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!' (Mt 17, 5).

Do alto do Tabor, a ordem divina ecoa pelos tempos e pelas gerações humanas a todos nós, transfigurados na glória de Deus pelo batismo e herdeiros do Tabor eterno: 'Escutai-o!' Como batizados, somos como os apóstolos descidos do monte e novamente envoltos pelas brumas e incredulidades do mundo. Pela transfiguração, entretanto, somos encorajados a vencer o mundo como Cristo, a superar a fragilidade de nossos sentidos, a elevarmos nosso pensamento às coisas do Alto, a manifestar em nós a glória de Deus como primícias do Céu, sob a divina consolação: 'Levantai-vos e não tenhais medo' (Mt 17, 7).

sábado, 5 de agosto de 2023

DECÁLOGO SOBRE A CONTRIÇÃO

1. A contrição perfeita é aquela que tem por motivo o amor de Deus, pois reconcilia o pecador com Deus, ainda antes da recepção do sacramento da penitência; porém, deve sempre encerrar o desejo e a vontade de recebê-la (Concílio de Trento).

2. A contrição cura a alma, ilumina o espírito e apaga os pecados (Santo Efrém).

3. Quando ouvirdes falar das lágrimas da contrição, não vos figureis que sejam a imagem da dor e dos sofrimentos; são mais doces que todas as delícias que se podem gozar neste mundo (São João Crisóstomo).

4. Semelhante à cera que contém o mel, a compunção contém um manancial inesgotável de doçuras espirituais; Deus visita e consola, de um modo invisível, porém inefável, os corações despedaçados por uma santa dor (São João Clímaco).

5. Correi, pois, lágrimas de compunção; correi como uma torrente, ondas bem-aventuradas; limpai essa consciência manchada, lavai esse coração profanado, e devolvei-me aquela alegria divina que é fruto da justiça e da inocência (Bossuet).

6.  A compunção do coração e as lágrimas sinceras são um verdadeiro batismo (São Bernardo).

7. Uma ferida profunda e muito perigosa requer um poderoso remédio: o pecado é uma grande ofensa, que impõe como necessária uma grande satisfação (Santo Ambrósio).

8. Há muitos homens que confessam com frequência que são pecadores e, contudo, deleitam-se ainda no pecar. Sua palavra é um reconhecimento e não uma mudança; declaram as chagas de sua alma e não as curam; confessam a ofensa e não a apagam. Somente o ódio ao pecado e o amor a Deus constituem uma verdadeira contrição (Santo Agostinho).

9. Está convertido e seguro do perdão somente aquele que chora o seu pecado e não descuida nada para não voltar a recair nele (São Gregório).

10. Aqueles que semeiam lágrimas, ceifarão plenos de júbilo. Quando espalhavam as suas sementes, iam chorando; mas, quando retornarem, voltarão com grande regozijo, trazendo os grandes feixes de suas colheitas (Sl 125, 5-6).

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

      

DEVOÇÃO DOS CINCO PRIMEIROS SÁBADOS  

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

PALAVRAS DA SALVAÇÃO

'O que Cristo fez e ensinou foi a vontade de Deus: a humildade na conduta, a firmeza na fé, a contenção nas palavras, a justiça nas ações, a misericórdia nas obras, a retidão nos costumes; ser incapaz de fazer o mal, mas poder tolerá-lo quando se é vítima dele; manter a paz com os irmãos; querer ao Senhor de todo o coração; amar nele o Pai e temer a Deus. Não por nada à frente de Cristo, pois Ele próprio nada pôs à nossa frente; ligarmo-nos inabalavelmente ao seu amor; abraçar com força e confiança a própria cruz; quando for preciso, lutar pelo seu nome e pela sua honra, mostrar constância na nossa profissão de fé; sob tortura, mostrar essa confiança que sustenta o nosso combate e, na morte, essa perseverança que nos faz alcançar a coroa. Querer ser herdeiro com Cristo - é nisso que consiste obedecer aos preceitos de Deus; é nisso que consiste cumprir a vontade do Pai'.

(São Cipriano de Cartago)