sexta-feira, 11 de junho de 2021

O DOGMA DO PURGATÓRIO (IX)

Capítulo IX

As Dores do Purgatório: sua Natureza e Rigor - Doutrina dos Teólogos: São Belarmino e São Francisco de Sales - Medo e Confiança

Existe no Purgatório, tal como no Inferno, uma dor dupla - a dor da perda e a dor dos sentidos. A dor da perda consiste em ser privado por algum tempo da vista de Deus, que é o Bem Supremo, fim beatífico para o qual foram feitas as nossas almas, assim como são os nossos olhos para a luz. É uma sede moral que atormenta a alma. A dor dos sentidos, ou sofrimento sensível, é a mesma que experimentamos em nossa carne. A sua natureza não se define pela fé, mas é opinião comum dos Doutores da Igreja que ela consiste em fogo e outras espécies de sofrimento. O fogo do Purgatório, dizem os Padres da Igreja, é o mesmo do inferno, de que fala o rico glutão: - quia crucior in hac flamma - 'eu sofro cruelmente nestas chamas'.

Quanto à gravidade dessas dores, uma vez que são infligidas pela Justiça Infinita, são proporcionais à natureza, gravidade e número dos pecados cometidos. Cada um recebe segundo as suas obras, cada um deve honrar-se das dívidas de que se vê acusado perante Deus. Porém, essas dívidas diferem muito em qualidade. Algumas, que se acumularam durante uma longa vida, atingiram os dez mil talentos do Evangelho, ou seja, os milhões e as dezenas de milhões; enquanto outras são reduzidas a poucos centavos, o resto insignificante daquilo que não foi devidamente expiado na terra. Segue-se disso que as almas passam por vários tipos de sofrimentos e que existem inúmeros graus de expiação no Purgatório, sendo que alguns são incomparavelmente mais severos do que outros. No entanto, falando em termos gerais, os Doutores da Igreja concordam em dizer que estas dores são insuportáveis. O mesmo fogo, diz São Gregório, atormenta os condenados e purifica os eleitos (salmo 37). 'Quase todos os teólogos' - diz São Belarmino - 'ensinam que os réprobos e as almas do Purgatório sofrem a ação do mesmo fogo' (De Purgat., i. 2, cap. 6).

Deve-se tomar como certeza - escreve o mesmo São Belarmino - que não há proporção entre os sofrimentos desta vida e aqueles do Purgatório (De Gemitu Columbae, lib. ii, cap. 9). Santo Agostinho declara precisamente o mesmo em seu comentário sobre o Salmo 31: 'Senhor' - ele diz - 'não me castigueis com vossa ira, e não me rejeiteis como aqueles a quem dissestes: vai para o fogo eterno; não me castigueis com vosso santo furor: purificai-me antes de tal maneira nesta vida que eu não precise ser purificado pelo fogo na próxima. Sim, temo aquele fogo que foi aceso para aqueles que serão salvos, é verdade, mas ainda assim salvos pelo fogo (1 Cor 3, 5). Sim, estes serão salvos, sem dúvida, após a provação pelo fogo, mas essa provação será terrível, esse tormento será mais insuportável do que todos os sofrimentos mais excruciantes deste mundo. 

Com base nas palavras de Santo Agostinho, e nas que São Gregório, o Venerável Beda, Santo Anselmo e São Bernardo falaram depois dele, São Tomás vai ainda mais longe, afirmando que a menor dor do Purgatório supera todos os sofrimentos desta vida, quaisquer que sejam eles. A dor, diz o beato Pedro Lefevre, é mais profunda e mais aguda quando ataca diretamente a alma e a mente do que quando afeta apenas o corpo. O corpo mortal e os próprios sentidos absorvem e interceptam uma parte da dor física e até mesmo moral (Sentim. Du B. Lefevre sur la Purg., Mess du S. Coeur, novembro de 1873). O autor da 'Imitação' explica essa doutrina por meio de uma frase bastante prática e marcante. Falando em geral dos sofrimentos da outra vida, diz ele: uma hora de tormento será mais terrível do que cem anos de rigorosa penitência nesta vida (Imitação de Cristo, lib. 1, cap. 24). Para provar esta doutrina, afirma-se que todas as almas do Purgatório sofrem a dor da perda e que essa dor supera todo o sofrimento mais agudo. 

Mas, para falar apenas da dor dos sentidos: sabemos que coisa terrível é o fogo, quão fraca é a chama que acendemos em nossas casas, e que dor é causada pela menor queimadura; quanto mais terrível deve ser aquele fogo que não é alimentado com lenha nem óleo, e que nunca pode ser extinto! Aceso pelo sopro de Deus para ser o instrumento da sua Justiça, ele apodera-se das almas e as atormenta com incomparável rigor. O que já dissemos, e o que ainda temos a dizer, está bem justificado para nos inspirar aquele temor salutar que nos foi recomendado por Jesus Cristo. 

Mas para evitar que alguns leitores, esquecidos da confiança cristã que deve moderar os nossos medos, não se entreguem a um temor excessivo, comparemos a doutrina anterior com a de um outro Doutor da Igreja, São Francisco de Sales, que apresenta as penas do purgatório temperadas pelas consolações que os acompanham. 'Podemos' - diz este santo e amável diretor de almas - 'extrair do pensamento do Purgatório mais consolo do que apreensão'. A maior parte dos que temem o Purgatório pensam muito mais em seus próprios interesses do que nos interesses da glória de Deus; isso procede do fato de que eles pensam apenas nos sofrimentos, sem considerar a paz e a felicidade que são desfrutadas pelas almas sagradas. É verdade que os tormentos são tão grandes que os sofrimentos mais agudos desta vida não se comparam a eles; mas a satisfação interior que existe é tal que nenhuma felicidade ou contentamento na terra pode igualá-la.

As almas estão em contínua união com Deus, estão perfeitamente resignadas à sua vontade, ou melhor, a sua vontade é tão transformada na própria vontade de Deus que não podem querer senão o que Deus quer; de modo que, se o Paraíso fosse aberto diante delas, eles se precipitariam no inferno em vez de se apresentarem diante de Deus com as manchas pelas quais se veem desfigurados. Elas se purificam de boa vontade e com amor, porque esta é a Vontade Divina.

As almas desejam permanecer ali no estado em que Deus quer e enquanto isso for do seu agrado. Elas não podem pecar, nem experimentar o menor sentimento de impaciência, nem cometer a menor imperfeição. Elas amam a Deus mais do que amam a si mesmos e mais do que todas as outras coisas; elas amam a Deus com um amor perfeito, puro e desinteressado. Estas almas são consoladas por anjos e têm a certeza da salvação eterna, estando plenos de uma esperança que nunca pode ser frustrada em suas expectativas. Sua angústia mais amarga é amenizada por uma certa paz profunda. É uma espécie do inferno quanto ao sofrimento; mas é o Paraíso no que diz respeito ao deleite infundido em seus corações pela caridade - caridade, mais forte que a morte e mais poderosa que o inferno; caridade iluminada por lâmpadas que são todas de fogo e chama (Cântico 8). 'Feliz estado' - complementa o santo bispo - 'mais desejável do que abominável, uma vez que suas chamas são chamas de amor e de caridade' (Esprit de Saint François de Sales, cap. 9, p. 16).

Tais são os ensinamentos dos Doutores da Igreja, dos quais se segue que, se as dores do Purgatório são rigorosas, não deixam de ser consoladoras. Ao impor a sua cruz sobre nós nesta vida, Deus derrama sobre ela a unção de sua graça; ao purificar as almas no Purgatório como o ouro no cadinho, Ele tempera as suas chamas com consolações inefáveis. Não devemos perder nunca de vista esse aspecto consolador, esse lado luminoso do quadro muitas vezes sombrio que estamos a examinar.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

PARA VIVER A DIVINA MISERICÓRDIA UM DIA POR SEMANA⁵

Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós,
eu confio em Vós!

'Fala ao mundo da Minha Misericórdia, que toda a humanidade conheça a Minha insondável misericórdia. Este é o sinal para os últimos tempos; depois dele virá o dia da justiça. Enquanto é tempo, recorram à fonte da Minha Misericórdia'

Intenção do Dia - Quinta Semana

confiar sem reservas na insondável misericórdia do Coração de Jesus 

Coração de Jesus, abismo de misericórdia, / sede meu amparo e repouso nesta vida / que a vossa luz bendita / ilumine todos os meus passos e caminhos 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

A Deus vós pertenceis sempre nesta vida mortal, servindo-o fielmente no meio dos trabalhos que tiverdes, levando a cruz, acompanhando-o na vida imortal, bendizendo-o eternamente com toda a corte celeste. É o grande bem das nossas almas o estar com Deus; é o maior bem pertencer só a Deus. Quem só pertence a Deus apenas se entristece por ter ofendido a Deus e a sua tristeza neste ponto consiste numa profunda, mas tranquila e pacífica, humildade e submissão, depois da qual se eleva em direção à bondade divina por uma confiança doce e perfeita, sem temor nem despeito.
(São Francisco de Sales)

quarta-feira, 9 de junho de 2021

O MILAGRE DE JERUSALÉM


No dia 7 de maio de 351, um evento extraordinário ocorreu na cidade de Jerusalém: uma cruz luminosa apareceu no céu, sobre o Monte Calvário, à vista de todos. O então bispo de Jerusalém, São Cirilo, assim descreveu o portentoso milagre em carta enviada ao Imperador Constâncio [Constâncio II, governador do Império Romano do Oriente, entre 337 e 361]:

'No dia de Pentecostes (7 de maio), por volta das nove horas da manhã, apareceu no céu uma cruz luminosa que se estendia do Monte Calvário ao Monte Olivete (cerca de quatro quilômetros). Não foi visto apenas por uma ou duas pessoas, mas por toda a cidade. Não era, como se poderia acreditar, um daqueles fenômenos fugazes que se dissipam instantaneamente, mas brilhava por muitas horas diante dos espectadores e com tal brilho que os raios do sol não podiam diminuí-lo; isto é, brilhava mais que o sol, pois sua luz não o dissipava.

Todos os habitantes de Jerusalém, permeados por um santo temor e alegria espiritual, correram em massa para a igreja. Jovens e velhos, homens e mulheres, e até as virgens longe do mundo, cidadãos e estrangeiros, cristãos e infiéis, porque aqui há pessoas de todas as nações e crenças, a uma só voz publicaram os louvores a Nosso Senhor Jesus Cristo, o único Filho de Deus, verdadeiro autor de milagres; e reconheceram que a fé dos cristãos não se baseia em discursos persuasivos da sabedoria humana, mas em evidências claras da intervenção divina; e confessaram que não são apenas os homens que propagam essa fé, mas também o testemunho de Deus que a confirma com tais milagres.

Nós, que vivemos em Jerusalém e vimos o milagre com os nossos próprios olhos, dirigimos a Deus, Soberano Senhor do universo, as nossas homenagens de adoração e agradecimento, e continuaremos a prestar homenagem ao seu Filho Unigênito, ao mesmo tempo a partir destes lugares santos nós dirigimos nossos votos a você e os dirigiremos sempre, para a prosperidade de seu reinado feliz. Acreditamos que não nos era lícito guardar silêncio sobre um milagre tão óbvio; por isso, desde o dia em que se manifestou, resolvemos comunicar a maravilhosa notícia a um príncipe de tão excelente piedade para que, alicerçado na sólida fundação da sua fé, a notícia deste divino prodígio confirme e lhe dê maior confiança em Nosso Senhor Jesus Cristo'.

(Excertos da obra 'Apología del Gran Monarca', do Pe. José Domingo Corbató, 1904)

terça-feira, 8 de junho de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (76/78)

 

76. A CASA DA SAGRADA FAMÍLIA

Durante anos viveu Jesus em Nazaré, pequena cidade da Galileia. Ajudava a São José, que era o santo carpinteiro, e a Maria Santíssima, em seus trabalhos domésticos. Por mais de trinta anos foi aquela pobre e pequenina casa santificada pelas mais sublimes virtudes.

Muitos anos mais tarde, os turcos conquistaram Nazaré e destruíram, em seu fanatismo desmedido, a grande igreja que os cristãos haviam construído e que cobria precisamente o recinto da casa do Menino Jesus.

Aconteceu, porém, que, em uma noite de céu estrelado, os anjos tomaram aquela casinha e, voando, levaram-na até às proximidades de Fiume, na Itália. Mas, como havia ali muitos ladrões que assaltavam os viajantes, os anjos a levaram de novo e a deixaram no meio de um bosque de louros. Foi por causa desses louros que aquela casinha veio a se chamar como 'a santa casa de Loreto'. No centro do altar há uma milagrosa imagem da Mãe de Deus e os aviadores tomaram Nossa Senhora de Loreto por advogada e padroeira.

77. O VIAJANTE E SÃO JOSÉ

Foi em 18 de março de 1888. Viajava um sacerdote no trem de Mogúncia a Colônia quando, ao passar por Bonn, notou que seu vizinho se persignou, juntou as mãos e pôs a rezar.
➖ Amanhã é a festa de São José e talvez que seja o seu patrono - disse o padre.
➖Não, senhor, mas a minha esposa chama-se Josefina e gostaria de estar amanhã em sua companhia. Tenho, porém, outro motivo de dar graças e, se interessar ao senhor, contar-lhe-ei a minha história pois um sacerdote a entenderá.
➖ Certamente.
➖ Quando menino, recebi de minha boa mãe uma educação piedosa. Infelizmente, bem cedo morreu minha mãe; meu pai não se ocupou de minha educação religiosa e logo abandonei todas as práticas de piedade. Encontrei, mais tarde, uma jovem excelente e, desejando fazê-la minha esposa, fingi sentimentos religiosos que não possuía. 

Uma vez casados, quase morreu de pesar, quando lhe abri meu coração e me pus a zombar de suas devoções. Há cinco anos, na sua festa onomástica, fiz-lhe um rico presente, mas ela, quase receosa, me disse:
➖ Há outro presente que me faria mais feliz...
➖ Qual?
➖ A tua alma, querido, respondeu entre soluços.
➖ Pede-me o que quiseres: eu o farei.
➖ Vem comigo amanhã, dia de São José, à Igreja de N... Haverá sermão e bênção.
➖ Se for só isso, podes enxugar tuas lágrimas, pois eu te acompanharei.

A igreja estava repleta; o pregador, muito moço, deixou-me frio e indiferente; contudo disse uma coisa que me impressionou: 'Jamais alguém invocou a proteção de São José sem que sentisse o seu auxílio. Tende firme confiança de que correrá em socorro de todo aquele que o invocar na hora do perigo, ainda que seja pecador ou mesmo incrédulo'.

Ao sairmos da igreja, disse-me a minha esposa:
➖ Meu bom homem, muitas vezes estarás em perigo em tuas viagens; promete-me que, chegando a ocasião, dirás sempre esta breve oração: 'São José, rogai ao vosso divino Filho por mim'?
➖ Assim o farei; não é nada difícil.

Pouco depois, viajava por este mesmo lugar em que nos encontramos; éramos sete no compartimento. De repente, um apito de alarme e já um formidável choque nos atirava pelos ares. Não tive tempo de dizer mais que: 'São José, socorro!' Tudo foi coisa de um instante. Ao voltar a mim, vi meus companheiros horrivelmente despedaçados e mortos. Eu sofrera apenas leves contusões. Desde aquele dia retomei as práticas religiosas e repito, sempre com grande confiança: 'São José, socorrei-me!'

78. SÃO JOSÉ E O PRIMEIRO ASILADO

Em 1863 chegava a Barcelona um grupo das Irmãzinhas dos Pobres para fazer a sua primeira fundação na Espanha. Foram muito bem recebidas pelos catalães, que precisavam não pouco de um asilo para tantos velhos infelizes abandonados, como costuma haver nas grandes capitais. O asilo foi, como de costume, colocado sob a proteção de São José, a quem chamam as Irmãs de Procurador da Casa. 

No início, por falta de local, admitiam somente mulheres idosas. Mas, eis que São José, um belo dia, lhes traz o primeiro idoso. Era um homem de 80 anos que se apresentou, dizendo à Irmã:
➖ Venho aqui para internar-me.
➖ É impossível - replicou a Superiora - ainda não podemos receber nenhum homem.
➖ Seja, mas não há remédio; ficarei assim mesmo.
➖ Como se chama o senhor?
➖ Chamo-me José.

O nome chamou a atenção das Irmãs; além disso era dia consagrado a São José. Não há remédio, recebê-lo-emos em nome de São José. O velho não possuía mais que farrapos e estava coberto de insetos. Roupa de homem não havia. A Superiora, chamando duas das Irmãs, disse-lhes:
➖ Saiam à procura de roupa, enquanto vamos lavá-lo e penteá-lo.

Durante este breve colóquio, ouviu-se a campainha da portaria: era uma senhora desconhecida que, entregando um embrulho, retirou-se sem dizer nada. Abriram e viram, com grande surpresa, que era um traje completo para homem. O pobre velho chegou ao cúmulo da alegria; não menos, porém, as Irmãs que compreenderam que São José as convidava a ampliar os seus planos de caridade. O asilo cresceu tranquila e constantemente e, dentro de poucos anos, abrigava mais de duzentos idosos, sem que lhes faltasse o pão de cada dia e nem as carinhosas atenções das boas Irmãs.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

segunda-feira, 7 de junho de 2021

ORAÇÃO À SANTA MARIA RAINHA (Papa Pio XII)


Das profundezas desta terra de lágrimas, onde a humanidade sofredora rasteja laboriosamente e em meio às ondas deste nosso mar perenemente agitado pelos ventos das paixões, elevamos os nossos olhos a vós, Santíssima Mãe, para nos reanimarmos, contemplando a vossa glória e para vos saudar como Rainha e Senhora do céu e da terra, como Nossa Senhora e Rainha.

Com legítimo orgulho de filhos, queremos exaltar a vossa realeza e reconhecê-la, pela suprema excelência de todo o vosso ser, como dulcíssima e verdadeira Mãe dAquele que é Rei por direito, por herança e por conquista.

Reina e governa, Mãe e Senhora, conduzindo-nos pelo caminho da santidade, guiando-nos e auxiliando-nos, para que nunca nos afastemos dele. Tal como exerceis, no alto do céu, a vossa primazia sobre as milícias angelicais, que vos aclamam como Soberana, e também sobre as legiões dos santos, que se deleitam na contemplação de vossa refulgente beleza, assim também reinais sobre o gênero humano, particularmente abrindo os caminhos de fé para aqueles que ainda não conhecem o vosso divino Filho.

Reina sobre a Igreja, que professa e celebra o vosso terno domínio e vos invoca como refúgio seguro em meio às adversidades do nosso tempo. Mas reina especialmente sobre aquela parte da Igreja que está sendo perseguida e oprimida, dando-lhe a fortaleza para resistir aos reveses, perseverança para não sucumbir às pressões injustas, luz para não cair nas armadilhas do inimigo, firmeza para resistir aos ataques recorrentes e, em todos os momentos, fidelidade inabalável ao vosso reino.

Reina sobre as inteligências, para que busquem apenas a verdade; sobre as vontades, para que almejem apenas o bem; sobre os corações, para que amem somente o que vós amais. Reina sobre indivíduos e sobre as famílias, bem como sobre as sociedades e as nações; sobre as assembleias dos poderosos, sobre os conselhos dos sábios, sobre as mais simples aspirações dos humildes.

Reina nas ruas e nas praças, nas cidades e nas aldeias, nos vales e nas montanhas, no ar, na terra e no mar, e acolhe a oração piedosa de todos os que professam que o vosso reino é um reino de misericórdia, onde toda súplica é bem vinda para consolação de toda dor, alívio para todo sofrimento, saúde para toda enfermidade e onde, por um simples sinal de vossas ternas mãos, da própria morte ressurge alegre a vida.

Concedei a todos aqueles que agora vos aclamam em todas as partes do mundo e vos reconhecem como Rainha e Senhora, a glória de um dia no céu desfrutar da plenitude do vosso reino, na visão do vosso divino Filho que, com o Pai e o Espírito Santo, vive e reina por todos os séculos do séculos. Amém.

domingo, 6 de junho de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'No Senhor toda graça e redenção!' (Sl 129)

 05/06/2021 - Décimo Domingo do Tempo Comum

28. 'QUEM FAZ A VONTADE DE DEUS: ESSE É MEU IRMÃO'


Jesus estava em Cafarnaum, pouco depois de ter descido das montanhas onde fizera a escolha dos seus doze apóstolos (Mc 3, 13 - 19) e diante dele, como outras tantas vezes durante a vida pública do Senhor, uma enorme multidão se aglomerava, ansiosa por ouvir os seus ensinamentos, as explicações sobre textos das Sagradas Escrituras, para serem testemunhas oculares de prodígios e milagres ou por mera curiosidade de conhecer aquele profeta extraordinário.

Nesta ocasião em especial, os próprios parentes de Jesus estavam presentes e, assoberbados pelos anelos e compromissos humanos, foram incapazes de perceber a dimensão sobrenatural da vida pública daquele homem que lhes era tão próximo e, por isso, foram capazes de imputar a Jesus como que um estado de pura confusão mental. Como sempre, os mestres da lei foram muito mais longe nos ilimitados domínios da blasfêmia: 'diziam que ele (Jesus) estava possuído por Belzebu, e que pelo príncipe dos demônios, ele expulsava os demônios' (Mc 3, 22).

Jesus evidencia o caráter absurdo e contraditório de tais alegações, desmascarando-lhes o desvario da razão e a dureza dos seus corações, totalmente impermeáveis à ação dos dons e carismas do Espírito Santo. Neste propósito de impenitência tácita e obstinada, aqueles homens rejeitaram todas as investidas divinas de acolhida e de perdão, tornando-se réus de condenação eterna, porque 'quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno' (Mc 3, 28). Ainda que pecadores ao extremo, todos somos passíveis do perdão e da misericórdia de Deus, desde que estejamos comprometidos pelo firme propósito do reconhecimento humilde e da dor sincera pelos pecados cometidos. A nossa salvação não pode prescindir destes princípios da fé cristã.

Durante esta explanação, Jesus é informado então da chegada da sua mãe e dos seus parentes, que estavam à sua procura. Esta mãe de amor e de doçura também se afligia diante da tormentosa multidão que envolvia Jesus, diante das acusações dos mestres da lei e das insanidades feitas pelos seus próprios parentes. Mas Jesus vai lhes responder: 'Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?' (Mc 3, 33). E Ele mesmo vai lhes revelar a supremacia absoluta das relações familiares de ordem espiritual sobre estas mesmas relações de caráter natural: 'Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe' (Mc 3, 35). Nossa Senhora é a mãe de Jesus e a mãe de Deus, não apenas porque O gerou e foi para Ele mãe cuidosa e extremada mas, principalmente, porque cumpriu à perfeição, nessa missão materna, a santa vontade de Deus.