quinta-feira, 28 de junho de 2018

ORAÇÃO AO ANJO DA GUARDA POR UMA BOA MORTE


Meu bom Anjo da Guarda, não sei quando e de que modo irei morrer. É possível que eu seja levado de repente ou que, antes do meu último suspiro, eu me veja privado das minhas capacidades mentais. E há tantas coisas que eu quereria dizer a Deus, no limiar da Eternidade... Por isso hoje, com a plena liberdade da minha vontade, venho pedir a vós, Anjo da Minha Guarda, que faleis por mim nesse temível momento. Direis, então, ao Senhor:

Que quero morrer na Santa Igreja Católica, Apostólica Romana, no seio da qual morreram todos os santos, depois de Jesus Cristo, e fora da qual não há salvação;

Que peço a graça de participar nos méritos infinitos do meu Redentor e que desejo morrer pousando os meus lábios na Cruz que foi banhada com o seu Sangue;

Que aborreço e detesto os meus pecados que ofenderam a Jesus e que, por amor a Ele, perdoo os meus inimigos, como eu próprio desejo ser perdoado; 

Que aceito a minha morte como sendo da vontade de Deus e que, com toda a confiança, me entrego ao seu amável e sacratíssimo Coração, esperando por toda a sua misericórdia; 

Que, no meu inexprimível desejo de ir para o Céu, me disponho a sofrer tudo quanto a sua soberana Justiça haja por bem infligir-me. 

Não recuseis, ó Santo Anjo da Minha Guarda, ser o meu intérprete junto de Deus e expor diante dEle que estes são os meus sentimentos e a minha firme vontade. Amém.

(São Carlos Borromeu)

quarta-feira, 27 de junho de 2018

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE NADAL (XIV)

 flagellatur Christus

121. Evangelho (Mt 27, Mc 15, Jo 19): a flagelação de Jesus 

  coronatur spinis Iesus

122. Evangelho (Mt 27, Mc 15, Jo 19): Jesus com uma coroa de espinhos

 gesta post coronationem, antequam ferretur sententia

123. Evangelho (Jo 19): eventos após a flagelação e coroação e antes da sentença de Pilatos

  fert sententiam Pilatus contra Iesum

124. Evangelho (Mt 27, Mc 15, Lc 23, Jo 19): a condenação de Jesus

  ducitur Iesus extra portam ad calvariae montem

125. Evangelho (Mt 27, Mc 15, Lc 23, Jo 19): Jesus a caminho do Calvário

 quae gesta sunt postea ante crucifixionem

126. Evangelho (Mt 27, Mc 15, Lc 23): eventos antes da crucificação de Jesus

  crucifigitur Iesus

127. Evangelho (Mt 27, Mc 15, Lc 23, Jo 19): a crucificação de Jesus

 erigitur crux

128. Evangelho (Mt 27, Mc 15, Lc 23, Jo 19): a cruz é erguida e cravada no terreno

 quae gesta sunt post erectam crucem, antequam emitteret spiritum

129. Evangelho (Mt 27, Mc 15, Lc 23, Jo 19): os eventos durante a crucificação e antes da morte de Jesus

emissio spiritus

130. Evangelho (Mt 27, Mc 15, Lc 23, Jo 19): Jesus morre na cruz

terça-feira, 26 de junho de 2018

26 DE JUNHO - SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ


São Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu em 09 de janeiro de 1902 em Barbastro, Espanha. Em 02 de outubro de 1928, durante um retiro espiritual em Madrid, concebeu e fundou o OPUS DEI, atualmente prelazia pessoal da Igreja Católica. A missão específica do Opus Dei é promover, entre homens e mulheres de todo o âmbito da sociedade, um compromisso pessoal de seguir a Cristo, de amor a Deus e ao próximo e de procura da santidade na vida cotidiana. Faleceu em Roma em 26 de junho de 1975. Foi beatificado em 17 de maio de 1992 e canonizado, pelo Papa João Paulo II na Praça de São Pedro, em 06 de outubro de 2002. Sua obra mais conhecida é Caminho, escrita como orientações espirituais em diferentes parágrafos. Outras obras do autor são ForjaSulco e É Cristo que Passa.

A CRUZ NÃO É UM CONSOLO FÁCIL

'A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de fáceis consolações. Começa logo por ser uma doutrina de aceitação do sofrimento, inseparável de toda a vida humana. Não vos posso esconder - e com alegria pois sempre preguei e procurei viver a verdade de que, onde está a Cruz, está Cristo, o Amor - que a dor apareceu muitas vezes na minha vida; e mais de uma vez tive vontade de chorar. Noutras ocasiões, senti crescer em mim o desgosto pela injustiça e pelo mal. E soube o que era a mágoa de ver que nada podia fazer, que, apesar dos meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar aquelas situações iníquas.

Quando vos falo de dor, não vos falo apenas de teorias. Nem me limito a recolher uma experiência de outros, quando vos confirmo que, se sentis, diante da realidade do sofrimento, que a vossa alma vacila algumas vezes, o remédio que tendes é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que as aflições hão-de ser santificadas, se vivermos unidos à Cruz.

Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, se convertem em reparação, em desagravo, em participação no destino e na vida de Jesus, que voluntariamente experimentou, por amor aos homens, toda a espécie de dores, todo o gênero de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado, insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da morte. Ainda agora, Cristo continua a sofrer nos seus membros, na Humanidade inteira que povoa a Terra e da qual Ele é Cabeça, Primogênito e Redentor'.
                                                                                                                         (É Cristo que Passa)

segunda-feira, 25 de junho de 2018

RUMO À SANTIDADE (IV/Final)

Quando a fé fraqueja, o homem tende a imaginar Deus como se estivesse longe e mal se preocupasse dos seus filhos. Pensa na religião como algo justaposto, quando não há outro remédio; sem saber por quê, espera manifestações aparatosas, acontecimentos insólitos. Em contrapartida, quando a fé vibra na alma, descobre-se que os passos do cristão não se separam da própria vida humana corrente e habitual. E que essa santidade grande, que Deus nos reclama, se encerra aqui e agora, nas coisas pequenas de cada jornada. 

Gosto de falar de caminho, porque somos viajadores, dirigimo-nos para a casa do Céu, para a nossa Pátria. Mas reparemos que um caminho, embora possa apresentar trechos de dificuldades especiais, embora uma vez por outra nos obrigue a desviar um rio ou a atravessar um pequeno bosque quase impenetrável, habitualmente é coisa corrente, sem surpresas. O perigo é a rotina: imaginar que Deus está ausente das coisas de cada instante por serem tão simples, tão triviais! 

Caminhavam aqueles dois discípulos em direção a Emaús. Andavam a passo normal, como tantos outros que transitavam por aquelas paragens. E ali, com naturalidade, apareceu-lhes Jesus, e caminha com eles, numa conversa que diminui a fadiga. Imagino a cena, bem ao cair da tarde. Sopra uma brisa suave. Em redor, campos semeados de trigo já crescido, e as oliveiras velhas, com os ramos prateados à luz tíbia. Jesus, no caminho. Senhor, és sempre tão grande! Mas tu me comoves quando te abaixas a seguir-nos, a procurar-nos, na nossa diária roda-viva. Senhor, concede-nos a ingenuidade de espírito, o olhar límpido, a mente clara, que permitam entender-te quando vens sem nenhum sinal externo da tua glória. 

Termina o trajeto ao chegar à aldeia, e aqueles dois que - sem darem por isso - foram feridos no fundo do coração pela palavra e pelo amor do Deus feito homem, sentem que Ele se vá embora. Porque Jesus se despede com gesto de quem vai prosseguir. Nunca se impõe, este Senhor Nosso. Quer que o chamemos livremente, depois de entrevermos a pureza do Amor que nos meteu na alma. Temos que detê-lo à força e rogar-lhe: 'Fica conosco porque é tarde e o dia está já declinando' (Lc 24, 29), faz-se noite. Somos assim: sempre pouco atrevidos, talvez por insinceridade, talvez por pudor. No fundo, pensamos: Fica conosco, porque as trevas nos rodeiam a alma, e só Tu és luz, só Tu podes acalmar esta ânsia que nos consome. Porque dentre as coisas formosas, honestas, não ignoramos qual é a primeira possuir: sempre a Deus. 

E Jesus fica. Abrem-se os nossos olhos como os de Cléofas e o seu companheiro, quando Cristo parte o pão; e embora Ele volte a desaparecer da nossa vista, seremos também capazes de retomar a caminhada - anoitece - para falar dEle aos outros, pois não cabe num peito só tanta alegria. Caminho de Emaús. O nosso Deus impregnou de doçura este nome. E Emaús é o mundo inteiro, porque o Senhor abriu os caminhos divinos da terra. 

Peço ao Senhor que, durante a nossa permanência neste chão que pisamos, não nos afastemos nunca do Caminhante divino. Para tanto, aumentemos também a nossa amizade com os Santos Anjos da Guarda. Todos necessitamos de muita companhia: companhia do Céu e da terra. Sejamos devotos dos Santos Anjos! E muito humana a amizade, mas é também muito divina; tal como a nossa vida, que é divina e humana. Lembramo- -nos do que diz o Senhor? 'Já não vos chamo servos, mas amigos' (Jo 15,15). Ensina-nos a ter confiança com os amigos de Deus, que já moram no Céu, e com as criaturas que convivem conosco, incluídas as que parecem afastadas do Senhor, para as atrairmos ao bom caminho. 

E vou terminar, repetindo com São Paulo aos Colossenses: 'Não cessamos de orar por vós e de pedir a Deus que alcanceis pleno conhecimento da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual' (Cl 1, 9). Sabedoria que nos proporciona a oração, a contemplação, a efusão do Paráclito na alma. Afim de que tenhais uma conduta digna de Deus, agradando-o em tudo, produzindo frutos de toda a espécie de boas obras e progredindo na ciência de Deus; corroborados em toda a sorte de fortaleza pelo poder da sua graça, para terdes sempre uma perfeita paciência e longanimidade acompanhada de alegria; dando graças a Deus-Pai, que nos fez dignos de participar na sorte dos santos, iluminando-nos com a sua luz; que nos arrebatou ao poder das trevas e nos transferiu para o reino de seu Filho muito amado. 

Que a Mãe de Deus e Mãe nossa nos proteja, afim de que cada um de nós possa servir a Igreja na plenitude da fé, com os dons do Espírito Santo e com a vida contemplativa. Realizando cada um os deveres que lhe são próprios, cada um no seu ofício e profissão, e no cumprimento das obrigações do seu estado, honre gozosamente o Senhor. Amai a Igreja, servi-a com a alegria consciente de quem soube decidir-se a esse serviço por Amor. E se virmos que alguns andam sem esperança, como os dois de Emaús, aproximemo-nos deles com fé - não em nome próprio, mas em nome de Cristo - para lhes garantir que a promessa de Jesus não pode falhar, que Ele vela por sua Esposa sempre: que não a abandona; que passarão as trevas, porque somos filhos da luz e fomos chamados a uma vida perene. 

E Deus lhes enxugará todas as lágrimas dos olhos, já não haverá morte, nem pranto nem clamor; não mais haverá dor, porque as coisas de antes passaram. E disse Aquele que estava sentado no trono: Eis que renovo todas as coisas. E ordenou-me: Escreve, porque todas estas palavras são digníssimas de fé e verdadeiras. E acrescentou: É um fato. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. Ao sedento, eu darei de beber gratuitamente da fonte da água da vida. Aquele que vencer possuirá todas estas coisas, e eu serei o Seu Deus e ele será meu filho (Ap 21, 4-7). 

(Parte IV/Final da Homilia 'Rumo à Santidade', pronunciada em 26/11/1967, por São Josemaria Escrivá)

domingo, 24 de junho de 2018

O NASCIMENTO DE SÃO JOÃO BATISTA

Páginas do Evangelho - Solenidade da Natividade de João Batista


No Evangelho deste domingo, nos defrontamos, mais uma vez, com os mistérios da graça: o nascimento de São João Batista, aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11), precursor do Salvador do mundo. E, como precursor do Messias, João se autoproclamou 'a voz que clamava no deserto', símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo. Era preciso gerar vida, frutos e abundância de graças nos corações dos homens duros e insensatos para receber o Cristo da Redenção, prestes a chegar.

O Evangelista São Lucas nos conta que João Batista nasceu numa cidade do reino de Judá, perto de Hebron, ao sul de Jerusalém. Seu pai foi o sacerdote São Zacarias (da geração de Aarão) e sua Mãe foi Santa Isabel (da geração de Davi), prima da Virgem Maria, mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. São Lucas descreve com singular discrição as circunstâncias sobrenaturais que precederam o nascimento do maior dos profetas: Isabel, estéril e já idosa, viu tornar-se realidade a promessa que o arcanjo São Gabriel havia anunciado a Zacarias, seu esposo, que ela daria a luz a um filho. O menino deveria chamar-se João e seria o precursor do Salvador. O menino, pela graça de Deus, haveria de escapar do massacre das crianças inocentes como ordenado por Herodes.

Os mistérios da graça se impuseram até mesmo na escolha do nome do Precursor: 'Ele vai chamar-se João' (Lc 1, 60). A escolha do nome entre os judeus era um ato que ocorria imediatamente após as orações rituais da cerimônia de circuncisão, em presença de várias testemunhas e era comumente associado a algum parente ou algum fato relacionado à família. Não foi esse o caso, daí o certo ar de espanto das testemunhas: 'Não existe nenhum parente teu com esse nome!' (Lc 1, 61). E Zacarias vai confirmar a escolha por escrito: 'João é o seu nome' (Lc 1, 63). E João haveria de ser João Batista, o João que batizava.

Das circunstâncias humanas singulares do nascimento de João Batista, manifestaram ainda maiores as sobrenaturais e, por esta razão, um temor sagrado preencheu o coração de todos os que foram as testemunhas do fato: 'O que virá a ser este menino?' (Lc 1,66). João Batista será o Precursor por excelência de Jesus Cristo, a voz que clama no deserto para tornar receptiva a Palavra Viva a ser semeada em terra fértil. No deserto ou na prisão, o primado de João será o da plenitude inabalável da fé cristã; nele tem fim a sucessão dos profetas, nele se faz definitivamente nova a missão dos homens como apóstolos.

RUMO À SANTIDADE (III)


Havíamos começado com orações vocais, simples, encantadoras, que aprendemos na infância e que não gostaríamos de abandonar nunca. A oração, iniciada com esta ingenuidade pueril, desenvolve-se agora em caudal largo, manso e seguro, porque vai ao passo da amizade por Aquele que afirmou: 'Eu sou o Caminho' (Jo 14, 6). Se amamos Cristo assim, se com divino atrevimento nos refugiamos na abertura que a lança lhe deixou no lado, cumpre-se a promessa do Mestre: 'Se alguém me ama, guardará a minha doutrina, e meu Pai o amará, e viremos a ele e nele faremos morada' (Jo 14, 23). 

O coração necessita então de distinguir e adorar cada uma das Pessoas Divinas. De certa maneira, o que a alma realiza na vida sobrenatural é uma descoberta semelhante às de uma criaturinha que vai abrindo os olhos à existência. E entretém-se amorosamente com o pai e com o Filho e com o Espírito Santo; e submete-se facilmente à atividade do Paráclito vivificador, que se nos entrega, sem o merecermos, os dons e as virtudes sobrenaturais! 

Corremos como o cervo, que anseia pelas fontes das águas: com sede, gretada a boca, ressequida. Queremos beber nesse manancial de água viva. Mergulhamos ao longo do dia nesse veio abundante e cristalino de frescas linfas que saltam até a vida eterna. Sobram as palavras, porque a língua não consegue expressar-se. Deus, quando acudimos a Ele com arrependimento, da nossa miséria tira riqueza; da nossa debilidade, fortaleza. O que não nos há de preparar então, se não o abandonamos, se frequentamos a sua companhia todos os dias, se lhe dirigimos palavras de carinho confirmadas com nossas ações, se lhe pedimos tudo, confiados na sua onipotência e na sua misericórdia? Se prepara uma festa para o filho que o traiu, só por tê-lo recuperado, o que não nos outorgará a nós, se sempre procuramos ficar ao seu lado? 

Longe da nossa conduta, portanto, a lembrança das ofensas que nos tenham feito, das humilhações que tenhamos padecido - por muito injustas, descorteses e rudes que tenham sido - porque é impróprio de um filho de Deus ter preparado um registro para apresentar uma lista de agravos. Não podemos esquecer o exemplo de Cristo, e a nossa fé cristã não se troca como quem troca de roupa; pode debilitar-se, robustecer-se ou perder-se. Esta vida sobrenatural dá vigor à fé, e a alma se apavora ao considerar a miserável nudez humana sem o divino. E perdoa e agradece: 'Meu Deus, se contemplo a minha pobre vida, não encontro nenhum motivo de vaidade e, menos ainda, de soberba; só encontro abundantes razões para viver sempre humilde e compungido. Bem sei que não há nada tão senhoril como servir'. 

Levantar-me-ei e rodearei a cidade; pelas ruas e praças buscarei aquele a quem amo... (Ct 3,2). E não é só a cidade; correrei todo o mundo de trás para a frente - por todas as nações, por todos os povos, por picadas e atalhos - para alcançar a paz de minha alma. E a descubro nas ocupações diárias, que para mim não são estorvo; que são - pelo contrário - vereda e motivo para amar mas e mais, e mais e mais me unir a Deus. 

E quando nos espreita - violenta - a tentação do desânimo, dos contrastes, da luta, da tribulação, de uma nova noite na alma, o salmista nos põe nos lábios e na inteligência estas palavras: 'Com Ele estou no tempo da adversidade' (Sl 90, 15). O que vale, Jesus, diante da tua cruz, a minha?; diante das tuas feridas, os meus arranhões? o que vale, diante do teu Amor imenso, puro e infinito, este fardo de nada que me puseste às costas? E os vossos corações - como o meu - se enchem de uma santa avidez, confessando-lhe - com obras - que morremos de amor. 

Nasce uma sede de Deus, uma ânsia de compreender as suas lágrimas; de ver seu sorriso, seu rosto. Julgo que o melhor modo de exprimi-lo é voltar a repetir com a Escritura: 'Como o servo que anseia pelas fontes das águas, assim por Vós anela minha alma, ó meu Deus!' (Sl 41,2). E a alma avança comprometida em Deus, endeusada: fez-se o cristão viajante sequioso, que abre a boca às águas da fonte. Com essa entrega, o zelo apostólico se inflama, aumenta de dia para dia e pega esta ânsia aos outros, porque o bem é difusivo. Não é possível que a nossa pobre natureza , tão perto de Deus, não arda em fomes de semear pelo mundo inteiro a alegria e a paz, de regar tudo com as águas redentoras que brotam do lado aberto de Cristo, de começar e acabar  todas as tarefas por amor. 

Falava há pouco de dores, de sofrimento, de lágrimas. E não me contradigo se afirmo agora que, para um discípulo que procura amorosamente o Mestre, é muito diferente o sabor das tristezas, das penas, das aflições: desaparecem, mal se aceita deveras a Vontade de Deus, logo que cumprimos com gosto os seus desígnios, como filhos fiéis, ainda que os nervos pareçam desfazer-se e o suplício se nos afigure insuportável. 

Interessa-me confirmar de novo que não me refiro a uma forma extraordinária de viver cristãmente. Medite cada um no que Deus fez por si e no modo como correspondeu. Se formos valentes nesse exame pessoal, perceberemos o que nos falta. Ontem me comovia ao ouvir falar de um catecúmeno japonês que ensinava catecismo a outros que ainda não conheciam Cristo. E envergonhava-me... Necessitamos de mais fé , mais fé! E, com a fé, a contemplação. 

Recordemos com fé aquela divina advertência que enche a alma de inquietação e, ao mesmo tempo, lhe sabe a favo de mel: Redemi te, et vocavi te nomine tuo: meus es tu (Is 43,1) - 'Eu te redimi e te chamei pelo teu nome: tu és meu!' Não roubemos a Deus o que é seu. Um Deus que nos amou a ponto de morrer por nós, que nos escolheu desde toda a eternidade, antes da criação do mundo, para sermos santos na sua presença e que continuamente nos oferece ocasiões de purificação e de entrega. Caso ainda tenhamos alguma dúvida, há outra prova que recebemos de seus lábios: Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi para irdes e dardes fruto; e para que permaneça abundante esse fruto do vosso trabalho de almas contemplativas (cf Jo 15, 16). Portanto, fé, fé sobrenatural. 

(Parte III da Homilia 'Rumo à Santidade', pronunciada em 26/11/1967, por São Josemaria Escrivá)

sábado, 23 de junho de 2018

NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA


Além de Jesus e de Maria, apenas o nascimento de João Batista (24 de junho) é comemorado pela Santa Igreja Católica, glória ímpar para aquele que foi aclamado, pelo próprio Cristo, como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11).

'Houve um homem mandado por Deus. Seu nome era João… Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz' (Jo 1,6-8)

'Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente. Ele preparará o teu caminho diante de ti' (Mt 11,7).

'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo' (Lc 1,41)

'Eu sou a voz que clama no deserto: aplainai o caminho do Senhor' (Is 40,3)


'Eu vos batizo com água, mas vem Aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias; Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo' (Lc 3, 16).