quarta-feira, 2 de agosto de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (XVII)

A 15ª objeção já foi respondida anteriormente; tratemos aqui a 16ª objeção*, pedindo um texto que prove que devemos jejuar nas sextas-feiras. É uma objeção ridícula, pois é sabido por todos que o preceito do jejum nas sextas-feiras não existe senão no tempo da quaresma. O que existe geralmente, pela lei da Igreja, é a abstinência de carne nas sextas-feiras.

I. A razão de ser

A Igreja, ciosa de seguir em tudo as prescrições e os conselhos do divino Mestre, prescreveu o jejum e a abstinência, como penitência, em certos dias do ano. O jejum consiste em privar-se de uma parte dos alimentos habitualmente usados, e refere-se à quantidade do mesmo alimento. A abstinência consiste em privar-se de carne em certos dias, por espírito de penitência, e refere-se, pois, à qualidade do alimento.

Jesus Cristo prescreve o jejum sem indicar o dia deste jejum; aconselha esta prática como meio de alcançar o perdão das faltas, de expiá-las e de domar as paixões da carne. Tudo isto está claramente indicado na Bíblia. Não tendo Jesus indicado o tempo, nem o dia destas penitências, cabe à Igreja determiná-los, para que os preceitos e os conselhos do Salvador não fiquem esquecidos. Percorramos, meu caro crente, os exemplos, os conselhos e preceitos do jejum, indicando bem os passos, para que o amigo os possa verificar em sua bíblia.

II. Preceito do jejum

Digo logo, para espantar o meu amigo crente, que o jejum constitui não simplesmente um conselho ou uma lei eclesiástica, mas sim uma lei divina, como a oração e a esmola. A prova é simples: o que Jesus Cristo une num mesmo preceito, deve possuir a força deste preceito. Ora, lemos em São Mateus que o Salvador fez três preceitos para cumprir a lei e as profecias: esmolas, oração e jejum.

O capítulo VI de São Mateus é a majestosa exposição desta verdade. Jesus Cristo diz ao terminar: 'quando jejuardes, não vos mostreis tristes... Ungi a vossa cabeça e lavai o vosso rosto... Para não parecer aos homens que jejuais, mas a vosso Pai, que vos recompensará' (Mt 6, 17-18). Em outro lugar o Salvador ensina que há tentações que só se combatem à força de oração e do jejum (Mt 17, 20). Ora, todos nós somos tentados. Todo homem é tentado pela sua própria concupiscência, diz São Tiago (Tg 1, 14). Para resistir a estas tentações precisamos, pois, recorrer à oração e ao jejum. Eis já o quanto é claro e irrefutável. Examinemos agora se o tal preceito foi praticado pelo próprio Salvador.

III. Exemplo de Jesus Cristo

O grande modelo a imitar é Jesus Cristo. Ele é o caminho: Ego sum via, veritas et via (Jo 14, 6) e, seguindo o seu exemplo, não podemos nos enganar. Ora, lemos em São Mateus, que antes de iniciar a sua grande obra – a fundação da Igreja – o Salvador foi conduzido ao deserto, onde jejuou durante quarenta dias e quarenta noites (Mt 4, 12). Como é que os amigos protestantes, que pretendem seguir a Bíblia à risca, não imitam a Jesus Cristo jejuando, em vez de atacarem o jejum praticado pelos católicos, em imitação do seu divino modelo? 

Que contradição! A Bíblia está repleta de exemplos de jejum. Em toda parte, em todas as necessidades encontramos a oração e o jejum, como duas práticas inseparáveis, para aplacar a Deus e obter os seus benefícios. O jejum é como o sustento da oração. É boa a oração acompanhada de jejum, diz Tobias (Tb 12, 8). 'Voltei meu rosto para o Senhor, meu Deus, para o rogar, o conjurar em jejuns', diz Daniel (Dn 9, 3-4). O ímpio Acab, provocando a justiça de Deus, por causa da vinha de Nabot, jejuou coberto de um cilício e alcançou certa indulgência. Os ninivitas, urgidos que fizessem penitência, observavam o jejum, para alcançarem a clemência de Deus, etc.

IV. A origem da quaresma

A quaresma, ou os quarenta dias de jejum, praticados na Igreja Católica, foi instituída pelos apóstolos, em lembrança ao jejum de Jesus Cristo. A prova desta asserção encontra-se na regra traçada por Santo Agostinho: 'Toda prática', diz ele, 'recebida por toda a Igreja e cuja origem não pode ser atribuída, nem a um bispo, nem a um papa, nem a um concílio, deve ser considerada como uma instituição apostólica'.

Ora, a quaresma foi sempre observada por todas as nações cristãs e não se pode remontar a sua origem a uma instituição humana, posterior aos tempos dos apóstolos; logo foi instituída por eles. Os amigos protestantes dizem que tal prática foi instituída pelo Concílio de Niceia. É falso, pois o Concílio de Niceia realizou-se em 325, e encontramos, já nos escritos de Tertuliano e de Orígenes, no ano 200, a menção positiva da quaresma.

São Jerônimo, no ano 400, escreveu: 'segundo a instituição apostólica, observamos um jejum de 40 dias' (Ep. ad Marcel.). São Leão é mais positivo ainda: 'foram os apóstolos' – diz ele – 'que, por inspiração do Espírito Santo, estabeleceram a quaresma'. 'Jejuamos em qualquer outro tempo' – diz também Santo Agostinho – 'se quisermos, mas, durante a quaresma, pecamos, se não jejuamos'. Eis, pois, bem demonstrado que a quaresma é uma instituição dos apóstolos, instituída por eles, talvez por ordem ou conselho de Jesus Cristo, para imitar e lembrar o jejum de 40 dias do próprio Salvador.

V. O jejum na antiga e nova lei

O jejum da sexta-feira, como já disse, não existe senão na cabeça do protestante à cata de objeções; mas se existisse, teria ainda sua razão de ser, o seu fundamento. Este fundamento seria a lei da Igreja.
A Sagrada Escritura prova a necessidade do jejum, sem determinar os dias deste jejum. Os apóstolos instituíram a quaresma. A Igreja de Jesus Cristo possui uma autoridade divina, igual à autoridade dos apóstolos, pois o papa é o legítimo sucessor dos apóstolos. É, pois, inegável que o papa possa prescrever jejuns ou suprimi-los, em certos dias, para um fim útil ou conveniente. 

O jejum, como mortificação do corpo, é um preceito divino; o modo prático de exercê-lo deve ser regulamentado pela Igreja, por lei eclesiástica, que obriga a consciência. A Igreja recebeu de seu divino fundador o poder de legislar, ou formar leis: tal poder pertence necessariamente à autoridade de governar que São Pedro recebeu do Salvador: Dixis ei (Pedro): Pasce oves meas (Jo 21, 17). Não se pode negar este poder à autoridade eclesiástica, tanto mais que a lei antiga dava este poder a seus chefes, como lemos na Bíblia. 

Josafá fez publicar um jejum em toda a Judeia (II Cr 20, 3), o que foi aprovado pelo Senhor, que lhe concedeu o favor implorado. Esdras publicou também um jejum pela feliz jornada dos judeus que voltaram do cativeiro da Babilônia: 'publiquei um jejum ... por isso jejuamos e invocamos nosso deus, e Ele nos ouviu' (I Esd 8, 21 e 23). Jeremias publicou igualmente um jejum em Jerusalém, para toda a multidão vinda de Judá, a fim de aplacar as vinganças do Senhor (Jer 36, 9). O profeta Zacarias faz menção de quatro jejuns, ordenados por Deus (Zc 3, 19). Eis como a Igreja do antigo testamento preceituava o jejum e determinava o tempo e o modo de praticá-lo, por ordem divina. É, pois, lógico que a Igreja do novo Testamento goze do mesmo poder de que gozava a Igreja antiga, que era apenas o esboço, o símbolo e a imagem da Igreja de Cristo.

VI. A abstinência da carne

Devemos, pois, concluir que a Igreja tem o direito de impor, em certos dias determinados, o dever de jejuar e de abster-se de certos alimentos por lei positiva do direito eclesiástico. Se tem o poder de prescrever o jejum, deve ter também o poder de prescrever a abstinência de certos alimentos. Tal abstinência não é novidade; existiu na lei antiga, como existe hoje na Igreja Católica.

Os próprios apóstolos prescreviam tal abstinência. 'Abster-vos-ei de das carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue e dos animais sufocados', dizem os Atos (At 15, 29). Se os apóstolos prescrevem de abster-se de certas carnes, podem naturalmente prescrever tal abstinência em tempos e dias marcados, como faz a Igreja, prescrevendo em certos países a abstinência de carne, nas sextas-feiras, em lembrança da morte do divino Salvador. É claro, é simples e incontestável.

VII. Conclusão

A conclusão é irrefutável. A Igreja Católica, fiel aos ensinamentos da Bíblia, apoia-se em todas as suas doutrinas sobre o texto sagrado, e faz dele o pedestal divino dos dogmas, da moral e até das cerimônias de culto. O protestantismo, pelo contrário, limita-se a exaltar a Bíblia, e na prática afasta-se completamente dos ensinos da mesma Bíblia.

Jejuar e abster-se de certos alimentos é uma prática que vem do começo da humanidade; pouco importa que o protestante proteste, porque a sua lei e a base do seu credo é protestar contra a verdade católica. Se a Igreja proibisse o jejum e a abstinência, os amigos protestantes citariam centenas de textos para provar que o jejum e a abstinência são preceitos divinos. E estes textos poderiam ser encontrados, de fato. A Igreja, firme na resolução divina, sustenta a verdade; e o protestante, embora não encontre nenhum texto, absolutamente nenhum, contra o jejum e a abstinência, protesta e quer textos que provem que se deve jejuar nas sextas-feiras. 

É ridículo! É como se pedissem textos que provem que a gente deve deitar-se e dormir de noite. O sono da noite é lógico: é o descanso das fadigas do dia; e tal como sono não precisa de textos para ser desejado e efetuado pelos protestantes como pelos católicos. Eis os textos, caro crente. Queira lê-los, meditá-los e compreendê-los, e, em vez de protestar, faça também seu pequeno jejum nas sextas-feiras, com uma abstinência de carne para honrar a morte do Salvador e alcançar o perdão da sua incorrigível mania de protestar contra a lei divina!

* Estas 'objeções' foram propostas por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

terça-feira, 1 de agosto de 2017

01 DE AGOSTO - SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO


'Quem reza se salva, quem não reza se condena!'

Hoje é o dia da celebração da festa de Santo Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação do Santíssimo Redentor e autor de 'Glórias de Maria', obra prima de devoção mariana. Nasceu em Marianella, pequena comunidade próxima a Nápoles, em 27 de setembro de 1696, de família nobre e, aos 16 anos, já era doutor em direito civil e canônico. Abandonando uma promissora carreira de advogado, consagrou-se a Nossa Senhora e ordenou-se sacerdote em 1726. Em 09 de novembro de 1732, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor. Em 1762, foi nomeado Bispo de Santa Ágata dos Godos, cidade perto de Nápoles, retornando à devoção exclusiva à sua ordem somente em 1775. Faleceu no dia 1º de agosto de 1787, aos 91 anos, sendo canonizado pelo Papa Gregório XVI em 1839; Pio IX o declarou Doutor da Igreja em 1871 .

A santificação não é um processo único e específico, mas todos os santos têm em comum um extraordinário senso de auto-sacrifício e uma devoção ardente à Vontade Divina. Santo Afonso correspondeu à graça vencendo dolorosas doenças, perseguições e tentações.  A pior de todas as suas doenças foi um ataque terrível de febre reumática durante o seu episcopado, que durou de maio de 1768 a junho de 1769, que o deixou paralisado até o fim de seus dias. Por esta razão, a sua imagem é comumente retratada com seu queixo avançando proeminente em direção ao peito, reflexo da violenta curvatura que dobrou sua coluna vertebral para a frente e que limitava enormemente seus movimentos. As perseguições vieram principalmente do seu zelo fervoroso no combate às heresias do jansenismo e as tentações surgiram principalmente no final de sua vida quando, ao longo de três anos, passou por terríveis provações e diabólicas tentações contra todas as suas virtudes.

Tão notável quanto a intensidade com que Santo Afonso trabalhou é a enorme quantidade de trabalhos que produziu, sendo que esta prodigiosa coleção de obras teve início quando o santo já contava com cerca de 50 anos de idade. O primeiro esboço de sua obra 'Teologia Moral', por exemplo, só apareceu por volta de 1748. Entre o grande número de suas obras dogmáticas e ascéticas, 'Glórias de Maria', 'A Selva' e 'Meditações para Todos os Dias e Festas do Ano' são as mais conhecidas. Foi também poeta, músico e até pintor (o crucifixo abaixo foi pintado pelo santo). Amparava-se no princípio de não ser admissível perder um único momento do seu tempo em render graças a Deus, como ilustrado exemplarmente neste seu sermão sobre o valor do tempo.

VALOR DO TEMPO

Fili, conserva tempus et devita a malo: 'Filho, guarda o tempo e evita o mal' (Ecl. 4, 23)

Sumário. Um só momento de tempo vale tanto como Deus, porque o homem pode a cada instante, por um ato de contrição ou de amor, adquirir a graça de Deus e aumentar a glória eterna. E tu, meu irmão, em que empregas o tempo tão precioso? Porque adias sempre para amanhã o que podes fazer hoje?... Reflete que o tempo passado já não te pertence; que o futuro não está em tua mão. Só tens o tempo presente para fazeres o bem, e este é brevíssimo! Mister é, pois, que o aproveites depressa, se não o quiseres chorar depois como perdido irremediavelmente.

I. Meu filho, diz o Espírito Santo, sê cuidadoso em conservar o tempo, porque é a coisa mais preciosa e o maior dom que Deus pode dar ao homem na terra. Até os próprios pagãos sabiam o que vale o tempo. Dizia Sêneca que não há valor igual ao do tempo: Nullum temporis pretium. Os Santos, porém, avaliaram muito melhor ainda o valor do tempo. Diz São Bernardino de Sena que um só momento vale tanto como Deus; porque o homem pode a cada instante, por um ato de contrição ou de amor, adquirir a graça de Deus e aumentar a glória eterna: Tempus tantum valet, quantum Deus.

O tempo é um tesouro que só se acha nesta vida; não se encontra na outra, nem no inferno, nem no céu. No inferno o grito contínuo dos réprobos é este: Oh, si daretur hora! 'Oxalá se nos desse uma hora!' Comprariam por todo o preço uma hora de tempo, que lhes bastaria para reparar a sua ruína; mas essa hora não a terão mais. No céu não há tristeza; mas se os bem-aventurados pudessem estar tristes, a sua única tristeza seria de terem perdido tempo nesta vida, tempo em que podiam adquirir maior glória e que não existe mais para eles.

Uma religiosa beneditina apareceu, depois da morte, com a auréola da glória, a uma pessoa e disse-lhe que estava plenamente contente; mas, se pudesse desejar alguma coisa, seria voltar à terra e sofrer para merecer mais glória. Acrescentou que de boa mente consentiria em sofrer até o dia do juízo a doença dolorosa que tinha sofrido antes de morrer, para adquirir a glória que corresponde ao merecimento de uma só Ave-Maria. - 'E tu, meu irmão, em que empregas o tempo? Porque adias sempre para amanhã o que podes fazer hoje?'

II. Reflete que já não te pertence o tempo passado; que o futuro não está em teu poder: só tens o tempo presente para praticares o bem. Pelo que te avisa São Bernardo: 'Desgraçado! como ousas contar com o futuro, como se Deus tivesse posto o tempo à tua disposição?' E Santo Agostinho acrescenta: 'Diem tenes, qui horam non tenes?' ('Como te podes prometer o dia de amanhã, se nem sequer sabes se te é dada mais uma hora de vida?') Em suma, conclui Santa Teresa: 'Se não estás pronto hoje para a morte, teme morrer mal'.

Ó meu Deus, agradeço-Vos o tempo que me dais para reparar as desordens da minha vida passada. Se chegasse a morte neste momento, uma das minhas maiores penas seria pensar no tempo que perdi. Ah! meu Senhor, destes-me o tempo para Vos amar, e empreguei-o em Vos ofender! Merecia ser enviado ao inferno desde o instante em que Vos voltei as costas; Vós, porém, me chamastes à penitência e me perdoastes. Prometi nunca mais ofender-Vos, mas quantas vezes tornei a injuriar-Vos, e Vós ainda me perdoastes! Bendita seja para sempre a vossa misericórdia! Se não fosse infinita, como poderíeis suportar-me tanto tempo? Quem poderia ter para comigo a paciência que Vós tivestes? Quanto sinto ter ofendido um Deus tão bom!

Meu amado Salvador, a vossa paciência para comigo deveria ser suficiente para me inflamar de amor para convosco. Por quem sois, não permitais que viva por mais tempo ingrato ao amor que me haveis dedicado. Desligai-me de tudo, e atraí-me todo ao vosso amor. Não, meu Deus, não quero perder outra vez o tempo que me dais para reparar o mal que fiz; quero empregá-lo todo em vosso serviço e em vosso amor. Fortalecei-me, dai-me a santa perseverança. Amo-Vos, ó bondade infinita, e espero amar-Vos sempre. Graças vos dou, ó Maria! Tendes sido a minha advogada para impetrar-me o tempo que estou gozando. Assisti-me agora, e fazei que o empregue sem reserva a amar o vosso divino Filho, meu Redentor, e a vós, minha Rainha e minha Mãe (II 50).

Santo Afonso Maria de Ligório: 'Valor do tempo' em Meditações para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II. Herder & Cia, 1921, p. 252-254, disponível em www.obrascatolicas.com

Santo Afonso de Ligório, rogai por nós!

segunda-feira, 31 de julho de 2017

31 DE JULHO - SANTO INÁCIO DE LOYOLA


Ad Maiorem Dei Gloriam 

Para a Maior Glória de Deus

O fundador da Companhia de Jesus e autor dos 'Exercícios Espirituais' buscou a via da santidade pelo completo despojamento de si, pelo abandono completo de sua vontade aos desígnios da Divina Providência, abstraindo-se de todo comodismo humano na sua caminhada espiritual para Deus. Eis aí a santidade das atitudes extremas, das decisões moldadas por uma fé intrépida, pela ação de um 'sim' sem rodeios ou incertezas. Uma vida de conversão e de entrega generosa a Deus, testemunho eloquente da fé cristã coerente e tenaz, levada às últimas consequências. 

Inácio Lopez nasceu na localidade de Loyola, atual município de Azpeitia, no País Basco/Espanha, em 31 de maio de 1491. De família rica, levou vida mundana até ser ferido gravemente numa perna na batalha de Pamplona. Na longa convalescença e pela leitura da vida de grandes santos, decidiu abandonar os bens terrenos e viver para a glória de Deus, quando tinha então 26 anos. Entre 1522 a 1523, escreveu os chamados 'Exercícios Espirituais', uma síntese de sua própria conversão e método de evangelização para uma vida espiritual em plenitude. Em 1528, ingressou na Universidade de Paris e a 15 de agosto de 1534, com mais seis companheiros, entre eles São Francisco Xavier, fundou a Companhia de Jesus, tornando-se sacerdote e assumindo o cargo de superior-geral da ordem jesuítica em 1540, com a aprovação do Papa Paulo III. Santo Inácio morreu em Roma, em 31 de julho de 1556, aos 65 anos de idade. Foi canonizado em 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV. Em 1922, o Papa Pio XI declarou Santo Inácio padroeiro dos Retiros Espirituais.

ORAÇÃO DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA

Tomai Senhor, e recebei
Toda minha liberdade,
A minha memória também.
O meu entendimento
E toda minha vontade.
Tudo que tenho e possuo,
Vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes,
Com gratidão vos devolvo:
Disponde deles, Senhor,
Segundo vossa vontade.
Dai-me somente 
O vosso amor, vossa graça.
Isto me basta,
Nada mais quero pedir.

ASSIM É A PALAVRA DE DEUS...

A Palavra de Deus é:

INFALÍVEL

'Está próxima a ruína de Nínive, porque a palavra de Deus não falha; os nossos irmãos, que foram dispersos para longe da pátria de Israel, voltarão para ela' (Tb 14, 6).

DOCE

'experimentaram a doçura da palavra de Deus e as maravilhas do mundo vindouro e, apesar disso, caíram na apostasia' (Hb 6, 5) 

DEMOLIDORA

'A palavra de Deus faz calar o vento; só com o seu pensar apazigua o abismo, no meio do qual o Senhor plantou as ilhas' (Eclo 43, 25).

VERDADEIRA

'Toda a palavra de Deus é provadaé um escudo para quem se fia nele' (Pv 30, 5).

FIEL

'porque a palavra do Senhor é reta, em todas as suas obras resplandece a fidelidade' (Sl 32,4)

VIVIFICANTE

'Jesus respondeu: Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de Deus' (Lc 4, 4). 

LIBERTADORA

'pelo qual estou sofrendo até as cadeias como um malfeitor. Mas a palavra de Deus, esta não se deixa acorrentar' (II Tm 2, 9).

CURATIVA

'Não foi uma erva nem algum unguento que os curou, mas a vossa palavra que cura todas as coisas, Senhor' (Sb 16, 12).

PURA

'Os caminhos de Deus são perfeitos; a palavra do Senhor é pura. Ele é o escudo de todos os que nele se refugiam' (II Sm 22, 31). 

EFICAZ 

'Por isso é que também nós não cessamos de dar graças a Deus, porque recebestes a palavra de Deus, que de nós ouvistes, e a acolhestes, não como palavra de homens, mas como aquilo que realmente é, como palavra de Deus, que age eficazmente em vós, os fieis' (I Ts 2, 13). 

VIVA E PENETRANTE

'Porque a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração' (Hb 4, 12). 

SALVADORA

'Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus' (Ef 6, 17).

VIVA E ETERNA

'Pois fostes regenerados não duma semente corruptível, mas pela palavra de Deus, semente incorruptível, viva e eterna' (I Pd 1, 23).

domingo, 30 de julho de 2017

O REINO DE DEUS (II)

Páginas do Evangelho - Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum


No Evangelho deste Domingo, contemplamos ainda os ensinamentos de Jesus sobre o verdadeiro sentido do Reino de Deus, por meio de parábolas manifestadas à multidão reunida à sua volta, às margens do mar da Galileia. Nesta temática comum a todo o Capítulo 13 do Evangelho de São Mateus, Jesus já lhes havia dado a conhecer a natureza do Reino por meio das parábolas do campo semeado de trigo e de joio, da semente de mostarda e da porção de fermento. Na continuação de sua pregação, Jesus lhes fala do Reino dos Céus por meio de outras três parábolas. 

'O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo' (Mt, 13, 44). Eis a verdadeira riqueza deste mundo: buscar, no anonimato e no escondimento aos rumores e apelos mundanos, a vida da graça em plenitude, nas obras de uma vida simples, na alegria do autêntico exercício da fé cristã, nos pequenos atos de amor, no cotidiano de uma vida entregue e consagrada à Deus.

'O Reino dos Céus é também como um comprador que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola' (Mt 13, 45 - 46). Eis o mesmo tesouro, que tem valor de eternidade, expresso agora como a pérola mais preciosa. Pérola única, especialíssima, pois a Verdade de Deus é única, definitiva, indivisível. Implica, pois, ao homem, buscá-la, empreendendo todos os esforços e persistência em encontrá-la. E, quando a encontra, passa a possuir a própria Verdade de Deus, a maior riqueza deste mundo. 

'O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam' (Mt 13, 47 - 48). A busca da pérola preciosa é possível a todos os homens, e lhes é dado igualmente o 'mapa do tesouro': o caminho de santificação pautado numa vida consagrada à Deus. Mas, como o trigo e o joio, peixes bons e imprestáveis serão ponderados pelos 'pescadores' no dia do Juízo, na definitiva separação dos justos e dos pecadores obstinados. Uns, para o Reino de Deus, que já subsiste nos corações do justos; os outros para a condenação eterna, na fornalha de fogo eterno, onde só 'haverá choro e ranger de dentes' (Mt 13, 50).

sábado, 29 de julho de 2017

FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (VIII)

36. Por que Nossa Senhora permitiu a Visão do Inferno às três crianças?

Porque o Primeiro Segredo tinha como foco a salvação pessoal do homem e Nossa Senhora queria comunicar à humanidade pecadora o valor incomensurável da oração, dos sacrifícios e penitências dos Filhos de Deus como instrumentos da graça divina para a reparação dos pecados e escudo contra a perda eterna de milhões de almas: 'Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes e em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria'.

A salvação de muitíssimas almas que não se salvariam por si próprias depende das orações e dos sacrifícios dos bons e das penitências dos santos! É preciso rezar, portanto, por aqueles que não rezam; é preciso fazer sacrifícios por aqueles que se perdem nos prazeres do mundo; é preciso fazer penitência como desagravo a tantos pecados cometidos contra os mistérios da graça divina. Nossa Senhora está dizendo: preciso de almas fieis, preciso de santos! Com eles e por meio deles, as graças divinas continuam fluindo pelos abismos do mundo e resgatando muitas almas que poderiam parecer, a princípio, irremediavelmente perdidas. A misericórdia divina é infinita, mas demanda como contrapartida o amor humano: as talhas precisam estar cheias de água para que sejam transformadas em vinho! O preço de uma alma perdida é infinito e a sua perda gera um dano infinito e, por isso, é que o inferno é o Inferno...



37. Como ocorreu a Visão do Inferno para as crianças?

No processo de santificação pessoal, o ser humano é levado a experimentar graças divinas tão excepcionais que abandona completamente os valores do mundo para passar a viver uma vida espiritual plena. Esse estado pode ser o que Santa Teresa de Ávila chamou de 'quarta morada', pode ser a pequena via de Santa Teresa de Lisieux, pode ser a passagem pela 'noite escura dos sentidos' de São João da Cruz. No caso dos três pastorinhos de Fátima, esta 'passagem pela noite escura' foi a Visão do Inferno. Por meio de uma visão ao mesmo tempo tão extraordinária e tão impressionante, as crianças alcançaram a santificação quase que imediata, tornando-se extremamente fervorosas na prática da oração e da penitência, pela salvação dos pecadores.

Trata-se de uma via tão excepcional de santificação que exigiu uma abordagem excepcional. Não seria possível às três crianças (e a qualquer ser humano) ter uma visão direta do Inferno, sem a intercessão divina. As crianças viram o Inferno sob a infusão especialíssima da graça divina e amparados pela presença de Nossa Senhora; com efeito, as três crianças viram o Inferno sob a proteção segura dos reflexos da luz divina que espargiam das mãos abertas de Nossa Senhora. 

Por outro lado, Nossa Senhora já havia assegurado anteriormente às crianças que as levariam para o Céu (na Segunda Aparição), após pedido neste sentido de Lúcia: 'Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu'. – 'Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo'. Sem esta revelação explícita de Nossa Senhora e sem a infusão da luz divina, as crianças teriam simplesmente morrido de pavor diante de uma visão tão espantosa.

38. Quais foram os impactos da Visão do Inferno sobre as crianças?

Os impactos foram tão tremendos que levaram as crianças a partilharem, a partir de então, uma contínua e sistemática prática de penitências e atos de mortificação e a repetirem, até a exaustão, a oração ensinada por Nossa Senhora. Isto é extremamente espantoso ao se levar em conta que estamos falando de três crianças, com idades de 7, 9 e 10 anos! Os testemunhos de Lúcia sobre a ação dos seus primos a este respeito dão uma ideia clara dessa imersão espiritual tremenda das crianças nos mistérios da graça [excertos da obra 'A Verdadeira História de Fátima', do Pe. João de Marchi]:

Numa dada ocasião, cuidando das ovelhas, as crianças sentiram muita sede num dia particularmente quente. Em vez de se queixar, a Jacinta, que tinha apenas 7 anos, parecia feliz. 'Que bom!' – dizia ela – 'Tenho tanta sede! Mas ofereço tudo pela conversão dos pecadores'. Lúcia foi pedir água a uma casa ali perto e voltou com uma jarra. Ofereceu a água em primeiro lugar ao Francisco. que respondeu: 'Não quero beber. Quero oferecer o sacrifício pela conversão dos pecadores'. 'Bebe tu, Jacinta!' ao que a menina respondeu: 'Também quero oferecer este sacrifício pelos pecadores'. Lúcia derramou, então, a água na concavidade de uma pedra para que as ovelhas a bebessem e foi devolver a vasilha à sua dona.

Jacinta sentiu-se então muito fraca e parecia quase a desfalecer. O barulho rítmico das cigarras, dos grilos e das rãs soavam em seus ouvidos como um barulho ensurdecedor. Com a cabecinha dolorida entre as mãos, não se aguentava mais: 'Dói-me tanto a cabeça! Diz aos grilos e às rãs que se calem!' Francisco a interpelou então: 'Não queres sofrer isto pelos pecadores?' A menina foi taxativa na resposta: 'Sim, quero. Deixa-os cantar!' 


A ideia do Inferno e das almas que sofriam no meio do fogo encheu de tal modo a mente da Jacinta que ela se esforçava inutilmente por compreender a causa de tão terrível castigo. E questionava então a prima mais velha: 'Ó Lúcia, que pecados são estes que essa gente faz para ir para o Inferno?' – ''Não sei! Talvez o pecado de não ir à missa aos domingos, de roubar, de dizer palavras feias, rogar pragas, jurar…” – 'E assim, por uma palavra, vão para o Inferno?' – 'Se essa palavra for um grande pecado…' Jacinta ficava então mortificada: 'Que lhes custavam estarem calados e irem à missa? Que pena que eu tenho dos pecadores! Se eu pudesse mostrar-lhes o Inferno!'

39. Qual é a mensagem de Fátima relativa ao Primeiro Segredo para nós cristãos?

Essencialmente, atuarmos no mundo, independentemente de idade, condição ou lugar, como testemunhas fieis do nosso batismo e apostolado cristãos. Milhares de almas estão se perdendo para sempre no Inferno todos os dias, porque não há quem reze ou se sacrifique pela salvação delas. As três crianças, que mal tinham entrado na idade da razão, aprenderam de Nossa Senhora o que podiam fazer neste sentido: ficaram sedentas, fizeram jejum e se empenharam duramente em fazer orações, penitências e sacrifícios pelos pecadores.

Na Primeira Aparição, Nossa Senhora já os havia convocado a este chamado da graça: 'Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores?' – 'Sim, queremos' – 'Ide, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto', foi a resposta da Senhora. Este diálogo é a síntese do primeiro Segredo que foi revelado na Terceira Aparição, dirigido às crianças e a todos nós, cristãos. A Mensagem de Fátima nos conclama a responder, tal qual os pastorinhos, a este chamado dos Céus, aqui e agora: 'Quereis oferecer-vos a Deus...?' O que temos feito efetivamente pela salvação das almas?

40. Qual era a situação em Fátima a esta altura dos acontecimentos?

As notícias sobre as aparições já haviam se espalhado pela região e chegado inclusive a nível nacional de divulgação pela grande imprensa. O primeiro jornal a noticiar, em âmbito nacional, os eventos ocorridos na Cova da Iria foi 'O Século', principal diário de Lisboa e fundado em 1881, na edição de 23 de julho de 1917, com um título bastante sarcástico: 'Uma embaixada celestial… especulação financeira?' Esta primeira reportagem consistiu no relato de um correspondente regional que, após mencionar as aparições ocorridas e as opiniões de pessoas presentes em Fátima, concluiu que por trás daquelas manifestações, podia estar 'uma premeditada especulação financeira, cuja fonte de receita existe nas entranhas da serra, em qualquer manancial de águas minerais' [?], recentemente descobertas [Documentação Crítica de Fátima, p. 34]. O jornal 'O Mensageiro' de Leiria, que possuía então apenas dois anos e meio de criação, republicou na íntegra o texto do diário 'O Século', apenas com o título alterado para 'Aparição Miraculosa?', na sua edição de 25 de Julho de 1917.


Assim, particularmente após a aparição de julho, ocorreu um aumento significativo do fluxo de peregrinos e de curiosos para Fátima, oriundos de todas as regiões de Portugal. As consequências imediatas deste estado de coisas foi a promoção de uma mudança completa dos hábitos locais; o grande afluxo de pessoas gerou a necessidade de uma adaptação da infraestrutura local e afetou a paz da região e, muito particularmente, o sossego e o recolhimento das crianças, que eram sempre o alvo da investida de todos e em todas as ocasiões.

A posição da Igreja não era muito diferente então. Com raríssimas exceções, os padres que se deslocavam à Fátima viam as aparições com absoluto ceticismo e muitas vezes até com hostilidade. O próprio Padre Manuel Marques Pereira, pároco de Fátima à época das aparições e que conduzia pessoalmente interrogatórios aos videntes sobre os fatos (por exemplo, os interrogatórios com Lúcia e Jacinta sobre a Terceira Aparição ocorreram no dia 14 de julho de 1917), era ainda bastante incrédulo em relação aos acontecimentos da época. Não muito diferente era a percepção destes fatos pelos pais dos videntes e pelos demais moradores de Aljustrel.

MEDITAÇÕES PARA A SEMANA (SÃO JOÃO BOSCO) - VII

Sábado

O Paraíso

De joelhos, dizei:

'Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por Vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim'.

I. Quanto mais espanta a consideração do Inferno, tanto mais consola a do Paraíso, que foi preparado por Deus para todos os que O amam e O servem na vida presente. Para fazeres uma ideia dele, imagina uma noite serena. Que belo é o céu, com tanta multidão e variedade de estrelas! Umas são maiores que outras; enquanto algumas delas aparecem pelo Oriente, outras desaparecem no Ocidente, sendo muito variadas no que diz respeito ao tamanho, cor, etc.

Mas todas elas se movem, na imensidão do espaço, com admirável harmonia e segundo a vontade de Deus, seu Criador. Imagina ademais que a luz do sol te deixe ver durante um belo dia a lua e as estrelas que há no firmamento; imagina também tudo o que há de precioso no mar, na terra, nos diversos países, nas cidades e nos palácios dos reis e monarcas de todo o mundo; acrescenta a isto as mais finas bebidas, os alimentos mais saborosos, a música mais doce, a harmonia mais suave. Pois tudo isso é nada, comparado com a excelência dos bens e dos gozos do Paraíso! Quanto devemos desejar a posse daquele lugar, onde se gozam todos os bens, sem mescla alguma de mal! A alma bem-aventurada só poderá exclamar: 'Eu me saciarei com a visão da vossa glória' (Sl 16,15).

II. Considera, ademais, a alegria que tua alma sentirá ao entrar no Paraíso. Sairão a recebê-la teus parentes e amigos, e ali verás a nobreza e beleza dos Querubins e Serafins, de todos nos Anjos e de todos os Santos, que em multidão louvam a seu Criador. Verás também os Apóstolos, o imenso número de Mártires, Confessores e Virgens, e ademais uma grande multidão de jovens que se conservaram puros e por isso cantam a Deus um hino de glória inefável. Oh! quanto gozam naquele Reino os bem-aventurados! Estão sempre alegres, pois não padecem o menor sofrimento, nem penas que venham turbar sua paz e contentamento.

III. Observa ademais, filho, que tudo isso não é nada em comparação com o grande consolo que sentirá a alma ao ver a Deus. Ele consola os Bem-aventurados com seu olhar amoroso e derrama em seu coração torrentes de delícias. Assim como o sol ilumina e embeleza todos os objetos aonde chega sua luz, assim Deus ilumina com sua presença todo o Paraíso e cumula seus felizes habitantes com prazeres inexprimíveis.

NEle, como num espelho, verás todas as coisas, gozarás de todos os prazeres da mente e do coração. Quanto, no Monte Tabor, São Pedro viu uma única vez o rosto de Jesus radiante de luz, foi cumulado de tanta doçura, que fora de si exclamou: 'É bom para nós estar aqui!' (Lc 9,33). Que alegria será então o contemplar, não por um instante, mas para sempre, a vista daquela face divina que apaixona os Anjos e os santos, e que embeleza todo o Paraíso!

E a formosura e a amabilidade de Maria, de quanto gozo inundará o coração dos bem-aventurados! 'Como são amáveis as tuas moradas, Senhor Deus dos Exércitos!' (Sl 83,2). Por isso, todos os coros de Anjos e todos os Bem-aventurados cantarão a sua glória, dizendo: 'Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos! A Ele toda a honra e toda a glória, por todos os séculos dos séculos'. Coragem, pois, meu filho! Algo terás que sofrer neste mundo, mas não importa! O prêmio que te espera no Paraíso compensará infinitamente todos os males que tenhas padecido na vida presente.

Que consolo será o teu quando te encontrares no Céu em companhia de parentes e amigos, dos Santos e dos Bem-aventurados, e puderes exclamar: 'Estou salvo e estarei para sempre com o Senhor!' Então bendirás o momento em que deixaste o pecado, em que fizeste uma boa confissão e começaste e frequentar os sacramentos. Bendirás o dia em que, deixando as más companhias, te entregaste à virtude. E, cheio de gratidão, te voltarás a teu Deus e Lhe cantarás louvores e glórias por todos os séculos dos séculos. Assim seja.