sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O VALOR DO SANGUE DE CRISTO

'Queres conhecer o valor do Sangue de Cristo? Voltemos às figuras que profetizaram e recordemos a narrativa do Antigo Testamento: Imolai, diz Moisés, um cordeiro de um ano e assinalai as portas com seu sangue. Que dizes, Moisés? O sangue de um cordeiro tem poder para libertar o homem racional? Certamente, responde ele, não porque é sangue, mas porque prefigura o Sangue do Senhor. Se hoje o inimigo, em vez de sangue simbólico aspergido nos umbrais, vir resplandecer nos lábios dos fiéis, portas dos templos de Cristo, o sangue da nova realidade, fugirá ainda para mais longe.

Queres compreender ainda mais profundamente o valor deste Sangue? Repara donde brotou e qual é a sua fonte. Começou a brotar da cruz, e a sua fonte foi o Lado do Senhor. Estando já morto Jesus, diz o Evangelho, e ainda cravado na cruz, aproximou-se um soldado, trespassou-Lhe o Lado com uma lança e logo saíram água e sangue: água como símbolo do Batismo, sangue como símbolo da Eucaristia. O soldado trespassou o Lado, abriu uma brecha na parede do templo e eu achei um grande tesouro e alegro-me por ter encontrado riquezas admiráveis. Assim aconteceu com aquele cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.

Do Lado saíram sangue e água. Não quero, estimado leitor, que passes inadvertidamente por tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico. Disse que esta água e este sangue simbolizavam o Batismo e a Eucaristia. Foi deste sacramento que nasceu a Igreja, pelo banho de regeneração do Espírito Santo, isto é, pelo sacramento do Batismo e pela Eucaristia que brotaram do Lado de Cristo, por conseguinte, que se formou a Igreja, como foi do lado de Adão que Eva foi formada.

Por esta razão, a Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão carne da minha carne, osso dos meus ossos, que São Paulo refere, aludindo ao Lado de Cristo. Pois assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, assim Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono da Sua morte.

Vede como Cristo se uniu à Sua Esposa, vede com que alimento nos sacia. O mesmo alimento nos faz nascer e nos alimenta... Assim como a mulher se sente impulsionada pelo amor natural a alimentar com o próprio leite e o próprio sangue o filho que deu à luz, assim também Cristo alimenta sempre com o Seu Sangue aqueles a quem deu o novo nascimento.' 

(Das Catequeses de São João Crisóstomo, ~350-407)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

DA EXCELÊNCIA DA ORAÇÃO (SÃO CIPRIANO DE CARTAGO)

Da Excelência da Oração Humilde:

Quem ora, queridíssimos irmãos, não deve ignorar como o publicano e o fariseu oravam no templo. Aquele não levantava descaradamente os olhos ao céu, nem erguia as mãos com insolência, mas implorava o auxílio da misericórdia divina batendo no peito e confessando os seus pecados íntimos. E enquanto o fariseu se comprazia em si mesmo, o publicano que assim rezava mereceu ser santificado, pois não havia posto a esperança da sua salvação na garantia da sua inocência – porque ninguém é inocente – mas na confissão humilde dos seus pecados; e Aquele que perdoa os humildes prestou ouvidos àquele que assim rogava.

Da Excelência da Oração do Pai-Nosso:

Que oração poderia ser mais espiritual do que aquela que nos foi dada por Cristo, que também nos enviou o Espírito Santo? Que súplica poderia ser mais eficaz junto ao Pai do que aquela que saiu da boca do Filho, que é a própria Verdade? Orar de modo diferente daquele que o Senhor nos ensinou não só seria ignorância, mas culpa, uma vez que Ele próprio o afirmou ao dizer: Rejeitais o mandamento de Deus para ater-vos à vossa tradição (Mt 15,6; Mc 7,8).

Portanto, queridíssimos irmãos, oremos como nos ensinou o nosso Mestre, Deus. É-lhe grato e familiar dirigirmo-nos a Ele com as suas próprias palavras, fazermos chegar aos seus ouvidos a oração do próprio Cristo. O Pai há de reconhecer as palavras do seu Filho quando lhe rogarmos com elas; Aquele que habita em nosso peito deve estar também em nossos lábios e como, além disso, Ele é intercessor pelos nossos pecados diante do Pai, convém que nós, pecadores, ao pedirmos perdão dos nossos delitos, nos sirvamos das palavras utilizadas pelo nosso Advogado. Com efeito, se Ele declara que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá (Jo 16,23), quanto mais eficaz não será a nossa súplica se pedirmos não somente em nome de Cristo, mas valendo-se da sua própria oração?

(Excertos da obra 'De oratione dominica', de São Cipriano, Bispo de Cartago)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

EXISTE (MUITO) PECADO AO SUL DO EQUADOR...

Nestes tempos de licenciosidade e relativismos mórbidos, em que tudo torna-se passível de questionamento geral e corriqueiro, a ideia de impor ou definir limites é irremediavelmente taxada de anacrônica ou obscurantismo 'medieval'. E, neste contexto de um mundo que perdeu completamente a noção do sagrado e do pecado, é perfeitamente compreensível, e até mesmo louvável, que 'não exista pecado ao sul do Equador...'

Neste contexto, o carnaval é o frenesi dos instintos e a apoteose da libertinagem. Mas um católico não poderia objetar que o pecado não está no carnaval, mas na carnavalização dos sentidos? Pode o pecado da ira não estar na ira? Pode o mal esconder-se ambiguamente atrás de algo intrinsecamente neutro? A questão de pecar ou não pecar envolve a relatividade do ato e do fato? De outra forma, as obras do espírito são frutos de suas operações ou, nas palavras de São Tomás de Aquino, operações e obras se correspondem como a edificação de uma casa para a casa edificada (Summa Theologiae).

Nada, absolutamente nada, nos atos humanos ou nas operações do espírito (ideias, juízos, imaginação, raciocínio), podem ser incondicionalmente neutras no âmbito da moral cristã: ou conduzem à maior glória de Deus ou nos afastam inexoravelmente da vida da graça: 'Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus' (I Cor 10, 31). E, assim, como a ira tornada ação, a ira entranhada é também pecado. Expor-se à ocasião do pecado já é pecado. O que se impõe, além disso, é meramente a questão da maior ou menor gravidade de um e de outro pecado.

Se nosso propósito é fazer tudo para a glória de Deus, na edificação cotidiana da casa, o que estaremos fazendo exatamente nestes dias em um bloco de carnaval? Investidos na supressão dos costumes formais, em meio à turba eufórica e excitada, subjugados pela onda avassaladora da licenciosidade dos sentidos? 

Ora, se numa discussão, eu me permito ser dominado pela cólera e, em vez de confrontá-la com a objeção do autocontrole e do discernimento, eu a admito tendo em vista um alardeado controle sobre os meus atos, ainda assim, não passo de um encolerizado pecador. Da mesma forma, ainda que seduzido ou enganado pelos rompantes de se buscar apenas diversão no carnaval, numa festa intrinsecamente contrária à moral cristã, você será apenas mais um folião na legião de pecadores. E, convenhamos que, para um católico, isso não é nada engraçado...  

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O DOM DA FORÇA

O dom de Ciência nos ensina o que devemos fazer e o que devemos evitar para estar de acordo com as intenções de Jesus Cristo, nosso divino Chefe. É preciso agora que o Espírito Santo estabeleça em nós um princípio, do qual possamos tomar a energia que deverá nos sustentar no caminho que Ele acaba de nos mostrar. Devemos, com efeito, contar com obstáculos e o grande número daqueles que sucumbem basta para nos convencer da necessidade de sermos ajudados. O socorro que o Divino Espírito nos comunica é o dom da Força pelo qual, se somos fiéis ao empregá-lo, será possível, e mesmo fácil para nós, triunfar sobre tudo o que possa deter nossa marcha.

Nas dificuldades e nas provações da vida, o homem é tanto levado à fraqueza e ao abatimento, quanto empurrado por um ardor natural, que tem sua fonte no temperamento ou na vaidade. Esta dupla disposição pouco ajudará na vitória dos combates pelos quais a alma deve passar para sua salvação. O Espírito Santo traz então um novo elemento como força sobrenatural, que lhe é tão próprio, que o Salvador, ao instituir seus Sacramentos, estabeleceu dentre estes um que tem por objeto especial nos dar esse Espírito divino como princípio de energia. Está fora de dúvida que tendo de lutar durante esta vida contra o demônio, o mundo e nós mesmos, precisamos de outra coisa para resistir, além da pusilanimidade ou da audácia.

Temos necessidade de um dom que modere em nós o medo e que, ao mesmo tempo, tempere a confiança que seríamos levados a ter em nós mesmos. O homem assim modificado pelo Espírito Santo certamente vencerá, pois a graça substituirá nele a fraqueza da natureza ao mesmo tempo em que corrigirá a impetuosidade. Duas necessidades encontram-se na vida do cristão: a de saber resistir e a de saber suportar. O que poderia se opor às tentações de Satã, se a Força do Divino Espírito não viesse cobri-lo de uma armadura celeste e fortalecer seu braço? O mundo não é também um adversário terrível, se considerarmos o número de vítimas que caem todos os dias pela tirania de suas máximas e de suas pretensões? Qual não deve ser a assistência do Divino Espírito, quando se trata de tornar o cristão invulnerável aos golpes assassinos que fazem tantos estragos à sua volta?

As paixões do coração do homem não são um obstáculo menor à sua salvação e à sua santificação: obstáculo tanto mais temível porque mais íntimo. É preciso que o Espírito Santo transforme o coração, que o leve mesmo a renunciar, quando a luz celeste indique um outro caminho para o qual nos empurra o amor e a busca de nós mesmos. Que força divina não é preciso para 'odiar até a sua própria vida', quando Jesus Cristo o exige, quando se trata de escolher entre dois mestres cujos serviços são incompatíveis?

O Espírito Santo, todos os dias, realiza esses prodígios, por meio do dom que derrama em nós, se não o desprezamos, se não o abafamos com nossa covardia ou com nossa imprudência. Ele ensina ao cristão a dominar suas paixões, a não se deixar conduzir por guias cegos, a não ceder a seus instintos, a não ser, quando são conformes à ordem que Deus estabeleceu. Algumas vezes esse Divino Espírito não pede somente que o cristão resista interiormente aos inimigos de sua alma, mas exige também que proteste abertamente contra o erro e o mal, se o dever de estado ou a posição o reclamam. É aí, então, que é preciso afrontar uma espécie de impopularidade que se associa às vezes ao cristão, e que não deve surpreendê-lo ao lembrar-se das palavras do Apóstolo: 'Se eu fosse agradável aos homens, não seria servidor de Cristo'. Mas o Espírito Santo não falta nunca e quando encontra uma alma resolvida a fazer uso da força divina da qual Ele é a fonte, não somente lhe assegura o triunfo, mas a estabelece numa paz cheia de doçura e de coragem que a leva à vitória sobre as paixões.

Tal é a maneira pela qual o Espírito Santo aplica o dom da Força ao cristão, quando este deve exercer resistência. Dissemos que este precioso Dom trazia ao mesmo tempo a energia necessária para suportar as provações cujo prêmio é a salvação. Há temores que gelam a coragem e podem levar o homem à sua perda. O dom de Força os dissipa, substituindo-os por uma calma e uma segurança que desconcerta a natureza. Vejam os mártires! E não só um São Mauricio, chefe da legião tebana, acostumado às lutas do campo de batalha, mas tantos outros, como Felicidade, mãe de sete filhos;como Perpétua, nobre senhora de Cartago para quem o mundo só tinha favores; como Inês, criança de treze anos, bem como milhares de outras, e digam se o dom da Força é estéril em sacrifícios. O que foi feito do medo da morte, desta morte cujo único pensamento nos acabrunha muitas vezes? E as generosas ofertas de toda uma vida imolada na renúncia e nas privações, a fim de encontrar Jesus sem reserva e de seguir suas pegadas de mais perto? E tantas existências veladas aos olhares distraídos e superficiais dos homens, existências cujo elemento é o sacrifício, onde a serenidade nunca é vencida pela provação, onde a cruz sempre reinante é sempre aceita!

Que troféus para o Espírito de Força! Que dedicação ao dever ele sabe produzir! E se o homem sozinho é pouca coisa, o quanto é engrandecido sob a ação do Espírito Santo! É ainda Ele que ajuda ao cristão a enfrentar a triste tentação do respeito humano, elevando-o acima das considerações mundanas que ditariam uma outra conduta. É Ele que empurra o homem a preferir às honras vãs do mundo, a alegria de não ter violado o mandamento de seu Deus. É esse Espírito de Força que nos faz aceitar as desgraças da fortuna assim como tantos desígnios misericordiosos do céu, que sustentam o cristão na perda dolorosa dos entes queridos, nos sofrimentos físicos que tornariam a vida um fardo, se não soubesse que são visitas do Senhor.

É Ele enfim, como lemos na Vida dos Santos, que se serve das próprias repugnâncias da natureza, para provocar atos heroicos onde a criatura humana parece atravessar os limites de seu ser para elevar-se à ordem dos espíritos impassíveis e glorificados. Espírito de Força, permanecei cada vez mais em nós e salvai- nos da indolência desse século. Em época nenhuma a energia das almas esteve mais enfraquecida, o espírito mundano e diabólico mais triunfante, o sensualismo mais insolente, o orgulho e a independência mais pronunciados. Saber ser forte contra si mesmo é uma raridade que excita o espanto daqueles que o testemunham: como as verdades do Evangelho perderam terreno!

Detende-nos sobre esse declive que nos levaria como a tantos outros, ó Divino Espírito! Deixai que peçamos como São Paulo aos cristãos de Éfeso e que ousemos reclamar de Vossa liberalidade: 'a armadura divina que nos porá em condições de resistir no dia mau e de permanecermos perfeitos em todas as coisas. Cingi nossos rins com a verdade, cobri-nos com a couraça da justiça, dai a nossos pés, como calçados indestrutíveis, o Evangelho da paz; muni-nos com o escudo da fé, contra o qual vem atingir as flechas inflamadas de nosso cruel inimigo. Colocai em nossa cabeça o elmo que é a esperança da salvação e em nossa mão a espada espiritual que é a própria palavra de Deus' e com a ajuda da qual possamos enfrentar, como o Senhor no deserto, todos os nossos adversários. Espírito de Força, fazei que assim seja!

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom Prosper Gueranger, Ed. Permanência, 2007)

domingo, 23 de fevereiro de 2014

'SEDE PERFEITOS!'

Páginas do Evangelho - Sétimo Domingo do Tempo Comum


A pregação de Jesus deste domingo é uma complementação direta daquela manifestada no evangelho do domingo passado. Diante das imposições arbitrárias e inconsistentes da lei judaica vigente, Jesus vai propor a mais radical das proposições ao homem pecador: 'sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!' (Mt 5, 48). A superação das fragilidades e incertezas humanas deve ser, portanto, absoluta: a santificação pessoal se espelha pura e simplesmente na Perfeição de Deus.

Diante o mal generalizado e corrente, o enfrentamento e a oposição cristãs não se compactuam com a lei do talião: 'olho por olho, dente por dente', mas implicam a aceitação das provações humanas, o autocontrole dos instintos, a serenidade das ações e das reações diante da injustiça e do arbítrio: 'se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!'(Mt 5, 39), e ainda, 'Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele!' (Mt 5, 41). A essência da santificação é não se perder no redemoinho das vertigens humanas, mas seguir, à perfeição, Jesus 'manso e humilde de coração' (Mt 11, 29).

O sinal de distinção da vida cristã é a perfeição da vida em Deus. No seguimento a Cristo, não cabem quaisquer sentimentos de revolta, vingança ou indignação. Não basta amar os que nos amam, porque até os maus fazem isso também. Não basta ser generoso e cordial com os nossos amigos e companheiros, porque os maus também vivem assim. Deus dá o sol e faz cair a chuva sobre os justos e os injustos. A identidade cristã é um libelo contra a ordem humana da condescendência natural: 'Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!' (Mt 5, 44). 

Eis o legado de Cristo aos que somos povo de Deus: 'sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!' (Mt 5, 48). Nada aquém desse propósito gigantesco e singular, nada de metas sofríveis, nada de caricaturas de uma vida cristã! Eis a nossa missão como filhos de Deus e herdeiros do Céu: trazer e manter nos atos e ações cotidianas o legado batismal da perfeição divina: 'Acaso não sabeis que sois santuários de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?' (1Cor 3, 16). 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

A ORDENAÇÃO SACERDOTAL

A ordenação sacerdotal, pela qual se transmite a missão, que Cristo confiou aos seus Apóstolos, de ensinar, santificar e governar os fiéis, foi na Igreja Católica, desde o início e sempre, exclusivamente reservada aos homens. Esta tradição foi fielmente mantida também pelas Igrejas Orientais...


... De fato, os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos atestam que este chamamento foi feito segundo o eterno desígnio de Deus: Cristo escolheu os que Ele quis (cfr Mc 3,13-14; Jo 15,16) e fê-lo em união com o Pai, 'pelo Espírito Santo' (At 1,2), depois de passar a noite em oração (cfr Lc 6,12). Portanto, na admissão ao sacerdócio ministerial, a Igreja sempre reconheceu como norma perene o modo de agir do seu Senhor na escolha dos doze homens que Ele colocou como fundamento da sua Igreja (cfr Ap 21,14). Eles, na verdade, não receberam apenas uma função, que poderia depois ser exercida por qualquer membro da Igreja, mas foram especial e intimamente associados à missão do próprio Verbo encarnado (cfr Mt 10,1.7-8; 28,16-20; Mc 3,13-16; 16,14-15). O mesmo fizeram os Apóstolos, quando escolheram os seus colaboradores que lhes sucederiam no ministério. Nessa escolha, estavam incluídos também aqueles que, ao longo da história da Igreja, haveriam de prosseguir a missão dos Apóstolos de representar Cristo Senhor e Redentor...

... Embora a doutrina sobre a ordenação sacerdotal que deve reservar-se somente aos homens, se mantenha na Tradição constante e universal da Igreja e seja firmemente ensinada pelo Magistério nos documentos mais recentes, todavia atualmente em diversos lugares continua-se a retê-la como discutível, ou atribui-se um valor meramente disciplinar à decisão da Igreja de não admitir as mulheres à ordenação sacerdotal.


Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cfr Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja.

(Excertos da Carta Apostólica 'Ordinatio Sacerdotalis', do Papa João Paulo II, de 1994) 

QUANDO O INFERNO É AQUI...

A professora universitária Célia Pesquero, de 49 anos, deixou nesta quinta-feira a UTI de um hospital em Osasco (Grande São Paulo), após ter sofrido violentas agressões do marido, Edemir de Mattos, de 52 anos, na noite da última segunda-feira. Depois de agredir a mulher, Mattos, que era professor de inglês, se jogou com o filho de seis anos do apartamento em que moravam, no 13º andar do prédio onde moravam. Pai e filho morreram na hora. 

O que se esconde atrás da consciência humana de um pai que esmurra a esposa, rasga a tela de proteção da varanda do seu apartamento localizado  no 13º andar de um prédio, agarra e mantém preso a si o filho de 6 anos, que não se sensibiliza com o choro horrorizado da criança diante da tragédia anunciada e dos insistentes apelos dos vizinhos atordoados da varanda do apartamento ao lado, que sobe até o patamar da mureta de proteção e, ainda mantendo o filho imobilizado contra si, projeta-se com ele no vazio? Nada, coisa alguma da natureza humana pode conceber ou explicar os limites imponderáveis da demência diabólica, tão perto de nós, quando o inferno é aqui...