sábado, 6 de dezembro de 2025

SOBRE AS ÚLTIMAS QUATRO COISAS (VIII)

     

PARTE II - O JUÍZO FINAL

II. Sobre Como os Bons e os Maus Serão Conduzidos ao Local do Julgamento 

De acordo com a opinião geralmente aceita, o julgamento final será realizado no vale de Josafá, não muito longe de Jerusalém. Essa opinião se baseia nas palavras do profeta Joel: 'reunirei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá' (Jl 4,2). E ainda: 'De pé, nações! Subi ao vale de Josafá, porque é ali que vou sentar-me para julgar todos os povos ao redor!' (Jl 4,12). Não é difícil alegar uma razão pela qual Cristo deveria realizar o julgamento final neste lugar, pois ali está perto do local onde Ele sofreu, e não é justo que, no mesmo lugar, Ele apareça como nosso Juiz? O Monte das Oliveiras, cenário da sua agonia, foi também o da sua gloriosa Ascensão.

Pode-se, no entanto, objetar que o vale de Josafá não poderia conter os milhões e milhões de seres humanos que serão reunidos para o julgamento. Mas quando um local é indicado como o provável teatro do Juízo Final, isso não significa necessariamente que toda a humanidade será reunida nesse espaço limitado.

Consideraremos agora de que maneira seremos reunidos para o julgamento final. Se os justos e os ímpios forem encontrados juntos nos cemitérios e em outros lugares, acontecerá o que Nosso Senhor predisse: 'Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão e separarão os maus dos justos' (Mt 13, 49). Pois, uma vez que os bons repousam entre os ímpios, segue-se que, na ressurreição, eles serão encontrados entre os maus. Assim, após a Ressurreição Geral, os santos Anjos virão e separarão os eleitos dos réprobos. São Paulo, falando sobre isso, diz: 'Porque o próprio Senhor descerá do céu com ordem, e com voz de arcanjo, e com trombeta de Deus; e os mortos que estão em Cristo ressuscitarão primeiro. Então nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para encontrar Cristo nos ares' (1Ts 4,15-16). Ou seja, todos os justos serão levados nas nuvens com esplendor e grande glória pelos anjos ao lugar do julgamento. Agora imagine que visão maravilhosa será quando os santos, com seus corpos glorificados, brilhando como ouro polido à luz do sol, forem transportados pelo ar, escoltados por seus anjos da guarda! Com que exultação e alegria eles seguirão seu caminho triunfal!

E quando todos se reunirem no vale de Josafá, eles se cumprimentarão com amor e se abraçarão com alegria mútua. Pense por um momento, ó cristão, como você se alegraria se tivesse a sorte de se encontrar entre o número dos abençoados. Essa felicidade ainda está ao seu alcance; se você realmente a desejar com toda a força de sua vontade, será contado nessa feliz companhia. Esforce-se para cumprir todos os seus deveres bem e fielmente, e você também um dia se juntará a essa gloriosa e triunfante procissão.

Consideraremos agora como os ímpios serão transportados para o vale de Josafá e o que os aguarda lá. Ai de mim! Seu destino é tão triste que mal me atrevo a descrevê-lo em detalhes. O que esses infelizes pecadores pensarão, o que dirão quando virem os santos anjos levando os eleitos de entre eles e transportando-os com glória e esplendor pelo ar? O Sábio nos dá uma ideia de seus pensamentos quando nos diz: 'Estes, vendo isso, ficarão perturbados com um medo terrível e se surpreenderão com a rapidez da salvação inesperada dos justos; dizendo dentro de si mesmos, arrependidos e gemendo de angústia de espírito: Estes são aqueles que nós outrora ridicularizávamos e tomávamos como parábola de opróbrio. Nós, tolos, considerávamos a vida deles loucura e o seu fim sem honra. Vede como eles estão contados entre os filhos de Deus, e o seu destino está entre os santos' (Sb 5,2-5). Como lhes causará tristeza ver aqueles que antes desprezavam tão profundamente agora honrados e amados pelos Anjos de Deus, e conduzidos por eles em glória e triunfo para encontrar Cristo. E aqueles que antes exibiam suas riquezas, que desprezavam todos os seus semelhantes em seu orgulho arrogante, agora estão entre os Anjos caídos, pobres, miseráveis, desprezados.

Quando os Anjos tiverem conduzido todos os eleitos ao vale de Josafá, eles continuarão a conduzir todos os réprobos para lá, com os espíritos malignos que se misturam com eles. Eles gritarão em alta voz: 'Fora daqui, fora para o julgamento! O Juiz dos vivos e dos mortos ordena que vocês compareçam diante Dele'. Que grito lancinante de angústia essas criaturas infelizes emitirão! Farão o possível para resistir à ordem dos Anjos, mas lutarão em vão; devem obedecer à ordem dos mensageiros de Deus. Juntamente com os espíritos malignos, os condenados serão levados à força para o lugar do julgamento. Que viagem terrível! O ar está repleto de gritos de raiva. Os espíritos das trevas, com malícia e crueldade diabólicas, já descarregam seu rancor atormentando as criaturas infelizes que o pecado tornou suas vítimas. Ouçamos o grito de desespero arrancado dos seres miseráveis: 'Que tolos fomos! Tolos impensados! Aonde nos levou o caminho da transgressão? Ai de nós! Ele nos trouxe ao severo, ao terrivelmente severo tribunal de Deus!'

Ouça, ó pecador, as lamentações dolorosas e as autoacusações dessas pobres criaturas. Cuidado para que você também não se torne um deles. Ore a Deus para que o preserve de um destino tão chocante e diga: 'Deus misericordioso, lembrai-vos do alto preço que pagou por mim e do quanto sofreu por mim. Por causa desse preço inestimável, não permitais que eu me perca, resgatai-me e acolhei-me entre as ovelhas do seu rebanho para que, com elas, eu possa louvar e glorificar a vossa bondade amorosa por toda a eternidade'.

(Excertos da obra 'The Four Last Things - Death, Judgment, Hell and Heaven', do Pe. Martin Von Cochem, 1899; tradução do autor do blog)