sábado, 13 de dezembro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (65/68)

 

65. A DOR ABATE O ORGULHO

Já vistes um touro no curral? Altivo, bravio, dominador, conserva a cabeça erguida como se desafiasse o céu e a terra. Quem será capaz de sujeitá-lo? Como soberano, move impaciente de um lado para o outro a formidável arma de seus chifres afilados e reluzentes.

Mas, de repente, silva no ar um laço forte que se lhe enrosca na cabeça como uma serpente. O laço puxa-o fortemente e ele, relutando embora, tem de chegar a estaca fincada no chão e da qual pende a argola do sacrifício. O touro resiste, esperneia, ruge, mas afinal tem que ceder e baixar a cabeça, apresentando a nuca ao punhal do sangrador...

Há também homens que, na prosperidade, levantam orgulhosos a cabeça e parecem desafiar ao próprio Deus. Entretanto, um belo dia, silva o laço da dor, prende-os a argola do sacrifício e, então, não há remédio, curvam a cabeça e oferecem a cerviz ao punhal do sacrificador.

66. NA BALANÇA DA CARIDADE

Uma vez, uma pobre viúva, desfeita num mar de lágrimas, pediu a um pio sacerdote que lhe desse cem escudos para fazer casar uma filha cuja honestidade corria perigo. Afligiu-se muito o santo por não possuir aquela quantia; mas, lembrando-se de um rico negociante, seu amigo, tomou uma tirazinha de papel e nela escreveu estas palavras: 'Meu caro senhor, pelas entranhas da misericórdia de Deus, peço a V. Sa. que dê a essa pobre senhora, para uma grave necessidade que padece, tantas moedas quanto pese este papel'.

Leu o negociante o bilhete e pensou consigo: 'Se não preciso dar mais moedas do que pesa este papel, com bem poucas socorrerei a pobre'. Mas, como conhecia a santidade de seu amigo, pôs o papel no prato da balança, que, imediatamente, caiu até em baixo. Começou a por moedas no outro prato: uma, duas, cinco... e o prato com o papel não subia. Foi pondo mais e mais até que, inteirando cem escudos, a balança ficou no fiel. A viúva foi socorrida e espalhou por toda a parte a fama do prodígio.

Por aí se vê quanto pesa na balança de Deus tudo que se faz em favor dos pobres.

67. QUANTO PODE A VIRTUDE

A alma que se entrega toda a Deus e ao serviço divino não conhece fraqueza, antes é capaz das ações mais heroicas. Eis um exemplo recente. No meio dos horrores da passada guerra mundial, alguns fugitivos armênios chegaram a Roma para visitar o Papa. O chefe deles, o venerando bispo de Trapezunda, narrou ao Vigário de Cristo uma cena horrível, porém heroica.

Tropas árabes e turcas - disse ele - reuniram, nas proximidades de Erzerum, na Ásia Menor, todas as donzelas e senhoras de uma aldeia e conduziram-nas ao pequeno planalto de Kemakh. A meseta (planalto) termina num abrupto precipício e no fundo do abismo veem-se pedras enormes que o ímpeto das águas arrasta do alto da montanha. Aí chegadas, disseram os turcos às pobres prisioneiras:
➖ Agora escolhei: ou ides voluntariamente para os nossos haréns ou sereis arrojadas ao fundo deste precipício.

Lá embaixo, no abismo, bramiam as águas furiosamente. Que fazer naquela conjuntura? De repente, adianta-se uma das mais jovens prisioneiras, uma donzela de porte distinto. Em seus olhos arde o fogo da decisão tomada. Diante de sua alma brilha a visão divina de Cristo. Com voz firme e clara pronuncia as palavras: 'Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo' e, fazendo ao mesmo tempo o sinal da Cruz, atira-se corajosamente ao abismo.

Foi como uma voz de comando. Quando os ferozes turcos, que se tinham afastado, aproximaram-se da meseta, não encontraram ali nenhuma mulher. Todas se tinham lançado ao abismo, preferindo perder a vida, a perder a honra e o céu.

68. AS CONVERSAS LEVIANAS

São Edmundo, que mais tarde foi arcebispo de Cantuária (Inglaterra), evitava cautelosamente a companhia de jovens levianos. Estando, de uma feita, com alguns companheiros, cujas conversas iam tomando um rumo perigoso, afastou-se deles no mesmo instante. Quando ia caminhando, eis que se encontra com um jovem de formosura encantadora, em cuja fronte se lia em letras de um brilho incomparável o nome de Jesus. Disse-lhe a visão: 'Pois que te apartaste daqueles, venho eu fazer-te companhia'.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)