terça-feira, 11 de julho de 2023

AS TRÊS VIDAS DE UM HOMEM COMUM


O católico comum - o comum dos homens que vive neste mundo com o firme propósito de viver a sua vida como criatura de Deus e que, por muitas e variadas vezes, se esquece disso - tem três vidas. Três vidas de dimensões e naturezas absolutamente distintas e incomuns. Três vidas.

A primeira vida deste homem comum é a sua história neste mundo. Uma vida feita comumente pela fuligem do tempo de algumas e poucas décadas. De idas e vindas e, sobretudo, de tropeços e atalhos. Uma vida moldada pelos sentidos e pelos sentimentos e quase sempre muitíssimo incompleta, vacilante e firmada em valores condicionalmente divinos e incondicionalmente humanos.

A segunda vida é fruto da primeira quando tangida pela misericórdia de Deus. É uma vida inteira movida pela provação e pela certeza. Não há mais a incerteza e a insensatez da primeira vida. Definitivamente não. Não há mais proveito da graça do livre arbítrio e nem os frutos das boas intenções ou das boas obras. Há apenas o sustento do dano a ser reparado que não tem mais uma magnitude do tempo. Parece ser sempre nunca, mas se tem a certeza de que termina um dia. Na primeira vida, é quase livre pensamento de que este seria um tempo de curta duração; na segunda vida, vive-se um tempo que pode ter a dimensão de um limiar ou ultrapassar em muito os limites da vida humana. Em um ou outro caso - em quaisquer casos - sempre vai ter a duração além de uma ou de muitas outras primeiras vidas. 

A terceira vida é eterna. Indescritível por palavras humanas por não ser humana. Apenas visível e sem contratempos de tempo, lugar ou circunstâncias. Eternamente divina. 

Os santos e os réprobos não têm a segunda vida. Os santos porque a temeram em cada instante de suas primeiras vidas. Os réprobos não a têm porque gastaram uma vida inteira neste mundo buscando perder a Deus no tempo e na eternidade. E terão, por isso e tão somente, uma morte eterna.