segunda-feira, 3 de julho de 2023

DECÁLOGO SOBRE A INVEJA

1. A inveja é um mal sem fim. Os outros males têm um término; porém, a inveja não o tem; é um mal que sempre é mal, é um pecado que não tem fim (São Cipriano).

2. A inveja foi o que afastou o Anjo do Céu e o homem do Paraíso terrestre; foi ela que matou Abel; que muniu aos irmãos de José; lançou Daniel na cova dos leões; crucificou a Jesus Cristo, e enforcou a Judas. Ó meus irmãos, pregai em alta voz que a inveja é o animal feroz que arrebata a fé, destrói a concórdia, aniquila a justiça, e gera todos os males. Foi ela que destruiu os muros de Jerusalém, despovoou Roma, arrasou a Cartago e devastou a cidade de Tróia (Santo Agostinho).

3. Fujamos da inveja como de um mal intolerável, como sendo o resultado da ordem dada pela Serpente, a invenção do demônio, o alimento de nosso inimigo, o penhor do castigo, um obstáculo para a piedade e o caminho do Inferno. Os invejosos convertem em vícios até as mais belas virtudes (São Basílio).

4. Ó inveja, manancial da morte, enfermidade que contém todas as enfermidades, e agudíssima lança que atravessa o coração! (São João Crisóstomo).

5. A inveja não tem perdão. O lascivo, com efeito, pode dar uma desculpa pela força da concupiscência; o ladrão, por sua vez, pode alegar a necessidade e a pobreza; o assassino pode desculpar-se com sua ira. Porém, vós, ó invejosos, dizei-me, qual desculpa podereis dar? Este vício é pior que a fornicação e até mesmo que o adultério porque o furor do vício impuro encontra limites na mesma ação; porém, o furor e os estragos da inveja destroem a Igreja e o mundo inteiro. Pela inveja, o demônio matou ao gênero humano na pessoa de Adão (São Cipriano).

6. A inveja é um açoite espantoso que se estende pelo mundo inteiro, assolando tudo. Daí, provém a injustiça, as feridas, os ódios e a avareza (São João Crisóstomo).

7. Ó inveja, tu és a mais justa e a mais injusta de todas as paixões! Injusta certamente porque afliges aos inocentes; porém, justa também, por outro lado, porque castigas os culpáveis. Injusta, porque atormentas a todo o gênero humano; porém, soberanamente justa, porque começas tua obra maligna pelo coração que te concebe (São Gregório Nazianzeno).

8. Os invejosos amam o mal, e sentem e choram o bem; ardem em inimizade gratuita, e estão plenos de hipocrisia; sempre cheios de amargura, sempre vacilantes, são os amigos do demônio, e os inimigos de Deus, da sociedade e de si mesmos; são odiosos a todos os homens, atormentam-se pelo que deveria ser seu consolo, e transbordam de alegria quando deveriam chorar amargamente. Perversos e cruéis para si mesmos, eles o são também para os demais (São Próspero).

9. A inveja excita a ambição, o desprezo de Deus e de seu serviço; excita o orgulho, a perfídia, a prevaricação, os acessos de ira, as discórdias e crueldade; a inveja não aguenta sofrer nem conter-se quando encontra a autoridade em seu caminho. Ela rompe os laços da paz e da caridade; ela corrompe a verdade, destrói a unidade, e encaminha-se diretamente ao cisma e à heresia. Que crime mais horrível por existir que ter inveja da virtude e da felicidade dos outros, e detestar neles seus méritos naturais e sobrenaturais! Que pecados converter em mal o bem dos demais, não poder suportar o progresso dos outros, e experimentar um atroz tormento pela felicidade alheia. Que loucura e que furor o dar entrada em nosso peito a tal carrasco, a um tirano que nos rasga as entranhas! (São Cipriano).

10. A inveja é a mais baixa, a mais odiosa e a mais vituperada de todas as paixões (Bossuet).